O caminho do pote de ouro

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1 _EMPREENDEDOR Dos financiamentos bancários aos editais de fomento, passando por venture capital, descubra qual a melhor forma de conseguir dinheiro para o INVESTIMENTO que seu negócio precisa. Fernando Kreutz escreve sobre a força que motiva a criação de empresas. OPINIÃO de empreendedor. Se o problema é equilibrar a GESTÃO do negócio e da vida, o mentoring pode ajudar a definir e atingir metas. Nem pense em colocar um produto no MERCADO sem avaliar sua conformidade. O conselho de quem já conquistou o SUCESSO é claro: persista. Conheça a história de Bematech, Fotosensores e Chamma da Amazônia, ex-incubadas que deram muito certo. 35

2 Shutterstock INVESTIMENTO P O R C A R O L I N E M A Z ZO N E T TO O caminho do pote de ouro Conseguir recursos para bancar uma empresa nascente nem sempre é tarefa fácil, mas há opções no mercado para todos os gostos e possibilidades 36 Não basta apenas ter uma ideia e um em troca de participação acionária. Mas plano para colocá-la em prática: é preciso não adianta somente conhecer as fontes ter dinheiro para fazer acontecer. Essa é de recurso. O caminho exige estar prepa- uma realidade com a qual qualquer empre- rado para encontrá-las e saber qual forma endedor se depara logo que resolve abrir de captação se encaixa melhor no perfil do um negócio. Muitos não sabem como agir negócio. para vencer a falta de dinheiro. Entre as Um levantamento divulgado em se- opções disponíveis no mercado estão os tembro deste ano pela Serasa Experian financiamentos, por meio de empréstimos revelou que as pequenas e microempre- bancários, os recursos públicos concedidos sas foram as que mais buscaram crédito por órgãos de fomento e a capitalização no último mês de agosto, com crescimen-

3 to de 6,6% em relação a julho. Elas também lideraram a busca por empréstimos na comparação com agosto de 2010 o aumento foi de 7,8%. Entre outros fatores, essa evolução é resultado de uma evolução na postura dos bancos, que vêm criando diretorias e unidades de negócio específicas para micro e pequenas empresas, ou pequenas e médias. Os grandes bancos estão tentando ser mais competitivos nesses mercados. Há cinco anos isso não era tão comum, afirma o professor de Empreendedorismo da Fundação Carlos Alberto Vanzolini e pesquisador do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da Universidade de São Paulo (PGT/USP), Marcelo Nakagawa. Empréstimos desse tipo, porém, exigem uma série de cuidados. O empreendedor acha que o banco vai dar dinheiro fácil, mas a instituição financeira está interessada em ter garantias nesse processo, ressalva Nakagawa. Além de derrapar na hora de listar garantias, muitos apresentam balanços inadequados e um plano de negócios romântico, otimista e que não mostra as contingências do empreendimento. Amparo às novatas Outra fonte à disposição dos empreendedores são as linhas de fomento. Cada vez mais, fundações estaduais de amparo à pesquisa oferecem recursos a fundo perdido para empresas nascentes locais. Entre os destaques estão Fapemig (MG), Faperj (RJ), Fapesb (BA), Fapergs (RS) e Fundação Araucária (PR) além da pioneira Fapesp (SP). Também pretende fazer parte desse grupo a Fapeal (AL), que atualmente analisa as propostas recebidas do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe), da Finep. O edital oferecia R$ 2 milhões e recebeu 24 submissões 19 empresas já foram pré-selecionadas pelos consultores. Vamos implantar um programa de inovação que vislumbre a execução de bolsas já existentes em âmbito nacional e fontes de recursos propícias às empresas que estão nascendo, explica a presidente da Fapeal, Janesmar Cavalcanti. Participar de editais públicos de financiamento a atividades de P&D foi o que fez o empreendedor Israel Rojas Cabrera para bancar a montagem do laboratório, a compra de material de consumo e os testes de análises da Bioactive, da qual é sócio-fundador. A empresa, incubada desde 2007 no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), de São Paulo (SP), produz polímeros matrizes para a regeneração de tecidos humanos e teve cinco projetos aprovados em editais entre Fapesp, Finep e CNPq. O último deles, ainda em andamento, é o de Subvenção Econômica da Finep. Apesar dos cinco projetos de fomento, grande parte do investimento feito para alavancar a Bioactive nos dois primeiros anos veio de recursos próprios de Cabrera e de empréstimos de amigos. O auxílio à pesquisa apareceu depois. Muitos pensam que entrar na incubadora e aprovar projetos em editais é fácil. Não é fácil, e é aí que as empresas morrem, afirma. Do grupo de 11 empresas que entraram com a Bioactive no Cietec, somente duas permaneceram. Tínhamos um pensamento Professor Nakagawa: concessão de recursos depende de garantias por parte do empreendedor Laboratório da Bioactive, em São Paulo: cinco projetos de fomento alavancaram a empresa Fotos: Divulgação 37

4 Cabrera, da Bioactive: no início, é interessante que o empreendedor tenha uma fonte paralela de recursos Após a conquista de clientes, a Daitan captou investimentos do fundo GDF e da Rio Bravo Shutterstock diferente: vamos caminhar com passos pequenos, com os próprios recursos. Se o projeto for aprovado, ótimo, vamos dar um passo maior, lembra o empreendedor. Para ter cinco projetos aprovados, Cabrera inscreveu dez. Segundo ele, o mais importante para vencer o edital é a parte escrita: tudo tem que ser mostrado claramente e o texto deve se adequar ao público para o qual se dirige, já que cada instituição exige uma linguagem e modo de apresentação diferente. A Fapesp é extremamente acadêmica, a Finep visa o produto final, o CNPq é meio a meio. É preciso passar por uma curva de aprendizado, explica ele. Nessas horas, o conselho é ter persistência e não desistir ao receber o primeiro não, além de entender as especificidades de cada edital. As dificuldades de Cabrera foram ainda maiores porque ele é peruano e dentista: um estrangeiro, profissional liberal e sem fiador enfrenta sérias dificuldades para conseguir empréstimos em bancos. Por isso, ele recomenda que o empreendedor continue com uma fonte de recursos paralela para bancar o negócio até que o novo empreendimento comece a caminhar sozinho. O empresário sonhador, que fica nas nuvens, morre. Mas o sonhador que é pé no chão, pensa grande mas sabe onde está pisando, vai em frente, garante. Janesmar Cavalcanti, da Fapeal, concorda que a concepção e submissão de projetos não é fácil. Os empreendedores entendem do metiê deles, mas na hora de colocar no papel a demanda de inovação tecnológica começam as dificuldades, afirma. A dica é que as empresas tenham alguém da equipe que saiba desde escrever os projetos até pesquisar informações sobre editais, conhecendo o sistema e preparando o negócio para a busca por financiamento. Há, ainda, falhas de comunicação por parte das agências de fomento, que usam linguagem rebuscada no processo de informar a linha de pesquisa visada, tornando difícil, por vezes, entender os critérios de seleção. Por outro lado, os bancos erram em não preparar adequadamente suas equipes para atender os empreendedores. Eles têm uma meta de volume, então preferem atender duas grandes empresas a dez pequenas, lamenta o professor Nakagawa. Terceira via Uma boa notícia para os empreendedores é que o número de investidores interessados em aplicar seu dinheiro em empresas brasileiras está crescendo exponencialmente em quantidade de interessados e em volume de movimentações financeiras. Há oferta de capital de risco em todos os níveis: nas nascentes, em maturação ou maduras. É uma quantidade absurda, salienta Nakagawa. O contato com os gestores desses fundos é relativamente simples em alguns casos pode ser feito pela internet. O professor da USP aconselha, no entanto, buscar uma indicação, pois boa parte dos negócios de venture capital (leia mais na página 39) é realizada por recomendação. Vale até fazer uma busca no LinkedIn para 38

5 descobrir os laços em comum entre o empreendedor e o investidor. Além disso, os fóruns de capital de risco como os promovidos pela Finep são uma chance de reunir investidores e empreendedores em busca de investimento. Foi em um desses fóruns, em 2005, que o sócio da Daitan Group, Augusto Cavalcanti, entrou em contato com seu primeiro investidor, o fundo DGF Investimentos, e com o segundo, a Rio Bravo. Ele havia criado em 1987, junto a outros três engenheiros, a Zetax Tecnologia, uma pequena empresa de telecomunicações que 13 anos após a criação já detinha 32% do mercado e foi comprada pela norte-americana Lucent. Foi com essa bagagem no currículo que em 2004 ele resolveu fundar a Daitan Group, em Campinas (SP), que oferece competência brasileira no desenvolvimento de novos produtos, principalmente para os Estados Unidos. O plano da Daitan era investir o próprio dinheiro e conquistar clientes para depois, com os processos encaminhados, captar investidores em duas etapas. Foram meses de negociação para fechar o negócio com a DGF, em abril de 2006, e outros tantos meses para o acordo com a Rio Bravo, firmado em dezembro de O empreendedor não pode ter a ilusão de que vai conseguir que o investidor embarque no negócio em pouco tempo, ressalta Cavalcanti. Com as etapas de negociação e mais o tempo da papelada, o cálculo é que as conversas levem entre 9 a 12 meses, pelo menos. O relacionamento entre as duas partes é outro fator essencial, pois tudo deve ser uma parceria. É preciso considerar o investidor como um sócio muito importante. Quando tiver problemas, é bom ter o investidor pela solidez. É outra cabeça pensando fora da operação do dia-a-dia, explica Cavalcanti. Dinheiro para colocar a ideia no mercado não falta, mas é preciso saber como chegar até ele. L _EVOLUÇÃO CONTINUADA O percurso do dinheiro até o empreendedor ainda tem muito a avançar. O professor de Empreendedorismo e pesquisador da USP Marcelo Nakagawa compara a situação com uma diabete de capital. Na diabete há açúcar no sangue, mas ele não chega à célula porque o corpo não consegue absorver, não tem processo de transmissão. Com o capital é a mesma coisa: existe dinheiro, mas ele não chega à pequena empresa. Apesar das dificuldades há consenso de que bancos, agências de fomento e fundos de investimento estão cada vez mais acessíveis para os empreendedores. Vários motivos levaram a esse cenário: Política pública: O simples fato de o Governo Federal pensar na criação de um Ministério da Micro e Pequena Empresa já sinaliza que esse tipo de negócio tende a receber um cuidado maior do poder público. Simples: A expansão da abrangência do Simples permite que o negócio cresça sem deixar de fazer parte da categoria. Muitas empresas estavam segurando o faturamento para não mudar de patamar. Agora fica mais fácil mostrar o faturamento e crescer rapidamente, explica Nakagawa. Formação empreendedora: Houve um avanço nos cursos de empreendedorismo em todas as principais instituições de ensino, o que também tem incentivado a criação de empresas. A atuação de agentes de apoio junto às bases e na captação de novas ideias também encoraja esse movimento. Foco no Brasil: Os investidores passaram a enxergar o país com outros olhos. Muitos dos grandes fundos vinham aplicando seu dinheiro na China, na Índia, alguns na Rússia, sem prestar muita atenção no Brasil. Com o mau momento da economia internacional e a boa resistência do país à crise, os investidores começam a se voltar para cá. Setores aquecidos: O que atrai os fundos de investimento são negócios em software, internet, telecom, TI, mídia e entretenimento digitais, games e comércio eletrônico; na área de ciências da vida, o foco são medicamentos, cosméticos e produtos de cuidados pessoais; outro setor aquecido é o de infraestrutura de petróleo e gás. Há ainda investidores que procuram negócios em nichos específicos, como é o caso de produtos e serviços voltados à terceira idade. 39