EMIGRAÇÃO PORTUGUESA FACTSHEET

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1 EMIGRAÇÃO PORTUGUESA FACTSHEET PORTUGUESES CONTINUAM A SAIR DO PAÍS NÚMERO DE SAÍDAS PERMANECE PRÓXIMO DAS Paula Reis (CEN) MAIO 2018

2 SUMÁRIO EXECUTIVO E LEITURA POLÍTICA Após uma ligeira quebra coincidente com a saída da fase recessiva do ciclo económico, os fluxos de emigrantes continuam a manter-se a um ritmo superior a 100 mil por ano. Trata-se da segunda maior taxa emigratória (22,3%) logo a seguir a Malta, entre os países da UE. Na sua maioria são ativos cada vez mais qualificados que abandonam o país com os destinos principais do Reino Unido, França, Suíça e Alemanha. Recorde-se ainda que num inquérito datado de 2017 lançado a jovens emigrantes qualificados portugueses, apenas 31,4% tinham intenções de regressar a Portugal. Do total de jovens inquiridos 80% usufruíam de contratos sem termo, quando a incidência em Portugal dos contratos de trabalho não permanente atinge cerca de 2/3 do emprego jovem. EM 2016, 41% dos jovens portugueses no desemprego entre os anos estavam preparados para emigrar em busca de melhores oportunidades de emprego. O milagre económico anunciado pelo atual governo não foi suficiente para suster os fluxos emigratórios nem para alterar o deficit de oportunidades dignas para manter os jovens em Portugal. Esse milagre não contemplou as novas gerações de ativos, nem por via do salário, nem da estabilidade contratual nem de uma perspetiva de vida familiar digna. O drama dos jovens que emigram e das suas famílias continua e apenas o silencio nos media constitui milagre que é urgente desmontar.

3 ALGUNS INDICADORES DE CONTEXTUALIZAÇÃO 1 Paula Reis (CEN) MAIO 2018

4 1. ALGUNS INDICADORES DE CONTEXTUALIZAÇÃO Portugal pode caracterizar-se, em termos migratórios, como sendo um país com um nível de desenvolvimento intermédio. Portugal tem um PIB per capita e um índice de desenvolvimento humano com valores inferiores aos dos principais países de destino emigratório e superiores aos dos principais países de origem dos imigrantes que recebeu durante as últimas quatro décadas. O nosso país é simultaneamente, origem de fluxos migratórios para os países mais desenvolvidos da Europa e destino de fluxos com origem em África, América Latina e Leste europeu. Depois de durante quase três décadas os fluxos imigratórios terem superado os fluxos emigratórios, o défice migratório acentuou-se a partir de meados da primeira década do século XXI. Um dos indicadores que melhor sintetiza as causas da recente predominância da emigração sobre a imigração, é a taxa de desemprego. Em 2016, Portugal apresentava uma taxa de desemprego mais elevada do que a observada tanto nos países de destino da emigração, como nos principais países de origem da imigração, à exceção do Brasil. Apresentava, ainda, uma taxa de desemprego jovem mais elevada (28.2%) do que a registada nos países objeto de comparação, sem exceção (Quadro 1).

5 1. ALGUNS INDICADORES DE CONTEXTUALIZAÇÃO QUADRO 1 - PRINCIPAIS INDICADORES SOCIAIS: COMPARAÇÃO INTERNACIONAL Nota: três principais países de emigração e imigração com dados disponíveis para, pelo menos, os últimos três anos. Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

6 EMIGRANTES PORTUGUESES NO CONTEXTO GLOBAL 2 Paula Reis (CEN) MAIO 2018

7 2. EMIGRANTES PORTUGUESES NO CONTEXTO GLOBAL Segundo estimativas das Nações Unidas, relativas a 2015, dos 243 milhões de migrantes internacionais (3.3% da população mundial) 2.3 milhões de migrantes são portugueses (Quadro 2). Os emigrantes portugueses representariam, à data 0.9%, do número total de emigrantes à escala global, valor sete vezes superior ao peso da população portuguesa no total da população mundial (0.14%). Em 2015, em termos globais, erámos o 27º país com maior número de emigrantes (Gráfico 1). QUADRO 2 ESTIMATIVAS DA ONU SOBRE O STOCK DE EMIGRANTES PORTUGUESES, Year Total Europe America Others N Percentage N Percentage N Percentage N Percentage , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,2 Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

8 1. ALGUNS INDICADORES DE CONTEXTUALIZAÇÃO GRÁFICO 1 EMIGRANTES POR PAÍS DE ORIGEM, 2015 (ESTIMATIVAS ONU) Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

9 EMIGRANTES PORTUGUESES NO CONTEXTO EUROPEU 3 Paula Reis (CEN) MAIO 2018

10 3. EMIGRANTES PORTUGUESES NO CONTEXTO EUROPEU No contexto europeu, retirando Malta, Portugal é o país da União Europeia com maior de número de emigrantes em proporção da população residente. A taxa de emigração situou-se nos 22.3%, o que coloca o país na 12ª posição dos países com maior número de emigrantes (Quadro 3). QUADRO 3 TAXAS DE EMIGRAÇÃO E IMIGRAÇÃO NOS PAÍSES DA UE, 2015 Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

11 3. EMIGRANTES PORTUGUESES NO CONTEXTO EUROPEU Os dados disponibilizados pelas Nações Unidas permitem confirmar a tendência de crescimento da proporção de emigrantes portugueses a viver no continente europeu. De acordo com os cálculos do Banco Mundial, relativos a 1960, viviam na Europa 16% dos portugueses emigrados. Segundo as estimativas das Nações Unidas, essa percentagem aumentou para 53%, em 1990, tendo atingido os 62%, em 2015, ano em que mais de 1.4 milhões de portugueses viviam emigrados na Europa (Quadro 4). A concentração da população emigrante portuguesa na Europa verificou-se, sobretudo, nos países da União Europeia e da EFTA. QUADRO 4 ESTIMATIVA DO NÚMERO TOTAL DE EMIGRANTES PORTUGUESES (STOCK): NASCIDOS EM PORTUGAL A RESIDIR NO ESTRANGEIRO, POR CONTINENTE, Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

12 3. EMIGRANTES PORTUGUESES NO CONTEXTO EUROPEU Em termos comparativos, Portugal é um dos países com uma percentagem de imigrantes na população residente abaixo da média dos países da UE (8% se considerarmos os retornados nascidos na ex-colónias, menos de 6% excluindo esta população). A conjugação de alta emigração e baixa imigração, em termos acumulados, situa Portugal no conjunto dos países europeus de repulsão, onde se encontram também a Lituânia, Roménia, Bulgária e Polónia (que substituiu a Eslováquia que, entre 2010 e 2015, melhorou a sua posição relativa) Ver Quadro 5. QUADRO 5 COMPARAÇÃO INTERNACIONAL: TAXAS DE EMIGRAÇÃO E IMIGRAÇÃO NOS PAÍSES DA UE, 2015 Nota: Taxa de emigração = número de emigrantes em % da população do país de origem / Taxa de imigração = número de imigrantes em % da população do país de acolhimento. Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

13 QUANTOS PORTUGUESES SAÍRAM DO PAÍS NOS ÚLTIMOS ANOS 4 Paula Reis (CEN) MAIO 2018

14 4. QUANTOS PORTUGUESES SAÍRAM DO PAÍS NOS ÚLTIMOS ANOS Os dados disponíveis indicam que, em 2016, se manteve a tendência para uma redução dos valores da emigração, depois do pico registado em Não obstante, esta mantém-se num patamar elevado, na ordem das 100 mil saídas (Gráfico 2). Este número está provavelmente subestimado, na medida em que não existem atualmente registos de fluxos de saída de Portugal. Os números são reconstituídos com base nos fluxos de entrada de portugueses nos países de destino, isto é, com base nos registos voluntários nos serviços consulares do nosso país, ou noutros organismos estatais, nos países de acolhimento (esta é a metodologia utilizada como regra, em especial por organismos internacionais como a OCDE, a ONU e o Banco Mundial). A fase de ligeiro declínio da emigração, a partir de 2014, explica-se em parte pela retoma do crescimento económico em Portugal, traduzido no crescimento do emprego e descida do desemprego. Salienta-se que o número de saídas de portugueses não diminuiu ao mesmo ritmo da recuperação económica. O crescimento do número de saídas traduziu-se na revitalização e criação de redes migratórias, entre origem e destino, que atuam como facilitadoras e catalisadoras da emigração (como trajetória de mobilidade) ainda que os incentivos económicos se tornem mais reduzidos.

15 4. QUANTOS PORTUGUESES SAÍRAM DO PAÍS NOS ÚLTIMOS ANOS Persistindo os níveis de desigualdade, em geral, entre Portugal e os principais países de destino, é improvável, nos próximos anos, uma redução do volume da emigração para níveis anteriores à crise, apesar dos sinais de retoma do crescimento da economia portuguesa. Fica por aferir o impacto nesta tendência que terão fenómenos como o BREXIT (o Reino Unido é o principal destino da emigração portuguesa, sobretudo qualificada, correspondendo a quase 30% das saídas nos últimos anos). GRÁFICO 2 ESTIMATIVA DAS SAÍDAS TOTAIS DE EMIGRANTES PORTUGUESES, Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

16 PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO 5 Paula Reis (CEN) MAIO 2018

17 5. PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO Dos 23 países de destino para onde se dirigem mais emigrantes portugueses, mais de metade (14) são europeus. Os países para onde emigraram mais de dez mil portugueses/ano nos últimos tempos são todos europeus (Reino Unido, Suíça e França). Apesar de um ligeiro decréscimo face ao ano anterior, o Reino Unido continua a ser o país para onde emigram mais portugueses: 31 mil, em 2016 (32 mil, em 2015). Seguem-se, como principais destinos dos fluxos emigratórios, a França (18 mil, em 2014), a Suíça (10 mil, em 2016) e a Alemanha (9 mil, em 2016). Fora da Europa, os principais países de destino da emigração portuguesa integram o espaço da CPLP: Angola (4 mil, em 2016), Moçambique (mil, em 2016) e Brasil (mil em 2015).

18 5. PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO Analisando estes fluxos a partir do seu impacto no destino, verifica-se que os portugueses, tal como registado em 2015, continuam a representar 15% dos imigrantes entrados no Luxemburgo em 2016, 10% em Macau em 2016, 8% em França em 2014, e 6% na Suíça, em Entre 2014 e 2016, os portugueses foram a nacionalidade mais representada entre os novos imigrantes em França, a segunda no Luxemburgo, a quarta na Suíça, a sétima no Reino Unido e a décima no Brasil Ver Quadro 6. QUADRO 6 ENTRADA DE PORTUGUESES, PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO DA EMIGRAÇÃO, 2016 OU ÚLTIMO ANO DISPONÍVEL Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

19 5. PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO A França continua a ser o país do mundo com maior número de portugueses emigrados, devido à forte vaga de emigração dos anos 60/70, ultrapassando o meio milhão de indivíduos (615,573 em 2014). A Suíça é o segundo país do mundo onde residem mais emigrantes portugueses, em número superior a 210 mil (216,378 em 2016). Os outros países em que residem mais de 100 mil emigrantes portugueses são, por ordem decrescente, os EUA (148 mil, em 2016), Canadá (143 mil, em 2016), Brasil (138 mil, em 2010), Reino Unido (131 mil, em 2016), Alemanha (112 mil, em 2016) e Espanha (100 mil, em 2016). Apesar de o Reino Unido continuar a ser, em termos de fluxo, o país de maior emigração, em termos de stock a sua posição desceu para a 6º posição (em 2015 encontrava-se em 5.º), posicionando-se agora abaixo do Brasil, não por aumento de emigrantes para este país, mas sim por diminuição do número de portugueses a residir no Reino Unido. Em termos relativos, no Luxemburgo os portugueses representavam 30% dos imigrantes (em 2011) e 12% da população total do país. No Brasil, tinham nascido em Portugal 23% dos imigrantes (em 2010).

20 5. PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO Os nascidos em Portugal residentes no estrangeiro eram cerca de 10% dos imigrantes em França (10.3%, em 2014), Cabo Verde (9%, em 2013) e Suíça (9%, em 2016). Os portugueses são a terceira nacionalidade mais numerosa na Suíça, tal como em França, e a primeira no Brasil e no Luxemburgo Ver Quadro 7. QUADRO 7 NASCIDOS EM PORTUGAL RESIDENTES NO ESTRANGEIRO, PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO DA EMIGRAÇÃO, 2016 OU ÚLTIMO ANO POSSÍVEL Informação compilada por Paula Reis, com base no Relatório Estatístico de Emigração Portuguesa. Observatório da Emigração (2018), Portuguese Emigration Factbook 2017, Lisboa, Observatório da Emigração, CIES-IUL, ISCTE-IUL. DOI: /CIESOEMFB2017 Fonte: OEm Anuário Estatístico Emigração Portuguesa 2017

21 NOTA ADICIONAL SOBRE EMIGRAÇÃO DE JOVENS QUALIFICADOS Paula Reis (CEN) MAIO 2018

22 NOTA ADICIONAL SOBRE EMIGRAÇÃO DE JOVENS QUALIFICADOS O Eurostat divulgou 1 recentemente que, em 2016, 41% dos jovens portugueses no desemprego entre os anos 2 estavam preparados para emigrar em busca de oportunidades de emprego (16% no interior da UE, 25% fora da UE). Apesar deste resultado traduzir apenas a intenção de saírem do país, é um dado que deve ser tomado em linha de conta pois permite inferir, ainda que com alguma margem de erro, a manutenção da tendência que se tem registado nos últimos anos de emigração deste segmento populacional. Convém referir a este propósito que apesar da emigração portuguesa contemporânea continuar a ser maioritariamente caracterizada por indivíduos com baixos níveis de escolaridade, se assistiu nos últimos anos a uma reconfiguração e recomposição dos fluxos emigratórios, com um aumento da proporção de jovens qualificados o que também se justifica atendendo ao facto do número de diplomados do ensino superior ter aumentado no conjunto da população portuguesa. Ainda assim, mesmo não sendo um fenómeno propriamente recente, representa uma tendência que não deve ser ignorada. 1 Newsrelease 51/2018 (27/03/2018). 2 Este valor é apenas suplantado no caso da Suécia e França (44%) e da Espanha (43%).

23 NOTA ADICIONAL SOBRE EMIGRAÇÃO DE JOVENS QUALIFICADOS Segundo as conclusões de um inquérito 3 realizado junto de jovens emigrantes qualificados, divulgado em meados de 2017, apenas 31,4% dos inquiridos encaravam como certa a possibilidade de regressarem ao nosso país, e destes, somente 8,4% afirmaram já terem planos nesse sentido. As reservas quanto ao regresso são justificadas por 57,8% dos jovens inquiridos com o facto de terem poucas oportunidades de carreira. Os baixos salários auferidos para a profissão que exercem é a justificação apresentada por 52% dos inquiridos. Cerca de 80% destes jovens estavam empregados no país de acolhimento e 60% possuíam contratos de trabalho sem termo. Esta realidade contrasta com o contexto com que ainda se confrontam os jovens diplomados em Portugal, caracterizado por transições incertas para o mercado de trabalho e vínculos contratuais instáveis. 3 O inquérito decorreu entre Dezembro de 2016 e Abril de 2017, foi realizado a 1140 emigrantes no âmbito de um estudo promovido pela Fundação AEP e coordenado pelo sociólogo Pedro Góis. O estudo pode ser consultado aqui:

24 NOTA ADICIONAL SOBRE EMIGRAÇÃO DE JOVENS QUALIFICADOS O mercado de trabalho nacional continua a pautar-se por elevados níveis de segmentação, facto que tem sido frequentemente apontado como um dos desafios que se coloca ao país. A Comissão Europeia, nas Recomendações Específicas a Portugal, tem sublinhado as consequências nefastas dos elevados níveis de segmentação, nomeadamente no que se refere às perspetivas de progressão na carreira e aos níveis de remuneração dos trabalhadores temporários, em particular dos mais jovens. A incidência de contratos de trabalho não permanentes é particularmente elevada entre os jovens, correspondendo atualmente a cerca de dois terços do emprego jovem (GEP/MTSSS, 2016). 4 4 GEP/MTSSS. (2016). Livro Verde sobre as Relações Laborais. Lisboa: GEP/MTSSS.