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1 Inteiro Teor Número do processo: /001(1) Númeração Única: Relator: MÁRCIA DE PAOLI BALBINO Relator do Acórdão: MÁRCIA DE PAOLI BALBINO Data do Julgamento: 03/08/2006 Data da Publicação: 31/08/2006 Inteiro Teor: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO CUMULADA COM COBRANÇA E ENCARGOS DA LOCAÇÃO. COMPROMISSO ARBITRAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. CONDENAÇÃO REDUZIDA. INTELIGÊNCIA DO ART. 18 DO CPC. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. A convenção de arbitragem é pressuposto processual de ordem negativa e que acarreta a extinção do processo sem resolução do mérito, caso a parte invoque a justiça comum para dirimir controvérsia existente entre os contratantes.a discordância da parte, sem justo motivo, na escolha do árbitro, no juízo arbitral, habilita o Poder Judiciário dirimir a controvérsia, mormente quando ela alega a nulidade da cláusula compromissória e não indica o árbitro para solucionar a questão. É litigante de má-fé a parte que recusa a cumprir cláusula de compromisso arbitral e depois, em juízo, a invoca para afastar a atuação do Estado-juiz. A condenação, portanto, deve observar o disposto no art. 18, caput, do Código de Processo Civil.Efetuar o pagamento do aluguel e encargos da locação é obrigação elementar e principal do locatário. Caracterizada a lesão pelo inadimplemento da obrigação assumida pelo inquilino, impõe-se a sanção tanto pela rescisão do contrato de locação quanto pela condenação no pagamento do aluguel em atraso. Apelação conhecida e parcialmente provida. APELAÇÃO CÍVEL N /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): ROGERIA WILMA SILVA PEREIRA - APELADO(A)(S): EDISON PACHECO NORONHA - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM REJEITAR A PRELIMINAR E DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO. Belo Horizonte, 03 de agosto de DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO - Relatora

2 NOTAS TAQUIGRÁFICAS A SRª. DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO: VOTO Conheço do recurso porque presentes os requisitos de admissibilidade. PRELIMINAR DE COMPETÊNCIA DO JUÍZO ARBITRAL A apelante alega a preliminar implícita de competência do juízo arbitral porque as partes elegeram, por escrito, no contrato de locação, convenção de arbitragem, ou seja, cláusula compromissória. Com a inicial, o autor, ora apelado, juntou vários documentos. Dentre eles destaco o contrato de locação de f. 9/13, que prevê a seguinte cláusula: "CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA: Qualquer conflito ou litígio originado do presente contrato, inclusive no tocante à sua interpretação, será definitivamente resolvido por mediação e arbitragem, de acordo com o regulamento das Câmaras Arbitrais ou Órgãos Equivalentes." (f. 12). O apelado juntou ainda a certidão de f. 16, emitida pela Câmara Mineira de Mediação e Arbitragem, e dela consta que o autor Edison Pacheco Noronha, ingressou perante a mencionada entidade, solicitando a abertura de procedimento de arbitragem. Também veio o documento de f. 20 e dele consta que a ré foi intimada para indicar no prazo de quinze dias, o árbitro para compor o litígio. Ao contestar a ação (f. 43/49), a ré, ora apelante, afirmou que deixou de pagar os aluguéis em razão de aumentos excessivos e que ante a existência de cláusula compromissória o processo deveria ser extinto sem resolução do mérito. Primeiramente é importante anotar que a convenção de arbitragem trata-se de pressuposto processual de ordem negativa e que acarreta a extinção do processo sem resolução do mérito, caso a parte invoque a justiça comum para dirimir controvérsia existente entre os contratantes. Sobre o tema esclarece Ernane Fidélis dos Santos, em Manual de direito processual civil, 6. ed., São Paulo: Saraiva, 1998, vol. I, p. 519: "Convenção de arbitragem. Pressuposto processual de ordem negativa. A existência de convenção de arbitragem, nela se englobando a cláusula compromissória e o compromisso arbitral (art. 3º da Lei n /96), se alegada pelo réu, poderá extinguir o processo, sem que se julgue o mérito (art. 267, VI), sendo, portanto, pressuposto de caráter negativo." No que respeita à cláusula compromissória ensina José Anchieta da Silva, em

3 Arbitragem dos contratos comerciais no brasil, Belo Horizonte; Del Rey, 1997, p. 21: "A "cláusula compromissória" é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se submeter à arbitragem os litígios eventualmente derivados do contrato. É, pois, cláusula compromisso, necessariamente escrita, ainda que em forma de pacto adjeto, e dela não poderá a parte fugir em função da conhecida construção do nosso direito tradicional, traduzida no axioma: pacta sunt servanda (art. 4º). Prevê ainda a lei que a cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato, de modo que mesmo ocorrendo nulidade ou outros vícios noutras cláusula do contrato, tais vícios não implicam necessariamente, em nulidade da cláusulas compromissória." Ainda é importante anotar que não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir arbitragem, conforme dispõe o art. 6º, da Lei nº 9.307, de 1996, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por qualquer meio de comunicação. Ainda é o mesmo autor, José Anchieta da Silva, na obra citada, à p. 23, quem esclarece: "Tal disposição, em efeito, deve ser analisada, de modo sistemático, a partir do conteúdo do art. 1º da lei que diz que as partes poderão fazer uso do juízo arbitral. Não sendo obrigação e sim uma faculdade decorrente de cláusula contratual escrita, a prescrição do art. 6º só tem sentido e aplicação prática para aqueles casos em que a cláusula compromissória, embora escrita, não contenha elementos suficientes para darse início a arbitragem ou, estando completo o contrato com relação a esta, esteja a parte contrária fugindo de sua aplicação, o que seria uma inadimplência específica." Vê-se, pois, que a preliminar de competência do juízo arbitral não procede pois, além dos argumentos precisos expostos na r. sentença para rejeitá-la, a só discordância da ré na ocasião, sem razão justificada, na escolha do árbitro, não a deixa infensa ao Poder Judiciário, porque no juízo arbitral ela sustentou inclusive a nulidade da cláusula compromissória e também não indicou árbitro dela, como poderia e como o locador certamente aceitaria, pois a intenção dele era solucionar a inadimplência da locatária, desde 2005 e até esta data. Em conclusão: a ré, primeiramente recusou cumprir a cláusula referente ao compromisso arbitral e agora, em juízo, alega a necessidade de afastar a apreciação desta demanda pelo Estado, em decorrência da convenção de arbitragem. Significa dizer que ela se sente imune de qualquer medida ou ação do locador, embora há muito inadimplente, o que não tem juridicidade. A preliminar é impertinente. Rejeito-a. MÉRITO No mérito, dois são os pontos de inconformismo da apelante: o primeiro refere-se à alegação de inexistência de litigância de má-fé e o segundo, excesso de cobrança dos aluguéis. Quanto ao primeiro ponto de inconformismo, ou seja, condenação por litigância de má-

4 fé, alega a apelante que não houve prova do efetivo prejuízo sofrido pelo autor, motivo pelo qual a condenação na indenização de 10% há de ser afastada. Humberto Theodoro Júnior, em Curso de direito processual civil, 41. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2004, vol. I, p. 82, ensina que: "Uma das dificuldades de punir-se a litigância de má-fé residia na necessidade de a vítima provar o dano que lhe havia sido acarretado pelo litigante temerário. Com a Lei nº 8.952, de , que deu nova redação ao caput e ao 2º, art. 18, o embaraço foi eliminado, já que: a) ficou explícito que a condenação do litigante de má-fé a indenizar a parte prejudicada nem mesmo depende, necessariamente, de pedido do ofendido. Caberá ao juiz decretá-la "de ofício ou a requerimento" (caput); b) conferiuse, outrossim, ao juiz a faculdade de fixar objetivamente a indenização tomando como base o valor da causa (hipóteses em que não deverá ultrapassar o limite de 20% sobre aquele valor), ou de determinar que se proceda à liquidação por arbitramento." Assim, tenho que a sentença há de ser mantida, conforme bem assinalou a digna juíza de primeiro grau à f. 63: "No que tange ao pedido de condenação por litigância de má-fé, entendo que razão assiste ao autor. A preliminar de extinção do processo ventilada constitui-se em defesa destituída de fundamento, em razão do documento juntado e assinado pela ré às fls. 36, opondo resistência injustificada e tumultuando o andamento do feito." Entendo, no entanto, que a multa a ser aplicada é a de 1% sobre o valor da causa, devidamente atualizado, conforme o disposto no art. 18, caput, do CPC, que dispõe: "O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou." Não demonstrado efetivo dano pelo autor, que não seja o descumprimento do contrato e que já está amparado pela multa contratual, descabe o arbitramento da indenização de 10%. Quanto a afirmativa da apelante de que não concorda com os cálculos do débito dos valores cobrados a título de aluguéis e encargos da locação, tenho que seus argumentos não procedem. A apelante, além de não apontar em que consistiria o excesso, também não declinou qual seria o valor correto e efetivamente devido. Além do mais, a simples ratificação da contestação, em que também não aponta qualquer erro de cálculo, nem sequer autoriza o conhecimento do tema, pois ao interpor o recurso de apelação, a parte inconformada deve declinar as razões de fato e de direito que justifiquem o pedido de reforma da sentença, pena de ser considerado inepto o recurso de apelação. Sobre o tema ensina José Frederico Marques, em Manual de direito processual civil, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1976, vol. III, p. 129:

5 "Também constitui pressuposto do recurso, a motivação, pois recurso interposto sem motivação constitui pedido inepto." No mesmo sentido decidiu o egrégio Superior Tribunal de Justiça, no aresto citado por Theotônio Negrão, em Código de processo civil e legislação processual em vigor, 36. ed., São Paulo; Saraiva, 2004, p. 597: "Da mesma forma que se faz necessária a impugnação específica na contestação, deve o apelante impugnar ponto por ponto da sentença, sob pena de não se transferir ao juízo 'ad quem' o conhecimeto da matéria em discussão (tantum devoluntum quantum apellatum)" (STJ - 4ª Turma, Resp PE, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. em , não conheceram, v. u. DJU , p ). No caso em exame, a apelante, além de não apontar em que consistiria o excesso de cobrança, nem declinado o valor correto, apenas reportando aos argumentos da contestação e que também não existe, é também confessa quanto à sua inadimplência quanto ao pagamento dos aluguéis. Assim, caracterizada a lesão pelo inadimplemento da obrigação assumida pelo inquilino, impõe-se a sanção tanto pela rescisão do contrato de locação quanto pela condenação no pagamento do aluguel em atraso. O inconformismo da apelante, portanto, é impertinente, sendo de se prover o recurso apenas no que toca à multa por litigância de má-fé. Com estes fundamentos, rejeito a preliminar e, no mérito, dou parcial provimento ao recurso, apenas para modificar a sanção por litigância de má-fé, ora aplicando a multa de 1% sobre o valor atualizado da causa, conforme art. 18 do CPC. Custas, pela apelante, observado o disposto na Lei nº 1.060, de Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): IRMAR FERREIRA CAMPOS e LUCIANO PINTO. SÚMULA : REJEITARAM A PRELIMINAR E DERAM PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS APELAÇÃO CÍVEL Nº /001