PROCEDIMENTOS ESPECIAIS Crimes afiançáveis imputados a funcionário público

Transcrição

1 PROCEDIMENTOS ESPECIAIS Crimes afiançáveis imputados a funcionário público 1. Verificar se o funcionário público possui foro por prerrogativa de função, se possuir rito previsto pela Lei 8038/90 2. Se funcionário não possuir foro por prerrogativa, deve-se verificar se praticou crime de responsabilidade

2 Crimes de responsabilidade São os crimes funcionais típicos previstos nos arts. 312 a 326 do CP. Somente para esses delitos é que se aplica o procedimento trazido pelos arts. 513 a 518 do CPP.

3 Lei /11 todos os crimes passam a ser afiançáveis, salvo quando houver a vedação (hediondos e equiparados) ou impedimento legal (art. 323 e 324 CCP).

4 (...) 1. O procedimento especial previsto nos artigos 513 a 518 do Código de Processo Penal só se aplica aos delitos funcionais típicos, descritos nos artigos 312 a 326 do Código Penal. Precedentes. 2. No caso dos autos, os recorrentes foram denunciados pelo crime de fraude à licitação, o que afasta a incidência do artigo 514 do Estatuto Processual. (...) STJ. 5ª Turma. RHC /PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 03/09/2013.

5 Após o oferecimento da denúncia o juiz irá NOTIFICAR o denunciado para responder por escrito (15 dias) a imputação que lhe é atribuída. (art. 514, CPP) DEFESA PRELIMINAR antecede o recebimento da denúncia. Defesa: matérias preliminares que objetivam a rejeição da denúncia.

6 Art O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.

7 Prerrogativa do cargo: A defesa preliminar do art. 514 do CPP é uma prerrogativa do cargo. Disto decorre: 1. o corréu que não seja funcionário público não tem direito à defesa preliminar; 2. se o acusado, à época do oferecimento da denúncia, não era mais funcionário público, não terá direito à defesa preliminar.

8 Não rejeitada a denúncia ou queixa, o denunciado será CITADO, seguindo-se o rito comum ordinário (arts. 517 e 518 CPP) Obs: o que faz este procedimento ser especial é a possibilidade da defesa preliminar. Necessidade da defesa preliminar: sua apresentação é facultativa (art. 514 CPP), contudo a NOTIFICAÇÃO para a sua apresentação é obrigatória sob pena de nulidade.

9 . (...) Esta Corte decidiu, por diversas vezes, que a defesa preliminar de que trata o art. 514 do Código de Processo Penal tem como objetivo evitar a propositura de ações penais temerárias contra funcionários públicos e, por isso, a sua falta constitui apenas nulidade relativa. (...) STF. 2ª Turma. RHC , Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/03/2014

10 Assim, se foi prolatada sentença condenatória, mesmo não tendo havido a resposta preliminar, esse vício fica sanado, não havendo que se falar em nulidade: STF. 2ª Turma. ARE AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/04/2014.

11 Sum. 330 STJ é desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do CPP, na ação instruída por inquérito policial. Crítica: viola a ampla defesa, processo legal e põe fim ao procedimento especial, sendo cabível HC ou correição parcial ( entendimento do STF, HC 96058)

12 O STF possui julgados em sentido contrário a essa súmula, ou seja, afirmando que é indispensável a defesa prévia nas hipóteses do art. 514 do Código de Processo Penal, mesmo quando a denúncia é lastreada em inquérito policial (STF. 2ª Turma. RHC , Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/03/2014).

13 Peculiaridades do Procedimento Capacidade postulatória: próprio funcionário poderá apresentar a defesa preliminar, se não for encontrado será nomeado defensor, não havendo citação por edital ou expedição de carta precatória. Perda da condição de funcionário: perde o direito a defesa preliminar. (idem se houver concurso de infratores em que não haja funcionário público. Efeitos da rejeição inicial: seria possível a coisa julgada material (Távora), no entanto, prevalece que a decisão faz coisa julgada formal.

14 A defesa preliminar não se aplica aos casos em que o funcionário público é acusado de um crime funcional, juntamente com outro crime comum, o qual é apurado mediante investigação prévia, pois sua razão de ser é a possibilidade de o acusado impugnar os fatos constantes de documentos obtidos sem averiguação prévia. (STJ. 6ª Turma. HC /PE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/04/2013)

15 Crimes contra a honra Com a lei dos juizados especiais (estaduais e federais) a grande maioria dos delitos contra a honra passaram a ser processados perante o juizado especial criminal. Peculiaridade do procedimento: tentativa de conciliação para os crimes de calúnia e injúria. Partes serão ouvidas separadamente, sem a presença do seus advogados, não se lavrando termo (art. 520, CPP), verificada a possibilidade do acordo este será efetuado (art. 521, CPP).

16 Ocorrendo a conciliação, a queixa será arquivada, ocorrendo uma hipótese sui generis de renúncia ao direito de ação. Não comparecimento do querelante: perempção ou indício de que não se quer a conciliação (STJ em ambas direções). Não há esta audiência de conciliação caso a ação penal seja proposta pelo MP. Recebida a ação penal: segue-se o procedimento comum sumário. 1. Tratando-se de ação penal privada sujeita à lei 8.038/90, não há falar-se em audiência de conciliação. (foro por prerrogativa)

17 Procedimento para os crimes contra a propriedade imaterial Rito: arts. 524 a 530-I do CPP. Prazo para oferecimento da ação penal privada: art. 529, CPP: trinta dias após a homologação do laudo da perícia. Natureza jurídica do Laudo pericial constitui condição de procedibilidade da ação penal (art. 525, CPP). Procedimento da perícia: art. 530-C, D, E, CPP.

18 Sum. 574 STJ: Para a configuração do delito de violação de direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por amostragem do produto apreendido, nos aspectos externos do material, e é desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou daqueles que os representem.

19 Procedimento na Lei de Drogas Para o crime de porte para consumo de entorpecentes, o rito será da lei 9099/95. (art. 48, p.1 da lei /06) Nos demais delitos: lembrar que o crime de tráfico de drogas não admite fiança, contudo, admite a liberdade provisória SEM fiança. Prazo para a conclusão do IP: 30 dias (preso) 90 dias (solto)

20 Sequencia do procedimento art prazo para oferecimento da denúncia 10 dias (solto ou preso) 2. pode-se arrolar 5 testemunhas e requisitar diligências. 3. antes de receber a denúncia o juiz irá NOTIFICAR o denunciado para apresentar DEFESA PRÉVIA- em 10 dias para alegar preliminar, exceções, justificações e demais matérias de defesa.

21 Não apresentada a defesa prévia nomeia-se defensor, após oferecimento juiz decidirá em 5 dias. Apresentação da defesa prévia é OBRIGATÓRIA. Na audiência de instrução: ouve-se réu, testemunhas de acusação e defesa, e por fim, sustentação oral do MP e defensor. (20 min + 10 min).

22 O rito previsto no art. 400 do CPP NÃO se aplica à Lei de Drogas. Assim, o interrogatório do réu processado com base na Lei /2006 deve observar o procedimento nela descrito (arts. 54 a 59). O art. 57 da Lei /2006 estabelece que o interrogatório ocorre em momento anterior à oitiva das testemunhas, diferentemente do que prevê o art. 400 do CPP, que dispõe que o interrogatório seria realizado ao final da audiência de instrução e julgamento. No confronto entre as duas leis, aplica-se a lei especial quanto ao procedimento, que, no caso, é a Lei de Drogas. Logo, não gera nulidade o fato de, no julgamento dos crimes previstos na Lei /2006, a oitiva do réu ocorrer antes da inquirição das testemunhas.

23 Segundo regra contida no art. 394, 2º, do CPP, o procedimento comum será aplicado no julgamento de todos os crimes, salvo disposições em contrário do próprio CPP ou de lei especial. Logo, se para o julgamento dos delitos disciplinados na Lei /2006 há rito próprio (art. 57, da Lei /2006), no qual o interrogatório inaugura a audiência de instrução e julgamento, é de se afastar o rito ordinário (art. 400 do CPP) nesses casos, em razão da especialidade. STF. 2ª Turma. HC /MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 10/6/2014 (Info 750). STF. 1ª Turma. HC AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/02/2015.

24 A exigência de realização do interrogatório ao final da instrução criminal, conforme o art. 400 do CPP, é aplicável no âmbito de processo penal militar. A realização do interrogatório ao final da instrução criminal, prevista no art. 400 do CPP, na redação dada pela Lei nº /2008, também se aplica às ações penais em trâmite na Justiça Militar, em detrimento do art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69. Logo, na hipótese de crimes militares, o interrogatório também deve ser realizado depois da oitiva das testemunhas, ao final da instrução. STF. Plenário. HC /AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info 816).

25 EMENTA: PENAL. TRÁFICO TRANSNACIONAL DE DROGAS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. COMPETÊNCIA. INTERROGATÓRIO. MOMENTO. LEI ESPECIAL. MATERIALIDADE. AUTORIA. CONFIRMAÇÃO. TRANSNACIONALIDADE. CAUSA DE AUMENTO. MINORANTE. ARTIGO 33, 4º, DA LEI Nº /06. (...) 2. Não há nulidade na realização do interrogatório no início da audiência de instrução, em observância ao processamento determinado pela Lei nº , de 2006, que é lei especial em relação ao Código de Processo Penal. (...) (TRF4, ACR , Sétima Turma, Relator p/ Acórdão Márcio Antônio Rocha, juntado aos autos em 27/04/2016)