Pós Penal e Processo Penal. Legale
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- Dina Carmona
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1 Pós Penal e Processo Penal Legale
2 Competência Constitucional: art. 5º, inc. XXXVIII da CF
3 Origem A instituição do Júri remonta os tempos antigos (Grécia, Roma) com a possibilidade de julgamento pelo povo.
4 Origem A Magna Carta (1215) previu no seu artigo 39: Nenhum homem livre será capturado ou aprisionado, ou desapropriado dos seus bens, ou declarado fora da lei, ou exilado, ou de algum modo lesado, nem nós iremos contra ele, nem enviaremos ninguém contra ele, excepto pelo julgamento legítimo dos seus pares ou pela lei do país
5 Origem No Brasil, há a instituição do Júri desde 1822 (para julgar crimes de imprensa). Posteriormente passou a julgar crimes dolosos contra a vida e crimes contra a economia popular. Desde a Constituição de 1946 julga os crimes dolosos contra a vida.
6 Júri duas fases distintas O procedimento do Júri é chamado de bifásico ou escalonado, isso porque tem duas fases distintas:
7 Júri duas fases distintas a primeira é o juízo de acusação (iuditio accusationis) a segunda é o juízo da causa (iuditio causae)
8 a sequência de atos da primeira fase (iuditio acusationis) é a seguinte:
9 oferecimento da denúncia ou queixa > recebimento da denúncia ou queixa > citação > resposta > manifestação do Ministério Público > audiência de instrução, debates e julgamento >
10 oferecimento da denúncia ou queixa > Características
11 EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA QUINTA VARA DO JÚRI DA CAPITAL Controle 569/12 - IP 1496/12 - DHPP O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO representado pelo Promotor de Justiça signatário, com base no procedimento inquisitório anexado, feito epigrafado, vem propor ação penal pública incondicionada, oferecendo denúncia em face da indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA, portadora do RG X-SP, qualificada a fls. 332, pela prática do crime de homicídio doloso, triplamente qualificado, pelo motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa do ofendida e meio cruel, além de destruição e ocultação de cadáver, contra a pessoa de MARCOS KITANO MATSUNAGA, fato ocorrido no dia no dia 19 de maio de 2012, pouco depois das 20h, no interior do apartamento nº 172-A do edifício localizado na Rua Carlos Weber, 1376, Vila Leopoldina, São Paulo.
12 OS FATOS A indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA, que antes fora enfermeira, trabalhando em centro cirúrgico, era garota de programa e se apresentava como acompanhante, rótulo das integrantes do site MClass, especializado nessa atividade, quando conheceu a vítima MARCOS KITANO MATSUNAGA, com quem passou a ter relações sexuais mediante paga, no final do ano de Marcos era casado e tinha uma filha, e ante a frequência com que se relacionavam, se tornaram amantes, por um período aproximado de três anos, até que aquele se divorciou e decidiram secasar, o que aconteceu no dia 8 de junho de 2009, sob o regime da comunhão parcial de bens (fls. 253). O casal Marcos-Elize já demonstrava sinais de dificuldade no relacionamento, quando a denunciada engravidou, posteriormente dando à luz a criança, em 15 de abril de 2011, e seis meses após, o relacionamento se deteriorou. As constantes brigas do casal, com ofensas recíprocas e até agressão física por parte de Elize, fez com que passassem a dormir em quartos separados no
13 mesmo imóvel. Convencida de que Marcos estava tendo um caso, Elize procurou uma agência de detetives, contratando seus serviços para acompanhá-lo e comprovar o fato. Antes de efetuar uma viagem ao Estado do Paraná, no dia 17 de maio, Elize fez o pagamento de parte do valor ajustado com o detetive, e enquanto estava ausente, conforme combinou com a empregada, esta lhe informava a entrada e saída do marido, e por telefone, monitorava o detetive, quando teve conhecimento de que realmente Marcos estava tendo um caso com uma garota de programa, e que, por coincidência, era do mesmo site MClass que antes pertenceu. O detetive forneceu os detalhes e os locais onde o marido se encontrava com a nova amante, inclusive realizando filmagens do romance em locais públicos, fato que gerou o ódio incontido. Elize retornou de viagem, no dia 19 de maio, com o plano sórdido elaborado. E no mesmo dia o concretizaria. Oriunda de família pobre, auxiliar de enfermagem e garota de programa, depois casada com milionário, viu cair por terra o casamento e a vida confortável. Beneficiária única de seguro de relevante
14 valor (fls. 84), ficando com a filha herdeira do enorme patrimônio do pai, resolveu matá-lo. Conseguiria se vingar e ficaria rica. Exímia atiradora, o executaria. Marcos foi buscá-la no aeroporto, junto com a filha e ao adentrarem no apartamento, a denunciada Elize detalhou a este as investigações já desenvolvidas e as provas materiais. Discutiram, com uma pausa enquanto Marcos desceu à portaria para buscar uma pizza, e retornando às 20h02m, conforme consta das gravações de CFTV do elevador (fls. 443/444). Nesse ínterim, armou-se de uma pistola Imbel, calibre 380, nº (uma das quatro armas registradas em seu nome) com carregador contendo 15 cartuchos e quando Marcos chegou com a pizza, Eliza dele se aproximou e efetuou um único disparo, na região da fronte esquerda, orientado de frente para trás e de cima para baixo (fls. 456). Tinha que ser assim, pois Marcos, além muito forte, bem mais alto, era lutador de artes marciais o que inviabilizaria o confronto físico. Não poderia lhe dar qualquer chance de se defender. Enquanto a vítima Marcos agonizava, com o mesmo ódio incontido, Eliza armou-sede uma
15 faca, se aproximou de seu pescoço e o seccionou, conseguindo decapitálo. Marcos veio a óbito, cuja causa mortis deveu-se a choque traumático (traumatismo crâneo encefálico por agente pérfuro-contundente projétil de arma de fogo (bala) e associado à asfixia respiratória por sangue aspirado devido a decapitação, conforme evidenciado no laudo de exame de corpo de delito (exame necroscópico) constante de fls. 455/457. Excelente atiradora e conhecedora de armas, substituiu o cano da arma utilizada por um outro que mantinha, de molde a inviabilizar definitivamente eventual exame pericial de confronto do projétil com a pistola, bem como comprovação de disparo recente. Perpetrado o crime, era o momento de se livrar do indesejável cadáver, e para isso já tinha também previamente desenvolvido um plano. Iria esquartejá-lo e transportá-lo para local distante. Dotada de conhecimento na área de enfermagem, colocou-o em prática, dentro de um quarto destinado aos hóspedes, para onde arrastou o corpo. Por ter trabalhado em centro cirúrgico e conhecedora da anatomia humana, em termos ósseos, sabia
16 onde realizar os cortes. Sabia que o joelho é preso por cartilagem e ligamento, e assim cortou as pernas. Cortou os braços, com antebraço e mão. Da mesma forma cortou a barriga, na região da cintura, separando a genitália e as coxas do tronco, conforme comprovam as fotos de fls. 49/50 e 460/481. Após o esquartejamento atividade que lhe consumiu a noite toda -, inseriu as partes, junto com a cabeça e as roupas que Marcos usava, em sacos plásticos apropriados para lixo, e acondiciou-os em três malas de viagem, dividindo o peso, o que lhe facilitaria o transporte. Realizada a difícil tarefa, passou a limpar todo o local, com panos e água. Enquanto a babá ficava em casa com a criança do casal, desceu com as três malas pelo elevador de serviço (no dia 20 de maio de 2012, domingo às 1h30m), conforme comprovam as filmagens de CFTV (fls. 444/445), colocou-as no seu veículo Mitsubishi Pajero, placas EQC-4141 para jogar em local bem distante. Saiu com destino ao Estado do Paraná seguindo pela Rodovia Raposo Tavares, mas desistiu da empreitada, retornando para a região da Grande São Paulo, onde conhecia bem. Aliás, muito bem.
17 Assim, livrou-se dos pedaços do corpo. Na Estrada dos Pires, próximo à igreja, foram encontradas as mangas da camisa. Na mesma Estrada dos Pires até a Rua Bragança (1,3 km após), foram encontradas mãos e braços. Um pouco mais à frente (1 km) estava uma perna e um pé. Mais adiante (100 m) estava a cabeça. Mais à frente (600 m) estava a outra perna. Continuando na Estrada dos Pires, sentido Caucaia do Alto (2,5 km) estavam o tronco e o quadril. As partes foram sendo jogadas em beira de estrada, em uma distância percorrida de 4,2 km, conforme comprova o laudo de fls. 395 e os BOs. de fls. 13, 22, 63, 67. Após toda essa jornada, quando foi fiscalizada e autuada pela Polícia Rodoviária por estar com o licenciamento do auto vencido (fls. 321/323), e ainda com as malas e partes do cadáver, Elize retornou ao apartamento apenas às 22h48m (fls. 446). No dia 21de maio (segunda-feira) foi até a agência de detetives retirar as filmagens feitas com Marcos e a amante, e as levou aos pais dele, cuja mostra visava concretizar a parte final de seu plano, de que a vítima saíra de casa porque tinha outra mulher. Enquanto a família procurava Marcos,
18 com a mesma finalidade de fugir à eventual suspeita de autoria, apanhou um notebook da vítima, e como conhecia sua senha, encaminhou s para a empresa de sua propriedade, supostamente sendo do falecido, informando que estava tudo bem (fls. 36/39). Assim ocorrendo, a indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA praticou um crime de homicídio triplamente qualificado. Agiu impelida por motivo torpe, vingando-se da traição do marido, para evitar que a outra amante fosse a causa da separação e lhe causasse prejuízos sociais e materiais, e com objetivo de ficar com o valor do seguro de vida e a administração dos bens a serem herdados pela filha. Para a prática do crime, utilizou de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, com o tiro sendo disparado à curta distância, conforme prova a perícia (fls. 456), que evidenciou zona de tatuagem e queimadura nas margens do ferimento, e em situação de altura superior, pois mesmo sendo de estatura maior, Marcos recebeu o projétil de cima para baixo, o que seria impossível de acontecer, caso ambos estivessem em pé (fls. 455/457). A morte foi produzida por meio
19 cruel, pela tentativa de segmentar o corpo em vida. Conforme conclusão pericial, a vítima ainda estava viva quando sofreu asfixia respiratória por sangue aspirado devido à decapitação. (fls. 457). A indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA também praticou o crime de destruição e ocultação de cadáver, ao esquartejá-lo e depois lançar as partes em local ermo, onde possivelmente seriam devoradas por animais. Por final, a conduta de ainda deverá ser agravada genericamente pela condição de cônjuge da vítima. Ex positis, adequando a conduta da indiciada ao tipo penal descrito como homicídio qualificado pelo motivo torpe, meio cruel e utilizando recurso que impossibilitou a defesa da vítima, além da destruição e ocultação de cadáver, agravada pela condição de cônjuge da vítima, denuncio ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA, portadora do RG X-SP, como incursa no artigo 121, 2º, incisos I, III e IV, artigo 211 e artigo 61, inciso II, letra e, in fine, todos do Código Penal Brasileiro.
20 REQUERIMENTO Ante todo o exposto, adequada a conduta aos tipos penais correspondentes, requer-se, recebida e autuada a presente, observando-se o disposto no artigo 406 do Código de Processo Penal, com as alterações trazidas pela Lei nº , de 9 de junho de 2008, seja a ré citada para responder a acusação por escrito. Não sendo hipótese de absolvição sumária, em audiência de instrução prevista no artigo 411 do mesmo dispositivo, seja procedida à inquirição das testemunhas abaixo arroladas, as do juízo e as que eventualmente sejam indicadas pela acusada. Excedido o rol de testemunhas (art. 406, 2º do CPP), ante a complexidade do caso e necessidade de ouvida do médico legista, do perito legal e da ilustre autoridade policial que desenvolveu a investigação, requeiro que sejam estas ouvidas como testemunhas do juízo (art. 209 do CPP). Após, seja interrogada a acusada, e com o encerramento da instrução e realizado o debate final ou juntada de memoriais, para, ao final, ser proferida sentença de pronúncia para
21 submeter ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA a julgamento pelo Egrégio Tribunal do Júri, juízo natural dos crimes dolosos contra a vida, até final condenação. São Paulo, 19 de junho de 2012 JOSÉ CARLOS COSENZO Promotor de Justiça
22 ROL DE TESTEMUNHAS 1 Mauro Kitano Matsunaga fls. 26/145/196/239 2 Willian Coelho de Oliveira fls Valter Sérgio de Abreu -fls. 172 (requisitar) 4 René Henrique Gotz Licht fls Horácio Rubem D Abramo fls Luiz Carlos Lózio fls. 30/149/193 7 Nathalia Vila Real Lima - fls Amonir Hercilia dos Santos fls. 234 TESTEMUNHAS DO JUÍZO 1 Dr Mauro Gomes Dias fls. 514 (requisitar) 2 Dr Jorge Pereira de Oliveira fls. 455/457 (requisitar) 3 Ricardo Salada Perito DHPP - requisitar
23 recebimento da denúncia ou queixa > Características
24 citação > Características
25 resposta > Características
26 manifestação do Ministério Público > Características
27 audiência de instrução, debates e julgamento > Características
28 Sequência: Oitiva do ofendido Oitiva das testemunhas de acusação Oitiva das testemunhas de defesa Requerimentos Interrogatório do réu Debates orais Decisão
29 São decisões que encerram a primeira fase do Júri:
30 Pronúncia (art. 413, CPP) Impronúncia (art. 414, CPP) Absolvição Sumária (art. 415, CPP) Desclassificação (art. 419, CPP)
31 Pronúncia é a decisão que encerra a primeira fase do júri e que faz com que o acusado seja levado a julgamento pelo Plenário do Júri, faz ter a segunda fase, e agora está prevista no art. 413 do CPP.
32 O juiz pronunciará quando houve materialidade e indícios suficientes de autoria
33 Se o réu está revel ele poderá ser intimado da pronúncia por edital (antigamente o processo ficaria parado)
34 Se o réu está revel ele poderá ser intimado da pronúncia por edital (antigamente o processo ficaria parado) Na dúvida entre pronunciar ou não, deverá o Juiz pronunciar o réu (in dubio pro societate)
35 Se o réu está revel ele poderá ser intimado da pronúncia por edital (antigamente o processo ficaria parado) Na dúvida entre pronunciar ou não, deverá o Juiz pronunciar o réu (in dubio pro societate) O juiz não pode exagerar na fundamentação da pronúncia
36 Impronúncia se dará quando o magistrado não se convencer da materialidade ou os autos não tiverem indícios suficientes de autoria ou ainda quando faltarem materialidade e indícios de autoria, com previsão no art. 414 do CPP
37 A Impronúncia arquiva o processo que poderá ser reaberto (antes da prescrição) com novas provas
38 Absolvição sumária Por expressa disposição constitucional, quem condena ou absolve os crimes dolosos contra a vida, conexos ou continentes a esses é o Tribunal do Júri. O juiz, em regra, não tem competência para fazê-lo
39 Mas a lei, entendendo que o réu não pode ser punido injustamente por esse dispositivo, conferiu ao magistrado a possibilidade de absolvê-lo antes da sessão plenária. É uma absolvição antecipada que acaba por sumariar o processo. É a chamada absolvição sumária
40 Para que o Juiz absolva sumariamente o réu, é necessário que:
41 esteja provada a inexistência do fato,
42 esteja provada a inexistência do fato, provado não ser o réu o autor ou partícipe do fato,
43 esteja provada a inexistência do fato, provado não ser o réu o autor ou partícipe do fato, o fato não constituir infração penal ou
44 esteja provada a inexistência do fato, provado não ser o réu o autor ou partícipe do fato, o fato não constituir infração penal ou ficar demonstrada causa de isenção de pena ou exclusão do crime
45 A lei faz uma ressalva para expor que a tese de excludente de culpabilidade oriunda de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado não pode ser argüida para a absolvição sumária, salvo se for tese única
46 Desclassificação Operar-se-á a desclassificação do delito, sempre que o Juiz se convencer que o crime em testilha não é doloso contra a vida e nem guarda conexão ou continência a um
47 Na desclassificação o Juiz encaminha os autos ao Juízo singular, onde o réu terá nova oportunidade de defesa
48 Recursos das decisões que encerram a primeira fase: Das decisões pronúncia e desclassificação cabe RESE, recurso em sentido estrito (art. 581 do CPP) Da decisão de absolvição sumária e de impronúncia, segundo a nova redação do art. 416 do CPP caberá apelação. fim
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