Valdênia Cordeiro Lima

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1 5 AUSÊNCIA DOS USUÁRIOS HOMENS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: REVISÃO INTEGRATIVA ABSENCE OF MALE USERS IN PRIMARY ATTENTION: INTEGRATIVE REVIEW Resumo: Este trabalho se apresenta na forma de revisão integrativa Valdênia Cordeiro Lima Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA sobre a ausência dos usuários homens na atenção primária, ou seja, sintetiza o conhecimento gerado ou apresentado em trabalhos, pesquisas e/ou publicações sobre o tema. Conhecer as razões e justificativas dadas pelo público masculino sobre sua ausência no serviço de atenção primária à saúde, avaliar a popularidade da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) e sua efetividade, possibilitam a melhoria nos serviços de Atenção Primária. Palavras-chaves: Atenção Primária. Homens. PNAISH. Abstract: This paper presents in the integrative review about absence male users the in primary attention, in other words, synthesizes the knowledge generated or submitted in papers, researches and/or publications about the theme. Know the reasons and justifications given by the male public about their absence the in primary attention the health, evaluate the popularity of National Policy of Integral Attention the Health of Men (NPIAHM) and its effectiveness, possible the improvement the Primary Attention. Key-words: Primary attention. Men. NPIAHM. 1 INTRODUÇÃO A revisão integrativa é importante para a Prática Baseada em Evidências (PBE), ou seja, seus resultados podem ser utilizados na prática clínica, sendo uma síntese do conhecimento gerado sobre determinado assunto e uma maneira de se identificar as lacunas que ainda precisam ser preenchidas com novas pesquisas. 1

2 LIMA, V. C. Conhecer os motivos que levam o público masculino a não procurar a Atenção Primária, preferindo serviços como farmácias ou pronto-socorros, é essencial para definir estratégias eficientes para inclusão dos homens na Atenção Básica. Dessa forma, o presente estudo objetivou analisar a causa da ausência de usuários homens nos serviços de Atenção Primária à Saúde, tendo como questão norteadora a seguinte pergunta: Quais os motivos dos homens não procurarem atendimentos na Atenção Primária? 2 FONTE DE DADOS Trata-se de uma revisão integrativa da produção científica nacional à cerca da ausência masculina na Atenção Primária. Para isto as seis etapas de construção de uma revisão integrativa foram rigorosamente seguidas: 1-Identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa; 2-Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura; 3-Definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; 4-Avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; 5- Interpretação dos resultados; 6- Apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Os critérios para a inclusão de artigos foram: estarem publicados em Revista Eletrônica Científica online entre os anos de 2007 e 2012, estar disponível a versão em texto completo, que fossem publicados em língua portuguesa ou inglesa e que tratassem da saúde do homem como tema central. A Scielo (Biblioteca Científica Eletrônica Online ) e a LILACS (Latino-Americana e do Caribe) foram as bases de dados dos artigos selecionados. Os Descritores em Saúde (Decs) usados foram homem e atenção primária. Inicialmente artigos foram encontrados, seguindo o critério de inclusão de artigos completos esse número foi reduzido para e apenas 13 tinham a saúde do homem como assunto principal. Levando em consideração o ano de publicação, o número de artigos ficou em 12, já que um foi publicado a mais de cinco anos. Com a leitura criteriosa dos títulos e resumos 9 artigos puderam ser incluídos neste estudo, todos em português. Os nove artigos selecionados foram analisados através de fichas que continham o título do estudo; autores; periódico, volume, número e ano de publicação; objetivos; metodologia; teorias/evidências; pesquisas sugeridas e análise crítica do artigo, assim podendo ser classificados em cinco categorias. 2

3 AUSÊNCIA DOS USUÁRIOS HOMENS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 3 SÍNTESE DOS DADOS 3.1 Descrição dos Artigos Selecionados Os nove artigos inseridos no estudo, de acordo com a maneira que abordaram a saúde masculina, puderam ser divididos em cinco classes assim apresentadas: 1- a visão dos homens sobre saúde masculina: 3 artigos 2- a percepção dos profissionais de saúde sobre a ausência masculina na APS: 1 artigo 3- a PNAISH: 2 artigos 4- a invisibilidade masculina na atenção primária: 2 artigos 5- o relacionamento entre masculinidade e cuidados de saúde: 1 artigo Os periódicos aos quais esses artigos pertencem são a Ciência & Saúde Coletiva, Escola Ana Nery, Interface-comunicação, saúde, educação, Cad. Saúde Pública, Saúde Coletiva e Rede de Enfermagem do Nordeste. Os anos de publicação foram de 2010 a 2012, mostrando assim a atualidade do assunto, porém com um número de artigos é limitado. Para determinar o nível de evidência dos artigos (Quadro 1) foi utilizada a seguinte escala, que classifica a força de evidência em relação a fonte que as informações foram geradas: nível 1- evidência forte a partir de pelo menos uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados, bem delineados; nível 2- evidência forte a partir de pelo menos um ensaio clínico controlado, randomizado, bem delineado; 3- evidência a partir ensaio clínico bem delineado, sem randomização, de estudos de apenas um grupo do tipo antes e depois, de coorte, de séries temporais, ou de estudos caso-controle; nível 4- evidência a partir de estudos não experimentais por mais de um centro ou grupo de pesquisa; nível 5- opiniões de autoridades respeitadas, baseada em evidência clínica, estudos descritivos ou relatórios de comitês especialistas. 3.2 Principais Evidências dos Artigos Selecionados Mesmo os estudos tendo sido realizados em vários estados brasileiros, com situações socioeconômicas e culturais diferentes, os resultados em geral são bem parecidos. Eles indicam vários fatores que inibem os homens a procurarem a atenção primária, como: o horário de funcionamento da unidade de atenção báica, a cultura machista, a demora para a marcação de exames e/ou consultas, a feminilização dos ambientes de APS, a falta de programas específicos nas unidades para este público, a vergonha de expor o corpo e a não-educação para o auto-cuidado. 3

4 LIMA, V. C. Alguns dos serviços pesquisados mantêm atendimento no horário do almoço e/ou no período noturno, sendo esses horários mais frequentados por homens, confirmando assim que a coincidência entre os horários de atendimento e o trabalho é um impedimento para os homens procurarem a APS (COUTO et al, 2010). Outros estudos indicam que os homens permanecem no modelo curativo, ou seja, só procuram os serviços de saúde quando alguns sintomas e/ou sinais são insuportáveis (GOMES et al, 2011 e SILVA et al, 2012). A maior expressividade masculina está nas farmácias, pronto-socorros e consultas odontológicas, estando isso relacionado ao imediatismo masculino, nos quais seus problemas devem ser resolvidos rapidamente. Neste ponto entram outros fatores da ausência masculina na atenção primária, como a demora para consultas e para marcação de exames, além da falta de profissionais no serviço (SCHRAIBER, 2010). Os esterótipos masculinos; "homem é forte", "homem não precisa cuidar da saúde", " homem não adoece"; estão presentes tanto na sociedade em geral como entre enfermeiros e médicos (COUTO et al, 2010 e BRITO, SANTOS e MACIEL, 2010). Isso mostra que muitos profissionais acabam por aderir ao senso comum e não conseguem enxergar as especificidades e necessidades masculinas (GOMES et al, 2011). O ambiente das unidades estudadas favorece o pensamento masculino da feminilização do espaço, onde muitos cartazes voltados para a saúde da mulher são visíveis, não ocorrendo o mesmo para aspectos da saúde masculina, além dos ambientes muitos decorados pelos funcionários e de atividades voltadas para o público feminino, como as de planejamento familiar. Essas atividades são originalmente provenientes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) que aos poucos incorporam os homens (COUTO et al, 2010). Quase sempre existe uma figura feminina cuidando dos homens durante o seu crescimento. Isso, por vezes, acaba por acomodá-los a se auto-cuidar. Aliado a vergonha de expor o corpo e de conversar sobre determinados assuntos, eles acabam por abrir mão dos cuidados preventivos ( GOMES et al, 2011). A questão urológica foi citada em quase todos os trabalhos, sendo uma crítica dos usuários a falta do profissional dessa área e um dos motivos de suas ausências nos serviços de atenção primária. Dos artigos selecionados apenas três abordam sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), mesmo todos tendo sido publicados após o lançamento oficial dessa política. 4

5 AUSÊNCIA DOS USUÁRIOS HOMENS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA Nesses artigos que tratam sobre a PNAISH, alguns profissionais foram entrevistados e estes mostram pouco ou nenhum conhecimento sobre a política. Demonstrando a existência de falhas no processo de divulgação. Os que a conhecem avaliaram positivamente, mas acham que eventos esporádicos, como "Dia do Homem" ou "Semana do Homem", não são suficientes para sua implantação (GOMES et al, 2012) A PNAISH foi criticada por alguns dos entrevistados dos estudos por focar o cuidado especialmente para a urologia, não dando tanta atenção a outros tipos de agravos e principalmente a promoção de saúde e prevenção de doenças, deixando de prestar o cuidado integral (LEAL, FIGUEIREDO e SILVA, 2012). As Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) foram citadas como essenciais para a implantação da política para a saúde masculina. Sendo considerado um desafio a ausência de capacitação e a falta de conhecimento sobre a saúde do homem, pelos profissionais que trabalham diretamente com esse público. Existe incompreensão da PNAISH, pois alguns entrevistados acham que ela trará uma tarefa a mais para ser realizada pelos profissionais que não conseguem dar conta da demanda já existente. Assim, alguns profissionais demonstram resistência a essa nova política, podendo ser tanto por medo de ter mais trabalho como pela nova situação/público que terão que lidar (GOMES et al, 2012 e LEAL, FIGUEIREDO e SILVA, 2012 ). Algumas recomendações foram feitas pelos usuários, para que os problemas nas unidades de atenção básica fossem sanados, como: da oferta de atendimento, uma maior atenção do profissional, maior facilidade na marcação de consultas e melhor remuneração dos profissionais de saúde, para que pudessem oferecer uma melhor assistência. Essas recomendações vão além da questão de gênero, já que também são de valia para o atendimento dos usuários em geral. E alguns sentidos foram atribuídos para caracterizar um atendimento como bom: atenção, atendimento ancorado na comunicação, que faz algo e realizado com prontidão. Esses sentidos se articulam com a Política Nacional de Humanização (PNH) e com a Teoria Centrada na Satisfação do Paciente (GOMES et al, 2011). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através desta revisão notou-se algumas lacunas a serem trabalhadas através de pesquisas que abordem a dimensão de gênero com a problemática da qualidade do acesso e da recepção dos usuários nos serviços. Além disso, os próprios profissionais da saúde devem ser capacitados e questionados acerca de sugestões que possam contribuir para o funcionamento adequado da PNAISH. 5

6 LIMA, V. C. Conforme o explanado a total implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) nos serviços da Atenção Primária ainda é algo distante de ser concretizado, visto que diversos fatores desfavorecem a procura dos homens por estes serviços. Ainda existe uma forte cultura de que os problemas urológicos prevalecem nesse gênero, sendo portanto necessário abordar problemas como o alcoolismo, tabagismo, drogas, doenças cardiovasculares, sedentarismo, obesidade, traumas automobilísticos, estresse e DSTs diretamente a vida do homem moderno. que afetam Os gestores da saúde pública têm um importante papel na implantação da PNAISH, através de ações que capacitem os profissionais da saúde e ainda a divulgação de informações necessárias ao esclarecimento de dúvidas através de cartazes e meios de comunicação, bem como de condições adequadas para se trabalhar com este público. Conclui-se então que através do conhecimento das especificidades masculinas e dos fatores que os impedem de procurar a atenção primária mudanças tanto em nível local quanto nacional poderão acontecer efetivamente. BIBLIOGRAFIA BRITO, R. S. de; SANTOS, D. L. A. dos and MACIEL, P. S. de O. Olhar masculino acerca do atendimento na estratégia saúde da família. Rev. Rene. Fortaleza Out/dez; 11(4): COUTO, M.T. et al. O homem na atenção primária à saúde: discutindo (in)visibilidade a partir da perspectiva de gênero. Interface - Comunic., Saude, Educ Abri/Jun; 14(33): GOMES, R. et al. A atenção básica à saúde do homem sob a ótica do usuário: um estudo qualitativo em três serviços do Rio de Janeiro. Ciência&Saúde Coletiva (11): GOMES, R. et al. O atendimento à saúde de homens: estudo qualitativo em quatro estados Brasileiros. Physis [online] (1): Disponível em: 6

7 GOMES, R. et al. Os homens não vêm! Ausência e/ou invisibilidade masculina na atenção primária. Ciênc. saúde coletiva [online] (1): Disponível em: GOMES, R. et al. Sentidos atribuídos à política voltada para a Saúde do Homem. Ciênc. saúde coletiva[online] (10): Disponível em: &lang=pt&tlng= LEAL, A. F.; FIGUEIREDO, W. dos S. and SILVA, G. N. da. O percurso da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Homens (PNAISH), desde a sua formulação até sua implementação nos serviços públicos locais de atenção à saúde. Ciênc. saúde coletiva [online] (10): Disponível em: MENDES, K. D. S.; SILVEIRA, R. C. de C. P. and GALVAO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto contexto - enferm. [online] (4): SCHRAIBER, L. B. et al. Necessidades de saúde e masculinidades: atenção primária no cuidado aos homens.cad. Saúde Pública [online] Mai; 26 (5): Disponível em: SILVA, P. A. dos S. et al. A saúde do homem na visão dos enfermeiros de uma unidade básica de saúde. Esc. Anna Nery [online]. 2012; 16 (3): Disponível em: STETLER, C.B et al. Evidence based practice and the role of nursing leadership. J Nurs Adm (7/8):

8 APÊNDICE Quadro 1 - Artigos incluídos no estudo com o título, os autores, o tipo de estudo, o nível de evidência e os objetivos. Sobral, Título Autores Tipo de Estudo Evidên-cia Objetivo A atenção básica à saúde GOMES, R. et al Pesquisa Nível 4 Analisar a ótica dos do homem sob a ótica do usuário: um estudo qualitativo em três serviços do Rio de Janeiro usuários sobre o atendimento prestado a homens no âmbito da atenção básica à saúde. A saúde do homem na SILVA, P.A.S et Pesquisa Nível 4 Conhecer e analisar a visão visão dos enfermeiros de al dos enfermeiros em relação uma unidade ao atendimento à saúde do Básica de saúde homem. Necessidades de saúde e SCHRAIBER L.B Estudo de Nível 4 Analisar as relações entre masculinidades: atenção et al. caráter masculinidades e cuidados primária no cuidado aos etnográfico de saúde. homens O atendimento à saúde de GOMES,R. et al Pesquisa Nível 4 Analisar os sentidos homens: atribuídos por usuários estudo qualitativo em homens ao atendimento que quatro estados brasileiros lhes é prestado no âmbito da atenção básica à saúde O homem na atenção COUTO, M.T. et Estudo de Nível 4 Compreender a primária à saúde: al caráter (in)visibilidade dos homens discutindo (in)visibilidade a etnográfico na/e pela APS com base na partir da perspectiva de perspectiva de gênero. gênero Olhar masculino acerca do BRITO,R. S. de; Estudo Nível 4 Identificar a opinião de atendimento na estratégia SANTOS, D. L. qualitativo homens sobre o saúde da família A. dos; atendimento recebido na MACIEL,P. S. O. Estratégia Saúde da Família. 8

9 O percurso da Política LEAL, A. F.; Estudo de caso Nível 4 Compreender como a Nacional de Atenção FIGUEIREDO W. com abordagem PNAISH chega aos serviços Integral à Saúde S.; SILVA, G. S. de saúde, em particular os dos Homens (PNAISH), N.da serviços da Atenção Básica desde a sua formulação até sua implementação nos serviços públicos locais de atenção à saúde Os homens não vêm! GOMES, R. et al Estudo Nível 4 Conhecer a visão de Ausência e/ou qualitativo profissionais de dois invisibilidade masculina serviços no RJ à cerca da na atenção primária invisibilidade masculina nos serviços de atenção básica. Sentidos atribuídos à GOMES, R. et al Pesquisa Nível 4 Analisar os sentidos política voltada para a atribuídos à PNAISH por Saúde do Homem parte dos sujeitos sociais diretamente envolvidos na implementação dessa Política. 9