RECOLONIZAÇÃO DE UNIDADES EXPERIMENTAIS POR PREDADORES DE PRAGAS APÓS A APLICAÇÃO DE INSETICIDA NO ALGODOEIRO VISANDO ESTUDOS DE SELETIVIDADE
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1 RECOLONIZAÇÃO DE UNIDADES EXPERIMENTAIS POR PREDADORES DE PRAGAS APÓS A APLICAÇÃO DE INSETICIDA NO ALGODOEIRO VISANDO ESTUDOS DE SELETIVIDADE Paulo R. B. da Fonseca (UFMS), Rodrigo F. Nogueira (UFMS), Juliano Lopes (UFMS), Marcos G. Fernandes (UFMS), Paulo E. Degrande (UFMS / degrande@ceud.ufms.br). RESUMO - O estudo foi realizado em Dourados, durante a safra 2004/05. As contagens dos predadores foram feitas vistoriando-se 400 plantas numa área total de 1600m 2, subdividida em parcelas de 400m 2 (20m x 20m), com bordaduras sem cultivo de 10m as parcelas, dos 7 aos 126 dias após a emergência das plantas. No pico populacional dos inimigos naturais aplicou-se o inseticida e foram feitas as amostragens até o termino do período residual do defensivo. Constatou-se a presença de predadores, principalmente das Famílias Lygaeidae, Forficulidae, Coccinelidae, Pentatomidae, Reduviidae, Araneae, abrangendo vários gêneros e espécies. A família Coccinelidae foi a mais abundante predominando as larvas Cycloneda sanguinea. A ordem Hemíptera foi a que apresentou maior diversidade, tendo sido nela identificados 3 gêneros de famílias diferentes, sendo Geocoris o gênero predominante. No final do ciclo da cultura teve a predominância das famílias Pentatomidae (Podisus), e da família Reduviidae (Zellus). Após a aplicação do inseticida lambdacialotrina 50 CS a 0,2 L/ha, as reduções na área tratada foram: Forficulidae (43,9%), Araneae (43,8%), Lygaeidae (41,8%), Coccinelidae (39,4%), Reduviidae (30,4%), e Pentatomidae (27,3%). As parcelas tratadas tiveram a recolonização em 10 dias após a aplicação do inseticida piretróide. Palavras-chave: inimigo natural, metodologia, flutuação populacional RECOLONIZACION OF EXPERIMENTAL UNITS FOR PREDATORS OF PESTS AFTER THE APPLICATION OF INSECTICIDE IN THE COTTON PLANT AIMING AT SELECTIVITY STUDIES ABSTRACT - This study was carried out in Dourados, during the season 2004/05. The predators were counted by checking 400 plants in 1600m 2 (plots of 400m 2 or 20m x 20m), with 10m borders without crop, from 7 till 126 days after emergence (dae). At 98 dae, we sprayed lambdacyalothrin e after that we did evaluations each 3 days. We found mainly Lygaeidae, Forficulidae, Coccinelidae, Pentatomidae, Reduviidae, Araneae. Coccinelidae was the most abundant, especially Cycloneda sanguinea larvae Hemiptera showed more species, where Geocoris was the most common. At the end of the crop, Pentatomidae (Podisus) and Reduviidae (Zellus) were predominant. After lambdacyalothrin 50 CS (0,2 L/ha) application the reduction was: Forficulidae (43,9%), Araneae (43,8%), Lygaeidae (41,8%), Coccinelidae (39,4%), Reduviidae (30,4%), e Pentatomidae (27,3%). In 10 days occurred the recolonization. Key words: natural enemy, methodology, population fluctuation
2 INTRODUÇÃO A presença de organismos que exercem o controle biológico (predadores, parasitóides e patógenos) de pragas é indispensável com fator de equilíbrio no agroecossistema do algodoeiro. Esta presença minimiza a necessidade de intervenção do homem no controle de pragas mediante outros métodos de redução de populações de insetos (DEGRANDE e GOMES, 1990). Para Gravena (1991), dentre os predadores, os mais importantes e mais abundantes no algodoeiro são: percevejos Orius sp; Nabis sp; coccinelídeos: Colleomegilla maculata, Scymnus spp., Cycloneda sanguinea e Eriopis connexa; carabídeos como Colosoma granulatum, Lebia concinna e Callida spp.; crisopídeos: Chysoperla carnea, C. externa, C. bicarnea e C. cubana, formigas: Solenopis invicta; tesourinha: Doru lineare; Aranhas: Oxyopes salticus, Misumenops sp, Chicaranthium sp, Acanthepeira stellata, Tetragnatha laboriosa, Aysha gracilis, Phidippus audax, Pardosa sp., Theridula gonygaster e Crysso clementinae. Coccinellidae, Chrysopidae e Shyrphidae estão associados às populações de pulgões, enquanto que Araneida, Dermaptera, Chrysopidae e Geocoris foram os predadores associados, a Heliothis virescens e Alabama argillacea (DEGRANDE, 1993). Este trabalho objetivou estudar como ocorre a recolonização de parcelas experimentais por predadores após a aplicação de inseticida, com vistas a definir critérios de padronização de estudos de seletividade de inseticidas sobre inimigos naturais de pragas do algodoeiro. MATERIAL E MÉTODOS O sistema de preparo de solo utilizado foi o convencional. O controle químico das pragas não foi realizado para evitar interferência na população de inimigos naturais. As formigas cortadeiras do gênero Atta sp e Acromyrmex sp foram controladas utilizando-se iscas formicidas. O controle da lagarta-curuquerê (Alabama argillacea), que causa desfolha nas plantas, foi realizado exclusivamente com a pulverização do inseticida seletivo (Bacillus thuringiensis) quando necessário, objetivando não prejudicar a população de predadores da área experimental. As avaliações foram realizadas semanalmente no período compreendido dos 7 aos 98 dias após a emergência (DAE). Aos 98 DAE foi aplicado o inseticida e as coletas de dados passaram a ser realizadas de 3 em 3 dias, até aos 126 DAE. Em cada parcela eram amostradas 100 plantas, contabilizando o número total de predadores encontrado em cada planta. O experimento foi instalado aos 98 DAE, momento em que a área apresentou a maior diversidade e abundância de espécies de predadores na área experimental. A área experimental foi dividida em quatro parcelas com 400 m 2, (20 m x 20m, com bordaduras sem cultivo de 10 m entre as parcelas) em duas das parcelas foi realizada a aplicação de inseticida e nas outras duas não foi realizado a aplicação. O produto utilizado foi a lambdacialotrina (Karate Zeon 50 CS), do grupo químico dos piretróides, cuja dose do produto comercial utilizado foi de 0,2 litros. ha- 1, considerado não seletivo aos inimigos naturais nesta dosagem. As variáveis avaliadas foram abundâncias e a diversidade das famílias dos inimigos naturais. O estudo estatístico foi descritivo. Os dados coletados a campo foram tabulados e submetidos à confecção de histogramas de freqüência (GOMES, 1980).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1a apresenta a flutuação populacional dos inimigos naturais encontrados em 100 plantas de algodoeiro e evidencia que o pico máximo dos predadores ocorrentes na área se deu aos 98 DAE, quando então foi realizada a pulverização do inseticida nas parcelas a serem tratadas. O piretróide aplicado reduziu a incidência de inimigos naturais nas parcelas tratadas, conforme pode ser visto na Figura 1b, a partir dos 98 DAE, e a recolonização da área tratada iniciou-se 3 dias após a aplicação efetuada. No experimento, observou-se que, dentre os inimigos naturais, a família Coccinelidae foi a mais abundante; os demais inimigos naturais encontrados pertenciam aos grupos de Lygaeidae, Forficulidae, Araneae, Pentatomidae e Reduvidae, como pode ser visto na Figura 1a. A família Coccinelidae foi a mais abundante predominando as larvas Cycloneda sanguinea. A ordem Hemíptera foi a que apresentou maior diversidade, tendo sido nela identificados 3 gêneros de famílias diferentes, sendo Geocoris o gênero predominante. No final do ciclo da cultura teve a predominância das famílias Pentatomidae (Podisus), e da família Reduviidae (Zellus). Na Tabela 1 estão apresentados os dados acumulados de inimigos naturais, considerando o final do ciclo da cultura do algodão (de 98 a 126 DAE), ou seja, durante a fase da cultura sob efeito do tratamento químico em comparação com a área testemunha. Ficou evidente a redução da população de inimigos naturais em relação à testemunha devido ao impacto do inseticida. Notou-se que com a aplicação do piretróide houve reduções do número de insetos observados no final do ciclo da cultura imediatamente após a aplicação mas com recolonização rápida da área tratada (Fig. 1b e Tab. 1). As reduções dos inimigos naturais das parcelas tratadas foram de aproximadamente 38% em relação às parcelas não tratadas, com a seguinte divisão por grupo de predadores: Forficulidae (43,9%), Araneae (43,8%), Lygaeidae (41,8%), Coccinelidae (39,4%), Reduviidae (30,4%), e Pentatomidae (27,3%). Os menores impactos sobre espécies de Pentatomidae e Reduviidae estão evidenciados na Figura 2. A Tabela 2 detalha como se deu o repovoamento das parcelas tratadas, porque ela mostra os dados coletados a campo nas parcelas que sofreram o tratamento inseticida em contraste com a testemunha. Percebeu-se que a recolonização tornou-se similar à área testemunha após 12 dias do tratamento (110 dias DAA), permanecendo praticamente igual às não tratadas até o final do ciclo. Insetos em 100 plantas (a) testemunha não tratada Dia após a emergência Insetos em 100 plantas (b) lambdacialotrina 50 CS 0,2 l/ha Aplicação do Piretróide Dia após a emergência Figura 1. Flutuação populacional dos inimigos naturais na cultura do algodão em parcelas com (a) sem a aplicação do inseticida; e (b) com a aplicação de lambdacialotrina.
4 Tabela 1. Número de inimigos naturais em 200 plantas, tratamentos acumulados no final do ciclo da cultura do algodão, considerando a aplicação do inseticida piretróide e a testemunha não tratada. Inimigos Naturais lambdacialotrina 50CS 0,2 L/ha Test. 1 % de redução 2 Lygaeidae ,8 Forficulidae ,9 Coccinelidae ,4 Pentatomidae ,3 Reduviidae ,4 Araneae ,8 1. Testemunha não tratada. 2. Porcentagem de redução em relação à testemunha não tratada. Porcentagem de repovoamento Dia após a aplicação do piretróide Figura 2. Repovoamento de inimigos naturais após a aplicação de inseticida piretróide em relação à testemunha não tratada. Tabela 2. Número médio de inimigos naturais por parcela (valor médio das duas repetições), considerando os tratamentos com aplicação do inseticida e a testemunha não tratada. D Inimigos naturais Tratamento A E Lygaeidae Forficulidae Coccinelidae Pentatomidae Reduviidae Araneae Com inseticida 7,5 0,0 4,5 7,5 7,0 6,5 2,0 2,5 2,0 Sem inseticida 6,5 11,5 9,0 9,0 8,5 7,0 3,5 3,0 3,5 Com inseticida 4,5 0,5 2,5 4,5 3,5 2,5 1,0 0,5 1,0 Sem inseticida 3,5 6,0 5,0 4,0 4,5 2,0 2,5 2,0 2,5 Com inseticida 17,5 1,0 9,0 12,0 9,5 6,5 5,0 4,0 4,5 Sem inseticida 17,5 19,5 17,0 13,0 10,5 8,5 5,5 5,5 5,5 Com inseticida 5,0 0,0 1,0 4,0 5,0 2,5 3,0 2,0 2,5 Sem inseticida 4,0 4,5 5,0 6,5 4,0 1,5 2,5 1,0 2,5 Com inseticida 4,5 0,0 1,0 3,5 4,5 1,5 2,5 2,0 1,0 Sem inseticida 5,5 4,0 3,0 4,0 5,0 2,0 2,0 1,0 2,0 Com inseticida 2,5 0,0 2,0 3,0 2,0 0,5 2,0 1,5 2,5 Sem inseticida 2,0 4,5 4,5 3,5 3,0 2,0 2,0 2,5 2,0 CONCLUSÕES 1. A aplicação do inseticida lambdacialotrina 50 CS 0,2 L/ha reduziu as populações de inimigos naturais imediatamente após a pulverização; 2. As maiores reduções foram para Forficulidae (43,9%), Araneae (43,8%), Lygaeidae (41,8%), Coccinelidae (39,4%), Reduviidae (30,4%), e Pentatomidae (27,3%); 3. Em 10 dias após a aplicação do inseticida lambdacialotrina 50 CS 0,2 L/ha houve a recolonização das parcelas tratadas.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS DEGRANDE, P. E. Validação do manejo integrado de pragas aplicado ao algodoeiro no Mato Grosso do Sul através de campos demonstrativos. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 14., 1993, Piracicaba. Anais... Piracicaba, p DEGRANDE, P.; GOMES, D. R. S Seletividade de produtos químicos no controle de pragas. Agrotécnica, p. 8-13, DEGRANDE, P. E. Otimização e praticada metodologia da IOBC para avaliar o efeito de pesticidas sobre Trichogramma cacoeciae (Trichogrammatidae) e Chrysoperla carnea (Chrysopidae) p. Tese Doutorado - ESALQ/USP, Piracicaba. GRAVENA, S. Controle biológico no manejo integrado de pragas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 27, p , GRAVENA, S.; STERLING, W. L. Natural predation on the cotton leafworm (Lepidoptera: Noctuidae) J. Economic Entomology, v.76, n. 4, p , METCALF, R. L. Inseticides in pest management. In: METCALF, R. L.; LUCKMAN, W. H. (Ed.) Introduction to insect pest management. 2.ed. New York: John Wiley, p
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