O USO DO COMPUTADOR NA ESCOLA: DESAFIOS E DESCOBERTAS PARA CRIANÇAS E DOCENTES. EIXO TEMÁTICO: Relatos de experiências em oficinas e salas de aula
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1 O USO DO COMPUTADOR NA ESCOLA: DESAFIOS E DESCOBERTAS PARA CRIANÇAS E DOCENTES Aline Moroso Guilhão Pedagogia UFRGS Michelle Zilli Monsú Pedagogia UFRGS EIXO TEMÁTICO: Relatos de experiências em oficinas e salas de aula A atuação do PIBID - Pedagogia contempla duas escolas públicas da rede, dentre elas está a escola onde nosso grupo atua, a Escola Presidente Roosevelt. A Escola está localizada no Bairro Menino Deus, em Porto Alegre/RS, e atende crianças, na sua maioria, de classe média. Percebemos que a escola tinha um laboratório de informática praticamente novo com vários computadores e sem uso. Isso nos incomodou. Pensamos que o laboratório deveria ser aproveitado e usado como uma ferramenta de ensino. Ferramenta esta que poderia ser muito útil na nossa prática docente, visto que o computador, a internet, etc fazem parte das praticas culturais e cotidianas das crianças - desta escola. Durante os períodos de observação, um outro fato nos inquieta, notamos nas crianças uma espécie de "engessamento" na leitura e na escrita. Uma dificuldade de interpretação, elas prendem-se muito ao sinal gráfico, às letras que estão escritas, e o significado muitas vezes se perdia. Visto que as crianças não conseguiam fazer inferências sobre o texto escrito, focamos nosso trabalho em mostrar a elas que a leitura e a escrita são muito importantes para inúmeros contextos no nosso cotidiano contemporâneo, e não somente para o contexto escolar tradicional. Encaramos então o desafio de desenvolver atividades que contemplassem nossos eixos teóricos, utilizando o computador como ferramenta. Atendemos as crianças do maternal ao quarto ano, totalizando 13 turmas e aproximadamente 270 crianças. Como o número de turmas era muito grande e nós íamos a escola uma vez por semana, optamos por dividir as turmas em dois grupos: Grupo 1 do maternal ao primeiro ano, e grupo 2: do segundo ano até o quarto. Assim, o atendimento a cada grupo se dava de forma quinzenal. No nosso primeiro Projeto Toda criança quer, devido ao interesse que as crianças demonstraram em usar os fones dos computadores, elaboramos uma atividade baseada na música Toda criança quer do grupo Palavra Cantada. As crianças ouviam a música nos fones e depois preenchiam os espaços lacunados na letra da música que colocamos para elas na tela do computador. Para encerrar fazíamos o preenchimento todos juntos no quadro da mesma letra lacunada e um texto coletivo, onde as crianças
2 respondiam à pergunta O que todo mundo quer? Pensamos em utilizar a música como recurso, pois acreditamos que essa possibilita o desenvolvimento intelectual e a interação do indivíduo no ambiente social, se for usada de uma forma planejada. A música é um dos principais meios de persuasão existentes na sociedade, pois através dela é possível transmitir não somente palavras, mas também sentimentos e ideias. A música como alternativa didática aguça o interesse do aluno, que muitas vezes sem perceber se encontra totalmente envolvido no processo. Como afirma Eduardo de Freitas (2009), o uso da música na escola provoca também um melhor relacionamento entre os alunos, facilitando trabalhos coletivos e contribuindo com a perda da timidez, favorecendo a linguagem corporal. Diante das afirmativas, fica explícito que a musica contribui diretamente no desenvolvimento cognitivo, linguístico, psicomotor e sócio-afetivo do aluno, independente de sua faixa etária, além de promover nos alunos uma maior inserção no convívio social. Nosso segundo projeto Brincando com os portadores de texto foi inspirado no Livro O Carteiro Chegou. Primeiramente líamos o livro para as crianças na sala de aula e depois no laboratório. Em diferentes encontros pedimos que os alunos elaborassem um convite e um cartão para a festa do dia das crianças realizada na escola, envolvendo todas as turmas, que finalizou o projeto. Este projeto foi mais voltado para a área da linguagem. O conceito de alfabetização se identificou à capacidade de decodificar os sinais gráficos. A partir dos anos 80 esse conceito foi ampliado com as contribuições dos estudos sobre a psicogênese da aquisição da língua escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. É importante que a criança perceba a leitura como um ato prazeroso e necessário e que tenha os adultos como modelo. Assim, não é necessário que a criança espere aprender a ler para ter acesso ao prazer da leitura: ela pode acompanhar as leituras feitas pelos adultos, pode manusear livros e outros tipos de textos impressos, tentando ler ou adivinhar o que está escrito, participar de construções de textos coletivos, produzir escritas espontâneas, etc. Mesmo na realização de pequenos trabalhos, é possível atribuir algum sentido às práticas tidas como de sala de aula. De acordo com Marlene Carvalho (2007, p. 15), para formar indivíduos letrados, não apenas alfabetizados, os repertórios e as situações de leitura, tanto das crianças quanto dos jovens e adultos, precisa ser ampliado para conter diversos tipos de textos que circulam intensamente na vida social. Escolhemos o livro O Carteiro Chegou, pois o mesmo contempla, através de
3 várias cartas que vão sendo entregues pelo carteiro ao longo da história, diferentes tipos de portadores textuais. Como recurso principal, usamos o laboratório de informática da escola e o livro, como ferramenta de aprendizagem e contexto de letramento, intentando sempre privilegiar o lúdico e o trabalho coletivo entre os alunos. Nosso terceiro projeto consistiu na elaboração de crachás. Surgindo da dificuldade em chamar as crianças pelo nome. Tendo em vista a importância da valorização da individualidade de cada um. Esse foi o único projeto que não usou os recursos do laboratório. Disponibilizamos às crianças diversos tipos de materiais como lantejoulas, purpurina, cola colorida e canetinhas, para que elas explorassem e utilizassem livremente para escrever e enfeitar seu nome no seu crachá. Além de valorizar o aluno e sua individualidade, queríamos evitar chamar o aluno por algum adjetivo, mesmo sendo ele positivo, pois o uso de apelidos pode estereotipar as crianças. Rotular os alunos, ou permitir que eles se rotulem, pode atrapalhar no aprendizado e transformar um simples vocativo em identidade até mesmo entre os próprios estudantes. No quarto projeto aprendendo com a artista Frida, ainda com o intuito de fortalecer a valorização do sujeito, novamente líamos em sala de aula o livro intitulado Frida e no laboratório pedíamos que as crianças criassem seu autoretrato, como a pintora fazia em suas telas. Lembrando que o esse não precisa ser a imagem da pessoa, e sim uma representação de como ela se vê ou como se sente no momento. O livro acompanha a infância e adolescência da artista, revelando a curiosidade que a menina tinha pelos objetos e pelo mundo, além do trágico acidente que deixou sequelas permanentes em sua vida. Para encerrar o ano, iniciamos uma pesquisa que visa saber a visão das crianças em relação aos povos indígenas e suas culturas. Esta pesquisa servirá como base para a elaboração dos projetos que executaremos ao longo deste ano, que tratarão desta temática. Quando falamos em escola, geralmente relacionamos à tradição, e contemporaneidade relacionamos à inovação, são dois conceitos que geralmente aparecem apontando para direções opostas. É como se a Instituição Escolar apontasse para o passado, para a valorização do que aconteceu, para a necessidade de conservação e a contemporaneidade indicasse à mudança, transformação. Quando relacionamos escola à tradição queremos dizer, de uma certa forma, que a escola está ligada à transmissão de valores e de culturas geração após geração. Veja a
4 visão histórica que nos apresenta Lucidio Bianchetti. No mundo ocidental a tradição está profundamente arraigada à terra, ao nomadismo, ao gregarismo, à cidade-estado, ao feudo, à igrejauniversidade, à dependência do homem à natureza e à submissão daquele aos ditames e ritmos desta. A ritualização/repetição, o sucesso e a longevidade dos mitos, das religiões, as instituições educacionais e as formas de governo estão associadas a essa cosmovisão. (BIANCHETTI, 2010; 180) Foi neste contexto que a humanidade veio forjando suas crenças, suas religiões, seus meios institucionais e as formas hereditárias de governo. Com o tradicionalismo, busca-se a continuidade, a manutenção. E nesta perspectiva podemos chamar o tradicionalismo de conservadorismo. Tendo em vista essas questões, buscamos usar novas tecnologias (computador, fones de ouvido, rádio, etc) para ensinar não somente essas tecnologias em si, mas sim elementos culturais que elas representam e traze-las para dentro da escola. Um pesquisador francês de políticas públicas, Jean Hébrard, que mostra certa preocupação com o funcionamento da instituição escolar na contemporâneidade. Ele comenta que até os anos 70, pensávamos que a escola era um dispositivo muito simples para transferir os conhecimentos de uma geração para outra. (XAVIER apud HÉBRARD, 2008, p.14 ). A problemática que encontra é que a partir daquela época esse "sistema" de transferência de cultura não funciona mais. Isso porque os alunos de hoje não são jovens sem cultura, ou que preservem a cultura da família. São jovens que tem uma cultura própria. Nosso grupo queria enfrentar o desafio de trazer esse conhecimento escolar tradicional transmitido à várias gerações, de uma forma que pudesse fazer parte da cultura dos adolescentes, fosse para concordar com ela ou não. Nesta relação, muitas vezes conflituosa, entre a Escola e a Contemporaneidade, entendemos que a questão do tempo é importante. A questão do tempo é uma categoria central quando se analisa categorias como tradição e Modernidade. (BIACHETTI, p.184, 2010). Acreditamos que nós como bolsistas do Programa PIBID da CAPES, e acadêmicas de uma Instituição Pública de Nível Superior, viemos atuando para mudar essa realidade, que está longe de ser só teoria. Vivenciamos no cotidiano da Universidade, o quanto ela se descola muitas vezes da sociedade, aparecendo dentro de um mundo a parte. As escolas vêm acompanhando o processo crescente de utilização da informática. Entretanto, percebemos que na formação dos professores não é tão
5 priorizada a capacitação para o uso dos recursos tecnológicos nas práticas pedagógicas quanto a compra de computadores de última geração e softwares educacionais. Acreditamos que de nada adianta tanto investimento de verba pública em equipamentos, pois estes sem a capacitação de professores para usá-los não garantem a melhoria da qualidade no ensino pretendido. O professor deve refletir suas práticas, tendo uma compreensão crítica e social e a capacidade de intervir nesta realidade. O professor que reflete sobre sua docência, alia teoria e pratica, fazendo escolhas sobre o conteúdo e a metodologia de ensino. Uma aula mal preparada não será melhor apenas com o uso do computador. A tecnologia pode talvez mascarar a deficiência de um professor, mas, se usada inadequadamente, não deixa de ser prejudicial ao aluno. Nada substitui o verdadeiro professor. (BERBEL, 1999, p. 42) Acreditamos que preocupar-se com a Educação Básica e investir nela, é pensar no futuro, e acreditamos que principalmente os estudos e pesquisas da própria Universidade, deveriam ser voltados, principalmente, para a Educação Básica e formação de professores. REFERÊNCIAS BERBEL, Alexandre Costa et al. Guia de Informática na escola: como implantar e administrar novas tecnologias. Alabama Editora, BIANCHETTI, Lucídio. Pós-Graduação na Ibero América Conflito de temporalidades e embates Tradição X Modernidade. XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL. Novembro/ Universidade Federal de Santa Catarina UFSC/Florianópolis. CARVALHO, Marlene, Guia Prático do Alfabetizador São Paulo: Ática, Acesso em 20/12/2010 às 23h00minh. Acesso em 10/12/2010 às 11h00minh. XAVIER, Maria Luiza. Escola e Mundo Contemporâneo - Novos Tempos, Novas Exigências, Novas Possibilidades (em: ÁVILA, Ivany Souza. Escola e Sala de Aula. Mitos e Ritos. Um olhar pelo avesso do avesso. Organizado por Ivany Souza Ávila; Ana PaulaSefton... [et al.].- 2. Ed.- Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008).
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