PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que é agravante GUILHERME AFONSO NOGUEIRA FAIS (JUSTIÇA GRATUITA), é agravado FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 35ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores FLAVIO ABRAMOVICI (Presidente sem voto), MELO BUENO E MORAIS PUCCI. São Paulo, 3 de maio de Sergio Alfieri Relator Assinatura Eletrônica

2 AGRAVO DE INSTRUMENTO nº AGRAVANTE: GUILHERME AFONSO NOGUEIRA FAIS AGRAVADO: FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA COMARCA: SÃO PAULO JUIZ DE 1º GRAU: CAROLINA PEREIRA DE CASTRO VOTO Nº 4456 AGRAVO DE INSTRUMENTO TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE Insurgência recursal contra o r. pronunciamento que indeferiu a tutela de urgência pleiteada Alegação de bloqueio indevido de pagina mantida pelo autor junto à rede social FACEBOOK, sob o fundamento de inexistir violação a direitos autorias de terceitos Medida antecipatória que deve ser deferida somente se presentes concomitantemente os pressupostos indispensáveis para concessão da tutela previstos no caput do artigo 300, do Código de Processo Civil vigente e circunstâncias que afastem a vedação contida no 3º, do mesmo dispositivo processual Presentes a demonstração da probabilidade do direito invocado na demanda e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo Hipótese que se amolda à concessão da tutela de urgência antecedente, nos termos do artigo 303 do Código de Processo Civil Decisão que merece ser modificada para concessão da medida antecipatória RECURSO PROVIDO. Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto por Guilherme Afonso Nogueira Fais contra a r. decisão copiada às fls. 74, que nos autos da tutela provisória de urgência em caráter antecedente, indeferiu a medida pleiteada, ao fundamento de que existindo indicação de suposta violação a direitos autorais de terceiro com a possibilidade, em tese, de responsabilização da ré, necessário aguardar a formação do contraditório para analisar com maior segurança o direito invocado pelo autor. Insurge-se o autor, sustentando, em síntese, que Agravo de Instrumento nº Voto nº /8 2

3 formulou pedido de tutela antecipada antecedente objetivando a concessão da medida para o fim de determinar que a requerida Facebook Serviços On Line do Brasil Ltda., proceda ao imediato desbloqueio de sua página hospedada no sítio da agravada, ( ID ), que alega ter sido bloqueado indevidamente. Alega ter havido comprovação nos autos quanto ao fato de ter o criador do conteúdo objeto da denúncia autorizado expressamente sua postagem, razão pela qual não há que se falar em violação de direito autoral. Aduz que o bloqueio realizado não poderia ocorrer sobre toda a página, mas somente sobre o conteúdo bloqueado por suposta violação e, por fim, que estão presentes os requisitos autorizadores da medida antecipatória, sobretudo, o periculum in mora, pois o bloqueio da página poderá ocasionar a perda de seus seguidores. Recurso processado com efeito suspensivo concedido pelo ilustre Desembargador Artur Marques (fls. 92/93). Tempestivo e processado com gratuidade também deferida nesta sede recursal (fls. 101/102). Dispensadas as informações, contraminuta foi ofertada às fls. 106/127. É o relatório. Porta acolhida o presente recurso. Depreende-se dos autos principais, a pretensão inicial do autor foi fundada nas disposições contidas nos artigos 303 e 304, do Código de Processo Civil, sob o fundamento de que a página de sua titularidade no sitio do Facebook teria sido bloqueada integralmente em razão de denúncia referente a uma postagem que supostamente teria violado direito autoral de terceiro, o que alega ter sido afastada pela autorização expressa do criador do conteúdo, conforme comprovado documentalmente nos autos. Agravo de Instrumento nº Voto nº /8 3

4 Com efeito, a antecipação de tutela somente poderá ser deferida se, além do periculum in mora e do fumus boni iuris e, mediante cognição sumária, houver prova consistente que possa convencer o julgador sobre a probabilidade do direito postulado e o perigo de dano ou o resultado útil do processo, conforme preceitua o disposto no artigo 300, do Código de Processo Civil vigente. Nesse contexto, como bem ressaltou o Acórdão proferido nos autos do recurso de agravo de instrumento nº , da lavra do ilustre Desembargador Kioitsi Chicuta, a previsão contida no mencionado artigo 300, do Código de Processo Civil, não mais se utiliza da expressão prova inequívoca, sendo necessário, apenas, vislumbrar a presença da plausibilidade do direito (sem prejuízo do exame de mérito sob o crivo do contraditório) e o risco concreto. Nesse passo, cita a lição de Marinoni, Arennhart e Mitidiero, a probalibilidade que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela dos direitos é a probabilidade lógica que é aquela que surge da confrontação das alegações e das provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo provável a hipótese que se encontra maior grau de confirmação e menor grau de refutação nesses elementos. O juiz tem que se convencer de que o direito é provável para conceder a tutela provisória (Novo Código de Processo Civil; ed. Revista dos Tribunais, p. 203). Pois bem. O Diploma Processual Civil prevê, dentre as espécies de tutelas de urgência, a tutela antecipada antecedente, conforme preceitua o disposto no caput artigo 303, verbis: Art Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido Agravo de Instrumento nº Voto nº /8 4

5 de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo. (g.n.) Na hipótese vertente a tutela requerida pelo autor precede ao pedido principal, nos termos do mencionado dispositivo, sendo que seu requerimento indica a probabilidade do direito invocado na demanda, bem como se encontra amparado nos elementos probatórios trazidos nesta sede recursal. Do documento acostado às fls. 09, constata-se que na página denominada Lugares que eu gostaria de ir, foi publicado pelo autor e titular da referida página, conteúdo que teria violado direitos autorais de terceiros, o que foi objeto de denuncia ao Facebook, ocasionando o bloqueio. Verifica-se dos autos, o autor recebeu por meio de correio eletrônico, as informações sobre o proprietário dos direitos supostamente violados (fls. 17), sendo que posteriormente proprietário dos direitos Agravo de Instrumento nº Voto nº /8 5 autor e teriam acordado no sentido de republicar o conteúdo da página, desde que constasse a informação de créditos para manifestando seu interesse na recuperação da página do autor, conforme se verifica do documento de fls. 20. Assim, desses elementos, é possível extrair notadamente o primeiro requisito previsto no artigo 300, do Código de Processo Civil, realizando-se um juízo de probabilidade e não de certeza da alegação de direito formulada pelo autor, ora recorrente, e que está consubstanciada na ausência de violação de direitos autorais do titular do conteúdo publicado pelo autor em sua página. Na lição de Calamandrei:

6 Por aquilo que se refere à investigação sobre o direito, a cognição cautelar se limita em cada caso a um juízo de probabilidade e de verossimilhança. Declarar a existência do direito é função do processo principal: em sede de cautelar basta que a existência do direito pareça verossímil, ou seja, melhor dizendo, basta que, segundo um cálculo de probabilidade, se possa prever que o procedimento principal declarará o direito em sentido favorável àquele que requeira a medida cautelar (2000, p.99 apud OLIVEIRA, Olavo de, NETO, Elias Marques de Medeiros, OLIVEIRA, Patrícia Elias Cozzolino, Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Verbatin, 2015, vol. 1, p.631). Outrossim, o fundado receio de dano restou objetivamente demonstrado, pois a manutenção do bloqueio da página no sitio do Facebook, na integralidade, poderá obstar a prestação de serviços no que tange à publicação de outros conteúdos divulgados, em princípio, de forma regular aos usuários (seguidores) da referida página. Por fim, para a concessão da tutela de urgência, no caso, antecedente, concomitantemente aos pressupostos indispensáveis à concessão da medida, deve haver observância ao disposto no 3º, do mencionado artigo 300, do CPC, porquanto, se irreversível o provimento, fazse mister sua denegação. Assim, se no momento em que houver a cognição exauriente da matéria, for constatada a efetiva violação aos termos de uso estabelecidos pelo Facebook, ou mesmo, aos direitos autorais de terceiros, poder-se-á proceder ao bloqueio da conta de titularidade do autor, em consonância com as regras eventualmente impostas aos usuários e na medida de cada violação. Confiram-se, ainda, os precedentes deste Eg. Tribunal de Justiça sobre a matéria sub examine: AGRAVO DE INSTRUMENTO TUTELA ANTECIPADA Agravo de Instrumento nº Voto nº /8 6

7 EM CARÁTER ANTECEDENTE RECURSO PARA EVITAR ESTABILIZAÇÃO ACUIDADE DA TUTELA PROVISÓRIA PROBABILIDADE DE PROVIMENTO E RISCO DE DANO. - Recurso evidentemente fundado na pretensão de se opor à eventual estabilização da tutela antecipada concedida em caráter antecedente (artigos 303 e 304, do Novo Código de Processo Civil); - Acuidade da tutela de urgência concedida (artigo 300, do Código de Processo Civil). Prestação de serviço público essencial, cuja continuidade decorre do ordenamento (art. 22, do Código de Defesa do Consumidor), impositiva a manutenção do fornecimento de energia elétrica patente a probabilidade de provimento e o risco de dano; AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO PROVIDO. (TJSP; Agravo de Instrumento ; Relator (a): Maria Lúcia Pizzotti; Órgão Julgador: 30ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional I - Santana - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento: 24/05/2017; Data de Registro: 31/05/2017) AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DE VIZINHANÇA. TUTELA CAUTELAR ANTECEDENTE. TUTELA DE URGÊNCIA. Presentes elementos que evidenciam a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo fica demonstrada a possibilidade da concessão da tutela de urgência. Inteligência art. 300 do CPC/2015. Decisão reformada. Recurso provido, com a confirmação da liminar concedida no Plantão Judiciário. (TJSP; Agravo de Instrumento ; Relator (a): Felipe Ferreira; Órgão Julgador: 26ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 20ª Vara Cível; Data do Julgamento: 20/10/2016; Data de Registro: 20/10/2016)ntana - 4ª Vara Agravo de Instrumento nº Voto nº /8 7

8 Cível; Data do Julgamento: 24/05/2017; Data de Registro: 31/05/2017). Agravo de instrumento - Tutela antecipada requerida em caráter antecedente - Demonstração satisfatória da probabilidade do direito invocado além do perigo de dano e risco ao resultado útil do processo - Artigos 300 c.c. 303, ambos do CPC - Alegação de ineficácia econômica da caução - Alegação isolada e sem qualquer demonstração de veracidade - Decisão confirmada - Recurso desprovido. (TJSP; Agravo de Instrumento ; Relator (a): Irineu Fava; Órgão Julgador: 17ª Câmara de Direito Privado; Foro de São Bernardo do Campo - 9ª Vara Cível; Data do Julgamento: 18/12/2017; Data de Registro: 18/12/2017). Destarte, constatada a probabilidade do direito alegado pelo autor, ora agravante e, sendo evidente que o bloqueio da página mantida pelo autor junto à rede social Facebook, em sua totalidade, decorrente de denuncias da postagem supostamente irregular discutida nos presentes autos, poderá trazer risco ao resultado útil do processo, a tutela antecipada antecedente deve ser concedida. Consigne-se, derradeiramente, que a determinação de desbloqueio deverá cingir-se à questão discutia na presente demanda e que se referem a denúncia nº , sendo que eventuais outras irregularidades deverão ser discutidas através de ação própria. Ante o exposto, DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso. SERGIO ALFIERI Relator Agravo de Instrumento nº Voto nº /8 8