Sector da engenharia e arquitectura perdeu 65% desde 2010
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- Edison Mauro Barateiro Caetano
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1 Sector da engenharia e arquitectura perdeu 65% desde :05 Nuno Miguel Silva nuno.silva@economico.pt A Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores (APPC ) é uma associação que congrega o sector do sector da engenharia e da arquitectura. Representa cerca de 140 empresas sedeadas em Portugal, com a maioria de quadros técnicos portugueses. Em entrevista exclusiva ao Económico, Victor Carneiro, presidente da APPC, fala do forte impacto da crise no sector, dos desa os que se colocam no futuro e da necessidade de apostar em novos mercados na frente externa (ver texto relacionado). Quanto vale o sector nacional de empresas de projectos de engenharia e de arquitectura? 1/5
2 Os nossos sócios facturam entre 370 e 400 milhões de euros, o que representa 25% do mercado total e mais de 30% do mercado empresarial. O sector que representamos está ligado aos projectos de obras. São todas empresas que não são construtoras. Estas empresas de engenharia e de arquitectura são, em grande parte, responsáveis pela modernização que se deu em Portugal nas últimas décadas ao nível das infraestruturas e do ambiente urbano, de que são exemplos os sistemas de abastecimento e de tratamento de águas e de esgotos, as redes de transportes, as redes de energia. As nossas associadas foram actores relevantes nesses domínios. Um bom catálogo de reformas do País é ver o País como estava e como estava há umas décadas. Mas, entretanto, chegou uma crise profunda A crise atingiu o sector em cheio em 2010, tendo-se registado de lá para cá uma quebra de 65% na facturação do sector. Isto quer dizer que o nosso mercado interno vale hoje 35% do que valia em No entanto, globalmente, a actividade das empresas da APPC decresceu 37,5%, porque muitas delas conseguiram atenuar os efeitos da crise interna na frente externa. Que outros efeitos teve a crise no sector que a APPC representa? Em média, uma empresa que antes da crise tinha uma facturação de 70% no mercado interno e os restantes 30% no mercado externo, passou a ter 90% nos mercados externos e apenas 10% no mercado interno. Em termos de total nacional, desapareceram cerca de 20% das empresas e cerca de 20% do pessoal, mas também cerca de 20% do retorno das vendas sobre o trabalhador. Além da frente internacional, como pensam superar essa crise? Para superar esta crise, tem de haver investimento. O decréscimo da actividade teve a ver com a paragem, quer do 2/5
3 investimento público, quer do investimento privado. Está con ante na retoma? Em relação à eventual retoma, ainda não podemos formar opinião. No nosso sector, por pequenos que sejam os sinais positivos que existam, continua a ser muito cá em baixo. O plano de infra-estruturas anunciado há uns meses por este Governo pode ser uma ajuda? O programa de investimentos em infra-estruturas já vinha do ano anterior. Com este Governo, rea rmou-se a prioridade nos portos e no caminho-de-ferro. São iniciativas positivas, são bons sinais, mas temo que não serão su cientes. Mas, um sinal positivo que temos vindo a veri car é que o PETI é o que vem do Governo anterior. Consideramos que é necessário desenvolver um plano de infra-estruturas com um horizonte temporal multi-legislatura, para além de 2020, que efectivamente seja um plano de infra-estruturas consensual e que perdure ao longo do tempo. Todos os agentes do sector defendem uma iniciativa do género há muitos anos. Que papel pode ter a vertente da manutenção e requali cação o edi cado nessa retoma do sector? A retoma do investimento no sector também pode ser feita com a aposta na manutenção e reabilitação urbana. A notícia de que este Governo pretende dar mais atenção a este sector pode, nalmente, ser uma excelente notícia. Na questão da reabilitação, quero dizer que é também muito importante a questão das pequenas intervenções, prédio a prédio. Para nós tem pouco impacto, mas para a construção tem e basta ver como a cidade [de Lisboa] está a renascer e com qualidade. Além da retoma, quais os desa os que o sector da APPC tem pela frente em Portugal? Temos de vencer uma batalha neste sector que é a da certi cação. Até ao momento, agravado pela crise, o critério 3/5
4 fundamental para atribuição de contratos tem sido o preço. Com isto, tem havido uma degradação enorme de preços, que não são minimamente sustentáveis na maior parte dos casos. Estamos perante preços anormalmente baixos, que são os que se convencionou serem passíveis de serem aceites pelo mercado. Mas isto está a provocar a incapacidade de sobrevivência de muitas empresas do sector. Comprar barato neste sector tem sido um instrumento de gestão, mas perdese a perspectiva de que é importante cumprir o melhor possível, apresentar o melhor produto. As áreas de estudos e projectos, de supervisão e controlo das obras, de scalização, em vez de serem uma despesa, são um investimento no sentido de assegurar a melhor qualidade e o melhor custo de obra ao longo de todo o ciclo da obra. Se o investimento que a empresa zer no estudo for diferente, isso tem consequências no custo da obra. Como se pode resolver esta questão? Uma das questões que consideramos essenciais é a transposição para direito português da directiva europeia sobre contratação pública. É preciso avaliar bem esta questão. Devemos sair desta abordagem. Devemos entrar numa fase de querer ser exigentes, de querer qualidade, de ser ambiciosos, de ter a ambição de aplicar bem o dinheiro público e avançar para obras economicamente ajustadas. A directiva sobre contratação pública está em fase de transposição. Deverá estar a sair nas próximas semanas. O prazo de nido inicialmente pela EU era 18 de Abril, mas apenas seis países o cumpriram. E que pode trazer de bom essa directiva para solucionar o problema de que me falou? A directiva comunitária estipula que este tipo de serviços deveria ser contratado com base na capacidade e na qualidade das propostas apresentadas e não no facto de ser a proposta mais barata. Por outro lado, o Código de Contratação Pública deve ser mais exível consoante o tipo de produto ou de serviço em causa. Se se pode exigir que a aquisição de uma 4/5
5 resma de papel seja feita de forma exactamente igual à que foi contratada, no caso dos serviços de engenharia e de arquitectura, temos uma questão importante que é partirmos de uma base conceptual diferente. Num caderno de encargos, por exemplo, para um hospital, tento antecipar que vou ter uma melhor ou pior prestação de serviços, tenho de organizar-me perante as várias disciplinas, organizar a equipa com as diferentes especi cidades para ter um serviço e ciente. O preço não é importante, tendo em conta os desvios que houve durante muitos anos nas obras públicas em Portugal? Claro que o comportamento dos agentes é relevante. O preço é um número que é indiscutível, 5 é mais que 4. Mas a questão, é no código actual (CCP), dá-se preferência à proposta económica mais vantajosa. E essa questão tem levado a uma desquali cação, ao abastardamento de toda a actividade com tratamento diferenciado para contratos de serviços que não sejam padronizáveis. Mais uma vez, sublinho que este tipo de preocupações deve ser considerado um investimento na qualidade global do projecto, e não como uma mera despesa. VER MAIS ARTIGOS DE NUNO MIGUEL SILVA "Chineses estão a convidar portugueses para projectos em África e na América Latina" 5/5
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