Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

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1 Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS Órgão : 5ª TURMA CÍVEL Classe : APELAÇÃO CÍVEL N. Processo : APC ( ) Apelante(s) : SEGURADORA LIDER DO CONSORCIO DO SEGURO DPVAT SA Apelado(s) : LAURO SILVA DO NASCIMENTO Relator : Desembargador ANGELO PASSARELI Acórdão N. : E M E N T A CIVIL EPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. DPVAT. PAGAMENTO ADMINISTRATIVO DENTRO DO PRAZO LEGAL. MORA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA. NÃO INCIDÊNCIA. SENTENÇA REFORMADA. 1 - Segundo o 7º do art. 5º da Lei n.º 6.194/74, os "valores correspondentes às indenizações, na hipótese de não cumprimento do prazo para o pagamento da respectiva obrigação pecuniária, sujeitam-se à correção monetária segundo índice oficial regularmente estabelecido e juros moratórios com base em critérios fixados na regulamentação específica de seguro privado." 2 - Comprovado pela Seguradora que o pagamento administrativo do valor indenizatório do seguro DPVAT foi realizado no prazo de 30 (trinta) dias contados da entrega, pelo Segurado, dos documentos indicados no 1º do art. 5º da Lei n 6.194/74, não resta configurada a mora da Seguradora e, assim, não há que se falar em incidência de correção monetária. 3 - As teses trazidas no enunciado n.º 580 da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e no Recurso Repetitivo n.º /SC não se aplicam em caso de pagamento voluntário, integral e realizado no prazo concedido GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 1

2 em lei (distinguishing). Apelação Cível provida. GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 2

3 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª TURMA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, ANGELO PASSARELI - Relator, SEBASTIÃO COELHO - 1º Vogal, JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS - 2º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. DAR PROVIMENTO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasilia(DF), 23 de Maio de Documento Assinado Eletronicamente ANGELO PASSARELI Relator GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 3

4 R E L A T Ó R I O Adoto, inicialmente, o relatório da sentença de fls. 82/85, in verbis: LAURO SILVA DO NASCIMENTO propôs a presente ação de cobrança em face da SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DE SEGURO DPVAT. Relatou a parte autora que sofreu acidente de trânsito em , vindo a sofrer lesões de caráter permanente. Asseverou que em razão do acidente acima mencionado sofreu fraturas na coluna e no tórax. No entanto, mesmo diante de tais lesões recebeu do réu o valor de R$ 1.687,50 (Hum mil seiscentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos), referentes ao seguro obrigatório. Aduziu que em face das lesões sofridas por conta do acidente deveria receber o valor integral do seguro, correspondente à R$ ,00 (Treze mil e quinhentos reais). Sustentou que houve o enquadramento incorreto das lesões sofridas na Tabela constante na Lei n.º 6.194/74. Defendeu ainda que, em caso de não acolhimento do pleito acima, que o réu seja condenado ao pagamento da correção monetária sobre o valor de R$ 1.687,50 (Hum mil seiscentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos). Arrolou razões de direito. Requereu ao final a condenação do réu ao pagamento da quantia de R$ ,50 (Onze mil oitocentos e doze reais e cinquenta centavos), correspondente à diferença entre o valor recebido e o valor devido. Acostou aos autos os documentos de fls. 13/29. A fl. 32 foi concedido o benefício da gratuidade judiciária. A audiência de conciliação não foi realizada, nos termos da decisão de fl. 36. O réu apresentou contestação acompanhada de GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 4

5 documentos às fls. 42/74, na qual, preliminarmente, impugnou a concessão do benefício da gratuidade judiciária e, no mérito, que o pagamento foi efetuado de acordo com a lesão sofrida. Aduziu ainda que a parte autora não comprovou os fatos alegados na inicial. Requereu a improcedência do pedido. A parte autora não apresentou réplica conforme certificado a fl. 77. Intimadas a especificarem as provas a serem produzidas, as partes permaneceram silentes (fl. 79) (fls. 82/83) Acrescento que a MM Juíza a quo julgou parcialmente procedente o pedido em dispositivo assim redigido: Ante o exposto e pelo que consta dos autos, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO formulado na inicial, o que faço com julgamento de mérito, nos termos do art. 487, I, do Código de Processo Civil - CPC para condenar o réu ao pagamento da correção monetária, pelos índices do INPC, incidente sobre a quantia de R$ 1.687,50 (Hum mil seiscentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos) a contar da data do evento danoso ( ). Condeno a autora ao pagamento de 80% (oitenta por cento) das custas processuais e honorários advocatícios, os quais terão percentual fixado em sede de liquidação de sentença, suspendendo sua exigibilidade nos termos do art. 98, 3º, do CPC. Condeno a ré ao pagamento dos 20% (vinte por cento) remanescentes das custas processuais e honorários advocatícios, os quais terão percentual fixado em sede de liquidação de sentença. (fl. 84) GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 5

6 Insatisfeita, apela a Ré. Em suas razões recursais (fls. 87/92), alega que não incorreu em mora, razão pela qual não há que se falar em correção monetária a partir da data do evento danoso. Sustenta que considerando que o procedimento administrativo foi instaurado no dia 09/11/2015, logo após o acidente automobilístico em testilha, culminando no consequente pagamento da indenização ao requerente no valor de R$ 1.687,50, no dia 23/11/2015, conforme se infere do processo administrativo, não há que se falar em mora passível de admitir a correção monetária da indenização (fl. 90), devendo incidir correção monetária somente quando o pagamento não for realizado nos 30 (trinta) dias previstos pelo art. 5º, 1º, da Lei n 6.194/74. Colaciona jurisprudência que entende abonar sua tese. Preparo regular (fls. 93/94). Não foram apresentadas contrarrazões, conforme certidão de fl. 97. É o relatório. GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 6

7 V O T O S O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - Relator Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Como relatado, cuida-se de recurso de Apelação (fls. 87/92) interposto contra a sentença (fls. 82/85) por meio da qual a MM Juíza a quo julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais para condenar a Ré ao pagamento da " correção monetária pelos índices do INPC, incidente sobre a quantia de R$ 1.687,50 (Hum mil seiscentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos) a contar da data do evento danoso ( )" (fl. 84). Em razão da sucumbência, a MM Juíza a quo condenou "a autora ao pagamento de 80% (oitenta por cento) das custas processuais e honorários advocatícios, os quais terão percentual fixado em sede de liquidação de sentença, suspendendo sua exigibilidade nos termos do art. 98, 3º, do CPC", condenando também "a ré ao pagamento dos 20% (vinte por cento) remanescentes das custas processuais e honorários advocatícios, os quais terão percentual fixado em sede de liquidação de sentença" (fl.84). Em suas razões, a Apelante sustenta que não incorreu em mora, razão pela qual não há que se falar em correção monetária a partir da data do evento danoso. Sustenta que "considerando que o procedimento administrativo foi instaurado no dia 09/11/2015, logo após o acidente automobilístico em testilha, culminando no consequente pagamento da indenização ao requerente no valor de R$ 1.687,50, no dia 23/11/2015, conforme se infere do processo administrativo, não há que se falar em mora passível de admitir a correção monetária da indenização" (fl. 90), devendo incidir correção monetária somente quando o pagamento não for realizado nos 30 (trinta) dias previstos pelo art. 5º, 1º, da Lei n 6.194/74. Tenho que razão lhe assiste. Depreende-se dos elementos de convicção colacionados aos autos que o Autor, em 05/08/2015, sofreu acidente automobilístico, tendo sido acometido por fraturas na coluna e no tórax (fls. 21/25). Devido ao acidente acima mencionado, recebeu da Ré/Apelante o valor de R$ 1.687,50 (mil seiscentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos) a título de indenização, referentes ao seguro obrigatório, na data de 23/11/2015 (fl. 27). GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 7

8 O Autor, em peça de ingresso, não informou a data de entrega dos documentos exigidos pela lei, nem apresentou qualquer indício de prova a esse respeito. A Ré, por seu turno, apresentou o documento acostado à fl. 72, que registra a abertura do pedido de indenização em 09/11/2015. O respectivo numerário foi pago ao Segurado em 23/11/2015 (fl. 27), ou seja, dentro dos 30 (trinta) dias estabelecidos no art. 5º, 1º, da Lei n 6.914/74. Importante salientar a decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp /SC, pelo procedimento dos recursos repetitivos, no sentido de que a correção monetária é devida desde a data do evento danoso. Confira-se a ementa do julgado, in verbis: "RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. CIVIL. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TERMO 'A QUO'. DATA DO EVENTO DANOSO. ART. 543-C DO CPC. 1. Polêmica em torno da forma de atualização monetária das indenizações previstas no art. 3º da Lei 6.194/74, com redação dada pela Medida Provisória n. 340/2006, convertida na Lei /07, em face da omissão legislativa acerca da incidência de correção monetária. 2. Controvérsia em torno da existência de omissão legislativa ou de silêncio eloquente da lei. 3. Manifestação expressa do STF, ao analisar a ausência de menção ao direito de correção monetária no art. 3º da Lei nº 6.194/74, com a redação da Lei nº /2007, no sentido da inexistência de inconstitucionalidade por omissão (ADI 4.350/DF). 4. Para os fins do art. 543-C do CPC: A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no 7º do art. 5º da Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei n /2007, operase desde a data do evento danoso. 5. Aplicação da tese ao caso concreto para estabelecer GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 8

9 como termo inicial da correção monetária a data do evento danoso. 6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO." (REsp /SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2015, DJe 02/06/2015) A partir do referido julgamento, foi editado o Enunciado n.º 580 da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que a " correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por morte ou invalidez, prevista no 7º do art. 5º da Lei n /1974, redação dada pela Lei n /2007, incide desde a data do evento danoso" (Súmula 580, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/09/2016, DJe 19/09/2016). A mencionada orientação jurisprudencial, entretanto, deve ser aplicada em conformidade com a Lei de Regência, ou seja, haverá a incidência da correção monetária nos casos em que não houver pagamento administrativo no prazo de 30 dias contados da entrega, pelo segurado, dos documentos indicados no 1º do art. 5º da Lei n 6.194/74. Segundo o 7º do art. 5º da Lei n.º 6.194/74, os "valores correspondentes às indenizações, na hipótese de não cumprimento do prazo para o pagamento da respectiva obrigação pecuniária, sujeitam-se à correção monetária segundo índice oficial regularmente estabelecido e juros moratórios com base em critérios fixados na regulamentação específica de seguro privado." (grifei). In casu, restou comprovado pela Apelante que o valor devido foi pago dento do prazo determinado por lei, deixando o caso em tela de amoldar-se ao precedente supracitado, não restando configurada a mora da Seguradora. Assim, não se deve falar, portanto, em incidência de correção monetária. Nesse sentido, confiram-se, também, precedentes jurisprudenciais deste Tribunal de Justiça: "APELAÇÔES CÍVEIS. PROCESSO CIVIL. GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 9

10 INTEMPESTIVIDADE. RECURSO INADMISSÍVEL. SEGURO DPVAT. VALOR PAGO ADMINISTRATIVAMENTE. CORREÇÃO MONETÁRIA. AUSÊNCIA DE MORA DA SEGURADORA. SENTENÇA REFORMADA. 1. É inadmissível o recurso no qual esteja ausente requisito extrínseco de admissibilidade, qual seja, a tempestividade. 2. Nos termos da tese jurídica firmada no verbete nº. 580 da Súmula Jurisprudencial do Colendo Superior Tribunal de Justiça: `A correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por morte ou invalidez, prevista no 7º do art. 5º da Lei nº 6.194/1974, redação dada pela Lei nº /2007, incide desde a data do evento danoso.`. 3. Dessa forma, a correção monetária a incidir sobre a data do evento danoso somente será paga na hipótese de não cumprimento do prazo administrativo para o pagamento da obrigação. 4. Recebido o valor securitário dentro do prazo legal de 30 dias (artigo 5º, parágrafo 1º da 6.194/1974) não há de se falar em correção monetária do valor recebido, porquanto não houve mora no pagamento pela seguradora. 5. Apelação da autora não conhecida. Apelação da ré conhecida e provida. Sentença reformada" (Acórdão n , APC, Relator: EUSTÁQUIO DE CASTRO 8ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 17/08/2017, Publicado no DJE: 23/08/2017. Pág.: 458/464) "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DPVAT. SEGURO OBRIGATÓRIO. PAGAMENTO ADMINISTRATIVO DA INDENIZAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA. MORA DA SEGURADORA. NÃO COMPROVAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, 1º, 2º E 7º, DA LEI N.º 6.194/ Sobre a data para o pagamento da indenização securitária de DPVAT, a Lei n.º 6.194/74, em seu art. 5º, 1º e 2º, estabelece que a Seguradora terá o prazo de 30 GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 10

11 (trinta) dias para efetuar o pagamento correspondente, contado a partir da entrega, pelo segurado/beneficiário, dos documentos referidos nas alíneas 'a' e 'b' do mencionado 1º, devendo a Seguradora fornecer o recibo concernente à entrega de tais documentos. 2. O art. 5º, 7º, da Lei n.º 6.194/74, com redação dada pela Lei n.º /2007, dispõe que 'Os valores correspondentes às indenizações, na hipótese de não cumprimento do prazo para o pagamento da respectiva obrigação pecuniária, sujeitam-se à correção monetária segundo índice oficial regularmente estabelecido e juros moratórios com base em critérios fixados na regulamentação específica de seguro privado.' 3. Como não há, nos autos, documento ou alegação das partes, no que se refere à data em que o segurado deu entrada no pedido administrativo, com a juntada dos documentos legalmente exigidos para o recebimento do valor respectivo, não há como se aferir se a Seguradora incorreu, ou não, em mora, motivo pelo qual não incide correção monetária sobre o valor pago administrativamente. 4. Apelação não provida." (Acórdão n , APC, Relator: CRUZ MACEDO 4ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 29/09/2016, Publicado no DJE: 18/10/2016. Pág.: 339/361) Diante disso, constata-se que o recurso em tela deve ser provido, para afastar a incidência de correção monetária, tendo em vista que a Apelante não incorreu em mora. Com essas considerações, dou provimento ao recurso para reformar a sentença e julgar integralmente improcedentes os pedidos iniciais. Em razão da sucumbência da parte Autora, condeno-a ao pagamento de custas processuais e de honorários advocatícios que arbitro em 10% do valor da causa, em razão do artigo 85, 2º, do CPC, devendo ser observado, GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 11

12 quanto à exigibilidade, o disposto no art. 98, 3º, também do CPC (fl. 32). É como voto. O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - Vogal Com o relator O Senhor Desembargador JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS - Vogal Com o relator D E C I S Ã O CONHECER. DAR PROVIMENTO. UNÂNIME. GABINETE DO DESEMBARGADOR ANGELO PASSARELI 12