DIREITO E ÉTICA. Biotecnologia, BIOTECNOLOGIA, DIREITO E ÉTICA. Rafael Tallarico Gleison José Pereira Martins
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1 GLEISON JOSÉ PEREIRA MARTINS Graduando do 10º período do curso de Direito da Faculdade Asa de Brumadinho/MG. CAPA_Biotecnologia e direito_110414_tales.indd 1 ISBN Rafael Tallarico Gleison José Pereira Martins RAFAEL TALLARICO Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. É mestre em Direito e Justiça pela Universidade Federal de Minas Gerais. Advogado militante na área empresarial e criminal. É professor de Direito Internacional Público, Direito Econômico, Filosofia do Direito, Hermenêutica e Sociologia Jurídica das Faculdades Asa de Brumadinho/MG e de Sabará/MG. Orienta monografias e trabalhos científicos jurídicos e possui artigos publicados na Revista Asa - Palavra. É autor dos livros Estado e Soberania: Perspectivas no Direito Internacional Contemporâneo, A Liberdade de Expressão da Opinião Pública, Educação e Cidadania: Evolução Histórica e Paradigmas Contemporâneos e coordenador e autor da obra História da Filosofia Ocidental: da Pólis Grega ao Estado de Direito Contemporâneo, todos pela Editora D`Plácido. BIOTECNOLOGIA, DIREITO E ÉTICA A ciência é o instrumento de melhoramento da condição humana ao longo de toda a História. Nos tempos antigos, o acesso à medicina, por exemplo, era apenas para uma elite detentora de riquezas e poder. Nos dias atuais, é condição fundamental de vida. Kant fala no imperativo categórico, que implica na conciliação dos arbítrios individuas e coletivos para o respeito da máxima universal, que é, na verdade, o conceito de liberdade, no seu aspecto evolutivo, permeado pela Justiça, maior de todas as virtudes, como assevera Platão. À ciência é outorgado o papel de favorecimento da condição humana. A própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no artigo 1º, inciso III, indica a prevalência da dignidade humana sob qualquer outro instituto social, econômico, político e cultural. É a evolução do conceito de liberdade, com expressão em nível constitucional. Os limites éticos não podem ser ultrapassados. Durante toda a História, o desrespeito ao justo esvazia o discurso e enfraquece as relações humanas. A ciência existe para o proveito do homem, não o homem para o proveito da ciência. O avanço do conhecimento deve ser contínuo, como é da essência da natureza humana. O benefício deve ser global, para a preservação da espécie humana e para o progresso da qualidade de vida, sempre com o reconhecimento do outro. Esta é uma obra que busca resgatar filosoficamente o desenvolvimento biotecnológico através de uma análise crítico- construtiva. O Estado de Direito Contemporâneo é o máximo ético, no qual se encontram resguardadas as garantias fundamentais da pessoa humana, principalmente a vida e a própria melhoria das condições de vida, para o bem comum. Este é o destino da existência racional e a vontade de Deus. A Biotecnologia, DIREITO E ÉTICA Rafael Tallarico Gleison José Pereira Martins contextualização do suprimento das necessidade humanas é item indispensável nas Constituições Ocidentais. Desde a Revolução Francesa de 1789, desenvolve-se o entendimento segundo o qual as políticas de Estado devem ser precedidas pelo debate da causa humanitária. Todos são livres, mas primeiro devem ser iguais formalmente. Platão anuncia o imperativo da educação como condição mínima de convivência social e condução política. No Estado de Direito Contemporâneo esta é uma assertiva fixa e nunca pode ser afastada de qualquer legislatura. É um princípio científico. Epistemologicamente a biotecnologia acaba por refletir a condição humana nos tempos atuais, que visa o incremento do saber e principalmente o benefício humano. A regulamentação da biotecnologia, em nível internacional, deve se pautar pelos paradigmas universais dos direitos do homem, previstos na Carta da ONU de 1945 e na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de Assegurar a dignidade humana é atender ao comando evolutivo do direcionamento científico, que vêm desde a Grécia Antiga, com a igualdade formal, passando por Roma, com os Direitos da Personalidade e a partir da Ilustração com a centralização no homem das atenções científicas e políticas. É um caminhar axiológico do interesse pelo conhecimento, que não está apenas na natureza, mas no próprio homem. O Estado racional é o Estado do conhecimento, para a difusão dos benefícios para a vida humana. 14/04/14 16:49
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3 Biotecnologia, Direito e Ética Rafael Tallarico Gleison José Pereira Martins
4 Copyright 2014, D Plácido Editora Copyright 2014, Os autores. Editor Chefe Plácido Arraes Produtor Editorial Tales Leon de Marco Capa e Diagramação Tales Leon de Marco Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia da D`Plácido Editora. Editora D Plácido Av. Brasil, 1843, Savassi Belo Horizonte - MG Tel.: CEP Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica Tallarico, Rafael; Martins, Gleison José Pereira. Biotecnologia, Direito e Ética -- Belo Horizonte: Editora D Plácido, Bibliografia ISBN: Biotecnologia 2. Direito 3. Ética I. Título II. Biotecnologia III. Regulamentação IV. Rafael Tallarico V. Gleison José Pereira Martins. CDU34+60 CDD 340
5 Duas coisas me enchem o espírito de admiração e de reverência sempre nova e crescente, quanto mais frequente e longamente o pensamento nelas se detém: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim. (Kant)
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7 Dedicamos esta obra primeiramente a Deus e aos queridos pais. Dedico também esta obra à D. Emirena Ribeiro Tallarico (in memória) pelo exemplo de vida e carinho. (R) Dedico esta obra à doce amiga Francyely Monteiro pelo companheirismo.(g) Faço uma homenagem ao Dr. José Nascentes Coelho (in memória), pela elegância do saber (R). Homenageio o Dr. Arthur José de Almeida Diniz, professor da Pós- Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, pelo companheirismo incondicional (R). Homenageio a Dra. Maria Helena Damasceno e Silva Megale, professora da Pós- Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais pelo dom da compreensão.(r) Homenageio a Dra. Wilba Lúcia Maia Bernardes e o Dr. Hermes Vilchez Guerrero pela atenção e paciência de ouvir.(r) Homenageio o Ilustre Professor Gustavo Hermont Corrêa, que com sua prudência e saber engrandece o conhecimento acadêmico. (G) Agradecemos à CBMM, em especial ao amigo JDVITAL, pela contribuição para a concretização da idéia que gerou este livro.
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9 Sumário 1. Introdução Breve Histórico da Humanidade Dados importantes da formação da razão (Conhecimento) do Homem O conhecimento humano segundo Kant A formação do conhecimento O itinerário espiritual de Kant nos escritos pré-críticos A grande luz de 1769 e a Dissertação de A Crítica da Razão Pura A analítica dos princípios: o esquematismo transcendental e o sistema de todos os princípios do intelecto puro ou a fundamentação transcendental da física newtoniana A distinção entre fenômeno e número, a coisa em si A dialética transcendental A crítica da razão prática e a ética de Kant O conceito de razão prática e os objetivos da nova Crítica A colocação da lei moral como imperativo categórico A essência do imperativo categórico As fórmulas do imperativo categórico A liberdade como condição e fundamento da lei moral O princípio da autonomia moral e seu significado O bem moral e a tipicidade do juízo 59
10 4.8 O rigorismo e o hino kantiano ao dever Os postulados da razão prática e o primado da razão prática em relação à razão pura A crítica do juízo A posição da terceira crítica em relação às outras Juízo determinante e juízo reflexivo Juízo estético A concepção do sublime O juízo teleológico e as conclusões da Crítica do juízo A justiça proposta por Kant Momentos históricos importantes no desenvolvimento social mundial de acordo com Hegel A razão segundo Hegel Hegel e o significado da história Algumas ponderações acerca da liberdade na filosofia A Revolução A Revolução Francesa: sua importância na liberdade e a formação do Estado racional Pessoa Humana Da Bioética ao Biodireito A Bioética Princípio do respeito à autonomia Princípio da não maleficência Princípio da beneficência Princípio da justiça Autonomia e os imperativos categóricos: o cerne da biotecnologia Breve histórico do Biodireito no mundo Princípios gerais e específicos do Biodireito O fundamento jurídico do Biodireito Breves apontamentos acerca das teorias do surgimento do homem 157
11 13. Dados Genéticos DNA (Ácido Desoxirribonucleico) RNA (Ácido Ribonucleico) DNA (Ácido desoxirribonucleico) Danos ao DNA Transcrição e tradução Elucidação da composição química (história) Engenharia Genética Medicina Forense Bioinformática Nanotecnologia de DNA Ácido Ribonucleico (RNA) O Genoma Humano e a Nova Ciência Pesquisas com Células-Tronco Manipulação Genética Humana Direitos da Personalidade A Bioética e o Conceito de Pessoa A ética médica e de enfermagem, a ética filosófica e a ética religiosa A pessoa e a Bioética Limites éticos da manipulação genética humana A ética e a bioética O Biodireito: um novo paradigma sobre as práticas biotecnológicas 232 Considerações Finais 241 Referências 245
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13 Introdução 1 A presente obra foi desenvolvida em torno das ciências do Biodireito e da Bioética. Os temas aqui abordados decorrem das práticas de Biotecnologia desencadeadas pela Revolução Biotecnológica que se acentuou no final do século XIX e início do século XX. Esta obra chama atenção do leitor para aspectos peculiares que envolvem a biotecnologia, a pessoa (seja agente ativo do ato, isto é, aquele que desenvolve e aplica a prática biotecnológica, seja o agente passivo, é dizer, que é submetido ou recebe, mesmo que indiretamente, evento decorrente da biotecnologia), a Ética, a Bioética e o Biodireito. A evolução da biotecnologia suplanta em muito a evolução legislativa, motivo pelo qual se observa, neste trabalho, a preponderância da filosofia e da hermenêutica, que constituem ciências primordiais na aplicação do Biodireito para tutelar as relações entre os seres vivos e a biotecnologia. Durante a evolução da pessoa nos diferentes séculos, serão pontuados traços importantes da evolução histórica do homem, utilizando, para tanto, conhecimentos da Filosofia da História e da Filosofia do Direito. O Conceito a ser construído no decorrer do livro é de extrema importância para poder trabalhar de forma consistente a outra parte do estudo, qual seja: os Dados Genéticos Humanos (Ácido Desoxirribonucleico DNA e Ácido Ribonucleico RNA). É no decorrer da construção do conceito de pessoa que se tentará demonstrar a influência, não só da cultura, mas também da Revolução Biotecnológica na formação da personalidade humana. A formação de um homem livre se deu apenas por influência cultural ou por instinto humano, delimitado e coordenando pela carga genética? A proteção jurídica do DNA e RNA, atualmente regulamentada pela Lei de Biossegurança, é suficiente para proteger o futuro da humanidade segundo a concepção natural do ser, da engenharia genética avançada, que poderá 13
14 transmutar a formação de um ser escolhido pela seleção natural ao inserir no contexto histórico um organismo totalmente recriado e reconstruído em laboratório? Tais questionamentos são de extrema importância no atual contexto da humanidade, haja vista o avançar da engenharia genética na busca pela criação de um ser perfeito e de uma forma adequada de vida. Não obstante, as atuais práticas da biotecnologia estarem voltadas para o bem, trazendo mais qualidade de vida para a pessoa humana, a busca pela nova acepção de pessoa poderá levar à segregação intelectual, causando, assim, um preconceito genético que poderá levar ao fracasso da sociedade até aqui construída. A discussão no campo filosófico será a mais adequada, porquanto a formação humana se dá nesse contexto. É a filosofia a vereda destinada a estudar a formação do conhecimento humano, bem como as relações entre esses seres, sendo, pois, os filósofos os grandes pensadores responsáveis por instruir o ser humano a buscar um mundo social livre, não de forma absoluta, uma vez que existem normas coercitivas que foram criadas justamente para poder garantir a liberdade humana. A libertação física e moral do ser humano da submissão da igreja e do reinado dos antigos impérios teve papel fundamental na formação do intelecto humano. Durante vários séculos, o homem se viu preso em si mesmo. Contudo, a partir do século das luzes e, mais precisamente, com a Revolução Francesa, a liberdade humana transcende o indivíduo, porém não tal qual é concebida hoje; aquele, contudo, foi o início do verdadeiro reinado do homem sobre si mesmo. Tal liberdade hoje encontra seu maior limite na lei moral, todavia esta não é suficiente para poder limitar toda a vontade, menos ainda coibir todos os seres, fazendo-os deixar de possuir condutas que podem causar danos a outras pessoas. Esse limite moral talvez não seja suficiente para que o ser humano, ou melhor, alguns seres, com tecnologia e conhecimentos de sobra, deixem a genética selecionar por si só a evolução biológica humana. Um ordenamento jurídico preciso e claro, no atual contexto da biotecnologia, preconizado pela Bioética e pelo Biodireito, se mostra fundamental para tutelar a vontade humana no avançar da ciência, uma vez que apenas a lei moral não é suficientemente eficaz na condução de tal ato. A coerção legislativa limitando a vontade e liberdade natural é a base para que uma sociedade possa viver em perfeita harmonia dentro de um contexto de paz social que é almejada desde os primórdios da sociedade humana. A manipulação genética e as incansáveis pesquisas referentes aos dados de DNA e RNA humano consistem em um passo gigante dado pela hu- 14
15 manidade e continua sendo, principalmente ao tratar de doenças graves e degenerativas que acometem o ser humano. Porém, tais avanços deverão respeitar princípios humanos indisponíveis, como o princípio da dignidade humana. Não se pode, portanto, valer-se de técnicas de engenharia genética no intuito de fazer uma seleção laboratorial do ser. Dentro de todo esse contexto é que será desenvolvida a pesquisa com o objetivo de orientar futuros pesquisadores do Direito na elaboração de normas voltadas para a proteção de toda a formação humana até aos dias atuais. O conceito de pessoa, criada e desenvolvida por meio de uma seleção natural, poderá sofrer sérios impactos, caso esses mesmos seres passem a ser concebidos por meio de uma seleção genética perfeita por meio da engenharia genética. As pesquisas de possíveis danos nesse sentido ainda não são conhecidas, assim, objetivar-se-á demonstrar a evolução conceitual da pessoa humana como ser livre, justo e solidário, tutelado por uma sociedade de direito. Liberdade esta que culminou com o ser racional que passou a se desenvolver intelectualmente, vertendo forças para o campo das pesquisas biológicas, que hoje, diante do aparato biotecnológico, criado pelo homem, graças à sua evolução, principalmente no campo da liberdade, poderá intervir de forma precisa no corpo humano, prolongando situações de bem-estar físico, psíquico e por que não dizer social. A evolução biotecnológica chegou à micro e à nanotecnologia. Todo esse conhecimento humano há de ser pautado em princípios que possam garantir a existência humana. Para tanto, mister será a análise do contexto histórico da formação da cultura humana e, consequentemente, da sociedade, ressaltando o contexto desencadeado pela Revolução Francesa como início da condução pelo homem de sua liberdade pura, ora estabelecida durante o séculos das luzes. Durante o desenvolvimento da presente obra, os aspectos da organização política e constitucional da sociedade internacional será demonstrado paulatinamente, principalmente ao tratar de conceitos como Liberdade, Estado, Soberania e Família. O marco responsável traçado pelo conhecimento humano, pautado na liberdade, na medicina e em suas práticas evolucionistas direcionadas à biotecnologia, conhecidos como manipulação genética humana, constituem preceitos basilares da formação da atual sociedade, por isso a importância de os operadores do Direito se debruçarem sobre esse incansável tema, buscando a garantia da dignidade da pessoa humana. Em que pese a normatização jurídica do Biodireito estar dando os primeiros passos neste novo campo de atuação do Direito, a sociedade jurídica deverá analisar a ética como marco primordial da biotecnologia genética, fazendo uma construção hermenêutica capaz de satisfazer a lacuna legislativa aberta nesse novo contexto. 15
16 Com o desenvolvimento cultural humano, as práticas evolucionistas do pensamento filosófico, a vontade natural da liberdade, dentre outras, desencadearam movimentos revolucionários mundo afora em busca de um ser livre. Com a liberdade, vieram deveres, responsabilidades que devem ser respeitadas para que a sociedade se garanta e desenvolva, sem mais restringir direitos naturais como outrora. O homem, como ser livre que é, passa, então, a encontrar limites na moral, na ética, no seu eu interior, sendo que, somente assim, poderia criar uma sociedade ideal, preconizada pelos grandes pensadores do mundo que instigaram a luta pela liberdade humana. Diante de um contexto de ser livre, o homem pode fazer o que quiser, porém o sucesso de sua liberdade consiste em abrir mão de parte de sua liberdade (autonomia da vontade), para que a sociedade humana possa sobreviver e desenvolver-se. O homem livre, por encontrar diversas barreiras biológicas, enveredou- -se na busca de conhecimentos que pudessem garantir a sua sobrevivência no planeta. Então, livre para agir, engaja na interpretação do corpo humano. Pensamentos que outrora eram inconcebíveis passam a fazer parte do contexto humano, e a descoberta dos dados genéticos humanos, DNA e RNA, constitui o marco de uma nova sociedade e de um novo conceito de pessoa. Para que esta nova sociedade possa perpetuar com segurança e liberdade, os limites impostos à mesma devem ser redobrados, mas no plano moral, ético e jurídico, sob pena de retrocesso. Os grandes avanços Biotecnológicos das últimas décadas propiciaram o surgimento de muitas dúvidas, principalmente no que tange àquelas práticas de engenharia genética que buscam otimizar a carga somática humana, ou seja, que manipulam diretamente o DNA humano, seja para buscar curas para algumas doenças, seja para construir um ser geneticamente perfeito, tal como foi preconizado no filme Gattaga. Ademais, esse filme relata os danos que podem decorrer da modificação exacerbada do ser humano. É por certo que a ficção científica está muito à frente da atual realidade, porém praticas biotecnológicas já modificam organismos vegetais, os conhecidos Organismos Geneticamente Modificado OGM, que são popularmente conhecidos como transgênicos. A preocupação do legislador em coibir práticas maliciosas de manipulação genética encontra previsão na Lei de Biossegurança, entretanto tal diploma legislativo não consegue por si só acompanhar o desenvolvimento da engenharia genética, nem mesmo o próprio legislador é capaz de tratar precisamente de cada tema novo. O Direito Natural, a lei moral, as normas do Conselho Federal de Medicina, esses são os principais aliados no controle do desenvolvimento da 16
17 engenharia genética. Sendo assim, é de suma importância que tal assunto seja objeto de discussões junto à Filosofia, que buscará trazer conceitos e limites outrora criados, que possam tolher a autonomia da vontade em respeito ao bem social, à perpetuação da própria sociedade, da vida. A engenharia genética é meio capaz de tornar a vida humana mais digna, mas há de ser desenvolvida obedecendo parâmetros deônticos, filosóficos, sociológicos, legais, enfim, um vasto campo de regras, sejam naturais ou não. No entanto, as normas coercitivas não têm se mostrado eficazes diante desse novo ramo do Direito, qual seja, o Biodireito. Certamente, a ineficácia legislativa se dá porque o legislador não consegue acompanhar o desenvolvimento da engenharia genética; logo, caberá ao intérprete do Direito, diante das normas, coibir abusos que podem implicar desvios de condutas socialmente validados por uma cultura. Entendida a importância da história, do exegeta e de normas deontológicas para este novo ramo, a tutela do bem da vida poderá encontrar guarida, garantindo, assim, um desenvolvimento de estudos e projetos genéticos que não venha a ferir normas constitucionais e de Direito Natural. 17
18 GLEISON JOSÉ PEREIRA MARTINS Graduando do 10º período do curso de Direito da Faculdade Asa de Brumadinho/MG. CAPA_Biotecnologia e direito_110414_tales.indd 1 ISBN Rafael Tallarico Gleison José Pereira Martins RAFAEL TALLARICO Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. É mestre em Direito e Justiça pela Universidade Federal de Minas Gerais. Advogado militante na área empresarial e criminal. É professor de Direito Internacional Público, Direito Econômico, Filosofia do Direito, Hermenêutica e Sociologia Jurídica das Faculdades Asa de Brumadinho/MG e de Sabará/MG. Orienta monografias e trabalhos científicos jurídicos e possui artigos publicados na Revista Asa - Palavra. É autor dos livros Estado e Soberania: Perspectivas no Direito Internacional Contemporâneo, A Liberdade de Expressão da Opinião Pública, Educação e Cidadania: Evolução Histórica e Paradigmas Contemporâneos e coordenador e autor da obra História da Filosofia Ocidental: da Pólis Grega ao Estado de Direito Contemporâneo, todos pela Editora D`Plácido. BIOTECNOLOGIA, DIREITO E ÉTICA A ciência é o instrumento de melhoramento da condição humana ao longo de toda a História. Nos tempos antigos, o acesso à medicina, por exemplo, era apenas para uma elite detentora de riquezas e poder. Nos dias atuais, é condição fundamental de vida. Kant fala no imperativo categórico, que implica na conciliação dos arbítrios individuas e coletivos para o respeito da máxima universal, que é, na verdade, o conceito de liberdade, no seu aspecto evolutivo, permeado pela Justiça, maior de todas as virtudes, como assevera Platão. À ciência é outorgado o papel de favorecimento da condição humana. A própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no artigo 1º, inciso III, indica a prevalência da dignidade humana sob qualquer outro instituto social, econômico, político e cultural. É a evolução do conceito de liberdade, com expressão em nível constitucional. Os limites éticos não podem ser ultrapassados. Durante toda a História, o desrespeito ao justo esvazia o discurso e enfraquece as relações humanas. A ciência existe para o proveito do homem, não o homem para o proveito da ciência. O avanço do conhecimento deve ser contínuo, como é da essência da natureza humana. O benefício deve ser global, para a preservação da espécie humana e para o progresso da qualidade de vida, sempre com o reconhecimento do outro. Esta é uma obra que busca resgatar filosoficamente o desenvolvimento biotecnológico através de uma análise crítico- construtiva. O Estado de Direito Contemporâneo é o máximo ético, no qual se encontram resguardadas as garantias fundamentais da pessoa humana, principalmente a vida e a própria melhoria das condições de vida, para o bem comum. Este é o destino da existência racional e a vontade de Deus. A Biotecnologia, DIREITO E ÉTICA Rafael Tallarico Gleison José Pereira Martins contextualização do suprimento das necessidade humanas é item indispensável nas Constituições Ocidentais. Desde a Revolução Francesa de 1789, desenvolve-se o entendimento segundo o qual as políticas de Estado devem ser precedidas pelo debate da causa humanitária. Todos são livres, mas primeiro devem ser iguais formalmente. Platão anuncia o imperativo da educação como condição mínima de convivência social e condução política. No Estado de Direito Contemporâneo esta é uma assertiva fixa e nunca pode ser afastada de qualquer legislatura. É um princípio científico. Epistemologicamente a biotecnologia acaba por refletir a condição humana nos tempos atuais, que visa o incremento do saber e principalmente o benefício humano. A regulamentação da biotecnologia, em nível internacional, deve se pautar pelos paradigmas universais dos direitos do homem, previstos na Carta da ONU de 1945 e na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de Assegurar a dignidade humana é atender ao comando evolutivo do direcionamento científico, que vêm desde a Grécia Antiga, com a igualdade formal, passando por Roma, com os Direitos da Personalidade e a partir da Ilustração com a centralização no homem das atenções científicas e políticas. É um caminhar axiológico do interesse pelo conhecimento, que não está apenas na natureza, mas no próprio homem. O Estado racional é o Estado do conhecimento, para a difusão dos benefícios para a vida humana. 14/04/14 16:49
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