Sociólogo da Educação num município
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- Guilherme Gomes de Almeida
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1 Arena Profissional Sociólogo da Educação num município Célia Rodrigues Câmara Municipal de Leiria Todos os sociólogos sonharam num dia ou noutro que os seus trabalhos poderiam ter um efeito social. Todo o sociólogo teve o desejo de ver as suas pesquisas modificarem a sociedade. Por detrás de qualquer sociólogo dormita a ideia de mudança. (Hess, 1983: 11). Quando um sociólogo acaba a licenciatura e ingressa no mercado de trabalho, nomeadamente numa instituição pública e de cariz político, por um lado anseia por colocar em prática todo o referencial teórico da sua formação e ao mesmo tempo é confrontado com uma gestão quotidiana completamente desfasada daquilo que supunha saber fazer. É nesta altura que questiona se é sociólogo ou se outra coisa qualquer? Se sociólogo é apenas aquele que continua ligado à academia, a refletir, a teorizar e produzir informação científica sobre a realidade social? No meu caso, estas dúvidas foram frequentes, chegando a partilha-las com os meus colegas investigadores. Passados cerca de 18 anos (curiosamente idade em que supostamente se atinge a maioridade) posso afirmar que o percurso de um sociólogo, que não faz a sua carreira como investigador, é um processo de construção que se faz caminhando. Em 1998 tinha apenas uma licenciada em Sociologia, hoje posso dizer que a minha área de eleição é a Sociologia da Educação e é neste domínio que tenho desenvolvido o meu percurso profissional. Inicialmente, integrando a equipa de animação pedagógica do município onde trabalho desde 1999, criando, desenvolvendo e dinamizando 1
2 projetos no âmbito da educação não formal, educação pela arte, educação para a saúde, educação ambiental, entre outros. Posteriormente e fruto do meu interesse pelo planeamento e pelo desenvolvimento local, para o qual defendo que a educação é fundamental, concluí um mestrado cuja tese se intitulava: Políticas Educativas Locais uma realidade ou um desafio? 1 Entre vários projetos de educação não formal para as escolas e comunidade em geral, foram-me solicitados projetos no âmbito do planeamento educativo ao nível local, concelhio. Comecei a integrar equipas multidisciplinares e durante vários anos qualquer intervenção educativa envolvia um diagnóstico sociodemográfico e educativo do território a intervir, nomeadamente quando estavam em causa investimentos relacionados com ampliações de escolas ou construção de novos espaços educativos ou até 1 Sob orientação da Professora Isabel Guerra e coorientação da Professora Isabel Duarte (ISCTE), estávamos no início dos anos 2000 (2002/2004). encerramento e reorganização de escolas. Fui percebendo que é possível a articulação entre a teoria e a ação, entre a pesquisa e a intervenção. O problema reside no facto de trabalhar numa instituição política, onde a equipa governativa resulta do sufrágio autárquico, que poderá alterar de 4 em 4 anos, implicando um conjunto de mudanças. Por isso, ser sociólogo da educação numa organização política é um risco para o desenvolvimento de projetos continuados. Por outro lado, é um desafio, temos de estar em alerta para definir novas estratégias de ação. Intervir ao nível local pressupõe a realização de diagnósticos da realidade, sendo necessário identificar as potencialidades e constrangimentos. Promover a participação dos atores locais, dinamizando debates e espaços de reflexão que conduzam à identificação dos problemas, dos conflitos e interesses presentes no território. Não descurando o jogo 2
3 estratégico de atores, as diferentes expetativas, a negociação das decisões e a avaliação. Foi partindo desta ideia que participei na construção do Projeto Educativo Municipal (PEM), presentemente o pilar da ação do município no desenvolvimento da política educativa do concelho. Imagem 1 Projeto Educativo Municipal de Leiria A construção do PEM procura aproximar o lugar de decisão dos seus utentes e inserir a escola no contexto local, comprometendo os parceiros sociais no desenvolvimento educativo, em que o município foi e é o ator-chave na articulação com os restantes agentes educativos. Em que pensar educação é definir claramente a relação existente entre espaços e funções educativas e sociais, articulando recursos, criando parcerias e definindo áreas de concentração educativa, em que a ação do município é fundamental, devendo basear-se numa estratégia planeada e estruturada, procurando a obtenção de resultados mais assertivos face às necessidades e potencialidades locais. Neste contexto surgiram vários projetos dos quais integro a equipa e que vou dar como exemplo o Like Saúde. Este projeto visa a promoção de comportamentos saudáveis e o combate às dependências com e sem adição envolvendo várias entidades (Centro de Respostas Integradas, Administração de Saúde, PSP, GNR, Instituto Politécnico, associações locais, escolas) que trabalhavam estas problemáticas de forma isolada, procurando intervir junto dos alunos, docentes, não docentes e famílias. 3
4 ou seja, a análise de necessidades, que neste caso, se traduz num processo de pesquisa-ação participado. As metodologias que suportam este trabalho, são essencialmente de Imagem 2 Projeto Like Saúde O PEM tem contribuído para a criação de redes locais de recursos e parcerias entre instituições públicas e privadas, cujo destinatário é a comunidade em geral e não apenas a educativa, em que a escola é entendida como uma entidade centralizadora de ação educativa aberta à comunidade, tendo em conta as singularidades e potencialidades de cada território. Neste domínio, a autarquia assume um papel cada vez mais importante nas dinâmicas sociais, promovendo a realização de trabalho em rede com os territórios vizinhos e com os agentes locais, na definição de políticas que promovam o desenvolvimento local. O sociólogo ajuda a identificar problemas, a realizar o diagnóstico, investigação-ação, na medida em que possibilitam simultaneamente a produção de conhecimento sobre a realidade em estudo, determinam singularidades de cada caso, produzem mudanças sociais e formam os intervenientes para a aquisição de novas competências face à realidade. A título de exemplo colaboro na organização e dinamização de fóruns de reflexão sobre o ensino profissional, a educação especial, a orientação profissional, a associações de pais, a escola a tempo inteiro, as famílias, o encontro anual de partilha de boas práticas das escolas do concelho, entre outros. 4
5 não integre o conselho, desenvolvo todo o trabalho de apoio às sessões, reunindo e investigando sobre as matérias em discussão, ou seja, num conselho em, por exemplo, é abordado o Insucesso Escolar, reúno Imagem 3 III Fórum Orientação Vocacional e Profissional (23/11/2016) O papel dos SPO na Promoção do Sucesso Escolar Rede local de técnicos de Serviços de Psicologia e Orientação das escolas Esta orientação metodológica está presente tanto no PEM como na construção da nova Carta Educativa do concelho, na qual integro e coordeno a equipa. Resumidamente, as minhas funções enquanto socióloga, na generalidade, consistem em realizar diagnósticos, manter a informação e os dados atualizados de forma a contribuir para a tomada de decisão mais próxima da realidade, desenvolver projetos de intervenção junto da comunidade educativa. No âmbito do Conselho Municipal, no meu entender órgão estratégico na construção e desenvolvimento das políticas educativas locais, embora um conjunto de dados e informação que contribuam para sustentar a discussão e o retrato concelhio nesta matéria. É claro que paralelamente a estas atividades desenvolvo tarefas de gestão quotidiana, administrativas. Neste momento poderei afirmar que a mais-valia da integração de um sociólogo numa equipa que trabalha a educação a nível local é o facto de a nossa formação contribuir para constantemente questionarmos e refletirmos sobre o que nos rodeia. Por outro lado, uma outra característica do sociólogo é a facilidade em trabalhar numa equipa multidisciplinar, integrando arquitetos, engenheiros, docentes, outros técnicos de áreas diversificadas. Este facto é de extrema importância considerando a diversidade de problemáticas com 5
6 que trabalhamos quotidianamente e à necessidade de diferentes perspetivas de atuação. Estamos preparados para a negociação e mediação de interesses, no sentido de apelar aos parceiros para a importância de uma intervenção articulada e integrada quando está em causa a multiplicidade de dinâmicas inerentes à educação e à política educativa local. Termino referindo com o que Wright Mills denominou de imaginação sociológica e que implica abstrairmo-nos das rotinas da vida quotidiana de maneira a poder olhá-la de forma diferente. Referências bibliográficas Rémy Hess (1983). Sociologia de Intervenção. Porto: Ed. Rés. 6
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