EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: a importância do direito à educação em qualquer idade. Natália Osvald Müller
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1 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: a importância do direito à educação em qualquer idade Natália Osvald Müller nataliaomuller@hotmail.com PALAVRAS-CHAVE: Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Direito à Educação. Escolarização. Revista Escritos e Escritas na EJA nº
2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO Com o pressuposto da igualdade e da liberdade, a educação, mediante o artigo 205 da Constituição Federal (CF) é um direito de todos e dever do Estado e da família. Visto que é uma dimensão fundante da cidadania, após 20 anos de ditadura, foi proclamada como o primeiro direito social pelo artigo 6º da mesma Constituição, que, por sinal, avançada na garantia dos direitos sociais (DI PIERRO; HADDAD, 2015). A educação escolar é um bem público de caráter próprio por implicar a cidadania e seu exercício consciente, por qualificar para o mundo do trabalho, por ser gratuita e obrigatória no ensino fundamental, por ser gratuita e progressivamente obrigatória no ensino médio, por ser também dever do Estado na educação infantil (CURY, 2007). Todavia, visto a democratização educacional tardia (CURY, 2014) e a forte tradição elitista que reservava apenas às camadas privilegiadas o acesso à educação escolar (CURY, 2007), mesmo sendo um direito público subjetivo, ainda não é realidade para todos. As precárias condições de algumas classes sociais e as sequelas do passado acarretam o insucesso acadêmico de muitos sujeitos - o que perpetua a estagnação das classes e torna o acesso a este bem social um meio e instrumento de poder, visto o papel significativo na estratificação social (BRASIL, 2000). Educação de Jovens e Adultos (EJA) Nesta perspectiva, podemos considerar que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) atende esta dívida com quem não teve acesso a este bem social, tendo uma função reparadora e de reconhecimento da igualdade ontológica (BRASIL, 2000). Contudo, apenas no segundo mandato do ex-presidente Lula, a EJA foi incorporada nas políticas estruturantes do sistema de educação básica, que passaram a ser organizadas em torno ao Plano de Desenvolvimento da Educação (DI PIERRO; HADDAD, 2015) mesmo assim, sem ser prioridade. Apenas em 2014, a superação do analfabetismo tornou-se um objetivo. Sendo assim, a Educação de Jovens e Adultos foi mencionada nas metas 8, 9 e 10 do Plano Nacional de Educação: Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos (...); Revista Escritos e Escritas na EJA nº
3 Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional; Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. Alfabetização como direito básico Em uma sociedade onde o código escrito é enaltecido, ocupando uma posição privilegiada, o não acesso a graus elevados de letramento é particularmente danoso para a conquista de uma cidadania plena (BRASIL, 2000). Como podemos ler na Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Adultos, de 1997: A alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos num mundo em transformação em sentido amplo, é um direito humano fundamental. Em toda sociedade, a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. (...) A alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser requisito básico para a educação continuada durante toda a vida. Todavia, vale salientar que, o sujeito analfabeto/iletrado não deve ser considerado como inculto, visto que existem outras formas de expressar a cultura, um exemplo é a baseada na oralidade. Essa é uma das especificidades da EJA. Século do conhecimento Mesmo sendo dever do Estado garantir igualdade de condições para o acesso e permanência na educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, e assegurar sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria, o censo escolar de 2016 mostra que ainda há 2,8 milhões de crianças jovens (4 aos 17 anos) que não frequentam a escola. No século chamado como século do conhecimento, segundo dados da UNESCO, no ano de 2014, havia mais de 13 milhões de brasileiros, com 15 anos de idade ou mais, analfabetos. Se formos analisar quem constitui essa parcela da Revista Escritos e Escritas na EJA nº
4 população, em sua maioria, são pessoas com mais idade, baixa renda, de regiões pobres e interioranas e provenientes dos grupos afro-brasileiros sequela do passado. O acesso à educação para todos, principalmente para Jovens e Adultos, é uma possibilidade de maior igualdade social, auxiliando na eliminação das discriminações, possibilitando o exercício do pensamento, a apropriação de conhecimentos mais avançados, a autovalorização do sujeito e a criação de um espaço democrático (BRASIL, 2000). Para isto, não basta que todos tenham acesso à educação, é necessário que tenhamos educação de qualidade para todos. Pois, se não for de qualidade para todos, as desigualdades impostas anteriormente pelo impedimento ao acesso à educação, retoma-se pela diferenciação de experiências e qualidade. (RIBEIRO; CATELLI; HADDAD, 2015) CONSIDERAÇÕES FINAIS Além de ser o pilar da democracia, a educação tem uma importância imensurável na sociedade, ela é porta para um universo de possibilidades, que torna possível a mudança tanto da realidade do sujeito, quanto da sociedade como um todo. Sendo assim, não é justo não ser um bem de acesso a todos, um direito de cidadania. A Educação de Jovens e Adultos não é apenas um direito para quem não concluiu o ensino básico, é mais do que alfabetizar, a EJA é dar às pessoas, independentemente da idade, a oportunidade de desenvolver seu potencial. É tornar mais próximo da realidade da sociedade os valores igualdade e liberdade. REFERÊNCIAS BRASIL. Parecer 11 do Conselho Nacional de Educação CURY, Carlos Roberto Jamil. A gestão democrática na escola e o direito à educação. In: Revista Brasileira de Política e Administração da Educação. Porto Alegre. v.23, n.3, p , set./dez Porto Alegre: ANPAE, Revista Escritos e Escritas na EJA nº
5 CURY, Carlos Roberto Jamil. A qualidade da educação brasileira como direito. In: Educação e Sociedade, vol. 35 nº.129 Campinas Oct./Dec DI PIERRO, M.C; HADDAD, S. Transformações nas políticas de Educação de Jovens e Adultos no Brasil no Início do Terceiro Milênio. In: Caderno Cedes. Campinas, v. 35, n. 96, p , maio/agosto DUARTE, Clarice Seixas. A educação como um direito fundamental de natureza social. Educação e Sociedade. Campinas, vol, 28, nº Especial p , out RIBEIRO, V. M; CATELLI Jr. R.; HADDAD, S. Avaliação da EJA no Brasil: insumos, processos, resultados. INEP: Brasília, 2015 UNESCO. Población analfabeta por grupo etario entre 2011 y Disponível em: < Acesso em: 10 jan Revista Escritos e Escritas na EJA nº
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