Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. 4ª Turma Cível. Órgão

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1 Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão 4ª Turma Cível Processo N. APELAÇÃO APELANTE(S) SEGURADORA LIDER DOS CONSORCIOS DO SEGURO DPVAT S.A. APELADO(S) WALTER SILVA DOS SANTOS Relator Desembargador LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA Acórdão Nº EMENTA APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. LESÕES NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E NOS OMBROS ESQUERDO E DIREITO. TABELA CONSTANTE DO ANEXO DA LEI 6.194/74. ALTERAÇÃO PELA LEI /2009. ENQUADRAMENTO COM APLICAÇÃO DE REDUTOR. CÁLCULO A PARTIR DO TETO PREVISTO. CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. DATA DO EVENTO DANOSO. SÚMULA 580 STJ. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Para se determinar o valor a ser indenizado, nos casos de invalidez permanente parcial incompleta, é necessário enquadrar o tipo de perda anatômica ou funcional na tabela anexa da Lei 6.194/74 (modificada pela Lei /2009). Em seguida, aplicar o percentual estabelecido sobre o valor máximo da cobertura. Por fim, procede-se à redução proporcional da indenização, conforme grau de intensidade da sequela, nos termos do artigo 3º, 1º, inciso II, da Lei nº 6.194/74, alterada pela Lei nº / Na hipótese de morte ou invalidez cobertas pelo seguro DPVAT, a correção monetária sobre o valor da indenização tem seu termo inicial a data do sinistro, nos termos da Súmula nº 580 do STJ. 3. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA - Relator, FERNANDO HABIBE - 1º Vogal e ARNOLDO CAMANHO - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador

2 FERNANDO HABIBE, em proferir a seguinte decisão: DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 30 de Maio de 2018 Desembargador LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA Relator RELATÓRIO Trata-se de apelação interposta por SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A, em face à sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais. Na origem, WALTER SILVA DOS SANTOS ajuizou ação de indenização em desfavor de SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A. Sustentou que foi vítima de acidente de trânsito em 8/4/2016, fato que lhe acarretou invalidez permanente parcial. Diante da impossibilidade de recuperação significativa ou de cura das sequelas deixadas pelo acidente, requereu administrativamente o recebimento do seguro DPVAT. A seguradora reconheceu o acidente e as lesões que vitimaram o autor, assim como efetuou o pagamento de indenização no valor de R$1.687,50 (mil e seiscentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos) em 18/7/2016. Afirmou que o valor deveria ser maior, pois houve o incorreto enquadramento de sua invalidez, segundo as definições constantes na tabela da Lei nº 6.194/74. Desse modo, postulou a condenação da requerida no valor de R$ ,50 (onze mil e oitocentos e doze reais e cinquenta centavos), para complementar a indenização securitária. A inicial veio acompanhada de documentos (ID a ). SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A apresentou contestação (ID ). Declarou que houve pagamento administrativo de R$3.375,00 (três mil e trezentos e setenta e cinco reais), pois o autor recebeu em duplicidade o valor apurado pela perícia de R$1.687,50 (mil e seiscentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos) (ID pág. 4; ID págs. 7/8). O valor da cobertura deve ser proporcional ao grau de invalidez, conforme a Lei nº 6.194/74. Destacou que a correção monetária deveria ser computada a partir do pagamento incompleto da indenização. A defesa veio acompanhada de documentos (ID a ). Audiência de conciliação infrutífera, para a qual se realizou avaliação médica (ID págs. 1-5). Réplica (ID ). Sobreveio sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos para condenar a ré a pagar ao autor indenização no valor de R$9.787,50, acrescido de correção monetária desde o evento danoso e juros de mora a partir da citação.

3 Inconformada, a seguradora interpôs apelação (ID ). Nas suas razões, relatou que o cálculo efetuado pelo juízo de origem não foi correto, eis que não observou a tabela constante na Lei nº 6.194/74. E o total devido seria de apenas R$506,25 (quinhentos e seis reais e vinte e vinte e cinco centavos). A correção monetária deveria incidir a partir da data do pagamento a menor realizado administrativamente. Preparo realizado (ID e ). Sem contrarrazões, apesar de intimado o recorrido (ID ). É o relatório. VOTOS O Senhor Desembargador LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA - Relator Presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, conheço o recurso. Trata-se de ação de indenização ajuizada por walter silva dos santos, em face à SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A, para o pagamento de diferença da indenização a título de seguro DPVAT. A recorrente sustentou que o Juízo a quo calculou incorretamente o valor da indenização prevista em lei. Depreende-se da avaliação médica (ID p. 4), que houve lesão no sistema nervoso central, no percentual de 10% e de grau residual; no ombro direito, no percentual de 25% e de grau leve; e no ombro esquerdo, no percentual de 50% e de grau médio, que caracterizaram invalidez permanente parcial incompleta. No caso, o acidente ocorreu em 8 de abril de Logo, incide a Lei nº 6.194/74, com as alterações promovidas pela Lei nº /09. Segundo o art. 3º, inciso II, da Lei n /74, a indenização seria de até R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais), em caso de invalidez permanente parcial incompleta. Nota-se que, em face da invalidez parcial, incidem os percentuais previstos na tabela anexa à Lei. Peço vênia para transcrever o dispositivo legal: Art. 3º Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2º desta Lei compreendem as indenizações por morte, por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares, nos valores e conforme as regras que se seguem, por pessoa vitimada: I - R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de morte; II - até R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de invalidez permanente; e

4 III - até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) - como reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas. 1º No caso da cobertura de que trata o inciso II do caput deste artigo, deverão ser enquadradas na tabela anexa a esta Lei as lesões diretamente decorrentes de acidente e que não sejam suscetíveis de amenização proporcionada por qualquer medida terapêutica, classificando-se a invalidez permanente como total ou parcial, subdividindo-se a invalidez permanente parcial em completa e incompleta, conforme a extensão das perdas anatômicas ou funcionais, observado o disposto abaixo: I - quando se tratar de invalidez permanente parcial completa, a perda anatômica ou funcional será diretamente enquadrada em um dos segmentos orgânicos ou corporais previstos na tabela anexa, correspondendo a indenização ao valor resultante da aplicação do percentual ali estabelecido ao valor máximo da cobertura; e II - quando se tratar de invalidez permanente parcial incompleta será efetuado o enquadramento da perda anatômica ou funcional na forma prevista no inciso I deste parágrafo, procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da indenização que corresponderá a 75% (setenta e cinco por cento) para as perdas de repercussão intensa, 50% (cinquenta por cento) para as de média repercussão, 25% (vinte e cinco por cento) para as de leve repercussão, adotando-se ainda o percentual de 10% (dez por cento), nos casos de sequelas residuais. Dessa forma, para se determinar o valor a ser indenizado nos casos de invalidez permanente parcial incompleta de membro, é necessário, em primeiro lugar, enquadrar o tipo de perda anatômica ou funcional na tabela anexa da Lei nº 6.194/74 (modificada pela Lei /2009). Em seguida, aplicar o percentual nela estabelecido sobre o valor máximo da cobertura. Por fim, proceder à redução proporcional da indenização, conforme grau de intensidade da seqüela. Neste sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INDENIZAÇÃO SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). GRAU DE DEBILIDADE. SÚMULA N.º 474 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ABORTO. TEORIA DA CONCEPÇÃO 1. Em situações de invalidez parcial permanente, os valores a serem aplicados devem ser aqueles previstos na tabela da Lei n.º 6.194/74, de modo a acarretar o pagamento proporcional da indenização do seguro obrigatório DPVAT. 2. O Superior Tribunal de Justiça aprovou enunciado de súmula nº 474 que assim dispõe: "A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez". 3. O aborto oriundo de acidente automobilístico é indenizado com base na teoria da concepção e no princípio da dignidade humana. 4. Apelo desprovido e recurso adesivo provido. (Acórdão n , APC, Relator: MARIO-ZAM BELMIRO, Revisor: JOÃO EGMONT, 2ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 17/02/2016, Publicado no DJE: 01/03/2016. Pág.: Sem Página Cadastrada.) CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. DPVAT. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO OCORRIDO APÓS A VIGÊNCIA DA LEI /2009. INVALIDEZ PERMANENTE PARCIAL INCOMPLETA. GRAU DE INVALIDEZ. PAGAMENTO PROPORCIONAL DO SEGURO. INDENIZAÇÃO NO VALOR INTEGRAL. NÃO CABIMENTO. CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. EVENTO DANOSO.

5 1. Aindenização referente ao seguro obrigatório DPVAT, em caso de invalidez permanente parcial incompleta, deve observar a proporcionalidade da debilidade oriunda do acidente automobilístico. 2. Constatado que o acidente automobilístico sofrido pelo autor resultou na invalidez permanente parcial de membro superior, o valor da indenização deve ser calculado de forma proporcional à lesão sofrida, observada, ainda, a repercussão da perda da função, nos termos do artigo 3º, 1º, incisos I e II da Lei nº / O colendo Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso Especial nº /SC, submetido ao procedimento dos recursos repetitivos, consolidou o entendimento de que "A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no 7º do art. 5º da Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei n /2007, opera-se desde a data do evento danoso". 4. Recurso de Apelação conhecido e não provido. (Acórdão n , APC, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA 8ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 06/10/2016, Publicado no DJE: 14/10/2016. Pág.: 405/411) No presente caso, reitera-se, foram constatadas lesões parciais incompletas no sistema nervoso central e nos ombros direito e esquerdo ( ou invalidez permanente parcial incompleta, conforme laudo). De acordo com a tabela da Lei nº 6.194/1974 (incluída pela Lei nº /2009), o percentual da perda pela lesão neurológica é fixado em 100% (cem por cento) da cobertura securitária de R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais). E o percentual de perda completa ou invalidez de cada um dos ombros é fixado em 70% (setenta) da cobertura securitária de R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais), ou seja, equivalente a R$ 9.450,00 (nove mil e quatrocentos e cinquenta reais). Feito isso, deve-se observar que o laudo médico (ID pág. 4) descreve a graduação de perda relativa à lesão neurológica em 10% (dez por cento). Desse modo, calcula-se tal indenização segundo o grau de diminuição ou redução - 10% (dez por cento) sobre R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) - resultando no valor de R$ 1.350,00 (mil trezentos e cinquenta reais). Com relação aos ombros, o laudo médico (ID pág. 4) descreve a graduação de perda ou invalidez do ombro esquerdo em 50% (cinquenta por cento), e do ombro direito em 25% (vinte e cinco por cento). Por sua vez, aplica-se a redução de 50% (cinquenta por cento) e 25% (vinte e cinco por cento) sobre R$ 9.450,00 (três mil e trezentos e setenta e cinco reais), cujos resultados são de R$ 4.725,00 (quatro mil e setecentos e vinte e cinco reais) e R$ 2.362,50 (dois mil e trezentos e sessenta e dois reais e cinquenta centavos), respectivamente. Logo, o total da indenização perfaz R$ 8.437,50 (oito mil e quatrocentos e trinta e sete reais e cinquenta centavos). Como o suplicado recebeu administrativamente R$3.375,00 (três mil e trezentos e setenta e cinco reais) (ID págs. 7/8), há que se complementar a indenização em R$ 5.062,50 (cinco mil e sessenta e dois reais e cinquenta centavos). Desta forma, constata-se que o quantum apurado na instância originária merece reforma. A apelante aduziu ainda que a correção monetária deve ser computada a partir da data do ajuizamento da ação.

6 Ocorre que,nas hipóteses de indenização por morte ou invalidez do seguro DPVAT, o termo inicial será a data do sinistro, nos termos da Súmula nº 580 do STJ, in verbis: A correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por morte ou invalidez, prevista no 7º do art. 5º da Lei nº 6.194/1974, redação dada pela Lei nº /2007, incide desde a data do evento danoso. Nesse sentido, segue o julgado do Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. CIVIL. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TERMO 'A QUO'. DATA DO EVENTO DANOSO. ART. 543-C DO CPC. 1. Polêmica em torno da forma de atualização monetária das indenizações previstas no art. 3º da Lei 6.194/74, com redação dada pela Medida Provisória n. 340/2006, convertida na Lei /07, em face da omissão legislativa acerca da incidência de correção monetária. 2. Controvérsia em torno da existência de omissão legislativa ou de silêncio eloquente da lei. 3. Manifestação expressa do STF, ao analisar a ausência de menção ao direito de correção monetária no art. 3º da Lei nº 6.194/74, com a redação da Lei nº /2007, no sentido da inexistência de inconstitucionalidade por omissão (ADI 4.350/DF). 4. Para os fins do art. 543-C do CPC: A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no 7º do art. 5º da Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei n /2007, opera-se desde a data do evento danoso. 5. Aplicação da tese ao caso concreto para estabelecer como termo inicial da correção monetária a data do evento danoso. 6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (REsp /SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2015, DJe 02/06/2015) Ante o exposto, CONHEÇO O RECURSO E DOU PARCIAL PROVIMENTO, para reformar a sentença, e condenar a ré a pagar R$5.062,50 (cinco mil e sessenta e dois reais e cinquenta centavos), atualizados nos termos estabelecidos no primeiro grau. Em razão da sucumbência nesta instância recursal e atento aos ditames do artigo 85, 11, do Código de Processo Civil, majoro os honorários advocatícios a serem pagos pelo apelado em 5% (cinco por cento), que ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade, em razão da gratuidade de justiça, nos termos do artigo 98, 3º, do Código de Processo Civil. É como voto. O Senhor Desembargador FERNANDO HABIBE - 1º Vogal Com o relator O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO - 2º Vogal Com o relator

7 DECISÃO DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, UNÂNIME