PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. 17ª Vara Cível da Comarca de Natal

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1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 17ª Vara Cível da Comarca de Natal Rua Doutor Lauro Pinto, 315, Candelária, NATAL - RN - CEP: Processo nº Ação: Busca e Apreensão em Alienação Fiduciária Parte Autora: JOSE GONZAGA DE MEDEIROS Parte Ré: BRADESCO SEGUROS S/A SENTENÇA I- RELATÓRIO. José Gonzaga de Medeiros, qualificado nos autos, propôs a presente Ação de Cobrança de Seguro Obrigatório de Danos Pessoais - DPVAT contra Bradesco Auto/RE Cia de Seguros, igualmente qualificada. A parte autora aduz, em síntese, que foi vítima de acidente automobilístico em 20/11/2013, o qual acarretou uma grave fratura na clavícula e no rádio esquerdos, tendo sido submetido a tratamento conservador com imobilização e uso de sintomático. Alega que recebeu indenização pela via administrativa no importe de R$ 4.725,00(quatro mil, setecentos e vinte e cinco reais), mas que o valor total devido corresponde a R$ ,00. Requer o benefício da justiça gratuita e a condenação da parte ré ao pagamento complementar de

2 indenização do seguro DPVAT, no valor de R$ 8.775,00 (oito mil, setecentos e setenta e cinco reais). ID Perícia médica determinada em despacho de Devidamente citada, a parte ré apresentou contestação, requerendo, preliminarmente, a substituição processual do pólo passivo, e aduzindo a falta de documento imprescindível ao exame da questão. No mérito, requer a improcedência da pretensão autoral ou, caso haja condenação ao pagamento de indenização, que esta seja fixada de acordo com o grau da debilidade sofrida pela vítima, nos termos da Medida Provisória nº 451/2008, posteriormente convertida na Lei nº /2009, tendo como teto o valor de R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) estabelecido no art. 3º, inciso II, da Lei nº 6.194/74. Por fim, alega que eventuais juros moratórios são devidos a partir da citação, que correção monetária só é devida a partir do ajuizamento da demanda e requer que os honorários sucumbenciais arbitrados sejam fixados no percentual de 10%, devido à baixa complexidade da demanda, em caso de ser a demandada vencida na causa. Realizado laudo pericial (ID ), a respeito do qual o autor ofereceu impugnação e o réu não se manifestou, apesar de ambas as partes terem sido intimadas para tanto. É o relatório. Passo a decidir. II FUNDAMENTAÇÃO. II.1 Da substituição processual do pólo passivo. Em sede de preliminares da sua contestação, a demandada suscita a necessidade de substituir o pólo passivo da demanda, sob a alegação de que a ação deveria ser proposta contra a Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S/A.

3 A referida preliminar não merece prosperar em virtude da solidariedade existente entre as seguradoras que operam no sistema, haja vista que a legislação em vigor permite aos segurados e beneficiários acionar qualquer uma delas para efetuar o pagamento do valor da indenização, seja esta por completo ou apenas a sua complementação quando paga a menor, assegurado o direito de regresso. Neste sentido, tem-se o conteúdo do artigo 7º da Lei 6.194/74: Art. 7º. A indenização por pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, seguro não realizado ou vencido, será paga nos mesmos valores, condições e prazos dos demais casos por um consórcio constituído, obrigatoriamente, por todas as sociedades seguradoras que operem no seguro objeto desta lei. De igual modo é o que se observa da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Vejamos: "(...). Qualquer seguradora que opera no sistema pode ser acionada para pagar o valor da indenização correspondente ao seguro obrigatório, assegurado o direito de regresso. Precedentes. (...)". (STJ. AgRg no Ag /RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 20/11/2007, DJ 11/02/2008 p. 106). "(...). Quaisquer das seguradoras participantes do Consórcio DPVAT possuem legitimidade passiva para responder ação de cobrança securitária, ressalvado o direito de regresso contra a seguradora líder. (...)". (TJRN. Apelação Cível nº ª Câmara Cível. Relator: Des. Dilermando Mota. Julgamento: 26/01/2010).

4 Deve ser rejeitada a preliminar de substituição do pólo passivo da ação. II.2 - Da falta de documento imprescindível ao exame da questão. A parte ré pede, ainda, pela improcedência total dos pedidos autorais, em razão do não acostamento aos autos, pelo autor, de documento imprescindível ao exame da questão: laudo de exame de corpo de delito do IML comprovando sua invalidez. Afirma que, diante da ausência de provas, a demanda deve ser extinta com resolução do mérito, com fulcro no art. 269, inciso I do CPC/73, então vigente, que possui a mesma redação dada ao art. 487, I do Novo Código de Processo Civil. Tal documento não é indispensável à propositura da ação, já que pode ser substituído por perícia judicial e, portanto, não se configura a irregularidade apontada pela parte ré Ademais, a prova da invalidez é matéria relativa ao mérito da causa, razão pela qual não deve ser apreciada tal questão em sede de preliminares, mormente quando se leva em consideração que, no caso dos autos, foi realizada perícia por ordem deste juízo. II.3 Do mérito. No mérito, cabe destacar que o pleito inicial da parte autora é de percebimento de indenização por invalidez permanente, com arrimo na Lei nº 6.194/74, que dispõe sobre Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não. No caso dos autos, resta comprovada a invalidez parcial permanente causada à parte autora em razão de acidente veicular ocorrido em 20/11/2013, o que pode ser observado do laudo pericial (ID ), no qual consta que o autor, em decorrência do referido acidente automobilístico, foi acometido de invalidez permanente a afetar 50% das funções do membro superior esquerdo.

5 O autor ofereceu impugnação ao laudo pericial sob os argumentos de que apresenta pobreza de detalhes e que a fratura sofrida comprometeu de forma grave a funcionalidade do membro superior esquerdo, e não média, como atesta o perito. Entretanto, observo que o laudo pericial responde de forma satisfatória aos quesitos formulados pelas partes e por este Juízo, no despacho que determinou sua produção (ID ), sendo plenamente suficiente para o julgamento de ações de cobrança de seguro DPVAT, não havendo qualquer prejudicialidade de insuficiência de informações. Ademais, o laudo pericial foi produzido por médico designado por este Juízo, e, portanto, imparcial e competente para determinar com precisão o grau de invalidez parcial do autor, não havendo de se questionar o resultado da perícia. Dessa forma, não procede o pleito de desconsideração do laudo pericial. No que concerne ao valor da indenização, deve-se aplicar a norma em vigor na data do sinistro. Para sinistros ocorridos após o advento da Medida Provisória nº 451 (18/12/2008), convertida na Lei n.º (04/06/2009), a regra da gradação de valores será a adotada para a indenização, considerando a natureza dos danos permanentes, consoante tabela que foi acrescentada à Lei nº 6.194/74. Em corroboração a esse entendimento, preleciona a Súmula 474 do STJ que "a indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez", o que se aplica plenamente ao caso em comento. Assim, a indenização deve ser paga em proporcionalidade ao grau de invalidez permanente da vítima, sendo o teto o valor de R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais), devendo ser observada a tabela anexada à Lei nº 6.194/74 pela Medida provisória nº 451/2008. Da análise de tal tabela, vê-se que a "perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros superiores e/ou de uma das mãos" gera o direito a uma indenização correspondente a 70% do teto indenizatório, o que corresponde a R$ (nove mil, quatrocentos e cinquenta reais).

6 No entanto, em sendo incompleta a invalidez parcial permanente, deve-se aplicar, ainda, a redução percentual do artigo 3º, 1º, II, da lei nº 6.194/74. No caso, tendo a perícia judicial classificado como média a repercussão da lesão, sobre o valor de R$ 9.450,00 aplica-se o percentual de 50%, o qual corresponde ao montante da indenização, a saber R$ 4.725,00 (quatro mil, setecentos e vinte e cinco reais). (residual 10%, leve 25%, média 50%, grave 75%). Em face do apurado, constato que o valor pago administrativamente pela demandada satisfez por completo a pretensão indenizatória que fazia jus a parte autora, tendo a demandada, portanto, cumprido regularmente com suas obrigações, não restando qualquer resíduo a ser pago ao autor a título de indenização pelo referido sinistro. III DISPOSITIVO. Diante de todo o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados pela parte autora. Tendo em vista a realização da perícia judicial, expeça-se, em favor do médico ortopedista Rogério Maciel Nobre, alvará de levantamento para saque dos honorários periciais depositados pela ré em conta vinculada a este processo, no valor de R$ 200,00 (duzentos reais). Condeno a parte autora a arcar com as custas processuais, no valor de R$ 152,18 (cento e cinquenta e dois reais e dezoito centavos), através da guia do F.D.J. disponibilizada no site no prazo de 30 (trinta) dias, contados a partir do trânsito em julgado desta sentença. Condeno o autor, ainda, a ressarcir a parte ré as despesas processuais referentes à realização da perícia médica e a pagar honorários advocatícios ao causídico da parte demandada, estes na razão de R$ 200,00 (duzentos reais). Entretanto, por ser a parte autora beneficiária da justiça gratuita, suspendo o pagamento das verbas da sucumbência pelo prazo prescricional de 05 (cinco) anos, durante o qual deverá a parte demandada

7 provar a melhoria das condições financeiras da parte autora, demonstrando que a requerente possa fazer o pagamento sem prejuízo do sustento próprio ou da família, ficando a autora obrigada a pagar as verbas sucumbenciais na caracterização desta hipótese (art. 12 da Lei 1.060/50). Intimem-se as partes pelo sistema. Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos. Natal/RN, 18 de agosto de DIVONE MARIA PINHEIRO Juíza de Direito (documento assinado digitalmente na forma da Lei n /06)