DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN E INCLUSÃO ESCOLAR



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Transcrição:

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN E INCLUSÃO ESCOLAR Kelvya Gomes da Silva¹ Nanci Miyo Mitsumori² RESUMO A iniciativa dessa pesquisa partiu do interesse em investigar e responder alguns enigmas que surgiram quando começamos a pensar sobre a Inclusão Escolar em termos de valorização do desenvolvimento cognitivo do individuo com deficiência mental. Pensamos em abordar o caso dos portadores de Síndrome de Down, que apesar de suas limitações intelectuais são capazes de pensar, ter desejos e iniciativas próprias. Foi nesse sentido que empreendemos essa pesquisa, com o objetivo de estudar o desenvolvimento biológico e cognitivo da criança com Síndrome de Down e seu processo de aprendizagem, e analisar as concepções sobre a inclusão dessas crianças. Chegamos à conclusão de que, apesar das dificuldades intelectuais dessas crianças, a inclusão é uma possibilidade e, mais do que isso, é um objetivo a ser alcançado, na medida em que o desenvolvimento cognitivo de todas as pessoas depende também da qualidade das interações sociais que ela estabelece. PALAVRAS-CHAVE: Síndrome de Down; Desenvolvimento Cognitivo; Inclusão Escolar. ABSTRACT The initiative of this research came from the interest in investigating and answering some puzzles that arose when we started to think about the School Inclusion in terms of enhancement of cognitive development of the individual with mental retardation. We believe in addressing the case of people with Down syndrome, who despite his intellectual limitations are able to think, to have desires and own initiatives. It was in this sense that we undertook this research, in order to study the biological and cognitive development of children with Down syndrome and their learning process, and analyze the views on the inclusion of these children. We conclude that, despite the difficulties intellectuals these children, inclusion is a possibility and, more than that, it is a goal to be achieved, to the extent that the cognitive development of all people depends also on the quality of social interactions that it establishes. KEYWORDS: Down Syndrome, Cognitive Development, School Inclusion. ¹Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Tiradentes. Membro do Grupo de Pesquisa do CNPq Políticas Públicas, Gestão Socioeducacional e Formação do Professor (GPGFOP/Unit). Bolsista na Universidade Tiradentes - UNIT pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES - projeto TRANSEJA. kelvya135@hotmail.com ² Doutora e Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo. Graduada em Pedagogia pela mesma instituição. Pesquisadora e Líder do Grupo de Pesquisa do CNPq Educação, Cultura e Desenvolvimento Humano (Unit). Professora Titular da Universidade Tiradentes. nanci.mitsumori@gmail.com

2 INTRODUÇÃO O tema inclusão tem provocado inúmeros debates sobre suas vantagens e desvantagens. A Constituição Federal mostra certa preocupação governamental com a educação para todos, preferencialmente em classes comuns de ensino regular. Porém o discurso de inclusão permanece ainda muito no campo das ideias isso porque as propostas educacionais não garantem à escola competências para ensinar os alunos com deficiência mental (DM). As crianças com DM necessitam uma ação educativa adequada para atender suas necessidades educativas especiais (VOIVODIC, 2004). As crianças com Síndrome de Down (SD) tem a deficiência mental como uma de suas características mais constantes. Por isso, durante muitos anos os portadores de Síndrome de Down eram considerados retardados, incapazes, associados a condições de inferioridade e até em algumas sociedades considerados filhos do demônio: Na cultura grega, especialmente na espartana, os indivíduos com deficiências não eram tolerados. A filosofia grega justificava tais atos cometidos contra os deficientes postulando que estas criaturas não eram humanas, mas um tipo de monstro pertencente a outras espécies. (...) Na Idade Média, os portadores de deficiências foram considerados como produto da união entre uma mulher e o Demônio. (SCHWARTZMAN, 1999, p. 3-4). Segundo Voivodic (2004), na maioria das vezes é a própria sociedade que cria os problemas para a pessoa com deficiência mental, colocando em desvantagem para desempenhar suas funções em virtude de ambientes restritos. No entanto, asíndrome de Down é resultado de uma alteração genética que acarreta, entre outras coisas, em dificuldades e limitações no plano intelectual. Dessa forma,em geralseus portadores precisam de condições especiais para a aprendizagem. Porém, isso não os impede de levar uma vida normal e fazer progressos. Esses indivíduos, quando estimulados, podem desenvolver competências e habilidades cognitivas. Apesar das dificuldades em aprender, e de alguns distúrbios de conduta que possam ter,eles podem e devem ter vida social, devem ser estimulados a tomar decisões sozinhas e se desenvolver social e cognitivamente.

3 1. INCLUSÃO A educação inclusiva é fruto de um processo histórico, ou seja, ela não reflete somente o presente, mas demonstra o problema social em relação à forma como os deficientes têm sido tratados ao longo dos anos. Portanto, para entendê-la precisamos referir às suas origens históricas. A inclusão tem suas raízes em movimentos anteriores à própria década de 1960, como a Declaração Universal dos Direito Humanos, de 1948 que lutava para que os direitos da criança com deficiência fossem respeitados. Na década de 1960, em decorrência da luta pelos direitos humanos surgiu na França a Pedagogia Institucional ou Pedagogia Revolucionaria, trazendo uma nova maneira de ver a educação. Na mesma década, nos países nórdicos,surgiu pela primeira vez o principio da normalização, aplicada aos portadores de deficiência. A partir de 1968, na Suécia, crianças deficientes foram introduzidas em classes regulares. Nas décadas de 1980 e 1990, começa-se a falar sobre inclusão. No Brasil, o movimento de inclusão é proveniente de diferentes influências, como: a Liga Mundial pela Inclusão, que surgiu nos países da Europa; A Liga Internacional pela inclusão do Deficiente Mental, que teve origem na Bélgica, e a Conferencia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em Salamanca (1994), na qual foi firmado um compromisso de educação para todos. Segundo a Declaração de Salamanca, a escola deve incluir a todos, reconhecendo a diversidade, e precisa atender às necessidades de cada um, promovendo sua aprendizagem. Na Constituição anterior, as pessoas com deficiência não eram contempladas nos dispositivos referentes à Educação em geral. Esses alunos, independentemente do tipo de deficiência, eram considerados titulares do direito à Educação Especial, matéria tratada no âmbito da assistência. Pelo texto constitucional anterior ficava garantido aos deficientes o acesso à educação especial.isso não foi repetido na atual Constituição, fato que, com certeza, constitui um avanço significativo para a educação dessas pessoas. A Constituição Federal de 1988 assegura o direito à igualdade (art. 5º), e trata, nos artigos 205 e seguintes, do direito de TODOS à educação. Esse direito deve visar o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para

4 o trabalho (art. 205). Além disso, elege como um dos princípios para o ensino, a igualdade de condições de acesso e permanência na escola (art. 206, inc. I), acrescentando que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um (art. 208, V). (MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, 2004) 2. ASPECTOS FISICOS E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA COM SINDROME DE DOWN A Síndrome de Down é decorrente de uma alteração genética ocorrida durante ou imediatamente após a concepção. A alteração genética se caracteriza pela presença a mais do autossomo 21, ou seja, ao invés do indivíduo apresentar dois cromossomos 21, possui três. A esta alteração denomina-se trissomia simples. No entanto podemos encontrar outras alterações genéticas, que causam Síndrome de Down. Estas são decorrentes de translocação, pela qual o autossomo 21, a mais, está fundido a outro autossomo. O erro genético também pode ocorrer pela proporção variável de células trissômicas presente ao lado de células citogeneticamente normais. Estes dois tipos de alterações genéticas são menos frequentes do que a trissomia simples. A causa dessa alteração ainda não é conhecida, mas sabe-se que pode ocorrer de três formas. Trissomia simples (padrão): a pessoa possui 47 cromossomos em todas as células (ocorre em cerca de 95% dos casos de Síndrome de Down). A causa da trissomia simples do cromossomo 21 é a não disjunção cromossômica. Translocação: o cromossomo extra do par 21 fica "grudado" em outro cromossomo. Nesse caso embora indivíduo tenha 46 cromossomos, ele é portador da Síndrome de Down (cerca de 3% dos casos). Os casos de mosaicismo podem originar-se da não disjunção mitótica nas primeiras divisões de um zigoto normal. Mosáico: a alteração genética compromete apenas parte das células, ou seja, algumas células têm 47 e outras 46 cromossomos (ocorre em cerca de 2% dos casos de Síndrome de Down). Os casos de mosaicismo podem originar-se da não disjunção mitótica nas primeiras divisões de um zigoto normal.

5 Como já foi mencionado, a Síndrome de Down pode ocorrer de três formas. Porém, ainda há poucos estudos comparativos que mostram as reais diferenças que existem entre os três grupos. Infelizmente uma concepção errônea ainda muito corrente é que todos os portadores de SD se desenvolvem igualmente, ou seja, apresentam as mesmas características, incapacidades e limitações orgânicas, motoras e cognitivas. É importante ressaltar que não há um padrão estereotipado e previsível em todas as crianças portadoras de SD. Schwsrtzman (1999) adverte que: Não devemos esquecer, em nenhum momento, das grandes diferenças existentes entre vários indivíduos com SD no que se refere ao próprio potencial genético, características raciais, familiares e culturais, para citar apenas algumas que serão poderosos modificadores e determinantes do comportamento a ser definido como características daquele individuo. (SCHWSRTZMAN, 1999: 58) Segundo o autor, a inteligência das crianças com Síndrome de Down é grosseira e incompleta, porém o QI desses indivíduos tem demonstrado aumentos significativos nas últimasdécadas. Percebe-se então que a inteligência não é determinada somente por fatores biológicos, mas também influenciada por fatores ambientais. Segundo Melero (1999), a inteligência não se define, constrói-se. Tanto que os jovens com SD hoje, em relação aos de gerações passadas, têm capacidades de leitura que lhes permitem acessar informações escritas em geral fazendo com que melhorem suas possibilidades de interação pessoal e suas habilidades sociais. Enfim, o desenvolvimento da criança com SD não resulta só de fatores biológicos, mas também das importantes interações com o meio pelo qual o individuo se constrói ao logo da sua vida. 2.1.Importância da interação com o meio para o desenvolvimento da criança com síndrome de down. Vários estudos mostram que o desenvolvimento do portador da SD pode ser comparado a um não portador resultante de influências sociais, culturais e genéticas. Para Vygotsky(2003; 2000), o importante é haver essa interação do individuo com o meio para que

6 se consigammelhores resultados na aprendizagem. Segundo ele, as interações sociais promovem o desenvolvimento psicológico e cognitivo. É de muita relevância considerar, apesar das limitações e peculiaridade de desenvolvimento, o portador de Síndrome de Down dentro do contexto que está inserido. Vai depender muito do estímulo da família, a herança genética e do meio social para promover o desenvolvimento da criança, como defende Jean Piaget sobre a importância das relações com o meio no processo de desenvolvimento dos indivíduos.para tanto se torna importante a estimulação dessas crianças desde os primeiros dias de vida levando em conta seus modos e ritmos de aprendizagem, em função de suas necessidades especiais. É importante frisar que um ambiente amoroso e estimulante, intervenção precoce e esforços integrados de educação irão sempre influenciar positivamente o desenvolvimento desta criança. A educação da criança com Síndrome de Down deve começar a partir do nascimento, com uma estimulação capaz de integrá-la progressivamente ao meio ambiente e à vida social. Algumas experiências têm demonstrado que o progresso dos alunos que foram estimulados desde bebês é mais acelerado do que os que receberam tardiamente. Para Piaget, o sujeito se desenvolve intelectualmente quando interage com o meio e que esse desenvolvimento dependerá de vários fatores que o individuo adquiriu dentro do contexto em que vive. Cada pessoa é um ser único que não pode ser visto como um todo, mas deve ser considerado em suas particularidades. 2.2.Inclusão Escolar: a educação formal contribuindo para o desenvolvimento cognitivo da criança com Síndrome de Down. É notório que, devido às características específicas, oriundas de sua deficiência, as crianças com SD necessitam uma ação educativa adequada para atender suas necessidades educativas especiais (VOIVODIC, 2004: 18). A criança Down apresenta muitas debilidades e limitações, assim o trabalho pedagógico deve primordialmente respeitar o ritmo da criança e propiciar-lhe estimulação adequada para desenvolvimento de suas habilidades. Programas devem ser criados e implementados de acordo com as necessidades especificas das crianças. O processo de aquisição da leitura e escrita em pessoas com a Síndrome de Down (SD) é tema de estudo frequente e de visões distintas, de acordo com diversos autores. Muito

7 já se estudou sobre os aspectos cognitivos de crianças com SD que vêm justificar uma eventual dificuldade em sua alfabetização, como por exemplo, o comprometimento dos mecanismos de atenção e iniciativa; da conduta e sociabilidade; dos processos de memória; os mecanismos de correlações, análise, cálculo e pensamento abstrato e dos processos de linguagem expressiva e receptiva.algumas crianças com SD apresentam dificuldades para aprender a ler devido a dificuldades que ela pode ter para compreender o conceito de ler, o fracasso ou medo do fracasso, a falta de motivação a ler ou distúrbios de visão ou audição que prejudicariam a aquisição da leitura e escrita. É importante compreender que aprender a ler e a escrever é uma aquisição cognitiva linguística complexa, que se dá à medida que a criança entra em contato com a língua escrita, na qual estão incluídas as compreensões: dos símbolos desta e seu funcionamento, da função social e do papel da criança frente à escrita. Isto é, aprende-se a ler e escrever, lendo e escrevendo textos complexos e significativos. Neste sentido, a escrita é um objeto social, uma vez que é fruto da cultura e só existe em função do relacionamento entre pessoas. No que se refere ao desenvolvimento intelectual do portador de necessidades especiais,vygotsky defende uma escola inclusiva para que as crianças com necessidades especiais interajam com as outras crianças comuns. Seguindo a mesma linha, Rogoff (2005) afirma que o contexto escolar possibilita a todos os envolvidos uma construção coletiva de conhecimento, valores, atitudes e aceitação das diferenças individuais. Sob essa ótica, para os teóricos socio-históricos, dos quais Vygotsky é o principal representante, o meio mais adequado para o desenvolvimento das crianças com necessidades especiais é a escola regular, poispromove uma variedade de interações sociais que têm papel fundamental no desenvolvimento da criança com deficiência, sendo possível dara ela subsídios para ultrapassar suas dificuldades (VYGOTSKY, 1997). Mas é valido ressaltar que colocar essa criança no lugar adequado não é o suficiente. Dependendo da filosofia que se utiliza na prática educacional, a educação pode, ou não, tornar-se um instrumento transformador desses indivíduos. Infelizmente, o que se observa é que as escolas não têm conseguido se configurar como espaço educativoe as práticas escolares não têm sido atualizadas nem se tornado mais eficazes para atender ao número de alunos com necessidades especiais matriculados nas

8 escolas de ensino regular. É necessário que o sistema educacional assuma com seu papel de despertar no aluno o interesse de se desenvolver e acredite no potencial de cada um. E importante considerar que o ensino das crianças especiais deve ocorrer de forma sistemática e organizada, seguindo passos previamente estabelecidos, o ensino não deve ser teórico e metódico e sim deve ocorrer de forma agradável e que desperte interesse na criança. As crianças com Síndrome de Down são capazes de fazer o que as crianças comuns fazem e, embora sua velocidade de aprendizado geralmente seja mais lenta, não existem limites (VOIVODIC, 2004). Estas crianças, porém, precisam de estímulos especiais para desenvolver bem suas capacidades, estímulos estes que devem ser iniciados desde quando as crianças são muito pequenas (estimulação precoce). Dentro da sala de aula, a proposta da Teoria Sócio-Histórica é que a criança com Síndrome de Down receba a mediação necessária para realizar as tarefas que não conseguiria realizar sozinha, de forma que as mesmas não precisem ser simplificadas (VOIVODIC, 2004).Sendo assim, a aprendizagemdo aluno com Síndrome de Down não precisa ser vista como uma batalha, mascertamente como um desafio, onde cada conquista tem seu valor. 3. CONCLUSÃO Diante do que foi mencionado, percebe-se a importância da interação social das crianças com Síndrome de Down para o seu desenvolvimento cognitivo. No entanto esse processonão deve ser considerado como um aspecto que decorre unicamente do grau da deficiência intelectual que afeta a criança, pois as relações sociais são um fator essencial nesse processo. Acredita-se que o desenvolvimento cognitivo do portador de Síndrome de Down será tão mais efetivo quanto menor forem os estereótipos a limitarem as concepções que se tem desse. Voivodic complementa que o ser humano é muito mais que sua carga biológica, e é através da interação com o meio e da qualidade dessas interações que cada indivíduos se constrói ao longo da vida (2004, p. 48). Seguindo a mesma linha, pode-se afirmar que existe outro fator também importante para o desenvolvimento cognitivo da criança com SD: a educação escolar. Vygotsky defende que as crianças com DM devem estar em salas comuns de ensino

9 regular,pois a interação com outros indivíduos sem DM pode ajudar no seu processo de desenvolvimento. Porém, colocar a criança na escola somente para cumprir a obrigação que está na lei não irá ajuda-la a se desenvolver intelectualmente. É imprescindível que as práticas educacionais se voltem para a inclusão dessa criança com aulas atrativas e que atendam de fato às suas necessidades educacionais. Além disso,fazem-senecessárias modificações no sistema de ensino para que possa proporcionar uma educação de qualidade, para todas as crianças.todos os is indivíduos, com deficiência ou não, devem ter seus direitos respeitados e suas necessidades educativas atendidas.

10 REFERENCIAS BISSOTO, Maria Luiza. Desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem do portador de síndrome de down: revendo concepções e perspectivas educacionais. Ciência e Cognição, 2005. Vol.4: 80-88. OLIVEIRA, Silva Marinalva; SILVA, Maria do Carmo Lobato. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down: uma análise a luz da teoria sócio-histórica.in: VIGOTSKI, Lev Seminovich. Obras escogidas: Fundamentos da Defectologia.Vol. V. Madrid: Visor, 1997. OLIVEIRA, Silva Marinalva; SILVA, Maria do Carmo Lobato. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down: uma análise a luz da teoria sócio-histórica.in: VIGOTSKI, Lev Seminovich. A formação social da mente. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. OLIVEIRA, Silva Marinalva; SILVA, Maria do Carmo Lobato. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down: uma análise a luz da teoria sócio-histórica.in: VIGOTSKI, Lev Seminovich. Manuscrito de 1929. Traduzido do original russo, publicado no Boletim da Universidade de Moscou, Série 14, Psicologia, 1986, No. 1,por A. A. Puzirei e gentilmente cedido pela filha de Vigotski, G. L. Vigotskaia.Tradução: Alexandra Marenitch; assistente de tradução: Luís Carlos de Freitas; revisãotécnica: Angel Pino.Educação & Sociedade, ano XXI, nº 71, Julho. 2000. O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular / Ministério Público Federal: Fundação Procurador Pedro Jorge de Melo e Silva (organizadores) / 2ª ed. rev. e atualiz.. Brasília: Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, 2004. SCHWARTZAN, J. S. Síndrome de Down. São Paulo: Mackenzie, 1999 VOIVODIC, Maria Antonieta. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. VOIVODIC, Maria Antonieta. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down. In: SCHWARTZMAN, J. S. Integração: do que e de quem estamos falando?in: MANTOAN, M. T. E. (org). A integração de pessoas com deficiência. São Paulo: Memnon.