Nuno Crato desiste do 'cheque ensino' na actual legislatura

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1 Nuno Crato desiste do 'cheque ensino' na actual legislatura Falta de verbas e eleições legislativas empurram concretização da medida, que já está em vigor, para depois de ~ Pl4 Propinas das licenciaturas vão aumentar 3,19 euros no próximo ano lectivo

2 * Cheque ensino' já não avança nesta legislatura Recuo Passos garante que medida não avança este ano. Falta de verbas e eleições legislativas empurram a sua concretização para depois de Ana Petronilho ana.petronilho@economico.pt 'cheque ensino' não deverá avançar, apurou o Diário Económico. A medida - que prevê o financiamento directo às famílias que escolham os colégios privados para colocar os seus filhos - já foi aprovada em Conselho de Ministros e está em vigor desde Novembro. No entanto, ainda não está regulamentada e não deverá vir a ser aplicada no terreno por falta de verbas antes das próximas eleições legislativas. 'cheque ensino' "está parado e estou convencido de que não vai avançar", revelou ao Diário Económico fonte próxima do processo. Passos Coelho já tinha rejeitado, no Parlamento, a intenção de aplicar o 'cheque ensino' este ano. Agora, fonte próxima do processo diz ao Diário Económico que nem em 2015, "em ano de eleições" a medida "vai ser aplicada no terreno". Isto porque, "iria trazer muitas dificuldades aos partidos do Governo" e "no último ano de legislatura não se tomam medidas que causem este tipo de atritos", reforça. Além disso, "não há verbas" para aplicar o 'cheque ensino', adianta a fonte. "Pelo menos temporariamente, a medida implicaria uma duplicação de despesa com o salário de professores e porque não está previsto o encerramento de escolas públicas". A falta de verbas é também uma razão apontada por outra fonte da maioria para justificar o atraso da medida. No entanto, o secretário de Estado da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, assegurou que o 'cheque ensino' não representaria "qualquer impacto financeiro na despesa pública". recuo da medida é um cenário que também o director da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP) admite: "Há um problema de legislatura". Para Rodrigo Queiroz e Melo, "se o Governo quiser avançar com o projecto-piloto terá de o fazer obrigatoriamente em Setembro". representante dos colégios privados refere que este é um assunto "em fase embrionária" que a AEEP não está a discutir com o Ministério da Educação (MEC). Apesar de não se ter comprometido com uma data, a intenção do ministro da Educação seria avançar comum projecto- -piloto no próximo ano lectivo. Porém, o primeiro -ministro já rejeitou por completo no Parlamento a intenção do Governo avançar com a medida em Setembro de Segundo Passos Coelho, o E/2014 "não consagra nenhum cheque ensino" e há apenas uma "ideia há muitos anos discutida em Portugal". Passos Coelho disse ainda que apesar do Governo defender a "liberdade de escolha" das famílias, por razões orçamentais, "as escolhas que podem ser feitas dentro da escola pública são neste momento mais importantes", frisou durante o penúltimo debate quinzenal de Dezembro. Questionado pelo Diário Económico, o MEC não confirma o recuo da medida, dizendo apenas que "têm de ser dados passos calmos, através de projectos piloto, de aprofundar a colaboração com as autarquias e incrementar efectivamente a autonomia das escolas". Mas caso o Governo viesse a aplicar o 'cheque ensino' antes das eleições, o PS já deixou a promessa de revogar a medida, caso venha a formar Governo em " PS é contra o cheque ensino e já pediu a revogação do diploma porque entendemos que não garante a valorização da escola pública", garantiu ao Diário Económico dete João. Para a vice-presidente do grupo parlamentar dos socialistas, a "liberdade de escolha" das famílias deve passar "pela rede e pelos instrumentos de apoio que existem actualmente", como os contratos de associação ou os simples que estão em vigor. Passos Coelho disse lá que, por razões orçamentais, "as escolhas que podem ser feitas dentro da escola pública sio neste momento mais Importantes".

3 UTRS RECUS D MINISTÉRI DA EDUCAÇÃ Aumento do horário de trabalho 0 aumento do horário de trabalho de 35 para 40 horas semanais foi uma das medidas em que Nuno Crato recuou. A medida, aplicada a toda a Função Pública, tinha como objectivo inicial aumentar o horário de professores na componente lectiva (tempo em sala de aulas). Desta forma, os docentes dos quadros passariam a ter mais uma turma, levando a uma redução nos contratados. Segundo os cálculos da Fenprof, seriam reduzidos 15 mil horários. Crato aceitou aplicar o aumento na componente não lectiva (horário fora da sala de aula). Mobilidade especial só em 2015 A aplicação da mobilidade especial foi outra das medidas de excepção para os professores. 0 diploma inicial que previa despedimentos na Função Pública foi 'chumbado' pelo TC. No entanto, a lei já está em vigor e aplica-se a toda a Função Pública. Este foi um dos maiores braços de ferro entre o ministro e os professores, que queriam a excepção na aplicação da medida. ministro cedeu parcialmente e vai aplicar a medida apenas a partir de Decisão que foi insuficiente para impedir as greves às avaliações e exames. Descentralização do concurso Uma das primeiras medidas anunciadas pelo ministro assim que assumiu a pasta, em 2011, passava por "criar um organismo" que iria permitir que fossem "as escolas, a nível local, a colocar os docentes". A cerca de um ano e meio do fim da legislatura, a medida assumida como uma "ambição" para descentralizar a colocação dos professores, ainda não avançou. Também a ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues quis avançar com uma medida semelhante que também não chegou a concretizar.

4 equiparado o Prova para os contratados A prova de acesso à profissão inicialmente pensada para ser aplicada a todos os contratados acabou por ser alterada. Após forte contestação dos, sindicatos, a prova - sem a qual os contratados não podem dar aulas - foi exigida apenas aos docentes que tinham menos de cinco anos de serviço. exame foi realizado por cerca de metade dos inscritos no dia 18 de Dezembro sob fortes protestos e boicotes. Hoje todos os processos associados à prova - correcção ou nova data -,estão suspensos por providências cautelares. e Bruxelas exige correcção salarial A alteração do vínculo e dos salários para os professores contratados é outra das questões que o Governo tem para resolver nos próximos dias. Isto porque a Comissão Europeia exigiu que o nível salarial entre quadros 1 e contratados fosse e que fosse respeitada a lei quanto aos vínculos dos professores a quem é renovado o contrato sucessivamente. Governo tem até dia 20 paratomunicar a Bruxelas as medidas que vai tomar para corrigir a situação sob pena de remeter o caso para o Tribunal de Justiça da UE. Aumento propinas das fica este ano nos 3,19 euros Taxa média de inflação dita um dos menores aumentos anuais registados na última década As propinas das licenciaturas nas universidades públicas vão subir 3,19 euros no próximo ano lectivo. A partir de Setembro, um estudante passará a pagar um máximo anual de 1068,91 euros. Trata-se de um dos menores aumentos registados nos últimos dez anos - desde que a lei que define o financiamento do superior entrou em vigor - e é uma subida quase dez vezes inferior à registada no ano passado, quando a propina cresceu 28,52 euros. Um aumento menor que este para 2014/2015 só mesmo em 2010/2011, quando o valor da propina máxima caiu cerca de dez euros na sequência da taxa de inflação negativa de 0,5% registada em 2009 (ver tabela). Segundo a Lei de Financiamento do Ensino Superior, desde 2003 que o valor da propina máxima das licenciaturas se actualiza de forma indexada à taxa média de inflação do ano anterior. Este aumento de 3,19 euros deve -se à taxa média anual de inflação que se registou em 0,3%, de acordo com os últimos dados do INE. Já a propina mínima (630,5 euros este ano) - cujo valor corresponde a 1,3 salário mínimo nacional - deve manter-se no próximo ano, já que não é previsível que o salário mínimo suba dos 485 euros. Definidos os máximos e mínimos, a lei entrega às instituições a responsabilidade de fixar o valor exacto a cobrar. Até ao ano passado, apenas quatro universidades - Porto, Algarve, Açores e Trás-os- -Montes e Alto Douro - não cobravam a propina máxima, mas nenhuma cobrava a mínima. Segundo os reitores, esta é uma das receitas com maior peso para o orçamento das instituições, representando, em alguns casos, 30% das verbas de funcionamento. Ainda assim, em 2013 as universidades foram sensíveis as dificuldades das famílias e em 15 instituições públicas apenas cinco - Aveiro, Coimbra, Lisboa, Nova e ISCTE - actualizaram a propina para o valor máximo. 38% dos alunos desistem por dificuldades financeiras novo valor máximo da propina torna-se conhecido num momento em que Portugal é identificado como um dos países europeus com a taxa mais alta de abandono no ensino superior por dificuldades económicas. De acordo com um estudo efectuado pela consultora Mckinsey e ontem apresentado pela Comissão Europeia, 38% dos estudantes portugueses desistem dos cursos por razões financeiras. estudo incidiu em jovens, empregadores e 700 instituições educativas de oito países entre os quais se contam as cinco maiores economias da Europa (Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha), dois dos países mais afectados pela crise (Grécia e Portugal) e um da Escandinávia (Suécia). No conjunto, estes países representam perto de 75% do desemprego jovem na UE a 28. Para justificar este resultado em Portugal, o estudo aponta, além do valor das propinas, as despesas com deslocação da área de residência. "45% dos jovens tem de sair da sua cidade para continuar a estudar", lê-se. Em reacção, o presidente do Conselho Coordenador dos Politécnicos (CCISP) defende que o Governo deve facilitar temporariamente o acesso a bolsas de es-

5 tudo para diminuir o número crescente de abandonos no ensino superior. Joaquim Mourato que sublinha que "a larga maioria" dos alunos desiste "por dificuldades financeiras" e que se regista "muito incumprimento no pagamento das propinas". A.P.