TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de, em que são agravantes MAIO EMPREENDIMENTOS E CONSTRUÇÕES S.A e MAIO ADMINISTRAÇÃO DE HOTÉIS S/A, é agravado BANCO ALFA DE INVESTIMENTO S/A. ACORDAM, em 23ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Rejeitaram a preliminar de não conhecimento do recurso e negaram-lhe provimento. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SEBASTIÃO FLÁVIO (Presidente) e PAULO ROBERTO DE SANTANA., 14 de outubro de JOSÉ MARCOS MARRONE RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento nº Agravantes: Maio Empreendimentos e Construções S.A e Maio Administração de Hotéis S/A Agravado: Banco Alfa de Investimento S/A Interessados: PARANASA ENGENHARIA E COMERCIO S/A, FERNANDO SOARES MAGALHÃES VIANA, JACKSON CANÇADO RIBEIRO e JUAREZ VIANA DOLABELA MARQUES Comarca: Voto nº Embargos à execução - Embargos recebidos sem efeito suspensivo Art. 739-A, 1º, do CPC Caso em que não houve penhora de bens em valor suficiente para garantir a integralidade da execução - Prematura a concessão do efeito suspensivo - Caso, ademais, em que não se encontra presente o fumus boni iuris Execução que se baseia em Cédula de Crédito Bancário, Abertura de Crédito, Capital de Giro e em dois aditivos, formalmente perfeitos Vencimento antecipado da dívida Título executivo extrajudicial, nos termos do art. 28 da Lei /2004, c.c. o art. 585, VIII, do CPC Título revestido, em princípio, dos requisitos da certeza, liquidez e exigibilidade - Não configurado o periculum in mora Agravo desprovido. Recurso - Agravo de instrumento Processo digital Desnecessidade da rubrica dos advogados nas razões recursais Advogada a qual assinou digitalmente o processo, por intermédio de certificado digital, que tem procuração nos autos Inexistência de vício na formação do agravo de instrumento Preliminar de não conhecimento do agravo rejeitada. 1. Trata-se de agravo de instrumento (fl. 1), interposto, tempestivamente, da decisão proferida em embargos do devedor (fl. 18), opostos à execução por quantia certa (fl. 86), fundada em Cédula de Crédito Bancário nº Abertura de Crédito Capital de Giro, bem como em dois aditivos (fls. 105, 116, 119), que, ao recebê-los, deixou de suspender a execução, ao abrigo dessa fundamentação: Recebo os embargos à execução, sem atribuir a eles, porém, efeito suspensivo, já que ausentes os requisitos do art. 739-A, 1º, do CPC. De fato, além de não se poder vislumbrar, no caso, à primeira vista, a relevância da fundamentação, não se verifica tampouco a existência de risco manifesto de dano de grave ou incerta reparação. Ademais, segundo consta, a execução em curso não se encontra garantida por penhora, depósito ou caução (fl. 2582). Sustentam as agravantes, embargantes na aludida ação, em Agravo de Instrumento nº Voto nº 2

3 síntese, que: o fato de a execução supostamente não estar garantida, quando presentes os demais requisitos do art. 739-A do CPC, não pode impedir, por si só, a concessão de efeito suspensivo aos embargos; não lhes foi oportunizado o exercício do direito de defesa previamente à determinação da desconsideração da personalidade jurídica; a desconsideração da personalidade jurídica determinada nos autos da execução foi fundamentada, exclusivamente, em ilações do banco agravado e na indevida presunção de má-fé, sem prova robusta do alegado; não ficou demonstrada a configuração de grupo econômico; a execução é nula, por ausência de título executivo válido; o título que lastreia a execução é ilíquido; houve cobrança ilícita de capitalização de juros; não figuram como devedoras no título executivo; deve ser atribuído efeito suspensivo aos embargos (fls. 3/17). Houve preparo do agravo (fls. 2586/2587). Não foi concedido o efeito ativo ao recurso oposto, ante a ausência de perigo de dano irreparável (fl. 2590). Foram dispensadas as informações. Foi comprovado pelas agravantes o cumprimento do disposto no art. 526 do CPC (fls. 2593/2596). Foi apresentada resposta pelo banco agravado (fls. 2598/2617). É o relatório. 2. Apesar da oposição feita pelo banco agravado em sua resposta (fl. 2600), conheço do presente recurso. Cuidando-se de processo digital, desnecessária a rubrica dos advogados nas razões recursais (fl. 2601). Da mesma forma, dispensável que a advogada que assinou digitalmente o processo eletrônico conste da peça de interposição e das razões do agravo (fl. 2603). O que importa é que o advogado que assinou digitalmente, por intermédio de certificado digital, tenha procuração nos autos. No caso em tela, a advogada Letícia Haddad Martins, que assinou digitalmente o processo, possui procuração nos autos (fls. 2522, 2523). Assim, não se pode cogitar de qualquer vício na formação do agravo de instrumento (fl. 2600). agravantes. 3. No tocante ao cerne do reclamo, não assiste razão às Explicando: 3.1. O 1º do art. 739-A, com a nova redação dada pela Lei nº , de , em vigor desde , estabelece que: O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta Agravo de Instrumento nº Voto nº 3

4 reparação, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes. Discorrendo sobre esse preceito, elucidam LUIZ GUILHERME MARINONI e SÉRGIO CRUZ ARENHART que: A segurança do juízo que pode ocorrer por penhora, depósito ou caução suficientes não é mais condição para a apresentação de embargos à execução. Tornou-se apenas pressuposto para a outorga de efeito suspensivo a estes embargos (art. 739-A, 1º, do CPC). Ou seja, no regime atual o devedor pode opor embargos do executado independentemente da penhora de seus bens. Porém, só poderá pleitear a atribuição de efeito suspensivo aos embargos de modo a paralisar a execução enquanto discute o direito demandado quando o juízo estiver garantido por penhora, depósito ou caução suficientes ( Curso de processo civil: execução, : Revista dos Tribunais, 2007, v. 3, parte IX, cap. 4, nº 4.2, p. 449). No mesmo sentido concluíram J.E. CARREIRA ALVIM e LUCIANA G. CARREIRA ALVIM CABRAL: Além da condição expressa na primeira parte do 1º do art. 739-A relevância dos fundamentos dos embargos etc. o efeito suspensivo só pode ser concedido se a execução estiver garantida por penhora, depósito ou caução suficientes. Portanto, as duas condições hão de estar presentes, para que a execução seja suspensa ( Nova execução de título extrajudicial: comentários à Lei /06, 1ª ed., 2ª tiragem, Curitiba: Juruá, 2007, p. 206). Assim, a outorga de efeito suspensivo aos embargos está condicionada à prévia penhora de bens na execução ou à garantia equivalente. No caso em tela, não houve penhora de bens em valor suficiente para garantir a integralidade da execução. Revela-se prematura, logo, a concessão do efeito suspensivo aos ventilados embargos à execução (fl. 17) Ademais, não se encontra presente o fumus boni iuris. Com efeito, a execução, no valor inadimplido de R$ ,43 (fl. 89), baseia-se na Cédula de Crédito Bancário nº Abertura de Crédito - Capital de Giro, formalmente perfeita (fls. 105/115), assim como nos dois respectivos aditivos (fls. 116/118, 119/123). Consta da cédula de crédito bancário que o banco embargado, ora agravado, emprestou à empresa devedora principal, Paranasa, a quantia de R$ Agravo de Instrumento nº Voto nº 4

5 ,00, a ser restituída em oito parcelas, vencendo a primeira em e a última em (fl. 106). A cédula de crédito bancário, bem como os dois aditivos, estão formalmente perfeitos, tendo sido assinados pelos representantes da empresa devedora principal e seus sócios, na qualidade de emitentes e de avalistas (fls. 115, 118, 122). Como os devedores não honraram, integralmente, a sua obrigação, tendo deixado de adimplir o débito na forma prevista no segundo aditivo, a dívida venceu antecipadamente, de acordo com a cláusula terceira do ajuste (fl. 108). Ademais, não se cuida de contrato de abertura de crédito em conta corrente - cheque especial, não tendo aplicação a Súmula 233 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, que dispõe que: o contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta corrente, não é título executivo. Cogita-se, portanto, em princípio, de título executivo extrajudicial, nos termos do art. 28 da Lei nº , de , c.c. o art. 585, inciso VIII, do CPC, revestido dos requisitos da certeza, liquidez e exigibilidade, em consonância com o art. 586 do CPC. Note-se que, embora as agravantes não figurem como devedoras no título executivo que lastreia a execução e não tenham celebrado qualquer pacto com o agravado (fl. 13), elas passaram a integrar a lide em virtude da decisão que reconheceu a existência de grupo econômico entre elas e a Paranasa e que determinou a desconsideração inversa da personalidade jurídica desta (fls. 2051/2059). No tocante ao excesso de execução (fls. 70/79), não se pode, à primeira vista, reconhecê-lo. Caso se constate a abusividade de algum dos encargos cobrados, viável a concessão parcial do efeito suspensivo aos embargos. Discorrendo sobre o 2º do art. 739-A do CPC, elucidam LUIZ RODRIGUES WAMBIER, FLÁVIO RENATO CORREIA DE ALMEIDA e EDUARDO TALAMINI, já citados, que: A decisão relativa ao pedido de efeito suspensivo pode ser, a pedido da parte interessada, revogada ou modificada, a qualquer tempo, por decisão motivada do juiz, e desde que existam circunstâncias novas que justifiquem a alteração do pronunciamento anterior (art. 739-A, 2º) ( Curso avançado de processo civil: processo de execução, 9ª ed., : Revista dos Tribunais, 2007, v.2, nº 16.11, p. 370). configurado O periculum in mora, de igual modo, não está Segundo os escólios de ARAKEN DE ASSIS: (...) o receio de dano se caracteriza em duas hipóteses: a) o exequente não apresenta idoneidade financeira evidente para Agravo de Instrumento nº Voto nº 5

6 suportar a indenização que lhe resultaria do acolhimento da impugnação fundada nos incisos II e VI do art. 475-L ou dos embargos baseados no art. 745, I e V; b) a alegação do executado envolve um direito fundamental, a exemplo do direito à moradia (art. 6º da CF/1988), alegada a condição de residência familiar do bem penhorado embora, perante as exceções do art. 3º da Lei 8.009/1990, tal alegação perca sua importância decisiva, pois, então, a residência se mostra penhorável -, caso em que não há reparação pecuniária que remedeie a privação da moradia ( Manual da execução, 11ª ed., : Revista dos Tribunais, 2007, nº 134.3, ps ). Na espécie, nenhuma dessas hipóteses verificou-se. Pondere-se que é notória a idoneidade financeira do exequente-embargado, ora agravado, para suportar eventual indenização resultante do acolhimento dos embargos. 4. Nessas condições, rejeito a preliminar de não conhecimento do agravo e nego-lhe provimento, mantendo a decisão impugnada (fl. 2582). JOSÉ MARCOS MARRONE Relator Agravo de Instrumento nº Voto nº 6