Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Wagner Wilson Des.(a) Wagner Wilson 13/07/ /07/2011 EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO C/C INDENIZAÇÃO. ACORDO JUDICIAL HOMOLOGADO POR SENTENÇA. EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. ARBITRAGEM. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. EXTINÇÃO DO FEITO. Ao optar pelo juízo arbitral, estipulando cláusula compromissória arbitral em acordo homologado por sentença, as partes abrem mão do acesso ao Judiciário para a apreciação do mérito daquela demanda, em específico, o que inviabiliza que os contratantes busquem solução de seus litígios via Poder Judiciário APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 COMARCA PONTE NOVA JORGE LUIZ MARTINS APELANTE(S) SAMARCO MINERAÇÃO S/A APELADO(A)(S) A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do 1

2 Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em NÃO CONHECER DO AGRAVO RETIDO, REJEITAR A PRELIMINAR ADUZIDA NAS CONTRARRAZÕES, REJEITAR A PRELIMINAR SUSCITADA NO APELO, E NEGAR PROVIMENTO AO APELO. Belo Horizonte, 06 de julho de DES. WAGNER WILSON FERREIRA, RELATOR. DES. WAGNER WILSON FERREIRA (RELATOR) V O T O Conheço do recurso, posto que presentes seus pressupostos de admissibilidade. Trata-se de recurso de apelação interposto por Jorge Luiz Martins, objetivando a reforma da sentença proferida pela MM. Juíza da 2ª Vara Cível da comarca de Ponte Nova, nos autos de ação de anulação de ato jurídico, c/c indenização e bloqueio de honorários periciais, que julgou extinto o feito sem resolução do mérito, em razão da existência da cláusula compromissória arbitral. Alega o apelante que a sentença atacada é citra petita, vez que sua inicial contém pedidos que não foram analisados pela magistrada primeva. Aduz que a anulação da cláusula compromissória arbitral é medida que se impõe, uma vez que ao celebrar o acordo, o autor não possuía informações suficientes para compreender seu alcance e sua extensão. Afirma que a cláusula limita seu direito de defesa, vez que o impede de litigar sob o pálio da justiça gratuita, já que o acesso à Câmara Arbitral somente ocorre mediante pagamento prévio de uma taxa de administração e honorários. Pediu o provimento do recurso para que seja cassada a 2

3 sentença recorrida e seja determinado que o Juízo a quo se manifeste sobre o mérito da demanda. Em suas contrarrazões às fls. 984/1006, a apelada pugnou pela manutenção da sentença de 1º grau. Agravo retido: Eis o relatório do recurso. Passo a decidir. No caso em tela, o autor requereu liminarmente o bloqueio dos honorários periciais, tendo a magistrada proferido decisão interlocutória (fls. 459/463), indeferindo tal pedido. Contra esta decisão, o autor interpôs o agravo retido de fls. 558/561. Deixo de apreciar o agravo retido, em decorrência da inexistência de pedido expresso para sua apreciação, conforme disposto no artigo 523, 1º do CPC: Art Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação. 1o Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões ou na resposta da apelação, sua apreciação pelo Tribunal. Não conheço do agravo. DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA (REVISOR) - De acordo com DES. FRANCISCO BATISTA DE ABREU (PRESIDENTE) - De acordo com Preliminar argüida em contrarrazões: Inépcia recursal: 3

4 Sustenta a apelada, em suas contrarrazões, a inépcia do recurso do autor, por não ter impugnado os fundamentos da sentença. Tenho que razão não assiste à apelada. Nos termos do art. 514 do CPC, a apelação deverá ser interposta por petição dirigida ao juiz e deverá conter: I - os nomes e a qualificação das partes; II - os fundamentos de fato e de direito; III - o pedido de nova decisão. Na hipótese em exame, a magistrada primeva julgou extinto o julgamento do mérito, em razão da existência de cláusula compromissória arbitral no acordo entabulado entre as partes. Analisando o recurso interposto pelo autor, vejo que ele contém os fundamentos de fato e de direito da pretensão autoral, sustentando o apelante, por diversas vezes a nulidade desta cláusula, em razão de seu inconformismo com o reconhecimento da competência do juízo arbitral para dirimir a lide posta na presente ação de anulação. Portanto, rejeito a preliminar de inépcia recursal. DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA (REVISOR) Bem lembrou o Douto Juízo primevo (f.931) que há inépcia da inicial quanto à anulação do acordo judicial celebrado nos autos da Produção Antecipada de Prova, por inexistir pedido de decretação de nulidade, mas mera alegação. A preliminar, suscitada de ofício, restou irrecorrida. Assim, a eventual nulidade de perícia - realizada em cumprimento do acordado e em que ajustada a cláusula compromissória - é tema transferido à arbitragem, juízo de fato e de direito (art. 18, Lei 9.307, de ). 4

5 In casu, somente são admitidas duas ações em juízo: a de instituição de arbitragem e a de nulidade de sentença arbitral - nenhuma delas se verificando. A própria nulidade ou anulabilidade da perícia (convolada em alegação de conluio do perito com a Ré, após o acordo judicial e, pois, de nulidade do acordo na Produção Antecipada de Prova) restou transferida ao conhecimento e julgamento do órgão arbitral - quer oriunda de vício formal, quer de vício de consentimento, ainda que pedido houvesse, acrescente-se. Acompanho o Relator. DES. FRANCISCO BATISTA DE ABREU (PRESIDENTE) - De acordo com Preliminar de sentença citra petita: Sustentou o apelante que a sentença atacada deve ser anulada, por ser citra petita, vez que foi omissa em relação aos seguintes pedidos: a) nulidade do laudo pericial, por defeitos intrínsecos e extrínsecos de formalidade; b) indenização por danos morais; c) participação nos lucros minerários; d) indenização por ampliação das finalidades da servidão; e) restituição de honorários contratuais. Não lhe assiste razão. No caso dos autos, entendeu a M.M. Juíza que a matéria tratada é da competência do juízo arbitral, escolhido pelas partes em acordo judicial homologado por sentença, o que impediria a apreciação de tais pedidos pelo judiciário. Por esta razão, entendeu que o feito devia ser extinto face art. 267, VII, do CPC. Dessa maneira, não poderia a magistrada primeva conhecer e decidir qualquer tema de mérito da ação, vez que restaram prejudicadas pelo acolhimento da preliminar. 5

6 Por esta razão, rejeito a preliminar de sentença citra petita. DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA (REVISOR) - De acordo com DES. FRANCISCO BATISTA DE ABREU (PRESIDENTE) - De acordo com Mérito: Superadas as preliminares, passo à análise do mérito. No caso em comento, foi ajuizada ação de anulação de ato jurídico, c/c indenização e bloqueio de honorários periciais pelo apelante em face da apelada. Sustentou o autor que é possuidor de um imóvel rural, no qual a ré permitiu que terceiros de boa-fé construíssem tubulações e que em razão dessas obras, houve o soterramento de nascentes e lagoas naturais, assoreamento, alagamento, erosões entre outros danos ao ecossistema local. Afirmou que ajuizou ação cautelar de antecipação de provas, visando registrar os danos anteriores à passagem da segunda linha de mineroduto e que nesta ação, as partes celebraram um acordo, no qual consta uma cláusula compromissória de arbitragem. Propôs a presente demanda, visando a declaração de nulidade da perícia realizada nos autos da ação cautelar, da cláusula compromissória de arbitragem constante do acordo, condenação da ré por indenização por danos morais e materiais, pagamento pela participação nos lucros e indenização pela ampliação da finalidade da servidão de passagem. A magistrada primeva, extinguiu o processo sem resolução do mérito, por entender pela impossibilidade da análise do feito pela Justiça Estadual face à existência da cláusula arbitral constante do acordo judicial firmado pelas partes. 6

7 A meu ver, a sentença proferida não está a merecer reparo, senão vejamos. Analisando detidamente os autos, vejo que apelante e apelada firmaram acordo judicial homologado por sentença (fls. 493/497 dos autos em apenso), nos autos da ação cautelar de produção antecipada de prova ajuizada pelo também apelante contra a apelada. Do acordo entabulado, consta a seguinte condição: 10) As partes instituem cláusula compromissória de arbitragem, tomando-se como base os laudos periciais a serem entregues nos termos deste acordo, elegendo a CAMARB, com foro em Belo Horizonte, para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias decorrentes de sua aplicação; (...) (fl. 144 dos autos em apenso) Inicialmente, cumpre ressaltar que, nos termos do artigo 1º da Lei 9.307/96 a arbitragem é admitida para solução de litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Trata-se, portanto, de um meio extrajudicial utilizado para dirimir conflitos através de decisão a ser proferida por terceiro que foi aceito de comum acordo como árbitro, desde que as partes possuam capacidade civil e discutam sobre direitos patrimoniais disponíveis. A cláusula compromissória é uma cláusula negocial em que as partes estabelecem que qualquer conflito futuro relacionado àquele negócio jurídico será resolvido através de um juízo arbitral. É estipulada de forma prévia e abstrata e refere-se a um litígio que eventualmente possa ocorrer, conforme o disposto no art. 4º da Lei n.º 9.307/96: "Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os 7

8 litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato." Confira as lições do moderno processualista Fredie Didier Jr., in Curso de Direito Processual Civil - Teoria Geral do Processo e processo de conhecimento, 7ª edição, Editora Jus Podivm: Salvador, 2007, página 71: "Cláusula compromissória é a convenção em que as partes resolvem que as divergências oriundas de um certo negócio jurídico serão resolvidas pela arbitragem, prévia e abstratamente; as partes antes do litígio ocorrer, determinam que, ocorrendo, a sua solução, qualquer que seja ele, desde que decorra de certo negócio jurídico, dar-se-á pela arbitragem. (...)." Com o advento da Lei Federal n.º 9.307/96, a arbitragem passou a integrar a própria jurisdição, a sentença arbitral passou a ter força de imutabilidade quanto à matéria de mérito, tornando incabível a sua homologação judicial, conforme se infere pelo disposto no art. 31 do diploma mencionado: "Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo." Em sendo assim, ao optar pelo juízo arbitral, as partes abrem mão do acesso ao Judiciário para a apreciação do mérito daquela demanda, em específico. Se a cláusula compromissória de arbitragem foi firmada volitivamente por pessoas capazes e sem vício de vontade, não há se falar em nulidade da cláusula por suposta lesão. No caso dos autos, o apelante firmou o acordo livremente, tendo este sido devidamente homologado em Juízo, não podendo agora ser descumprido por vontade unilateral, havendo a necessidade do acordo de ambas as partes para a escolha da via jurisdicional, renunciando ao processo arbitral, o que não ocorreu in casu. 8

9 Ressalte-se ainda, que a presença dos procuradores do apelante quando da celebração do acordo, rebate, em princípio, sua alegação de que não possuía informações suficientes para compreender o alcance e a extensão da cláusula de arbitragem. Dessa maneira, não tendo sido demonstrado nenhum vício de consentimento e estando presentes os requisitos previstos no art. 1º da Lei da Arbitragem, a solução dos conflitos decorrentes do acordo deverá ser submetida ao Juízo Arbitral, o que afasta a competência do Poder Judiciário e, consequentemente, da Justiça Comum, não merecendo, portanto, reforma a sentença atacada. Nesse sentido, confira os arestos deste Tribunal em casos semelhantes: EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL- APELAÇÃO- AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO - ACORDO JUDICIAL E PERÍCIA HOMOLOGADOS POR SENTENÇA (...) CLÁUSULA DE COMPROMISSO ARBITRAL - VÍCIO NO LAUDO PERICIAL E NA APURAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO - IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO PELO PODER JUDÍCIÁRIO - COMPETÊNCIA DO JUÍZO ARBITRAL - (...) - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA- RECURSO NÃO PROVIDO.- (...) A cláusula compromissória de arbitragem, contida em acordo judicial, livre e volitivamente escolhida, homologado por sentença transitado em julgado, impede a apreciação pelo judiciário dos temas transacionado pelas partes, devendo serem observados os princípios da autonomia da vontade e do pacta sunt servanda.-recurso conhecido e não provido. (TJMG, AC nº /001, Comarca de Ponte Nova, Apelante(s): Domingos Savio Marçal - Apelada: Samarco Mineraçao S/A, Relatora: Exmª. Srª. Desª. Márcia de Paoli Bbalbino, j. em: 29/10/2010) EMENTA: AÇÃO DE COBRANÇA - JUÍZO ARBITRAL - CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA - AJUIZAMENTO DE AÇÃO NO PODER JUDICIÁRIO - IMPOSSIBILIDADE - A arbitragem é uma forma extrajudicial de solução prevista pela lei para dirimir conflitos através de decisão a ser proferida por terceiro que foi aceito de comum acordo como árbitro. - 9

10 A cláusula compromissória previamente estipulada pelas partes no contrato inviabiliza que os contratantes busquem solução de seus litígios via Poder Judiciário, devendo submeter os mesmos ao juízo arbitral, estipulado no pacto. (TJMG, AC nº /001, Comarca De Ponte Nova, Apelante: João Batista De Souza Neto - Apelada Samarco Mineração S/A, Relator: Exmo. Sr. Des. Osmando Almeida, j. em: 05/04/2011) EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. ARBITRAGEM. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. EXTINÇÃO. ART 267, VII DO CPC. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1 - Estipulando as partes, no acordo previamente firmado, cláusula compromissória de arbitragem, a solução de conflitos dele decorrentes deverá ser submetida ao Juízo Arbitral, o que afasta a competência do Poder Judiciário e, consequentemente, da Justiça Comum. 2 - Apelo improvido. (TJMG, AC n /001, Comarca de Ponte Nova, Apelante: Alvaro de Souza Tavares - Apelada: Samarco Mineração S.A., Relator: Exmo. Sr. Des. José Marcos Vieira 16ª Câmara Cível, j. em: ) CONCLUSÃO: Com estas considerações, não conheço do agravo retido, rejeito a preliminar aduzida nas contrarrazões, rejeito a preliminar suscitada no apelo, e nego provimento ao recurso, mantendo incólume a decisão primeva nos mesmos termos em que prolatada. Custas recursais pelo apelante, ficando suspensa a exigibilidade, porquanto o mesmo litiga amparado pela gratuidade da justiça. É como voto. DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA (REVISOR) - De acordo com DES. FRANCISCO BATISTA DE ABREU (PRESIDENTE) - De acordo com o 10

11 (a) Relator(a). DES. FRANCISCO BATISTA DE ABREU - SÚMULA: "NÃO CONHECER DO AGRAVO RETIDO, REJEITAR A PRELIMINAR ADUZIDA NAS CONTRARRAZÕES, REJEITAR A PRELIMINAR SUSCITADA NO APELO, E NEGAR PROVIMENTO AO APELO." 11