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Isaac Azenha
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4 NOTA INTRODUTÓRIA A adolescência e juventude (15-24 anos) são períodos críticos caracterizados por transições e mudanças significativas no contexto de vida dos indivíduos, em que os problemas relacionados com o bem-estar têm profundo impacto na vida adulta. Estima-se que a prevalência de perturbações como a depressão, o abuso de substâncias, os distúrbios de ansiedade, os distúrbios do comportamento alimentar, e ainda perturbações psicóticas, como é o caso da esquizofrenia se situem entre os 15 e 20% (OMS, 2001; Rickwood et al., 2005; OMS, 2005). Vários documentos nacionais e internacionais afirmam de modo explícito que o agudizar destes problemas se deve, entre outros, aos reduzidos índices de literacia em saúde mental, consequência de um investimento muito reduzido em programas de promoção da saúde e prevenção das doenças mentais (OMS, 2001; CCE, 2005; CNRSSM, 2007). Simultaneamente é afirmado por diferentes estudos que os adolescentes e jovens parecem comungar das mesmas representações relativamente às doenças mentais que, assentando no medo do estigma, na vergonha e no receio da discriminação social, surgem como um forte impedimento, por exemplo, à procura de ajuda profissional, e consequentemente ao evoluir para o agravamento do quadro de sintomas, tornando-se incapacitantes e causa de sofrimento (Loureiro, 2008). Não sendo alheio a estes problemas o Plano Nacional de Saúde Mental , com base nas orientações da Rede Europeia para a Promoção da Saúde Mental e a Prevenção das Perturbações Mentais (UE, 2006), considera necessário atuar junto deste grupos, privilegiando, entre outras, as estratégias que se baseiam em programas de educação sobre saúde mental na idade escolar enquadrando também a sensibilização de professores e dos próprios profissionais dos cuidados de saúde primários, com responsabilidades na área da saúde escolar, não esquecendo em momento algum que os adolescentes e jovens são os grupos com menor nível de interação com o sistema de saúde, comparativamente com outros grupos. A escola, pelo papel que ocupa na sociedade, é essencial para o crescimento, desenvolvimento e maturação dos indivíduos, constituindo-se como a chave para uma participação responsável e de sucesso conducente ao bem-estar dos cidadãos na vida social. Contudo, em simultâneo ela surge como o local onde se

5 espelham os problemas que imanam, por exemplo do contexto familiar e social próximos, quer ainda como terreno favorável à génese e desenvolvimento de problemas, como é exemplo o efeito do bullying escolar na saúde e bem-estar das vítimas. Neste contexto, o sistema educativo deve promover não só a transmissão de saberes organizados, mas privilegiar simultaneamente a educação para os valores, promovendo a saúde, prevenindo as doenças, à medida que cria a cultura da cidadania efetiva e responsável. O presente relatório, constitui-se como um dos elementos fundamentais do programa «Educação e Sensibilização para a Saúde Mental: um programa de intervenção escolar para adolescentes e jovens», e parte da tríade que deve presidir à construção do conhecimento e sua problematização, nomeadamente «o sabido», «o desconhecido» e o «problema». Sabemos que os problemas relacionados com as doenças mentais em adolescentes e jovens Portugueses são coincidentes com os de outros países, apesar de não existirem, ainda, estudos epidemiológicos realizados para o contexto Português. No caso da literacia em saúde mental não tínhamos, quer estudos realizados no contexto português, exceção para o trabalho de Loureiro, Mateus e Mendes (2009), quer ainda instrumentos de avaliação construídos de raiz para a população portuguesa ou então traduzidos e adaptados para o nosso contexto. Acresce que alguns documentos e factos na opinião publicada indiciam que os níveis de literacia entre adolescentes e jovens são reduzidos, em simultâneo com a lentidão da implementação de atividades de promoção da saúde e prevenção das doenças mentais, especificamente nas escolas, onde urge implementar programas de literacia não só para os alunos mas também para professores, assistentes operacionais e inclusivamente encarregados de educação, em parceria com os profissionais de saúde dos cuidados primários de saúde. O presente relatório científico [Mental Health Education and Sensitisation: FIRST SCIENTIFIC REPORT] engloba as componentes referentes à apresentação e discussão breves do conceito de literacia em saúde e especificamente literacia em saúde mental, assim como os resultados dos estudos efetuados, quer ao nível dos instrumentos de medida existentes, quer ainda à avaliação da literacia em saúde mental. A componente da literacia em saúde mental, designada de estigma e discriminação foi alvo de uma revisão aprofundada à evidência

6 produzida. São ainda considerados neste documento os estudos de tradução, adaptação e validação do Questionário de Avaliação da Literacia em Saúde mental (QuALiSmental), os aspetos metodológicos relacionados com o estudo empírico realizado e os resultados preliminares de avaliação da literacia em saúde mental no domínio da depressão, esquizofrenia e abuso de substâncias (álcool) de adolescentes e jovens residentes na região Centro de Portugal continental, na região de abrangência da Direção Regional de Educação do Centro (DREC).

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