TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 22ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Sorocaba, em que é agravante FONTE FOMENTO E COBRANÇA MERCANTIL LTDA., é agravado TRI M FASHION CONFECÇÃO E COMÉRCIO DE ROUPAS LTDA. ME. ACORDAM, em 22ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores SÉRGIO RUI (Presidente), HÉLIO NOGUEIRA E CAMPOS MELLO. São Paulo, 9 de abril de Sérgio Rui RELATOR Assinatura Eletrônica AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

2 Agravo de Instrumento nº Agravante: Fonte Fomento e Cobrança Mercantil Ltda. Agravada: Tri M Fashion Confecção e Comércio de Roupas Ltda.-ME Comarca: Sorocaba Juiz de Direito: José Carlos Metroviche Voto nº Execução Desconsideração da personalidade jurídica negada Insurgência A pessoa jurídica tem existência independente, bem como personalidade jurídica e patrimônio distintos das pessoas naturais que a integram Embora haja indícios de que a empresa agravada não pretende adimplir o cumprimento de obrigação contraída perante o agravante, tal fato não autoriza a prática de atos de constrição judicial relativos ao patrimônio particular de seus proprietários Ausência de demonstração de esgotamento dos meios para a localização de bens -- Recurso improvido. Trata-se de recurso tirado de r. decisão proferida em execução de título extrajudicial ajuizada por Fonte Fomento e Cobrança Mercantil Ltda. que não desconsiderou a personalidade jurídica da ré, ora agravada. AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

3 Postula a agravante a reforma da r. decisão a fim de que haja desconstituição da personalidade jurídica da empresa agravada, com a inclusão da sócia Ana Lucia Cavani Pereira no polo passivo da demanda. devidamente prestadas (fls. 74). As informações solicitadas foram Regularmente intimada, a agravada apresentou contraminuta (fls ) assinada por patrono que, segundo consta dos autos, renunciou aos mandatos outorgados em 13/8/2010 (fls ). É o relatório. Não assiste razão à agravante. Na r. decisão agravada, o douto AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

4 magistrado a quo entendeu que somente em casos extremos é que se permite o alcance do patrimônio particular do sócio, visto que nosso sistema jurídico conserva a regra da personalidade distinta da pessoa jurídica dos sócios. (...) No caso em análise não há elementos suficientes para afirmar com segurança que ocorreu o abuso da personalidade jurídica. A executada não trouxe elementos suficientes para o reconhecimento da confusão patrimonial (sic) (fls ). A princípio, relembre-se que a pessoa jurídica resulta, em regra, da convolação de vontades de pessoas naturais, mas possui existência independente, além de personalidade jurídica e patrimônio distintos dos membros que integram o seu quadro social. Por este motivo, a legislação estabeleceu expediente repressivo à inadequada utilização da pessoa jurídica, consistente em práticas distintas daquelas para as quais foi criada, quando são praticados atos visando impedir o cumprimento de obrigações regularmente contraídas. A desconsideração da personalidade pode se dar quando o 'fechamento de fato' da sociedade AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

5 empresária, com a cessação de suas atividades sem a correspondente baixa no registro do comércio, constitui atitude que pode permitir a aplicação da teoria da desconsideração (JTJ 325/89 e Bol. AASP 2.589: TJSP, AI /8) (in Theotonio Negrão, José Roberto F. Gouvêa e Luís Guilherme A. Bondioli, Código de processo civil e legislação processual civil em vigor, 43ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 786, nota n. 3 ao artigo 596). O artigo 50 do Código Civil é de clara inspiração objetivista ao dispor que, em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Na presente demanda, não se pode inferir se há abuso da personalidade jurídica, muito embora a agravada sequer tenha se disposto a celebrar alguma forma de AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

6 composição com a agravante. Contudo, da leitura dos autos não há evidências de que a empresa alegadamente devedora tenha promovido atos visando impedir a satisfação da obrigação, com o intuito de prejudicar sua credora, não estando presentes os pressupostos necessários para que se proceda à desconsideração de sua personalidade jurídica. Nesse sentido a jurisprudência. Agravo de instrumento. Ação de cobrança. Cumprimento de sentença. Indeferimento de desconsideração da personalidade jurídica. Não comprovação dos requisitos necessários para autorização da medida. Alegação de dissolução irregular da empresa agravada que, por si só, não basta para ignorar a personalidade jurídica autônoma da entidade moral. Não esgotamento dos procedimentos cabíveis para localização de bens penhoráveis. Medida de caráter excepcional. Negado provimento (25ª Câmara de Direito Privado; Agravo de Instrumento /São Paulo; Relator: Hugo Crepaldi; julg. em 23/5/12; V.U. in site do Tribunal de AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

7 Justiça de São Paulo). Com efeito, deve a agravante demonstrar o esgotamento de todos os meios possíveis de se encontrar patrimônio penhorável, não bastando a mera tentativa de penhora on-line e intimação da agravada para nomeação de bens. Entender de forma diversa apenas colaboraria para a banalização do instituto da despersonalização, atentando contra os princípios da segurança jurídica e do devido processo legal. Agravo de instrumento - Desconsideração da personalidade jurídica - Possibilidade - No entanto, somente após o esgotamento de todos os meios para a localização de bens da agravada e desde que fique demonstrado nos autos a dissolução irregular da sociedade executada, com abuso de personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial - No caso, não se vislumbra a ocorrência de referidos pressupostos para caracterização da desconsideração da personalidade jurídica - Recurso não provido. Agravo de instrumento - Autorização para constrição dos bens dos sócios - Impossibilidade - Nos termos dos artigos e 1.024, ambos do Código Civil, a constrição de bens dos sócios só poderá ocorrer de forma subsidiária, ou seja, somente após demonstrada a insuficiência do patrimônio da sociedade e esgotados todos os meios disponíveis é que os bens dos sócios responderão pela dívida da sociedade - Recurso não provido (22ª Câmara de Direito Privado; Agravo de Instrumento AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

8 /Franca; Relator: Roberto Mac Cracken; julg. em 8/3/12; V.U. in site do Tribunal de Justiça de São Paulo). Ausentes os elementos exigidos pelo direito positivo para a desconsideração da personalidade jurídica, vez que não evidenciados indícios de prática de atos que demonstrem o abuso da personalidade jurídica ou que impeçam a satisfação do crédito da agravante, inviável a quebra da personalidade jurídica da agravada que, aparentemente, mantém suas atividades embora sem honrar dívidas pendentes, não podendo ser presumido o abuso. Não bastasse, não há nos autos documentos que relatem o histórico das buscas por bens passíveis à satisfação do crédito exequendo. Sequer há informação acerca da manutenção das atividades da agravada. Assim, ao que tudo indica, nem todos os meios foram esgotados com o fito de localizar bens em nome da Tri M Fashion Confecção e Comércio de Roupas Ltda. - ME. AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9

9 ao recurso. Por tais razões, nega-se provimento Sérgio Rui Relator AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /9