GILMARA BITENCOURT MARTINS
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1 GILMARA BITENCOURT MARTINS AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS E NÃO INSTITUCIONALIZADOS Tubarão, 2006.
2 GILMARA BITENCOURT MARTINS AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS E NÃO INSTITUCIONALIZADOS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Fisioterapia, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia. Universidade do Sul de Santa Catarina Orientadora: Profª. MSc. Fabiana Durante de Medeiros Tubarão, 2006.
3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais amados, Gilmar e Rosa que foram responsáveis pela minha formação como pessoa, mostrando sempre o caminho do bem e educando para a vida. Nada seria dessa vitória se não fosse vocês ao meu lado. Amo vocês! E a meu noivo Rafael, que esteve sempre ao meu lado, me apoiando em todas as decisões importantes, e com quem pretendo viver os laços do matrimonio.
4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao Pai celestial, o DEUS criador, por ter enviado à minha vida, pessoas e oportunidades maravilhosas e inusitadas, e ainda pela presença constante em toda minha formação. Aos meus pais, que proporcionaram seguir com meus estudos, com muito esforço e trabalho, não deixando faltar nada que fosse indispensável. Sempre me dando forças e muito amor. Ao meu irmão Ricardo, minha cunhada Alessandra e meus sobrinhos Luiz Henrique e Eduardo, que cederam por muitas vezes o computador, mesmo quando estavam utilizando, para que concluísse meu trabalho. Além de dar força e apoio nessa caminhada de estudos. Ao meu noivo Rafael, pelas horas de ausência e ainda por tantas vezes, ser parte atuante, me levando aos lugares necessários para cumprir com meus compromissos. Além de sua constante preocupação e incentivo. À enfermeira chefe Sandra Grandemagne, do PSF da unidade do bairro Progresso, pela autorização do estudo com sua população idosa, se mostrando interessada em ajudar no que precisasse.
5 À Irmã Agenora, diretora do asilo Santa Isabel, que autorizou a pesquisa com seus internos. E à auxiliar de enfermagem Hosania, que respondeu o questionário, pelos idosos incapazes de responder às questões da pesquisa. À todas agentes comunitárias de saúde do bairro Progresso, por ceder seus cadastros, e mostrando os endereços dos idosos quando necessário. Em especial à minha grande amiga Arêtha, que servia como ponte entre eu e todos os profissionais do PSF, além de prestar informações e ceder material sobre seu trabalho, como membro do PSF. Às amigas Simone, Cristiane, Tassiane, Mariana, Cristina e Ediane, além dos demais colegas de turma, pela amizade, carinho, compreensão e colaboração nesses quatro anos de convivência. Certamente vocês estarão pra sempre em meu coração. À todas as famílias e idosos que com carinho me receberam, permitindo a realização desta pesquisa. E finalmente, a minha orientadora Profª. MSc. Fabiana Durante de Medeiros, pelas horas de dedicação para elaboração deste trabalho. A você muito obrigada, pelas palavras de conforto, mostrando que as coisas não são tão difíceis quanto parece.
6 RESUMO A capacidade funcional, especialmente a dimensão motora, é um dos importantes marcadores de um envelhecimento bem sucedido e da qualidade de vida dos idosos. A perda dessa capacidade, está associada à predição de fragilidade, dependência, institucionalização, risco aumentado de quedas, morte e problemas de mobilidade, trazendo complicações ao longo do tempo, e gerando cuidados de longa permanência e alto custo. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a capacidade funcional de idosos institucionalizados e não institucionalizados, e ver se há um déficit maior da capacidade funcional em idosos institucionalizados. Para isso, foi realizado um estudo descritivo com abordagem quantitativa, utilizando um questionário com perguntas fechadas adaptado do projeto capacidade da Universidade de São Paulo, departamento de prática de saúde pública, fundamentado num sistema de vigilância à incapacidade funcional e dependência, realizado no Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza. Fizeram parte da amostra 24 idosos institucionalizados do Asilo Santa Isabel e 65 idosos não institucionalizados do Programa de Saúde da Família (PSF) da unidade do Bairro Progresso, ambos do município de Laguna SC. Constou, de visita domiciliar e entrevista ao idoso selecionado ou responsável. As variáveis pesquisadas foram: mobilidade, vestir, alimentação, eliminações, tomar banho, telefonar e tomar remédios receitados. Para análise dos dados obtidos, foi utilizado o teste estatístico de Wilcoxon para amostras independentes, que forneceu os seguintes resultados: houve diferença entre os dois grupos de idosos em todas as variáveis, com exceção da mobilidade. Tais resultados, podem ser decorrentes do processo natural do envelhecimento e perdas cognitivas, que em muitos casos é a causa da institucionalização. Enfim, ficou constatado que há um déficit maior da capacidade funcional de idosos institucionalizados. Sendo que, novos estudos devem ser realizados, considerando o motivo da institucionalização, que permitirá agregar mais informações e poderá ser de grande utilidade no contexto institucionalização e capacidade funcional. Palavras-chave: Capacidade funcional, Idosos, Institucionalização.
7 ABSTRACT Functional capacity, specially the motor dimension, is one of the most important markers of a successful aging and of quality of life of elderly indivuduals. The loss of this capacity is associated to prediction of fragility, dependence, institutionalizatio, increased risk of fall, death and mobility s problems, inducing complications along the time, and creating cares of long permanence and at a high cost. The objective of this research was to evaluate fuctional capacity of institutionalized and noninstitutionalized elderly individuals. For this, it was realized a descritive study with quantitative approach, using a questionary containing closed questions that was adjusted and based on capacidade project of Universidade de São Paulo, departament of practice of public health, based on a vigilance system to functional uncapacity and dependence, realized at Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza. The sample was composed by 24 institutionalized elderly subjects of Santa Isabel asylum and 65 non-institutionalized of Family Health Program (FHP) of the unit of Progresso uptown, both in Laguna-SC. It consisted by a home visit and interview with selectioned elderly subjet or responsible. The studied variables were: mobility, to get dressed, food, eliminations, taking shower, to call and take prescribed remedies. To analyze the dates, it was used statistic test of Wilcoxon to independent sample, that gave these results: there was a difference between both groups of elderly subjects in all variables, excluding mobility. These results can be caused by natural aging process and loss of cognition, that in many cases is the cause of institutionalization. So, it was evidenced that there is a higher defficience of functional capacity of institutionalized elderly subjects. And, new studies should be realized, considering institutionalization s reason, that will permiss to collect more informations and will be much usefullness in institutionalization and functional capacity context. Key-words: Functional capacity; Elderly subjects; Institutionalization.
8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO Idoso Envelhecimento biológico Aspectos psicológicos Aspectos sociais Saúde e qualidade de vida das pessoas idosas Capacidade funcional Atividades de vida diária (AVDs) Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) Institucionalização Doença Doenças Crônico-Degenerativas Hipertensão arterial Diabetes Mellitus Osteoartrite Programa de saúde da família (PSF) Asilo Santa Isabel... 31
9 3 DELINEAMENTO DA PESQUISA Tipo de pesquisa Tipo de pesquisa quanto ao nível Tipo de pesquisa quanto à abordagem Tipo de pesquisa quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados População/ amostra Procedimentos utilizados na coleta de dados Instrumentos utilizados para coleta de dados Procedimentos para análise e interpretação dos dados ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Caracterização da amostra Distribuição por gênero e idade Resultados percentuais das variáveis estudadas CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICES APÊNDICE A- Questionário de Capacidade Funcional APÊNDICE B- Termo de consentimento ANEXO - Parecer Consubstanciado do CEP UNISUL... 68
10 1 INTRODUÇÃO Com o crescimento mundial da população idosa, a preocupação em relação à capacidade funcional vem surgindo como novo destaque para a estimativa da saúde desse segmento etário. Esse aumento gera maior probabilidade de ocorrência de doenças crônicas e, com isso, o desenvolvimento de incapacidades associadas ao envelhecimento. Muitas são as alterações fisiológicas que ocorrem nos idosos, limitando sua capacidade funcional, como: redução do volume muscular, aumento do tecido não contrátil (gordura e tecido conectivo) no músculo, redução da força, redução da capacidade aeróbia. Em geral, a capacidade de funcionar de modo independente declina com a idade e este declínio é influenciado por um conjunto de fatores biológicos, psicológicos e sociais (GUCCIONE, 2002). Quando a capacidade funcional começa a se deteriorar é que os problemas começam a surgir. O conceito está intimamente ligado à manutenção da autonomia, dependência e a transferência do idoso para uma instituição, caso não seja possível mobilizar recursos financeiros e familiares para cuidar do idoso em sua própria casa, recorrendo à internação quando a sobrecarga torna-se insuportável ou supõem que o idoso não está recebendo assistência adequada.
11 A institucionalização do idoso está diretamente ligada a fatores como: classe social, manifestação de doença e disfunção, sendo que imobilidade, instabilidade, incontinência e perdas cognitivas são os principais. A internação do idoso em uma instituição de longa permanência pode se apresentar como única saída para a família, frente à não disponibilidade do suporte familiar, financeiro e psicológico que o mesmo necessita. Nestas instituições, o indivíduo vive na forma de internato, por tempo determinado ou não. A institucionalização por si só já representa um fator de risco, já que os idosos institucionalizados necessitam de atenção, suporte e serviços especializados, pois a grande maioria é fragilizada e apresenta morbidades físicas ou mentais, tornando-os mais propensos a quedas. Pelo seu isolamento social, inatividade física e processos psicológicos, subentende-se que quanto maior o tempo de institucionalização, maior a debilidade do idoso (SANTOS; ANDRADE, 2005). A capacidade funcional surge, portanto, como um novo paradigma de saúde, particularmente relevante para o idoso. Saúde, dentro dessa ótica, passa a ser resultante da interação multidimensional entre saúde física, saúde mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica. Qualquer uma dessas dimensões se comprometida, pode afetar a capacidade funcional de um idoso (FREITAS et al, 2002). O trabalho tem como objetivo geral avaliar a capacidade funcional de idosos institucionalizados e não institucionalizados, a partir de questões específicas como: mobilidade, vestir-se, alimentação, eliminações, e atividades como telefonar e tomar remédios receitados. Tendo como principal questionamento, há um déficit maior da capacidade funcional em idosos institucionalizados?
12 O interesse em fazer essa pesquisa deve-se a curiosidade em saber se a capacidade funcional de idosos institucionalizados e idosos não institucionalizados têm diferença, já que no interior da grande maioria dos Lares para idosos, a vida destes é bastante pobre no que diz respeito a acontecimentos de vida, fazendo com que diminua suas atividades diárias. Quanto à estrutura, o presente trabalho foi dividido em cinco partes, inicialmente foram os aspectos introdutórios como: tema, problema, justificativa e objetivos. No segundo capítulo consta a revisão da literatura sobre os termos e conceitos pertinentes ao tema do trabalho. O terceiro capítulo dá destaque ao delineamento da pesquisa, caracterizando tipo e procedimentos utilizado na coleta de dados. O quarto capítulo é composto pela discussão do trabalho, apresentando os resultados e análise. E por fim segue as considerações finais apontando possíveis soluções e respostas para o problema.
13 2 CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO 2.1 Idoso O termo idoso é aplicado aos maiores de 60 anos. Alguns autores defendem que o termo idoso é o mais correto na medida que identifica a pessoa com o estado de velhice, fase em que se acumulam no indivíduo as maiores desvantagens sociais, físicas e psicológicas. Já outros autores, preferem usar o termo terceira idade para se referirem a este período da vida. A grande heterogeneidade existente entre os idosos, nos aspectos morfológicos, funcionais, psicológicos e sociais, decorrentes, entre outros fatores, da grande amplitude desta faixa etária, que começa cronologicamente aos 60 anos e atinge 100 anos de idade ou mais, tem originado questionamento sobre o conceito de normalidade, quando se faz referencia à população idosa. Por outro lado, é conhecido o fato que o ritmo de declínio das funções orgânicas varia de um órgão a outro, mesmo entre idosos com a mesma idade. Esta observação justifica a impressão de que os fatores determinantes do envelhecimento produzem efeitos deletérios diferentes de uma pessoa a outra. (PAPALÉO NETTO, 2002, p. 56). Tem-se constatado que é muito mais fácil evitar mortes do que evitar a ocorrência de doenças crônicas e o desenvolvimento de incapacidades associadas ao envelhecimento. Quando ocorre comprometimento da capacidade funcional a ponto de impedir o cuidado de si, a carga sobre a família e sobre o sistema de saúde
14 pode ser muito grande (ROSA et al, 2003) Envelhecimento biológico Biologicamente, o envelhecimento é caracterizado por um processo natural, progressivo e irreversível, que se instala em cada indivíduo desde o nascimento e o acompanha por todo o tempo de vida possível até a morte. Nesse transcurso provoca diversas modificações morfológicas (alteração da forma), fisiológicas (modificações nas funções orgânicas) e bioquímicas (transformações nas reações químicas presentes no organismo) (JORDÃO NETTO, 1997). As manifestações do envelhecimento são facilmente observáveis, porém pouco se sabe sobre a origem desse fenômeno, havendo muita discordância quanto à verdadeira natureza e dinâmica do processo (JACOB FILHO; SOUZA, 1994). Em conseqüência de tais modificações, os seres humanos começam, com o passar do tempo a apresentar mudanças externas (flacidez muscular, enrrugamento da pele, branqueamento dos cabelos e dos pêlos, entre outras) e internas, representadas tanto pelo mau ou irregular funcionamento de alguns órgãos vitais (coração, fígado, rins, pulmões, principalmente) e por alterações no metabolismo basal, ou seja, na energia mínima necessária para manter as funções vitais do organismo (respiração, circulação, tono muscular, temperatura corporal, atividade glandular). (JORDÃO NETTO, 1997, p. 37). A redução da capacidade do aparelho locomotor que acompanha o envelhecimento é devida à perda de células capazes de funcionar normalmente. Tanto o sistema nervoso como a musculatura por ele controlada, o tecido conjuntivo e os ossos que servem de alavancas para os movimentos, são formados por células especializadas, que no decorrer do tempo, degeneram completamente ou mudam de estrutura. A diminuição da função sensorial, do controle motor, da força resulta da
15 redução progressiva do número e da capacidade funcional das células excitáveis (PICKLES et al, 1998). Muitas alterações fisiológicas ligadas ao processo de envelhecimento podem ser atribuídas às mudanças perniciosas da composição do corpo, consistindo em aumento do tecido adiposo e em diminuição da massa muscular e óssea. Coincidindo com o processo de envelhecimento, temos a considerar muitas vezes os efeitos prejudiciais da vida sedentária que algumas pessoas de idade levam, hábito esse que por sua vez leva à diminuição da capacidade de reserva. Por outro lado, sabemos que a capacidade para a adaptação fisiológica diante do aumento da atividade é preservada até a idade mais avançada. Existe uma forte relação direta entre a capacidade de reserva disponível para a execução de tarefas físicas e a capacidade para adiar a fadiga. Por mais discreto que seja, o aumento da função fisiológica é capaz de resultar em melhora da capacidade funcional e em maior grau de independência para o idoso. (PICKLES et al, 1998, p. 79). As conseqüências do envelhecimento biológico incluem: a diminuição da capacidade individual de adaptação ao meio ambiente, o que torna o geronte mais suscetível à possibilidade de adoecer. Este envelhecimento é explicado por duas teorias: 1) teoria do relógio biológico, esta teoria diz que o envelhecimento ocorre pela degradação dos mecanismos de síntese protéica; 2) teoria da homeostase refere-se que há degradação dos mecanismos homeostáticos responsáveis pelo equilíbrio do meio orgânico interno (DELIBERATO, 2002). O processo de envelhecimento populacional experimentado no Brasil é um dos mais acelerados do mundo. Devemos passar, em termos proporcionais, de 7,3%, em 1971, ou seja, de 11 milhões de idosos, para 15%, em 2025, ou seja, para 32 milhões de idosos, colocando o Brasil, nesse período, como a sexta população de idosos do mundo em números absolutos (BARRETO et al, 2003) Aspectos psicológicos
16 O envelhecimento traz ao ser humano uma série de mudanças psicológicas. Para Zimermann (2000), essas mudanças psicológicas podem resultar em dificuldade de se adaptar a novos papéis, falta de motivação e dificuldade de planejar o futuro, depressão hipocondria, somatização, paranóia, suicídio, baixas auto-imagem e auto-estima, necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afetivas e sociais. Ainda Zimermann (2000) afirma que, assim como as características físicas do envelhecimento, as de caráter psicológicos também estão relacionadas com hereditariedade, a história e com a atitude de cada indivíduo. Sendo assim, pessoas mais saudáveis e otimistas têm mais condições de adaptarem-se às transformações trazidas pelo envelhecimento. São mais propensas a verem a velhice como um tempo de experiência acumulada, de maturidade, liberdade para assumir novas ocupações Aspectos sociais À medida que as pessoas vivem mais, mudanças acontecem, as distâncias aumentam, a vida fica mais agitada, o tempo sempre mais curto e as condições econômicas mais difíceis, a sociedade se modifica. Isso tudo exige maneiras diferentes de viver e uma grande flexibilidade e capacidade de adaptação que nem sempre os velhos têm (LEME, 2000). O número de velhos vem subindo principalmente no Brasil, trazendo a consciência que a velhice existe e é uma questão social. A velhice é um processo contínuo de perdas, em que os indivíduos ficariam relegados a uma situação de abandono, desprezo, de ausência de papéis
17 sociais, e estes fatores levam a construção de uma série de estereótipos negativos em relação aos velhos (SILVA, 1999). Segundo Mazo, Lopez e Benedetti (2001), a sociedade costuma valorizar as pessoas produtivas, portanto, a desvalorização do idoso é explicada pela perda desse espaço produtivo. Sendo o idoso incapaz de realizar essa tarefa produtiva, em virtude de suas limitações, além disso, o idoso é considerado um indivíduo difícil de conviver, contribuindo para a exclusão da família e da sociedade. Leme (2000), salienta a importância do apoio familiar para o indivíduo que envelhece, pois nos extremos da vida, a primeira infância ou senectude, os indivíduos apresentam maior limitação social, passando a depender da sociedade que o assiste, ou seja, como a raiz e a base da sociedade, a família. 2.2 Saúde e qualidade de vida das pessoas idosas Viver cada vez mais tem implicações importantes para a qualidade de vida; a longevidade pode ser um problema, com conseqüências sérias nas diferentes dimensões da vida humana, física, psíquica e social. Portanto, frente à transição demográfica e epidemiológica, avaliar a qualidade de vida dos idosos assume importância fundamental (PASCHOAL, 2000). O envelhecimento, que antes se considerava uma tendência dos países industrializados, é agora um fenômeno mundial. O fato de que existe um número cada vez maior de idosos significa que as questões relativas à qualidade de vida nesses anos suplementares continuam sendo objeto de atenção crescente. Tem-se chegado à conclusão que a qualidade de vida das pessoas idosas depende
18 principalmente da sua segurança socioeconômica, de seu bem-estar psicosocial e de sua sensação de vida (DARNTON-HILL, 1995). Qualidade de vida é um conceito de difícil determinação, considerando os variados componentes de ordem subjetiva e objetiva. Durante as últimas décadas, o debate sobre o seu significado não encontrou consenso satisfatório (PASCHOAL, 2000). Após a Segunda Guerra Mundial até a década de 60, a qualidade de vida era medida de forma objetiva. Ter qualidade de vida referia-se à conquista de bens materiais: possuir casa própria, carro, aparelhos eletrônicos, ter aplicações financeiras, uma boa aposentadoria, poder viajar. A seguir, o conceito foi ampliado, para medir o quanto a sociedade havia se desenvolvido economicamente. Surgiram indicadores econômicos que se tornaram instrumentos importantes para se medir e comparar qualidade de vida entre diferentes cidades, regiões, países e culturas. Passaram a ser usados como o Produto Interno Bruto (PIB), a renda per capta, taxa de desemprego e outros. O conceito se ampliou com o passar dos anos. Além do crescimento econômico, o desenvolvimento social passou a ter importância, entendido, principalmente, como saúde, educação, moradia, transporte, lazer, trabalho e crescimento individual. Mortalidade infantil, esperança de vida, taxa de evasão escolar, nível de escolaridade, taxa de violência, saneamento básico, nível de poluição, condições de moradia e trabalho, qualidade de transportes, lazer, etc, passaram também a ser indicadores. A quantidade de indicadores tornou-se potencialmente infinita. Muitos países estabeleceram políticas de bem-estar social, o assim chamado Welfare State (PASCHOAL, 2000). Mas, a partir da década de 60, percebeu-se que, embora todos fossem indicadores importantes, não eram suficientes, para se medir a qualidade de vida
19 dos indivíduos. Era necessário valorizar, também a opinião dos indivíduos, avaliar a qualidade de vida percebida pela pessoa, denominada qualidade de vida subjetiva, pois é fundamental saber o quanto as pessoas estão satisfeitas ou insatisfeitas com a qualidade de suas vidas. Portanto, a qualidade de vida subjetiva, em contraposição às condições objetivas, por conseqüência, qualificariam a vida das pessoas (PASCHOAL, 2000). A promoção da saúde é um tema em evidência na atualidade e que traz desafios para a ampliação das práticas no sentido de ressaltar os componentes socioeconômicos e culturais da saúde e a necessidade de políticas públicas e da participação social no processo de sua conquista. O modelo assistencial ainda forte no país é caracterizado pela prática médica voltada para uma abordagem biológica e intra-hospitalar, associada a uma utilização irracional dos recursos tecnológicos existentes, apresentando cobertura e resolubilidade baixas e com elevado custo gerando grande insatisfação por parte dos gestores do sistema, dos profissionais de saúde e da população usuária dos serviços. Na maioria dos estudos, o termo referência não é qualidade de vida, mas condições de vida (ASSIS et al, 2004; SILVESTRE; COSTA NETO, 2003). Medeiros (1994), relata que nossa espécie deveria viver em média 150 anos, segundo o relógio biológico. Pondera, no entanto, que para sobreviver o homem não depende apenas da carga genética e sim de todo um meio ambiente. Portanto, não se investe mais em pesquisar formas para prolongar a vida, mais sim, melhorar a qualidade de vida, pois, esta passou a ser preocupação primordial.
20 2.3 Capacidade funcional A capacidade funcional surge, como um novo paradigma de saúde, particularmente um valor ideal para que o idoso possa viver independente, sendo esta a capacidade do indivíduo realizar suas atividades físicas e mentais necessárias para manutenção de suas atividades básicas e instrumentais, ou seja: tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, controle financeiro, tomar remédios, arrumar a casa, fazer compras, usar transporte coletivo, usar telefone e caminhar uma certa distância (GUIMARÃES et al, 2004). A manutenção e a preservação da capacidade para desempenhar as atividades básicas de vida diária são pontos básicos para prolongar o maior tempo possível a independência, com isso o idoso mantém a sua capacidade funcional (GUIMARÃES et al, 2004). O nível de funcionamento do organismo reflete na capacidade funcional de cada sistema fisiológico isolado. Guccione et al (1993, p. 251) diz que [...] atividades funcionais são aquelas identificadas por um indivíduo como essenciais para a manutenção do bemestar físico e psicológico, bem como para a criação de um senso pessoal de uma vida significativa. Embora o conceito de capacidade funcional seja bastante complexo abrangendo outros como os de deficiência, incapacidade, desvantagem, bem como os de autonomia e independência, na prática trabalha-se com o conceito de capacidade/incapacidade. A incapacidade funcional define-se pela presença de
21 dificuldade no desempenho de certos gestos e de certas atividades da vida cotidiana ou mesmo pela impossibilidade de desempenhá-las (ROSA et al, 2003) O interesse de se medir o estado de saúde em termos de função ou bemestar funcional, veio com o aumento de idosos, com a prevalência de doenças crônicas e acidentes, e com a necessidade de cuidado de longa duração. No início da década de 50, o governo americano criou uma comissão de doenças crônicas que realçou a importância do desempenho e da incapacidade, descrevendo a necessidade de uma classificação das atividades de vida diária. Assim, estudiosos, como por exemplo, um grupo de Cleveland, liderados por Sidney Katz (1963), tiveram de desenvolver esforços para encontrar medidas e instrumentos que pudessem trazer significado claro e precisão quantitativa às descrições da magnitude e gravidade dos problemas funcionais dos idosos. Eles demonstraram o primeiro discernimento teórico e de padronização, quando descreveram que a seqüência de recuperação de seis atividades básicas da vida diária entre idosos incapacitados (alimentar-se, ter continência, transferir-se, usar o banheiro, vestir-se e banhar-se) se assemelhava à seqüência de desenvolvimento dessas mesmas funções no processo de crescimento e de desenvolvimento neuropsicomotor da criança, bem como a padrões de comportamento de membros de sociedades primitivas (PASCHOAL, 1996a) Atividades de vida diária (AVDs) Segundo Rebelatto e Morelli (2004) AVDs são atividades de cuidado pessoal que a própria pessoa pode realizar todos os dias, como comer, vestir-se, tomar banho, realizar transferências de posições, controlar a bexiga e intestino.
22 A avaliação da capacidade funcional na gerontologia é importante indicativo da qualidade de vida do idoso, sendo o desempenho nas atividades da vida diária o parâmetro amplamente aceito e reconhecido, pois permite aos profissionais uma visão mais precisa quanto à severidade da doença e das suas seqüelas (PAIXÃO JÚNIOR ; REICHENHEIM, 2005). Quando o objetivo é a avaliação de idosos que estejam restritos ao ambiente doméstico, o mais indicado é um instrumento que verifique o desempenho na realização das atividades de vida diária (AVD). Isso porque essas são as atividades de autocuidado que permitem ao idoso responder por si no espaço de seu domicílio. A dificuldade ou incapacidade na realização dessas tarefas representa risco elevado para a perda da independência funcional (RICCI; KUBOTA;CORDEIRO, 2005). Desde que a habilidade para desenvolver tarefas de cuidado pessoal contribua para o nível de independência, ela pode afetar diretamente a auto-estima. A independência em habilidades de vida-diária permite liberdade para desempenhar tarefas de trabalho e lazer que se tornam significativas para a pessoa. A dificuldade para desempenhar tarefas de cuidado pessoal e dependência de outros para completá-las pode ter fundamental importância no bem-estar psicológico, social e financeiro de uma pessoa (FERRETTI, 2004) Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) são atividades que possibilitam qualquer pessoa viver com independência em sua casa ou apartamento, como preparar refeições, realizar atividades caseiras, tomar medicamentos, usar o telefone, realizar atividades funcionais. (REBELATTO; MORELLI, 2004, p. 95).
23 As AIVDs relacionam-se com a participação efetiva do idoso na comunidade, onde a presença de dificuldades implica mais em uma redistribuição de tarefas entre os membros familiares, tornando o indivíduo idoso dependente no âmbito social (ROSA et al, 2003). 2.4 Institucionalização A internação do idoso em uma instituição de longa permanência pode se apresentar como única saída para a família, frente à não disponibilidade do suporte familiar, financeiro e psicológico que o mesmo necessita. Nestas instituições, o indivíduo vive na forma de internato, por tempo determinado ou não (DAVIM et al, 2004). Não se pode falar de idoso institucionalizado sem antes fazer referencia a imagens negativas freqüentemente associadas a entidades que o abrigam, para as quais a denominação asilo, continua a prevalecer ou, no melhor dos casos, se encontra atenuada na expressão instituição asilar. O Brasil, um país marcado pela diversidade cultural e desigualdades socioeconômicas, conta com instituições heterogêneas quanto a padrões de atendimentos, qualidade da estrutura, organização financeira população atendida e, inclusive, quanto `a denominações adotadas (BORN; BOECHAT, 2002). O Decreto nº de 03 de julho de 1996, frisa, no artigo 3º, que a instituição asilar tem, por finalidade, atender, em regime de internato, o idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência, de modo a satisfazer suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social. Prioriza, também, a Lei 8.842, de janeiro de 1994, no artigo 4º, parágrafo III, atendimento ao idoso pelas famílias, ao invés do asilar. Porém, com a existência de vários fatores, tais como os demográficos, sociais e de saúde, conduzem ao aumento da demanda pela institucionalização. (DAVIM et al, 2004)
24 A institucionalização por si só já representa um fator de risco, já que os idosos institucionalizados necessitam de atenção, suporte e serviços especializados, pois a grande maioria é fragilizada e apresenta morbidades físicas ou mentais, tornando-os mais propensos a quedas. Pelo seu isolamento social, inatividade física e processos psicológicos, subentende-se que quanto maior o tempo de institucionalização, maior a debilidade do idoso (SANTOS; ANDRADE, 2005). Os idosos institucionalizados, em geral, dispõem de poucas atividades físicas para participarem, o que pode agravar o ciclo vicioso: envelhecimento, menor capacidade funcional e inatividade. 2.5 Doença Doença é uma condição patológica do corpo, apresentando um particular grupo de sinais e sintomas que isola aquela condição como anormal. (GUCCIONE et al, 1993). Dahlke (2003) diz que [...] estar doente é, em última análise, uma queda em relação ao centro, constituindo dessa forma um desequilíbrio relativamente à busca do corpo, para compensar um desequilíbrio. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1998, 69% dos participantes relataram ter pelo menos uma doença crônica (sendo esta proporção maior entre as mulheres); por outro lado, a presença destas doenças, a prevalência de incapacidade funcional e a ocorrência de internações hospitalares aumentaram com a idade (RABELO; NERI, 2005). Na terceira idade há uma tendência ao acúmulo de doenças crônicas, na sua grande maioria benignas e fáceis de serem controladas. A artrose, por exemplo,
25 é doença que acomete com muita freqüência o idoso e que pode se somar a outras manifestações como a pressão alta ou a diabetes (RABELO; NERI, 2005) Doenças Crônico-Degenerativas As doenças crônico-degenerativas surgem através de evolução lenta e progressiva, prejudicando as funções de diversos órgãos. Podem trazer complicações, às vezes com conseqüências graves. Estas doenças manifestam-se por tempo indeterminado, as principais são as doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial, a diabetes e as doenças do aparelho locomotor (MONTEIRO et al, 2005). A grande maioria dos idosos é portadora de doenças crônicas, deficiências ou apresentam problemas médicos, sendo estes fortemente associados com perda da capacidade funcional. Entretanto, observa-se que a capacidade funcional é influenciada também por fatores demográficos, sócio-econômicos, culturais e psicossociais (ROSA et al, 2003). As doenças crônico-degenerativas compõe fator de limitação para o desempenho das atividades da vida diária dos idosos. Ainda que se possa aceitar que a maior parte das articulações dure por toda a vida, pelo menos no que se refere a um razoável funcionamento, o processo de envelhecimento normal, que aparece precocemente na vida adulta e progride lentamente pelo resto da vida, modifica gradualmente a superfície uniforme e brilhante da cartilagem articular jovem, tornando-a granulosa e opaca nas pessoas idosas. Dessa maneira, em virtude da limitada capacidade de regeneração da cartilagem articular, as modificações da degeneração tendem a ser irreversíveis e progressivas. (SALTER, 2001, p. 259). Mazo; Lopes; Benedetti (2001) afirmam que as principais alterações que ocorrem no sistema músculo-esquelético com a idade são: redução do número de
26 células musculares e a elasticidade, diminuição da massa óssea, alterações posturais e redução na mobilidade articular. Pode-se dizer então, que o esqueleto do idoso apresenta alterações relacionadas com o tipo de vida, a profissão, a atitude postural, os exercícios físicos (moderados, excessivos ou insuficientes), a nutrição, o metabolismo entre outros fatores. A perda de massa óssea é caracterizada por desequilíbrio no processo de modelagem e remodelagem conseqüente do envelhecimento, e pode ocorrer por aumento ou diminuição da atividade dos osteoclastos, ou por combinação de ambos. O osteoclasto é uma célula óssea responsável pela reabsorção óssea (LUSTRI; MORELLI, 2004). A importância das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no perfil atual de saúde das populações é extremamente relevante. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que as DCNT já são responsáveis por 58,5% de todas as mortes e por 45,9% da carga total global de doenças expressa por anos perdidos de vida saudável. No Brasil, estima-se que apenas as doenças cardiovasculares e as neoplasias respondam por quase metade do total das mortes por causa conhecida ( MONTEIRO et al, 2005). Martins et al (1996) afirmam que as dislipidemias estão entre os mais importantes fatores de risco da doença cardiovascular aterosclerótica, integrando o conjunto das doenças crônico-degenerativas com história natural prolongada, tais como a hipertensão, a obesidade e o diabetes mellitus Hipertensão arterial A pressão arterial é aquela existente no interior das artérias e comunicada às suas paredes. Pela equação de Poiseuille-Hagen, a PA pode ser calculada pelo
27 produto da resistência vascular periférica total pelo débito cardíaco. Assim, devido a esta proporcionalidade, todos os fatores que alteram estas duas variáveis podem alterar a PA. Dentre aqueles que modificam o débito cardíaco, deve-se mencionar as alterações da volemia, da contratilidade do miocárdio e da freqüência cardíaca (LOLIO, 1990). O III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, distribuído e divulgado para toda comunidade médica brasileira, recomenda que o tratamento do paciente hipertenso deve ser instituído quando os níveis de pressão arterial são iguais ou superiores a 140/90 mm Hg A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente em nosso meio, atingindo cerca de 15 a 20% da população adulta com mais de 18 anos, chegando a índices de 50% nas pessoas idosas (MION JR; PIERIN; GUIMARAES, 2001). Quando não tratada adequadamente, a hipertensão arterial pode acarretar graves conseqüências a alguns órgãos alvos vitais, e como entidade isolada está entre as mais freqüentes morbidades do adulto. Desse modo, a doença hipertensiva tem se constituído num dos mais graves problemas de saúde pública (PÉRES; MAGNA; VIANA, 2003). A HA atua sinergicamente com outros fatores de risco aterogênicos como a hiperlipidemia, o diabetes mellitus, a obesidade, o sedentarismo e o hábito de fumar, dentre outros. As lesões conseqüentes à HA relacionam-se com o nível da PA. Tanto a elevação da PAS isolada (HA sistólica isolada), quanto a elevação da PAS e/ou da PAD são importantes. As alterações morfológicas e fisiológicas são mais freqüentemente observadas nos seguintes órgãos: coração (hipertrofia ventricular esquerda, insuficiência cardíaca, doença coronária), encéfalo (doença cerebrovascular hemorrágica ou isquémica, encefalopatía hipertensiva), rim (ne-
28 frosclerose, insuficiência renal crônica), retina (retinopatia hipertensiva), e vasos (aneurismas de aorta, dissecantes ou não; aneurismas de outros vasos; obstrução arterial crônica) (LOLIO, 1990). A hipertensão arterial é o principal fator de risco modificável para doença coronariana, doenças cerebrovasculares e insuficiência cardíaca congestiva, entre outras doenças do aparelho circulatório. O tratamento adequado da hipertensão arterial reduz significativamente a mortalidade e a morbidade cardiovascular. Dessa forma, o conhecimento da distribuição da hipertensão arterial na população e a identificação de grupos vulneráveis são de grande interesse em saúde pública (LIMA-COSTA; PEIXOTO; FIRMO, 2004) Diabetes Mellitus O diabetes mellitus se constitui num transtorno do metabolismo intermediário conseqüente ou à falta de insulina ou à sua inadequada utilização pelos tecidos, o que se traduz laboratorialmente pela elevação da taxa de glicemia. Paralelamente aos transtornos metabólicos ou decorrendo deles, ocorrem alterações vasculares as quais são as grandes responsáveis pela maior parte das manifestações clínicas do diabetes e causadores de considerável morbidade e mortalidade. Quase todos os tecidos do organismo são afetados, em maior ou menor grau, em decorrência de tais alterações vasculares, particularmente dos pequenos vasos. Entretanto, as lesões em alguns órgãos são mais freqüentes ou mais graves: o rim, o coração e o sistema arterial periférico. Além destes, a retina, a pele e o sistema nervoso periférico também são sede de lesões provocadas pelo diabetes, com importantes prejuízos à saúde do indivíduo. Nem sempre o diabetes mellitus é o
29 causador direto das complicações, porém muitas vezes age como "favorecedor" de outros fatores de risco que, em última análise, vão desencadear o problema. Tal é o caso da cardiopatia aterosclerótica (LAURENTI; FONSECA; COSTA JR, 1982). Entre as doenças crônicas não transmissíveis, o Diabetes Mellitus tem se destacado como uma das mais relevantes. Estima-se que sua prevalência esteja em torno de 8% na população brasileira de 30 a 69 anos, sendo que metade dos pacientes acometidos pela doença desconhece a condição. Contribuindo para ressaltar a importância da doença, a análise da mortalidade por Diabetes Mellitus indica aumento de importância da doença a partir dos 50 anos de idade. Além disso, estudos de mortalidade têm evidenciado que a mortalidade por diabetes é subestimada, quando se analisam causas básicas de mortalidade (COSTA et al, 2006) O diabetes mellitus situa-se entre as dez principais causas de morte nos países ocidentais e, apesar dos progressos em seu controle clínico, ainda não foi possível controlar de fato suas conseqüências letais. Esta doença é um distúrbio crônico, que afeta o metabolismo de carboidratos, de gorduras e proteínas. Aspecto característico do diabetes mellitus é a hiperglicemia, que se constitui em reflexo da deterioração na utilização dos carboidratos (glicose) em virtude de resposta defeituosa ou deficiente à secreção de insulina. O diabetes mellitus compreende série de sintomas comuns tais como sede e fome excessivas, fraqueza muscular, perda de peso e elevação do nível de glicose no sangue, o que resulta na excreção da glicose pela urina. (NEGRI, 2005). No diabetes tipo 1 ocorre destruição das células beta do pâncreas, usualmente por processo auto-imune (forma auto-imune; tipo 1A) ou menos comumente de causa desconhecida (forma idiopática; tipo 1B). Na forma auto-imune há um processo de insulite e estão presentes auto-anticorpos circulantes (anticorpos anti-descarboxilase do ácido glutâmico, anti-ilhotas e anti-insulina). De uma forma geral, a instalação do quadro de diabetes tipo 1 auto-imune é relativamente abrupta e muitas vezes o indivíduo pode identificar a data de início dos sintomas. O diabetes
30 tipo 2 é mais comum do que o tipo 1, perfazendo cerca de 90% dos casos de diabetes. É uma entidade heterogênea, caracterizada por distúrbios da ação e secreção da insulina, com predomínio de um ou outro componente. A etiologia específica deste tipo de diabetes ainda não está claramente estabelecida como no diabetes tipo 1. A destruição auto-imune do pâncreas não está envolvida. Também ao contrário do diabetes tipo 1, a maioria dos pacientes apresenta obesidade (GROSS et al, 2002) Osteoartrite A osteoartrite é uma alteração degenerativa da articulação, na qual ocorre perda progressiva da cartilagem articular, acompanhada de nova formação óssea e fibrose capsular. É definida como primária quando não há causa óbvia e secundária quando segue uma anormalidade demonstrável (APLEY; SOLOMON, 1998). Adams e Hamblen (1994) dizem que [...] o processo degenerativo de desgaste é prejudicado por defeito congênito, insuficiência vascular, doença ou lesão anterior. E sem dúvida, a variedade mais comum de artrite. A maioria dos pacientes com osteoartrite está acima da meia-idade. Quando isso ocorre em pacientes mais jovens existe, normalmente, uma evidente causa predisponente tal como acidente anterior ou doença da articulação. O início é muito gradual, com dores que aumentam quase que imperceptivelmente por meses ou anos. Os movimentos pouco a pouco se tornam cada vez mais restritos. Em algumas articulações, particularmente a do quadril, a deformidade é um quadro comum nos estágios avançados. Ao exame físico, ligeiro espessamento da sinovial é freqüentemente encontrado na palpação, é principalmente um espessamento ósseo causado por osteófitos marginais. Não há aumento de calor. Os movimentos ficam leves ou acentuadamente diminuídos, dependendo da intensidade da artrite, e na maioria das articulações, os movimentos são acompanhados por creptações palpável ou audível de um tipo relativamente grosseiro. Deformidades fixas (isto é incapacidade da articulação em assumir a posição anatômica neutra) são comumente encontradas no quadril, e algumas vezes em outras articulações. (ADAMS; HAMBLEN, 1994, p. 130)
31 O padrão de envolvimento articular varia consideravelmente. Geralmente, o paciente se queixa de uma ou duas articulações apenas, mas o exame poderá apresentar outras também afetadas, em graus variados (APLEY; SOLOMON, 1998). Sem dúvida, o envelhecimento da cartilagem realmente ocorre, resultando em rachaduras e descamações da superfície, celularidade diminuída, redução da substancia superficial de prosteoglicanas e perda da elasticidade com uma redução concominante na força de rompimento. Porém, apesar dessas alterações serem qualitativamente similares as da osteoartrite, diferem desta em dois aspectos importantes: não são progressivas e ocorrem em áreas que raramente se manifestam como osteoartrite clínica (APLEY; SOLOMON, 1998). 2.6 Programa de saúde da família (PSF) O PSF é um modelo de assistência a saúde quem tem como objetivo principal, colocar em prática os ideais do Sistema Único de Saúde (SUS), que são: tornar possível a todas as pessoas o acesso as ações e serviços de saúde; Prestar assistência educativa, preventiva e curativa de boa qualidade e capaz de resolver os problemas de saúde da população; Prestar assistência a indivíduos, famílias e comunidades de acordo com as suas necessidades de saúde; organizar os serviços de modo que a porta de entrada do sistema sejam as Unidades Básicas de Saúde que farão encaminhamentos para as outras, mais complexas, de acordo com as
32 necessidades do indivíduo; Incentivar a participação do povo em tudo isso, através da criação dos Conselhos Locais de Saúde. Através do trabalho de uma equipe formada por vários profissionais (médico, enfermeira, auxiliar de enfermagem, agentes comunitários de saúde, dentista e auxiliar de consultório dentário), presta-se assistência a família e comunidade, residente em uma determinada área geográfica. Cada equipe responsabiliza-se pelo acompanhamento de até pessoas (1.000 famílias) *. A Unidade de Saúde da Família do Bairro Progresso, antiga Unidade Sanitária da Cohab, foi implantada em 1981, pela Secretaria do Estado da Saúde. Em maio de 2003, houve a implantação de uma equipe de PSF (VIEIRA; FERNANDES; SANTOS, 2005). Fazem parte da equipe de Saúde da Família: uma médica, uma enfermeira, um cirurgião dentista, uma auxiliar de consultório dentário, duas técnicas de enfermagem, seis agentes comunitárias de saúde e duas auxiliares de serviços gerais. Atendendo o total de famílias. 2.7 Asilo Santa Isabel Em 19/02/15, as Damas de Caridade, reunidas na sacristia da Igreja Santo Antônio dos Anjos, lançam a idéia da criação de um asilo para atendimento aos mendigos. Em 29/04/20, a Associação Beneficência Lagunense, importante instituição social, adquire o palacete Polidoro Santhiago e, em 20/07/34, resolve transformá-lo em asilo para idosos carentes. Graças a dedicação e dinamismo da presidente da associação, Joana Daux Mussi, da sua diretoria e de toda a Material fornecido pelo PSF- unidade bairro Progresso, Laguna SC.
33 comunidade, o empreendimento, foi se transformando em realidade(vieira; FERNANDES; SANTOS, 2005). Em plena Segunda Guerra Mundial, com o asilo já quase pronto, eis que o governo federal, através da 5 a. Região Militar, requisita o prédio onde se instala com o batalhão, para dar segurança ao Porto de Laguna. Em 1945, com o final da guerra, o prédio foi devolvido, necessitando de reparos. Sendo a inauguração realizada em 22/10/49 (VIEIRA; FERNANDES; SANTOS, 2005). Em 15/02/50, chegaram as primeiras Irmãs para administrarem internamente o asilo, que entra em pleno funcionamento, sendo que aos poucos, vieram as subvenções, verbas, firmados com órgãos repassadores de recursos. E anos mais tarde, as aposentadorias e pensões dos internos também passaram a ser destinadas a instituição. Em 05/08/86, a Associação Beneficência Lagunense, já sob a Presidência de Walter Baumgarten Júnior, fez a doação do patrimônio a Sociedade de Educação e Caridade, entidade jurídica pertencente as Irmãs Beneditinas da Divina Providência e que, há mais de 40 anos, prestavam serviços na administração interna do asilo. Desde então, as irmãs passaram a administrá-lo, na qualidade de proprietárias do estabelecimento (VIEIRA; FERNANDES; SANTOS, 2005). As principais finalidades do asilo são acolher e assistir, em regime de internato, idosos ou portadores de deficiências, cujas famílias tenham dificuldade de mantê-los; praticar ações evangelizadoras junto aos internos; prestar colaboração pastoral a comunidade, sempre que solicitado. Aos internos, são oferecidas ações como: assistência médica; higienização; refeições; atividades religiosas e recreativas, além de outras. O
34 incentivo ao auto-cuidado e a participação em pequenas tarefas diárias da instituição são outros pontos a serem destacados. Atualmente, são 42 idosos asilados, tendo como Diretora geral Abília Thomazi (Irmã Agenora).
35 3 DELINEAMENTO DA PESQUISA O delineamento da pesquisa, segundo Gil (1999), [...] refere-se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla [...]. 3.1 Tipo de pesquisa A determinação do tipo de estudo deve levar em conta três critérios de classificação: quanto ao nível, abordagem e procedimento Tipo de pesquisa quanto ao nível A pesquisa teve como base metodológica a pesquisa descritiva, pois estuda as características de uma população e visa comparar a capacidade funcional de dois grupos de indivíduos, além de utilizar uma técnica padronizada na coleta de dados que é o questionário. As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial à descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática. (GIL, 2002, p. 42).
36 3.1.2 Tipo de pesquisa quanto à abordagem A seguinte pesquisa foi de abordagem quantitativa, onde Richardson (1999) diz que [...] caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatística. O método quantitativo foi adotado, pois a coleta de dados foi constituída de perguntas fechadas, sendo um procedimento sistemático para a descrição e explicação do estudo em questão Tipo de pesquisa quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados O método comparativo precede pela investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. Sua ampla utilização nas ciências sociais deve-se ao fato de possibilitar o estudo comparativo de grandes grupamentos sociais, separados pelo espaço e pelo tempo. (GIL, 1999, p. 34). O presente estudo quanto ao procedimento foi comparativo, pois relacionou dois grupos diferentes de idosos e comparou a capacidade funcional. 3.2 População/ amostra A amostra foi composta por 24 idosos, de 60 anos e mais, do asilo Santa Isabel do município de Laguna S.C., e por 82 idosos, de 60 anos e mais, cadastrados no PSF do Bairro Progresso, do município de Laguna S.C. Os idosos institucionalizados tiveram sua amostra selecionada de uma população de 30 idosos, já os idosos não institucionalizados tiveram sua amostra
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