qualidade à rede de transportes Há o risco de "matar o doente com diz que nada está decidido Estado Ana Paula Vitorino. Governo

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1 Mobilidade As mudanças previstas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto Cortes vão tirar utentes e qualidade à rede de transportes Há o risco de "matar o doente com a cura", afirma a antiga secretária de Estado Ana Paula Vitorino. Governo diz que nada está decidido Inês Boaventura Os cortes que estão a ser equacionados na rede de transportes públicos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) assentam numa lógica "estritamente financeira" e vão levar a uma degradação da qualidade e a uma perda do número de utilizadores. É o que defendem autarcas e especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, como a exsecretária de Estado dos Transportes, a socialista Ana Paula Vitorino, que afirma que se corre o risco de "matar o doente com a cura". As propostas do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para reformular a rede de transportes da AML, e simplificar o seu tarifário, foram apresentadas na semana passada às câmaras municipais. Desde então, têm estado debaixo de fogo. A contestação já levou o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, a clarificar que ainda não há decisões. No entanto, estão a ser equacionadas medidas como a supressão de 23 carreiras da Carris, a redução do horário de funcionamento do Metropolitano de Lisboa, a diminuição da oferta da CP e o fim das ligações marítimas de Lisboa para Trafaria/Porto Brandão e para o Seixal. O grupo de trabalho que propôs as alterações não apresentou às autarquias qualquer estimativa de redução de custos, nem de quantas pessoas serão afectadas pelo corte de serviços. No caso da Transtejo sabe-se que viajam diariamente 2244 passageiros entre Belém e a Trafaria e 4993 passageiros entre Lisboa e o Seixal. Já a Carris e o Metropolitano de Lisboa recusaram facultar ao PÚBLICO números sobre a utilização dos seus serviços que estão na iminência de ser cortados. Na Área Metropolitana do Porto os trabalhos estão mais atrasados, mas sabe-se que está em cima da mesa a possibilidade de o metro passar a fechar às 23h, e não à lh3o, bem como de uma diminuição da frequência nalgumas linhas e períodos do dia. Note-se que qualquer redução da oferta terá de ser negociada com o consórcio que explora o metro, o Viaporto, dado que implicará uma alteração da renda paga pela Metro do Porto. Também na Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) poderá haver uma redução das carreiras de autocarros e, no limite, um encolher do mapa de intervenção da empresa. "É um mero exercício de contabilidade", diz Ana Paula Vitorino, que critica o grupo de trabalho por ter encarado o problema "com uma abordagem estritamente financeira". A exsecretária de Estado dos Transportes (entre 2005 e 2009) considera que o corte de transportes agora previsto é a segunda fase de uma ofensiva lançada pelo actual Governo. A primeira, diz a deputada socialista, foi "um aumento muito acima do expectável" do preço dos transportes. Menos utentes Ana Paula Vitorino lembra que o preço e a qualidade da oferta são os elementos normalmente utilizados para captar mais clientes para um determinado serviço e sublinha que neste caso ambos estão a ser usados "ao contrário", o que só poderá levar a uma perda de utilizadores. "É exactamente tudo aquilo que não se deve fazer", corrobora Fernando Nunes da Silva, especialista em transportes. O também vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa considera "grave" a visão, que emana das propostas já tornadas públicas, "de que os problemas dos défices das empresas de transportes se resolvem cortando nos serviços". Nunes da Silva defende, tal como Ana Paula Vitorino, que uma reforma deveria ter começado por estabelecer novas fontes de financiamento para o sistema de transportes, que não as receitas dos operadores e as verbas do Orçamento do Estado. A antecipação da hora de fecho do Metropolitano de Lisboa, para as 21h30 entre o Campo Grande e Odivelas (linha amarela) e entre a Pontinha e a Amadora Este (linha azul) e para as 23h no resto da rede, é uma das propostas que têm merecido mais críticas. "Isto vai excluir pessoas que são cativas do sistema de transportes públicos, pessoas que trabalham por turnos, à noite, universitários", diz Ana Paula Vitorino. A ex-secretária de Estado (que quando esteve no Governo chumbou uma proposta para fechar o metro à meia-noite) lembra que quem utiliza o metro à noite para

2 lazer deve pesar na equação, "até por questões de segurança rodoviária". "Fechar mais cedo é um erro, é grave", diz Paulo Alves, da comissão de trabalhadores do Metropolitano de Lisboa. O representante dos trabalhadores afirma que "a taxa de ocupação do metro é bastante significativa depois das 23h, nas estações perto de faculdades, de centros comerciais... E há muita gente a trabalhar por turnos, não é só lazer". Periferias afectadas Quem nem sequer quer ouvir falar na hipótese de o metro fechar mais cedo são os autarcas da Amadora e de Odivelas, concelhos onde este meio de transporte chegou em 2004 e provocou grandes mudanças nos padrões de mobilidade. "Esperamos que nenhuma destas medidas vejam a luz do dia", diz a presidente da Câmara de Odivelas, que sublinha o papel que o metro teve para "diminuir o estigma de cidade-dormitório, da periferia". Susana Amador diz que "é um retrocesso inimaginável" que as estações do Senhor Roubado e de Odivelas fechem às 21h30. Até porque, explica, "paulatinamente a Carris e a Rodoviária de Lisboa foram suprimindo carreiras e agora não temos alternativa". "Isto não tem sentido nenhum e assim não se poupa dinheiro porque as pessoas vão ter de se deslocar de carro", diz o vereador dos Transportes da Câmara da Amadora. Gabriel Oliveira sublinha ainda que a redução do horário do metro terá impactos que não estão a ser contabilizados, nomeadamente nas carreiras suburbanas de autocarros que partem de Alfornelos e da Amadora Este para outros locais do concelho. Também Nunes da Silva alerta para o facto de estes "cortes cegos" irem levar à "destruição de todo o sistema de transportes" e afirma que com isto o Governo tem um objectivo claro: "Desmantelar as empresas para quando forem privatizadas estarem aliviadas dos serviços que dão prejuízo", com Abel Coentrão A reforma ter começado deveria por estabelecer novas fontes de financiamento para os transportes, defendem Nunes da Silva e Ana Paula Vitorino

3 O calendário Mudanças podem avançar em Dezembro Os grupos de trabalho criados para estudar a reformulação da rede de transportes na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e na do Porto têm de entregar as suas conclusões ao secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro (na foto), até 30 de Novembro. Em Lisboa as propostas preliminares já foram apresentadas às câmaras municipais (que deram conta da sua "rejeição absoluta" às medidas enunciadas), mas no Porto isso só deverá acontecer esta semana. 0 Governo não avançou qualquer prazo concreto para a entrada em vigor dos cortes que venham a ser decididos, mas segundo o PÚBLICO apurou junto de algumas das empresas de transporte público, algumas das alterações poderão entrar em vigor já em Dezembro ou o mais tardar em Janeiro de No caso da Carris, por exemplo, disse-se na apresentação feita aos vereadores da mobilidade e dos transportes da AML que algumas carreiras seriam suprimidas no primeiro trimestre de 2012 e outras quando a linha vermelha do metro chegasse ao Aeroporto, o que deverá acontecer em Julho de 2012 LB.com A.C. A que horas parte o último metro em quatro cidades europeias? Londres lh3o Em Londres a hora de fecho do metro e de passagem do último comboio varia consoante a linha e a estação Madrid 2hoo Esta é a hora de fecho do metro de Madrid D ans Ihls Também aqui cada linha tem um horário de funcionamento diferente Roma 00h30 Este é o horário de sábado, mas nos outros dias o fecho ocorre uma hora antes

4 Fusões vão criar mega empresas de transportes com prejuízos globais de 600 milhões de euros Transportadoras vão ser fundidas no próximo ano, quando estiver concluída a reestruturação das diferentes operações

5 Crise agravou situação insustentável Prejuízos crónicos penalizaram empresas Por detrás das mudanças anunciadas nas transportadoras públicas estão anos de instabilidade financeira, que culminaram no plano de emergência que agora começa a ganhar forma. Incapazes de gerar as receitas desejadas e pressionadas pelos prejuízos crónicos, estas empresas começaram a fazer disparar os níveis de endividamento, o que já levou o Governo a admitir a necessidade de rever o programa de ajustamento económico acordado com a troika. Analisando apenas o universo das seis empresas que, de acordo com o Plano Estratégico dos Transportes definido pelo executivo, vão ser alvo de fusão no próximo ano (Carris, Metro de Lisboa, STCP, Metro do Porto, Transtejo e Soflusa), os prejuízos globais chegaram praticamente a 600 milhões de euros em A insustentável situação financeira das transportadoras públicas agravou-se com a crise, não só pela redução da procura (e consequente perda de receitas), mas também pelo aumento dos custos de financiamento. Para estancar a escalada do endividamento, o anterior Governo avançou com uma medida que limitava a 7% o crescimento da dívida financeira do sector empresarial do Estado em O tecto baixaria para 6% este ano, chegando a 4% em Apesar de a ordem ter sido respeitada pela maioria das empresas, o nível de estrangulamento continua a ser preocupante. O casos mais grave é o da Refer, que acumulou uma dívida remunerada superior a seis mil milhões de euros em Seguem-se a Metro de Lisboa e a CP, com passivos financeiros de 3,8 e 3,3 mil milhões. Com a banca fechada à concessão de crédito, o preço a pagar pelos empréstimos disparou e muitas destas empresas tiveram de recorrer ao accionista Estado para continuarem a financiar a operação e salvaguardarem a tesouraria. Um cenário que fez disparar os créditos concedidos pelo Tesouro. Só nos primeiros nove meses deste ano, estes apoios alcançaram praticamente 1,7 mil milhões de euros, o que significou uma subida de 2121% face a todo o ano de Mas este não é o único factor penalizador das contas públicas. Este ano, fruto de uma revisão nos métodos de contabilização, três destas empresas (Metro de Lisboa, Metro do Porto e Refer) passaram a estar no perímetro de consolidação do défice, porque as suas receitas próprias não cobriam 50% dos custos. Passaram a fazer parte de um grupo designado por "empresas reclassificadas", que incluía a RTP e a Estradas de Portugal, por exemplo. Para o próximo ano, o Governo estima que este conjunto de entidades seja responsável por um agravamento do défice público na ordem dos 1,2 mil milhões de euros. E é também por isso que Pedro Passos Coelho veio admitir recentemente a necessidade de rever o programa de ajustamento acordado com a troika. Por agora, estão a ser dados passos no sentido de atenuar os impactos negativos das contas das transportadoras públicas. As redes estão a ser reestruturadas para preparar um movimento de fusão que acontecerá no próximo ano. A ideia é cortar nas redundâncias da operação, o que, como o próprio Governo já admitiu, vai levar a despedimentos. E o próximo passo será a abertura de concessões que hoje são do Estado a investidores privados. O Governo avançou recentemente ao PÚBLICO que quer entrar em 2013 já com este processo concluído. Raquel Almeida Correia

6 "Como dizia o Cavaco, deixem-nos trabalhar" Reportagem Da Amadora à Trafaria, os passageiros dos transportes públicos da Grande Lisboa reagem com estupefacção às mudanças anunciadas O PÚBLICO viajou em algumas das linhas de metropolitano, carreiras de autocarro e na ligação fluvial em risco de ser suprimidas. Há quem diga que vai pedir um submarino a Paulo Portas para atravessar o rio Tejo. Do Corte Inglês à Amadora Vem carregada com compras, e, apesar do adiantado da hora, a maquilhagem dos olhos claros continua impecável. "Acho que era a única coisa que realmente me faria perder a cabeça", diz Cândida Pereira. A balconista do Corte Inglês tem discutido com os amigos no Facebook a possibilidade de a estação de metro da Amadora, que usa todos os dias para chegar do emprego a casa, passar a fechar às 21h30. "Se isso acontecer, é a guerra. Estou disposta a tudo. Aceito ficar sem parte do subsídio de Natal, de férias... Mas, como dizia o Cavaco nos anos 80, deixemme trabalhar!" Quando esta divorciada de 39 anos atravessa as portas do metro da Amadora, já passa das 23h30. Tem ainda pela frente mais uma viagem, desta vez de autocarro até Queluz, onde mora. O comboio não é opção: "Já lá fui assaltada uma vez." Não é a única a invocar a falta de segurança da linha de Sintra: o argumento é usado também por outros passageiros tardios do metropolitano, homens e mulheres. "Saio normalmente às 22h do Corte Inglês, mas às sextas e sábados é hora e meia mais tarde", descreve. "Se antecipassem o fecho do metro, era a loucura total." Uma composição segue entretanto viagem no sentido descendente, em direcção à Baixa. As três carruagens são poucas para tanta gente, ou não fosse sexta-feira noite de Bairro Alto e de outras deambulações nocturnas. "Como é que aquela gente que trabalha no Colombo chegará a casa?", pergunta Daniel Marino, empregado do Pingo Doce, apanhado de surpresa pela notícia. "E eu, que saio todos os dias depois das 21h? Posso ir até às Portas de Benfica, mas a essa hora também já não há autocarro a partir dali..." As outras pessoas que passam pela estação da Amadora não acreditam que a ideia possa ir por diante. "Prefiro nem pensar nessa hipótese", diz um empregado da Zon de 28 anos, cujo turno termina todos os dias às 22h. "Hoje, como é sexta-feira, tive de ficar mais meia hora a trabalhar", explica. A balconista do Corte Inglês parte apressada, para não perder o autocarro de ligação até casa. Não alivia sequer os braços dos sacos de compras enquanto conversa. Sabe de cor, e ao cêntimo, o preço do passe social que compra todos os meses: 63,25 euros. "Estou disposta a tudo", repete. Ana Henriques. Tirar o passe e ir a pé? Laurinda Monteiro, de 62 anos, apanha todos os dias o autocarro 54 e nem quer acreditar no que ouve. "Sem ele não posso ir trabalhar, vou ficar paralisada." Não sabia que esta é uma das carreiras que podem ser encurtadas, se a proposta de reformulação da rede de transportes de Lisboa avançar. O autocarro da Carris vai do Campo Pequeno até Alfragide, mas passará a terminar na Buraca. "Ficamos sem transporte, não sei como vai ser. Há alternativa, da Vimeca [uma empresa de autocarros], mas o passe é mais caro", diz. É sábado à tarde, o 54 vai-se enchendo de gente de Sete Rios até Alfragide e mais de um terço sai na última paragem, no Bairro do Zambujal. "Não há falta de procura. Durante a semana nem nos podemos mexer", garante Laurinda. "É uma violência", acrescenta a funcionária pública. Joana Aleixo, de 22 anos, vai no 54 de Lisboa a Alfragide para visitar a mãe. Fica boquiaberta com a notícia: "Isso não faz sentido nenhum. A maior parte das pessoas que vejo no 54 saem em Alfragide." E os cortes naquela zona não se ficam por aqui: o 799, que liga o Colégio Militar a Alfragide Norte, poderá ser suprimido. "Não temos metro, vamos ficar sem nada", lamenta Laurinda Monteiro. Quando põe os olhos na lista das carreiras a suprimir, Miguel Mendes também fica incrédulo. O 764, que o estudante de 21 anos usa para ir da Damaia de Cima (Amadora), onde mora, até à escola em Lisboa vai deixar de existir. "Não sei como vou fazer", admite. E quando pensa na namorada, que está grávida, o tom da crítica sobe. "Vamos tirar o passe para depois andar a pé?" O 764 liga a Damaia de Cima à Cidade Universitária, nos dias úteis, e ao Colégio Militar ao fim-desemana. Ao sábado, grande parte dos passageiros vai carregada de sacos de supermercado. "De manhã vai sempre cheio e à tarde é igual", garante o condutor do autocarro. Está furioso com a notícia, da qual soube através dos jornais. "A nós, que andamos aqui todos os dias, ninguém nos perguntou nada." Condutor naquele percurso há 30 anos, cumprimenta muitos passageiros. Conhece-lhes as dificuldades. "Vão aqui muitos idosos que não podem conduzir. Apanham o 764 para ir às compras ou para ir conviver", afirma. Uma das passageiras habituais, Maria da Conceição Pereira, mora na Damaia de Cima e usa o 746 para ir até ao Centro de Saúde da Buraca. "Até isso já nos tiraram", lamenta. Não encontra uma alternativa. "Temos o 711, mas fica muito longe, não posso andar", afirma. Não sabe que o 711, que vai até ao Alto da Damaia, poderá ser encurtado até à estação da CP da Damaia. "É um crime", remata o condutor do 746. Marisa Soares O barco vai de saída A embarcação foi construída em Hamburgo, há mais de 50 anos e oscila ancorada ao cais fluvial de

7 Belém, enquanto os passageiros apressados vão enchendo os 220 lugares disponíveis. São seis da tarde de sexta-feira e o barco vai partir rumo a Porto Brandão e à Trafaria. Ana Rivotti faz o trajecto há mais de 25 anos. Trabalha em Belém e regressa agora a casa, em Almada. Se o barco da Trafaria acabar, vai "gastar mais dinheiro" no percurso alternativo e terá de sair mais cedo e chegar mais tarde a casa. "Quem vai levar e buscar os meus filhos à escola?", questiona. Outros passageiros têm as mesmas preocupações. Anabela Silva diz que, se for obrigada a ir por Cacilhas e pelo Cais do Sodré, "as viagens vão durar mais uma hora". Rui Soares, marinheiro há 26 anos, reconhece que há menos passageiros. Houve uma redução no número de embarcações e consequentemente na frequência do transporte. "Ninguém vai ficar uma hora à espera de um barco, se tem de ir para o trabalho", diz. O barco atraca no cais da Trafaria. Manuela Sousa é uma das últimas a sair: "O barco vai fechar? Não faz mal. Já falei com o Paulo Portas e ele empresta o submarino." Fábio Rodrigues Os passageiros do barco que liga Belém a Porto Brandão e à Trafaria dizem que, se o serviço desaparecer, vão gastar mais dinheiro mais tempo nos percursos alternativos e perder

8 Composições circulam actualmente até à lh3o Na Póvoa de Varzim, teme-se que o Porto fique um pouco Reportagem Angelo Teixeira Marques "Não há alternativas e, se for para a frente a mudança de horários, ainda vai haver uma revolução", dizia Filipe Pinto, 18 anos. É sextafeira à noite e Filipe está com a namorada no minúsculo abrigo da estação da Póvoa de Varzim, o terminal da maior linha do metro do Porto, a Vermelha, enquanto não chega a hora de voltar para a casa, em Vila do Conde. A última composição saiu da Póvoa às 00h25. É onde vive Ana, a namorada, e o metropolitano é a única forma de se encontrarem à noite, depois das aulas. "E quem trabalha nos cafés, ou nos hipermercados? E os jovens que querem ir aos bares à Póvoa ou a Vila do Conde?", lança Filipe. Ana lembra "os estudantes que andam nas universidades do Porto à noite e que não vão ter transporte para regressar a casa". Se as reduções de horários no metro do Porto forem para a frente, a ausência de alternativas fará sentir-se duramente nesta linha, vincadamente suburbana. Actualmente, a última composição sai da estação do Estádio do Dragão às 0h33 e chega à Póvoa à 1h34. Trabalhadores e estudantes são quem mais a utiliza. Era o caso de Anabela Fernandes, que, de livros pousados no braço, não via a hora de regressar a Árvore, Vila do Conde. Está a tirar um curso profissional e o seu quotidiano é um corre-corre com os minutos contados. Um pequeno atraso poderá significar uma despesa extra indesejada: os "quase 40 euros" do táxi. Sara Marques Moreira, uma jornalista do Canal Superior (uma televisão ligada ao ensino superior; tinha uma reportagem no Porto, mas já sabia que o regresso à Póvoa, de madrugada, já depois de o metropolitano fechar, teria de ser feito à custa da simpatia do "[operador de] câmara" que daria "uma boleia". Se os horários do metropolitano forem encurtados, a vida cultural da cidade e da região vai ressentirse. E quem não tem carro próprio terá mais dificuldade em ter acesso a eventos culturais. E nem as idas ao cinema vão escapar. Na Póvoa e em Vila do Conde os cinemas dos centros comerciais já fecharam. Agora, poderá ter de se riscar da agenda as idas nocturnas aos cinemas de Matosinhos, Porto ou Gaia. mais longe

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