TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de, em que é agravante JIN MOTORS LTDA., é agravado CHERY BRASIL IMPORTAÇÃO FABRICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE VEÍCULOS LTDA. ACORDAM, em 36ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "negaram provimento ao recurso, na parte conhecida, por votação unânime", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JAYME QUEIROZ LOPES (Presidente) e MILTON CARVALHO., 27 de julho de 2017 WALTER CESAR EXNER RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento nº Agravante: Jin Motors Ltda. Agravada: Chery Brasil Importação, Fabricação e Distribuição de Veículos Ltda. Ação: Tutela antecipada (nº ). Comarca: Foro Central - 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais. Voto n Agravo de instrumento. Pedido de tutela cautelar de urgência em caráter antecedente. Contrato de concessão comercial. Rescisão unilateral. Pedido de suspensão liminar da medida. Propalada inobservância das penalidades gradativas previstas no art. 22, 1º, da Lei nº 6.729/79. Ausentes requisitos para concessão da liminar. Questão principal que deve ser apreciada oportunamente por Câmara Arbitral. Valor da causa. Não conhecimento. Matéria não enquadrada no rol taxativo do artigo 1015 do CPC. Recurso im provido, na parte conhecida. Vistos. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão de fls. 30 que, nos autos da tutela cautelar de urgência em caráter antecedente movida por Jin Motors Ltda. em face de Chery Brasil Importação, Fabricação e Distribuição de Veículos Ltda., indeferiu o pedido liminar que visava a suspender os efeitos da rescisão do contrato de concessão comercial e a impedir a ré de nomear outro concessionário na cidade de Agravo de Instrumento nº VOTO Nº 2/7

3 e determinou a emenda à inicial para adequação do valor da causa. Inconformada, recorre a agravante alegando, em síntese, que a agravada descumpriu o quanto disposto no art. 22, 1º, da Lei nº 6.729/79 que estabelece a necessidade de aplicação de penalidades gradativas previamente à rescisão dos contratos delineados pela Lei Ferrari. Sustenta que a agravada aceitou tacitamente a cessão das cotas sociais da agravante aos seus novos controladores e que não recebeu qualquer notificação acerca da recusa da alteração contratual, o que impediu, inclusive, a reversão do controle societário. Quanto ao valor da causa, ressalta que a ação visa apenas à tutela para revogar a rescisão contratual, sem que seja buscada qualquer indenização, motivo pelo qual é equivocado o entendimento do juiz no sentido de que o valor da causa deve ser aquele do contrato firmado. Requer, assim, a concessão de efeito ativo ao presente recurso, com sua confirmação ao final para que sejam suspensos os efeitos da rescisão do contrato até final apreciação da questão por Câmara Arbitral, bem como para que seja mantido o valor atribuído à causa. O recurso foi inicialmente distribuído à 15ª Câmara de Direito Privado, que declinou da competência, sobrevindo contraminuta da parte adversa e sendo os autos redistribuídos a este Relator. Agravo de Instrumento nº VOTO Nº 3/7

4 O recurso foi recebido apenas no efeito devolutivo e encaminhado a julgamento. É o relatório. Cuida-se de tutela cautelar de urgência em caráter antecedente movida pela agravante em face da agravada em que pretende a suspensão dos efeitos da rescisão unilateral pela ré do contrato de concessão comercial firmado entre as partes, para que o pacto firmado seja cumprido em todos os seus termos até desfecho do julgamento de mérito pela Câmara Arbitral, bem como seja impedida a requerida de nomear outro concessionário na cidade de. Compulsando-se os autos, verifica-se que a agravante é concessionária autorizada da agravada e distribui seus produtos em região demarcada, além de oferecer manutenção e assistência técnica de garantia. Afirma na inicial ter consultado previamente a agravada sobre a cessão de suas cotas sociais para outros controladores, ao que esta não apenas não negou, como anuiu tacitamente à cessão. Aduz que a rescisão unilateral do contrato em face da cessão de cotas foi precipitada, especialmente por não ter sido observado o quanto disposto no art. 22, 1º, da Lei nº 6.729/79, que prevê a necessidade de aplicação de penalidades gradativas antes da resolução. Agravo de Instrumento nº VOTO Nº 4/7

5 Ocorre que, porquanto o presente recurso vise apenas ao exame da questão liminar, sendo certo que a análise da correição da medida adotada pela agravada será objeto de oportuna apreciação por Câmara Arbitral, não há nos autos elementos bastantes que justifiquem a concessão da tutela pretendida pela agravante. Isso porque, além de o próprio contrato de concessão comercial firmado entre as partes prever a possibilidade de rescisão do ajuste com dispensa das penalidades gradativas (fls. 64/91, cláusulas 12.5; ), foi observado o prazo de 120 dias previsto no art. 22, 2º, da Lei nº 6.729/79 para extinção das operações do concessionário, não sendo possível compelir as partes a manterem vínculo contratual a revelia de uma delas. Colenda Corte: Em caso semelhante, assim decidiu esta Prestação de serviços Contrato de concessão comercial de veículos Lei 6.729/79 Lei Ferrari - Medida cautelar Decisão que prorroga por mais 6 meses a liminar anterior que compelia a ré concedente a manter a vigência e os efeitos do contrato de concessão pelo prazo de 8 meses, sob pena de multa diária fixada em R$ ,00, limitada a R$ ,00 Alegação da concessionária de que o prazo de 8 meses foi insuficiente para a venda do estabelecimento comercial por culpa da concedente que não autorizou o negócio Ausência de Agravo de Instrumento nº VOTO Nº 5/7

6 elementos a recomendar a extensão do prazo - Inaplicabilidade do único do art. 473, sem embargo do disposto no art. 422, ambos do CC. - Possibilidade, em tese, de rescisão do contrato prevista nos arts. 22 a 24 da Lei 6.729/79 - Liminar cassada - Em princípio, não se concede liminar para obrigar alguém a permanecer jungido a um contrato, a não ser em casos excepcionais, em "contratos de evidente cunho social como, v. g., os relativos à saúde, transporte, ou ainda naqueles em que um dos contratantes exerça o monopólio sobre bens e serviços essenciais" (REsp , j. em ), pois a quebra contratual, em princípio, deve ser resolvida em perdas e danos; a não obrigatoriedade de permanecer atado ao contrato encontra fundamento constitucional; por outro lado, o risco que o descumprimento geraria para as partes é aquele que secularmente se reconhece como da própria natureza da atividade empresarial. O risco, se transformado em prejuízo, resolve-se em perdas e danos; ademais, aqui já houve concessão de prazo que, aparentemente, não trouxe o resultado esperado. - Agravo provido (Agravo de Instrumento nº , Rel. Des. Manoel Justino Bezerra Filho, julgado em 09/12/2014). Nesse mesmo julgado, ficou consignado que em princípio não se pode negar o direito a qualquer contratante de rescindir o contrato antecipadamente. A rescisão contratual é sempre possível para qualquer dos Agravo de Instrumento nº VOTO Nº 6/7

7 contratantes, já que ninguém é obrigado a se manter jungido a um contrato contra a sua vontade, conforme disposição constitucional consagrada no inciso II do artigo 5º da Carta Magna. A parte que pede a rescisão antecipada ou que toma, mesmo sem respaldo jurídico, a iniciativa da rescisão, responde pelas consequências de sua opção, indenizando a parte adversa pelas perdas e danos se for o caso, sem embargo do disposto nos artigo 422 e 473 do Código Civil. Assim, pelos motivos expostos, não há que se falar em concessão da liminar para que seja a agravada compelida a manter o contrato firmado, devendose novamente ressaltar que a apreciação da questão principal, especialmente da correição da rescisão unilateral do contrato, com possível conversão do direito em perdas e danos, ficará a cargo da Câmara Arbitral. No que tange ao valor da causa, o recurso não comporta conhecimento, visto que a matéria abordada não se enquadra no rol taxativo do artigo art.1015 do CPC. Isso posto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso, na parte conhecida. WALTER CÉSAR INCONTRI EXNER Relator Agravo de Instrumento nº VOTO Nº 7/7