CRÉDITOS DE PIS E COFINS SOBRE GASTOS COM EXIGÊNCIAS AMBIENTAIS ACÓRDÃO Nº DIREITO TRIBUTÁRIO. Direito Ambiental.

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1 Direito Minerário Direito Ambiental Direito Tributário Direito Penal Mining Law Environmental Law Tax Law Criminal Law CRÉDITOS DE PIS E COFINS SOBRE GASTOS COM EXIGÊNCIAS AMBIENTAIS ACÓRDÃO Nº DIREITO TRIBUTÁRIO

2 Assunto: CARF reconhece créditos de PIS e Cofins sobre gastos com exigências ambientais Acórdão nº , de

3 Em sessão realizada em , a 3ª Câmara/1ª TO/3ª Seção do CARF analisou Recurso Voluntário interposto por uma empresa de produção de carvão mineral, no qual se buscava a caracterização de diversos dispêndios como insumos, para fins de apuração de créditos de PIS e Cofins (PAF nº / Acórdão nº ). O contribuinte argumentou que incorria em gastos decorrentes de imposições postas por órgãos reguladores da atividade de mineração, inclusive exigências de conservação e recuperação ambiental. É o que se depreende do seguinte trecho (citação do anterior Acórdão da DRJ): 1. Gastos decorrentes de imposições postas por órgãos reguladores da atividade de mineração (...) O contribuinte indicou vários itens a serem observados e realizados tanto no interior como no exterior das respectivas minas, de presença obrigatória para se produzir carvão mineral de forma regular e em estrita e perfeita observância as normas impositivas que se aplicam a este tipo de exploração econômica, os quais, ante as exigências de conservação e recuperação ambiental, devem ser obrigatoriamente custeados e efetivamente realizados pela empresa mineradora, junto e concomitantemente à mineração do carvão propriamente dita, inclusive para que os órgãos estatais permitam que as minas permaneçam abertas e em funcionamento/operação. Ao examinar os itens glosados pela Fiscalização, a Turma Julgadora do CARF reconheceu o crédito sobre todas as despesas ocorridas em razão das prestações de serviços vinculados ao meio ambiente. O acolhimento do recurso nesse ponto se deu sob o fundamento de que os gastos (i) são essenciais para o processo produtivo da empresa; e (ii) foram assumidos por imposição do Poder Público (ex: acordos judiciais e termos de ajustamento de conduta firmados com o Ministério Público): (...) reconheço do pleito do contribuinte em relação todas as despesas ocorridas em razão das prestações de serviços vinculados ao meio ambiente, dado que estas despesas somente ocorreram em função das imposições decorrentes do Acordo Judicial de Conduta e dos Termos de Ajuste de Conduta celebrados com Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e FATMA. Assim, partindo da planilha elaborada pelo agente fazendário, concedo créditos em relação às aquisições de serviços e produtos mencionados na tabela abaixo, por compreender que estes são essenciais para o processo produtivo da empresa e ainda por estas despesas terem decorrido de imposição do Poder Público: (...) O caso é analisado em um novo contexto jurisprudencial sobre a matéria, moldado pelo julgamento, no STJ, em fevereiro de 2018, do REsp nº /PR, eleito como 1

4 Recurso Repetitivo1. Naquela ocasião, o Tribunal (i) reafirmou a ilegalidade das Instruções Normativas RFB nº s 247/2002 e 404/2004, no ponto em que restringiram indevidamente a definição de insumos no sistema não-cumulativo de PIS e Cofins, por assimilação dos critérios próprios ao IPI; (ii) definiu que o conceito de insumo, no âmbito das referidas contribuições, deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, vale dizer, considerando-se a imprescindibilidade ou ainda a importância de determinado item, bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte. Na decisão do leading case, merece destaque a descrição constante sobre o critério da relevância (mais abrangente que o da essencialidade), ao se afirmar que devem ser consideradas as singularidades da cadeia produtiva e os gastos incorridos por imposição legal: Por sua vez, a relevância, considerada como critério definidor de insumo, é identificável no item cuja finalidade, embora não indispensável à elaboração do próprio produto ou à prestação do serviço, integre o processo de produção, seja pelas singularidades de cada cadeia produtiva (v.g., o papel da água na fabricação de fogos de artifício difere daquele desempenhado na agroindústria), seja por imposição legal (v.g., equipamento de proteção individual - EPI), distanciando-se, nessa medida, da acepção de pertinência, caracterizada, nos termos propostos, pelo emprego da aquisição na produção ou na execução do serviço. Apesar de o Acórdão do CARF não conter referência expressa ao REsp nº /PR, a leitura dos fundamentos utilizados deixa clara a adoção do critério da relevância por imposição legal veiculado no precedente do STJ. Senão, veja-se: (...) as despesas com a proteção do meio ambiente são geradas em função de uma imposição do Poder Público e neste caso é inexigível conduta diversa por parte do contribuinte. Além do que, é verdade que sem cumprir ao rígido controle ambiental, por certo que a empresa não estaria autorizada a extrair o carvão mineral, ou seja, estaria impossibilitada de realizar o seu processo produtivo. Logo, compreendo que deve ser reconhecido o direito aos créditos pleiteados para todas as despesas relacionadas de alguma forma com a recuperação do meio ambiente (...) uma vez que esses serviços são essenciais ao funcionamento da empresa. Na realidade, nota-se que o julgado do Conselho, em relação às despesas com exigências ambientais, reputa como presentes, concomitantemente, os critérios de relevância por 1 Sobre o assunto, ver O PARECER NORMATIVO DA RFB SOBRE O CONCEITO DE INSUMOS PARA PIS/COFINS, disponível em < 2

5 imposição legal (que, por si só, já seria suficiente para legitimar o creditamento) e da essencialidade (gasto sem o qual a empresa estaria impossibilitada de realizar o seu processo produtivo ). Sob essa premissa, o Acórdão do Conselho reconheceu o direito de creditamento sobre os seguintes dispêndios: i. risco ambiental, recuperação ambiental, auditorias ambientais; ii. iii. iv. terraplanagem para recuperação ambiental; serviços com o objetivo de obtenção da Licença Ambiental Prévia; serviços de monitoramento do ar na área de influência das minas; v. serviços de acompanhamento das etapas de elaboração de diagnóstico ambiental; vi. vii. serviços de estudos hidrológicos, locação de máquinas e equipamentos para aterro com o intuito de recuperação ambiental e de ensaio técnico; serviços de elaboração de Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (FIA/RIMA); viii. prestação de serviços de diagnóstico ambiental nas áreas impactadas pela mineração por meio de avaliação da flora e fauna visando a avaliação da reabilitação de áreas degradadas; ix. prestação de serviços de geomecânica e avaliação dos parâmetros de qualidade das camadas que foram o teto e o piso da mina; x. serviços de dimensionamento de pilares de minas; xi. xii. serviços planialtimétricos; anteprojeto de recuperação de área ambiental e drenagem, serviços de coleta de resíduos sólidos. A lista acima demonstra a adoção de um critério bem amplo quanto ao tipo de gasto admitido como insumo, desde que observada a vinculação ao caráter ambiental (proteção, recuperação e controle de riscos). Apesar de o CARF já ter se amparado no fator exigência legal em face do contribuinte para validar créditos na modalidade de insumo (ex: equipamento de proteção individual -EPI2 e indumentária na indústria de processamento de carnes3), o Acórdão nº é o primeiro caso do órgão que se tem notícia com posicionamento favorável, sob essa ótica, especificamente sobre gastos voltados a obrigações ambientais. 2 Acórdão nº , de ª Câmara/2ª TO/3ª Seção; Acórdão nº , de ª Turma da CSRF. 3 Acórdão nº , de ª Turma da CSRF. 3

6 Ademais, o julgamento sinaliza uma perspectiva favorável de reconhecimento de créditos não apenas sobre gastos com exigências ambientais, mas também, de forma mais abrangente, com imposições regulatórias em geral. Isso, pois, aplica-se a elas a mesma racional que norteou o Acórdão do CARF, alinhada com o critério da relevância fixado no REsp nº /PR: dispêndio assumido por imposição legal (ou do Poder Público), sendo inexigível conduta diversa por parte do contribuinte. É importante pontuar, por fim, que o julgamento teve como relatora a Conselheira Liziane Angelotti Meira, representante do Fisco Federal, sendo seguido por todos os demais (decisão unânime). Esse aspecto indica uma maior maturação e consenso no âmbito do CARF quanto à aplicação, em casos concretos, dos critérios para enquadramento de gastos como insumos no sistema não-cumulativo de PIS e Cofins. Ou seja, caminhase para um cenário de maior segurança jurídica sobre tema com histórico de grande controvérsia. Belo Horizonte/MG, 21 de março de Paulo Honório de Castro Júnior João Paulo Ayres 4

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