PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Mairiporã, em que é apelante ROSILENE SOUSA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada MARIA MARIANO DE OLIVEIRA (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 32ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, com observação. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores KIOITSI CHICUTA (Presidente), FRANCISCO OCCHIUTO JÚNIOR E LUIS FERNANDO NISHI. São Paulo, 24 de agosto de Kioitsi Chicuta RELATOR ASSINATURA ELETRÔNICA

2 COMARCA: Mairiporã 1ª Vara Cível Juiz Cristiano Cesar Ceolin APTE. : Rosilene Sousa Silva APDA. : Maria Mariano de Oliveira VOTO Nº EMENTA: Locação. Imóvel residencial. Obrigação de fazer cumulada com indenização por dano moral. Pedido de obrigação de fazer consubstanciada na tomada de providências pela ré para religação da energia elétrica e do fornecimento de água no imóvel locado. Perda do objeto em relação à obrigação de fazer, diante da procedência da ação de despejo por falta de pagamento movida pela ré em face da ora autora. Prosseguimento da ação apenas em relação ao pedido de indenização por dano moral. Sentença de improcedência. Alegação de ofensa à honra da autora. Não configuração. Conjunto probatório que afasta a prática de ato ilícito pela requerida. Não reconhecimento do dever de indenizar. Recurso desprovido, com observação. De acordo com o conjunto probatório dos autos, não restou configurada ofensa à moral da autora, ficando refutadas as assertivas contidas na exordial, especialmente o fato de que o corte no fornecimento de energia elétrica no imóvel locado pela autora não ocorreu por culpa da ré, mas aconteceu por inadimplência das faturas em nome de terceira pessoa, havendo, ainda, subsídios suficientes nos autos a demonstrar que a autora não tinha o hábito de pagar pontualmente suas contas, inexistindo, por outro lado, prova convincente acerca da suposta difamação que teria a ré praticado contra a autora. Assim, à falta da prática de ato ilícito pela requerida, é indevida a pretensão de indenização por dano moral. Trata-se de recurso interposto contra r. sentença de fls. 114/116verso que julgou improcedente a ação, condenando a autora ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios da patrona da requerida fixados em 10% do valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, 2º, do CPC/15, observando-se o disposto no artigo 98, 3º, do CPC/15, por ser beneficiária da justiça gratuita. Alega a autora que a sentença é contrária à prova dos autos, Apelação nº Mairiporã VOTO Nº /5

3 aduzindo que restou demonstrado que a apelada, com o intuito de forçar a desocupação do imóvel locado à ora apelante, solicitou à antiga locatária Sra. Walquiria Eca Junior, em cujo nome eram emitidas as contas, que solicitasse junto às concessionárias o corte de fornecimento de água e energia elétrica da residência da apelante, sem qualquer justo motivo, o que foi realizado. Assevera que, além disso, mesmo a apelada tendo conhecimento de que a apelante residia ali com seu filho portador de necessidades especiais, começou a espalhar boatos por toda a vizinhança de que ela era péssima pagadora, além de proferir outras palavras de baixo calão, de modo que foi submetida a uma situação humilhante e de vergonha perante todos os vizinhos e sua família. Afirma que ficou comprovado, por meio da oitiva de testemunhas, que a apelada humilhava a ora apelante. Sustenta que tais depoimentos revelam que a apelada a ofendia e humilhava publicamente, causandolhe dor, sofrimento, tristeza, vexame, humilhação, restando caracterizado dano moral passível de indenização. Invoca os artigos 186 e 927 do Código Civil, bem como o artigo 5º, V, da Constituição Federal. Por isso, pleiteia a reforma da sentença. Recurso tempestivo, sem preparo (apelante beneficiária da justiça gratuita), respondido, os autos restaram encaminhados a este C. Tribunal. É o resumo do essencial. Anote-se, inicialmente, que a r. sentença apelada foi publicada em audiência em 04/10/2016, logo, na vigência do Código de Processo Civil de 2.015, razão pela qual o recurso interposto será analisado à luz do referido diploma legal, o que está em consonância com o disposto no enunciado administrativo nº 2, aprovado pelo Pleno do C. STJ. Nada obstante a insurgência recursal, não há fundamento para alterar o convencimento judicial externado. As razões recursais praticamente repetem os termos deduzidos na exordial, sem rebater suficientemente os fundamentos expostos na sentença, a qual se pautou na prova produzida e demais Apelação nº Mairiporã VOTO Nº /5

4 elementos constantes nos autos. Observe-se, a princípio, que a autora ajuizou ação de obrigação de fazer cumulada com indenização por dano moral, com o objetivo de que a ré fosse obrigada a proceder à religação da energia elétrica do imóvel locado, bem como postulou ressarcimento pelo dano moral sofrido, sob a alegação de que houve ofensa à sua honra, considerando que ficou sem o fornecimento de energia por duas semanas, além do que a requerida teria espalhado para a vizinhança que era má pagadora, sustentando, ainda, que houve lavratura de boletim de ocorrência contra seu filho por suposta ameaça com arma, o que ensejou a entrada da polícia em sua casa para averiguação e revista. Em relação ao primeiro pedido formulado (obrigação de fazer), por decisão de fl. 66, foi indeferida a petição inicial, ante a perda do objeto, tendo em vista a notícia que a requerida foi vencedora na ação de despejo por falta de pagamento ajuizada em face da ora autora, prosseguindo o feito somente em relação ao pleito de ressarcimento pelo dano moral à autora. Nesse aspecto, com base no conjunto probatório dos autos, a sentença considerou não configurada ofensa à moral da autora, refutando a alegação referente à lavratura do boletim de ocorrência, por não envolver a pessoa da autora, mas de seu filho, sendo certo que o desfecho da questão deverá ser tratada na esfera penal, como consignou a sentença. Ademais, diante dos elementos colhidos, não restou demonstrado que o corte no fornecimento de energia elétrica no imóvel locado pela autora ocorreu por culpa da ré. Bem se vê que as faturas relativas ao consumo de energia elétrica referentes ao imóvel estão em nome de Walquiria Eca Junior, a qual era uma das locatárias da ora requerida, ao que consta nos autos, inexistindo cadastro em nome da autora junto à concessionária. Logo, pelo que se infere nos autos, houve inadimplemento das faturas por parte de Walquiria. Apelação nº Mairiporã VOTO Nº /5

5 Por outro lado, as partes não divergem quanto ao fato de que a requerida adquiriu, em seu próprio nome, produtos para a autora, e conforme documentos acostados, não houve o pagamento pontual dessas contas, tendo sido a ré cobrada por isso, o que denota a conduta da autora de que não é acostumada a pagar em dia seus débitos. Assim, verifica-se que o motivo do corte do fornecimento de energia elétrica que atendia a unidade na qual residia a autora foi o alegado inadimplemento de faturas, em nome de Walquiria, e não por culpa da ré. Nada existe nos autos que afaste tal conclusão. Finalmente, quanto à suposta difamação praticada pela ré em relação à autora, não há prova convincente nos autos acerca de tal fato, mesmo considerados os depoimentos da testemunha e das informantes em juízo, que nada acrescentaram que pudesse corroborar a assertiva da autora. Assim, à falta de prática de ato ilícito pela requerida, não demonstrado nos autos, é mesmo indevida a pretensão de ressarcimento pelo dano moral, devendo ser mantida a r. sentença. Observe-se que, nos termos do artigo 85, 11, do Código de Processo Civil de 2015, vigente à época da publicação da sentença, devem ser majorados os honorários advocatícios sucumbenciais para 20% sobre o valor atualizado da causa, aí já considerado o trabalho adicional realizado pelo advogado do vencedor nesta esfera recursal, observando-se o disposto no artigo 98, 3º, do CPC/15. observação. Isto posto, nega-se provimento ao recurso, com KIOITSI CHICUTA Relator Apelação nº Mairiporã VOTO Nº /5