XI CONGRESSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO MEIO AMBIENTE DIA 04/08/2011 PAINEL II
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1 XI CONGRESSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO MEIO AMBIENTE DIA 04/08/2011 PAINEL II Relatores: Cláudia Maria Lico Habib Promotora de Justiça do Núcleo Regional Pardo do GAEMA e Nathan Glina Promotor de Justiça do Núcleo Regional Vale do Ribeira do GAEMA A QUESTÃO ANIMAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA (Palestrante: Laerte Fernando Levai) No Direito brasileiro prevalece a postura antropocêntrica segregada secular (nós versus eles), com o poder e dominação gerando cultura da violência, inerente à espécie dominante e paradoxos (a mesma mão que afaga abate e implanta tiranias) 1. O antropocentrismo grego influenciou Roma e o direito que herdamos, daí a instrumentalização em todas as áreas. Em tal noção de direito não cabe consideração moral a outros seres, como se nossa dignidade não pudesse se realizar em conjunto com a dos animais. Tal direito cego aos direitos dos animais é injusto e discriminatório. Nosso Código Civil considera o animal como patrimônio, o Penal como objeto ou instrumento da conduta humana, assim como nossas outras normas, como a ambiental, que considera os animais como recursos e não como seres com valores intrínsecos. Em contraposição, Henry Salt, na obra Animal Rights chega a influenciar Mahatma Gandi no que concerne aos direitos dos animais. Da mesma forma, Cesare Boreti, em 1828, na obra Os animais como sujeitos de direitos, trazendo a sensiência animal como fonte de consideração e direitos a outros seres sensíveis. O artigo 225 da Constituição Federal começa a abandonar o antropocentrismo grego, vedando a crueldade contra animais. Da mesma forma o art. 32 da Lei de Crimes ambientais, ao prever o crime de maus tratos. 1 O foco do meio ambiente está centrado na figura humana, como figura dominante. Essa visão é a prevalente, em contraposição às visões biocentristas e outras. Nessa visão, muitos acabam exacerbando demais o bem estar do homem, como se a dignidade da pessoa humana não conseguisse ser realizada, efetivada, compatibilizando-se com os demais interesses, especialmente dos animais. 1
2 Desde 1982, com as ações civis públicas, ganhou força a proteção animal, se desenvolvendo doutrina e jurisprudência. Há outras entidades e organizações não governamentais também defendendo, assim como o Laboratório da USP contra a intolerância. O mais importante para as mudanças sonhadas é a atitude individual de cada um de nós, especialmente pela mudança de hábitos, não se coadunando com os abusos e explorações contra animais. 2 Note-se que me 1905 José do Patrocínio se insurgia em artigo contra abuso de um animal e um século depois veio o Habeas Corpus referente aos chimpanzés. Assim, quebrar a soberba antropocêntrica que destrói o mundo e explora os animais é o grande desafio que se põe. 2 O importante hoje, para mudar o panorama de abuso contra amimais é a atitude individual, ou seja, mudança de hábitos de cada um contra atos que estimulem a crueldade e abusos (seja na alimentação, seja nas ações culturais - ex. Rodeios, no trabalho - ex. Uso de animais em trabalhos forcados, etc.). 2
3 LACUNAS E INSUFICIÊNCIAS DA LEGISLAÇÃO SOBRE FAUNA (Palestrante: Feliciano Filho) Foi narrado um caso de leishmaniose, em que a Vigilância Sanitária retirou e matou o cachorro de uma pessoa em razão de um falso positivo da doença. Após, foi realizada a exibição de vídeo de abandono animal, referenciando que no site há diversos outros vídeos sobre o tema. Os problemas narrados foram a ausência de políticas públicas, falta de legislação e de cultura do bem (falta espiritualidade). A população humana cresce menos que a de animais caninos e gatos, havendo necessidade de controle do crescimento de tais espécies, por políticas públicas, incluindo castrações, devendo ainda ser firmados convênios de Estados e Municípios. Ainda, é necessária política pública que fomente mudança de cultura: não matar, cão comunitário etc. No tocante a legislação, a Lei nº 9.099/1995 na prática trouxe impunidade para o crime de maus tratos contra animal, por isso há projeto de Lei para aumentar a pena desta infração penal, inclusive no que tange a multa. Há ainda outros Projetos de Lei, acerca de vivissecção, repasse de crédito de Nota Fiscal Paulista para organização não governamental que tutele o meio ambiente, dentre outros. 3
4 TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES: CRUELDADE, PERDA DA BIODIVERSIDADE E DOS SERVIÇOS AMBIENTAIS O PAPEL DO IBAMA (Palestrante: Vincent Kurt Lo) O Brasil é o país com maior biodiversidade do planeta, com a 10% a 20% da biodiversidade global. Todavia, a taxa de extinção de espécies é altíssima. Há 627 espécies da fauna ameaçadas. Os fatores que geram esta taxa de extinção são a redução de habitats, tráfico, caça, captura, introdução de espécies exóticas, dentre outros. No mesmo sentido, o Brasil é o 2º maior país em diversidade de aves no mundo, porém é o maior em espécies ameaçadas de extinção. São apreendidos ou entregues cerca de 30 a 40 mil animais silvestres por ano, o que não deveria ocorrer, pois de há muito se conhece tal ocorrência. Aliás, conforme Boletim do Centro de Estudos Ornitológicos nº 1, de janeiro de 1986, já na década de 1960 eram narradas espécies desaparecidas em razão de captura. Há diversas consequências das extinções, não apenas a redução das populações, mas também as florestas vazias, declínio de polinizadores e da biodiversidade, que geram declínio das produções agrícolas e prejudicam a manutenção das florestas a longo prazo, em razão da síndrome de zoocaria (sem polinização e dispersão), bem como aumentam as pragas, em razão da redução de seus controladores, como aves. Apesar do hábito cultural ser mutável, o comércio ilegal de animais silvestres é dos mais lucrativos, ocorrendo até mesmo o transporte velado de animais capturados, para dificultar o controle e fiscalização. Além disso, a alta demanda em São Paulo estimula o tráfico, faltam recursos humanos no Poder Público para combater tais condutas, há ausência de articulação entre os órgãos administrativos e governamentais, há impunidade por nossa legislação branda. Ainda, existem poucos CETAS, em razão do alto custo de implantação e manutenção, alta demanda, gerando o problema de onde destinar os animais entregues ou apreendidos, bem como faltam programas de reintrodução e soltura. Há riscos de zoonoses, inclusive com os animais se contaminando com doenças humanas, acidentes, manejo inadequado, estímulo ao tráfico e a condutas semelhantes, em razão da cultura das pessoas de quererem um animalzinho da natureza em suas casas, além dos animais capturados gerarem sua falta no papel ecológico que deveriam desempenhar. E mais, outras consequências são os abandonos pelos modismos, quando o animal sai da moda, riscos de fugas, solturas aleatórias, proliferação indiscriminada. Por exemplo, os saguis estão competindo com o mico leão dourado nos locais em que indevidamente introduzidos. 4
5 Pelos dados coletados, na maioria das vezes o animal não é bem cuidado na casa das pessoas e mesmo nesta hipótese, continua sendo ilegal a conduta e privando o animal de desempenhar seu papel no ecossistema de onde provém. A imitação da vocalização humana é stress no animal, não uma conduta natural e saudável. O que deveria ocorrer é a adoção de animais domésticos e é isso que o Poder Público deveria promover. Em São Paulo os cães vivem em média 03 (três) anos, ou seja, menos de 1/5 do que deveria, o que significa que as pessoas em geral não sabem nem cuidar direito de animais domésticos, que dirá de animais silvestres. O que falta mesmo são políticas públicas e educação ambiental. Nos órgãos públicos falta política institucional e diretrizes. Deveria haver incentivo ao turismo ecológico e observância no meio natural ( troque a gaiola por um binóculo ). A gestão de fauna em São Paulo está sendo transferida do IBAMA para a Secretaria de Meio Ambiente. 5
6 A FAUNA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (Palestrante: Wesley rodrigues da Silva) No futuro será determinante a capacidade dos países de reconstruir florestas. A restauração florestal sempre foi vista como sinônimo de replantar árvores ou conjuntos de espécies, porém os animais também fazem parte do conjunto e devem ser considerados 3. As dificuldades no que tange à fauna são sua mobilidade, problema de criar, introduzir e monitorar na natureza; dependem de recursos difíceis de quantificar e disponibilizar na natureza; possuem dinâmica biológica e ecológica complexas; podem ser mais afetados por interações bióticas do que abióticas; são sujeitos a legislação mais restritiva quanto a manipulação e controle. Tem-se restauração ativa no que se refere a plantas, porém restauração passiva no que se refere a animais (apenas se aguarda que retornem). Todavia, deve-se planejar um retorno previsível, rápido e permanente (reprodutivamente bem sucedido). É quase impossível restaurar ao ambiente original antes da degradação. A restauração deve ser vista pelo equilíbrio de estrutura e função (mecanismos hidrológicos, microorganismos do solo, interações entre animais e plantas). Os elos móveis gerados pela fauna consistem nos animais conectarem diferentes ambientes (conforme sensu Gilbert, 1980), sendo responsáveis pelo funcionamento e resiliência do ecossistema. Não basta um punhado de árvores para se fazer uma mata, uma floresta, pois conforme especificou Kent H. Redford na Bioscience, ocorreria a síndrome da floresta vazia. 3 Quanto maior a interação dos animais nesse meio, maior a capacidade do ambiente de se equilibrar mais rapidamente após esses acontecimentos. 6
7 Os animais prestam serviços ecológicos, como controladores, dispersores 4, polinizadores 5, entre outros, que realizam a fertilização cruzada (por exemplo: beijaflores e morcegos). A estatística é de 94% das plantas angiospermas necessitam de animais para restaurarse. Delas, 80% a 90% dependem da dispersão por vertebrados frugíveros para se espalharem. Assim, é necessário introduzir em restauração ambiental plantas com síndrome de zoofilia por suas características (dispersão zoocórica) e introduzir plantas com floração distribuída ao longo do ano, para garantir alimento à fauna e atraí-la de forma permanente, devendo ainda ser garantida sua proteção. Mesmo os predadores de sementes são agentes de dispersão secundária de sementes, causando efeitos demográficos nas plantas e mudando sua distribuição no tempo e espaço 6. Devem ser feitas políticas públicas para a fauna em áreas restauradas para: 1- prever categorias de espécies vegetais restauradoras atrativas à fauna de grupos mutualistas (agentes dispersores e polinizadores de sementes); 2- fiscalização da implantação da fauna. A grande questão é, pelo exposto que se vise, quando da recuperação da área, o estabelecimento não apenas com a vegetação original, mas também com a fauna, no que ganham grande relevância os grupos mutualistas (agentes dispersores e polinizadores de sementes). Floresta não é só uma estrutura física, mas um conjunto de estruturas e funções, com suas finalidades. 4 A dispersão de sementes de uma espécie vegetal (planta Mae) é importante para: 1) a colonização de novas áreas por aquela espécie vegetal; 2) fuga de competidores e predadores de semente (evita risco de extinção da espécie); 3) viabiliza a mistura genética. 5 Exemplos: abelhas, beija-flores, mariposas, morcegos. 6 Quando buscam as sementes (para se alimentar) acabam por abandonar muitas delas em outros locais, contribuindo para dispersa-las (dispersão secundaria). 7
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