PROPOSTA GENÉRICA DE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PRODUÇÃO MAIS LIMPA NO AMBIENTE ESCOLAR



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Transcrição:

PROPOSTA GENÉRICA DE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PRODUÇÃO MAIS LIMPA NO AMBIENTE ESCOLAR Pamella Mellissa Quirino dos Santos (UFG) pamelaquirino.s@gmail.com Ana Paula Vieira Candida (UFG) anavcandida@hotmail.com Vanessa Gisele Pasqualotto Severino (UFG) vanessapasqualotto@gmail.com Maico Roris Severino (UFG) maicororis@gmail.com O mundo já constatou que os recursos naturais são limitados e não podem ser desperdiçados. O grande desafio do momento é tornar compatíveis o crescimento econômico e a preservação ambiental. As empresas causam impactos negativos no ambiente. Porém, muitas delas estão buscando maneiras de colaborar com o planeta, por meio de ferramentas de gestão ambiental, como a Produção Mais Limpa (PML). As escolas, apesar de não serem empresas com sistemas produtivos, também contribuem para o esgotamento dos recursos. Assim, este trabalho teve como objetivo desenvolver, a partir de um estudo de caso, o diagnóstico das atividades realizadas por uma escola estadual do município de Goiandira/GO, a fim de identificar possíveis pontos para implantação da metodologia da PML. Devido à falta de artigos sobre a implementação desta ferramenta em escolas, foi necessário adaptar a metodologia já existente para o ambiente escolar. Todo o processo de implantação da PML foi dividido e detalhado em oito etapas. Após a realização e análise do diagnóstico, foram desenvolvidas propostas de melhorias com seus respectivos benefícios econômicos, sociais e ambientais. Através do estudo de caso, pôde-se observar a necessidade da colaboração de toda a comunidade escolar, para que a implementação seja bem sucedida. Notou-se também a importância do exercício de boas práticas ambientais, e que mudanças simples de hábitos podem fazer a diferença. Palavras-chave: Produção Mais Limpa, Escolas, Sustentabilidade

1.Introdução O consumismo vem crescendo com o passar dos anos, bem como a quantidade de resíduos gerada e descartada de forma inadequada no ambiente. Segundo Godecke, Naime e Figueiredo (2012), o cenário econômico e cultural vincula-se à questão demográfica na aceleração do ritmo da degradação ambiental. A geração de resíduos sólidos não está apenas ligada ao nível de riqueza, mas também aos valores e tradições. De acordo com Trigueiro (2013), 24 milhões de toneladas de resíduos sólidos foram descartados de maneira inadequada em 2012. A geração de lixo por pessoa, entre os anos 2000 e 2012, passou de 0,955 kg/dia para 1,223 kg/dia. O autor relata ainda que nos últimos dez anos a proporção do crescimento da geração de resíduos superou o próprio crescimento populacional do país: Enquanto o primeiro é de 28,07%, o segundo é apenas 9,65%, ambos no mesmo período. Desta forma, verifica-se a necessidade de intensificação de programas para promover a sensibilização para a educação ambiental. Desde os anos 90, o Plano Nacional da Educação (PNE) enfatiza a necessidade da interdisciplinaridade à questões ambientais, para que professores das escolas da rede de ensino fundamental abordem temas transversais associados à educação ambiental com os seus alunos. Este encargo prioriza que as escolas tenham participação mais efetiva em projetos ambientais, motivando seus alunos a participarem, e que envolvam e formem profissionais da própria instituição para que desenvolvam atividades com a mesma temática. De acordo com estudos realizados por Berger e Berger (2004), comprova-se que na educação infantil a criança está mais propensa a aprender e a se desenvolver socialmente, através da interação com outras crianças de sua idade e com os professores. Assim, ela se torna disseminadora de ideias construtivas e sensibilizadoras para a sociedade, através de amigos, parentes próximos e a própria família, começando assim a desenvolver mais profundamente o seu processo de socialização. Diante deste contexto, é de suma importância que se busque a educação ambiental desde cedo, porque é mais difícil mudar uma opinião já formada pelo indivíduo. 2

De modo a fortalecer o processo de educação ambiental nas escolas, verifica-se como oportuno introduzir metodologias de gestão ambiental nas escolas. Neste cenário é que novas propostas surgem com o intuito de melhorar a conjuntura ambiental. A Produção Mais Limpa (PML) é uma dessas propostas. O Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL) afirma que a PML é uma forma de integrar as estratégias, sejam elas técnicas, econômicas e/ou ambientais, aos processos e produtos, com o intuito de minimizar os impactos do uso de matérias-primas, água e energia, através de processos como a reciclagem, controle da geração e emissões geradas (CNTL, 2003). Destaca-se que este conceito normalmente é utilizado no ambiente empresarial, necessitando assim, desenvolver propostas que considerem as especificidades do ambiente escolar. Portanto, este trabalho teve como objetivo desenvolver uma proposta genérica de aplicação da metodologia PML no ambiente escolar, a fim de melhorar o desempenho ambiental da escola e motivar e sensibilizar alunos, professores e servidores às questões de sustentabilidade e preservação ambiental. 2. Metodologia Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizada a abordagem de pesquisa qualitativa e procedimento de pesquisa exploratória. Segundo Bogdan e Biklen (2003), a abordagem de pesquisa qualitativa trabalha com a obtenção de dados descritivos, encontrados através do contato do pesquisador com o cenário em estudo, destacando mais o processo do que o produto e dando atenção especial as perspectivas dos participantes. De acordo com Zikmund (2000), os estudos exploratórios costumam ser úteis na identificação de situações, na exploração das alternativas ou na descoberta de novos conceitos. Esses estudos são guiados durante o estágio inicial de um processo de pesquisa de maior relevância, em que se busca o esclarecimento e a descrição de um determinado problema, para que posteriormente as informações adquiridas possam auxiliar em futuras pesquisas conclusivas. Para maior conhecimento do tema, no primeiro momento foi realizada uma pesquisa 3

bibliográfica sobre PML em livros e artigos. Para melhor compreensão do uso de PML na área de Engenharia de Produção, foi realizada uma pesquisa nos anais do Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) entre 2003 e 2013. Na Tabela 1 são apresentados os setores mais citados nos artigos levantados. Tabela 1 Setores mais citados nos artigos do Enegep, entre os anos de 2003 e 2013 Fonte: Autores. Na Tabela 1 observa-se que a maioria das implantações da metodologia de PML é realizada em indústrias e empresas; a partir deste cenário tornou-se necessária a adaptação das metodologias existentes, para que pudessem ser implementadas no ambiente escolar. No segundo momento, para verificação da efetividade da proposta, foi realizado um estudo de caso ilustrativo, com o objetivo de coletar dados e analisar as atividades da mesma. Após o diagnóstico, realizou-se uma avaliação dos impactos ambientais e, a partir disso, foi proposto um plano de ação para implementação de um sistema de gestão ambiental. 3. Referencial Teórico A percepção dos impactos ambientais do ponto de vista econômico e ecológico vem se desenvolvendo com o passar do tempo. O ambiente vem sofrendo rápidas e profundas mudanças, como consequência de anos de uso e descuido, por parte dos cidadãos, com a natureza e seus recursos. Com isso, ações para recuperar e preservar o que ainda resta e agredir o mínimo possível o ambiente vão surgindo. Dar prioridade à questão ambiental é 4

fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável. Devido a estas mudanças negativas no ambiente, foi desenvolvida a metodologia conceitual da PML pela United Nations Industrial Development Organization (UNIDO). Destaca-se que a PML é a base do programa de prevenção proposta pela UNIDO e pela United Nation Environmental Program (UNEP) para nações em desenvolvimento. A filosofia é que a PML seja uma aplicação contínua de estratégia ambiental preventiva, nos processo produtivos, produtos e serviços, para reduzir os riscos relevantes e reduzir a emissão/geração de resíduos diversos, podendo ser realizadas mudanças simples ou até mesmo a aquisição de novas tecnologias para que a empresa/instituição atue conscientemente de forma sustentável (UNEP, 1989). Portanto, para que se tenha uma produção limpa, a ação inicial é mudar o processo de produção, proporcionando melhorias na manutenção. Depois, reduzir o uso de substâncias que são agressivas ao ambiente. Este processo requer também uma avaliação do produto final, que um dia será resíduo. O projeto do novo produto já deveria, portanto, prever sua futura desmontagem em partes constituídas por materiais homogêneos, facilitando a subsequente recuperação ou reciclagem (VALLE, 1996, p. 67). Para Barbieri (2007), a PML tem como metodologia o estabelecimento de uma hierarquia de prioridades na seguinte sequência: prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia e tratamento e disposição final. É uma abordagem que requer ações para conservar energia e matéria-prima, eliminar substâncias tóxicas reduzir os desperdícios e a poluição resultante dos produtos e dos processos produtivos. Para UNIDO (2001), as estratégias que visam a PML, ilustradas na Figura 1, descrevem uma sequência prioritária e hierarquizada de ações: no nível um, abordando o problema na fonte, reduzindo a geração de resíduos e emissões; no nível dois, a reciclagem interna; e, no nível três, a reciclagem externa. Uma prática usual da PML é a reciclagem, uma das ações iniciais dos sistemas de gestão ambiental, que não exige investimentos altos e é benéfica em curto prazo; sendo assim, é uma das medidas mais simples de preservação ambiental. O ato de reciclar, isto é, refazer o ciclo, permite trazer de volta, à origem, sob a forma de matérias primas, aqueles materiais que não 5

se degradam facilmente e que podem ser reprocessados, mantendo suas características básicas (VALLE, 1995, p. 68). Conforme Oliveira, Perez Jr e Silva (2002), qualquer tipo de organização possui um modelo de gestão que envolve o conjunto de princípios, ideias e objetivos que direcionam o processo administrativo da organização. Logo, cabe à organização escolher um modelo que abranja aspectos financeiros e sociais, incorporando ainda ao planejamento estratégico, tático e operacional um programa qualquer de gestão ambiental. Neste sentido, como as organizações buscam ter um diferencial competitivo no mercado através da PML, a questão ambiental pode e deve ser aplicada, uma vez que a preservação ambiental trará retorno garantido aos seus investimentos, a curto e longo prazo. Figura 1 - Estratégias para a PML Fonte: Adaptado de UNIDO (2001) Segundo Severo et al (2015), a PML deve ser desenvolvida observando as seguintes variáveis: redução de emissão de resíduos, diminuição do consumo de matéria-prima, energia e água e a 6

contribuição na redução do impacto ambiental. Existem diversas metodologias da PML; a UNIDO (2001), por exemplo, faz uso de três fases; outros autores adotam mais fases, dependendo do tamanho e do tipo da instituição a ser analisada. Para realizar a análise e implementação da PML nas escolas, adotou-se a metodologia proposta pelo CNTL, que foi adaptada ao ambiente escolar, com oito fases, sendo: 1) a préavaliação; 2) a formação do Ecotime; 3) a elaboração do diagnóstico ambiental; 4) a elaboração e avaliação do balanço ambiental, econômico e tecnológico do processo produtivo; 5) a viabilidade econômica da implantação; 6) o monitoramento; 7) a implantação efetiva da metodologia da PML; e 8) a documentação das opções de implantação. As ações necessárias para a operacionalização destas oito fases estão descritas na seção 4. 4. Proposta genérica de aplicação da metodologia de PML adaptada ao ambiente escolar O CNTL (2003) aborda 11 etapas, as quais estão voltadas à área empresarial e industrial. Após a adaptação dos autores deste estudo voltada à área escolar, foram definidas oito fases. São elas: Fase 1: Pré-avaliação A primeira etapa tem por finalidade verificar as atividades que são realizadas pela escola, analisar a viabilidade da implantação da PML e definir o tempo que deve ser destinado a esta fase. Se for viável, será definido o tempo necessário para sensibilizar os envolvidos, bem como as áreas de aplicação da metodologia. Para atender os objetivos da implantação da PML, será necessário que na pré-avaliação seja estabelecida a estratégia para a execução deste trabalho, consistindo em definir o tempo de duração para a aplicação desta metodologia. Depois, devem ser avaliados os pontos que necessitam de alguma ação corretiva sustentável, de modo a elaborar um fluxograma 7

contendo as etapas que compõem os critérios analisados. Fase 2: Formação do Ecotime A formação do ecotime consiste em criar uma equipe de funcionários da própria instituição em estudo, sensibilizados sobre os danos ambientais causados pela escola, e que possam disseminar os fundamentos da PML para os demais funcionários. Assim, o Ecotime deve compartilhar seus conhecimentos com os demais membros da escola, ter conhecimento de todas as etapas do processo de implantação da metodologia e compreender a importância da prevenção dos problemas causados ao ambiente, ao invés de solucioná-los após o surgimento. Fase 3: Elaboração do diagnóstico ambiental A função do diagnóstico ambiental é mostrar a relação da escola com o ambiente: a quantidade de matérias-primas utilizadas, o volume de produtos, as finalidades do uso da água, o consumo de energia, a quantidade de resíduos gerados, entre outros. Fase 4: Elaboração e avaliação do balanço ambiental e econômico O balanço ambiental ilustra as entradas e saídas do processo produtivo; nas entradas tem-se matérias-primas, insumos, água e energia; nas saídas tem-se produtos acabados, semiacabados e o surgimento dos poluentes. O balanço ambiental analisa as causas e consequências da geração de poluentes. O balanço econômico possui os custos que a escola terá com o tratamento dos resíduos. Na parte de avaliação é realizada uma análise dos balanços obtidos e, se for viável, a metodologia de PML será utilizada para resolver os problemas encontrados. São definidas nessa parte as ações que serão implantadas na escola, o que será necessário para a implantação e os empecilhos. 8

Fase 5: Viabilidade econômica da implantação De acordo com o problema a ser resolvido, faz-se necessário investimento em máquinas, equipamentos, infraestrutura, entre outros. Na fase de estudo da viabilidade econômica, é analisada a melhor opção a ser implantada, em termos do retorno financeiro e ambiental. Fase 6: Monitoramento Nesta fase, torna-se necessário o monitoramento dos processos produtivos na escola, a fim de comparar os resultados antes e após a intervenção. Pode-se realizar, por exemplo, uma medição da quantidade de resíduos gerados ou uma análise dos impactos causados ao ambiente. Fase 7: Implantação efetiva da metodologia da PML Nesta fase, a implantação da metodologia da PML deve ser efetivada, após as análises de viabilidade. A escola definirá quais são as primeiras opções viáveis a serem implantadas. Fase 8: Documentação das opções de implantação Nesta fase é importante que toda a metodologia de implantação da PML seja documentada, para que o ecotime tenha todas as opções que podem ser implementadas na escola. 5. Caso Ilustrativo A instituição analisada neste artigo é a uma escola estadual do município de Goiandira/GO, localizado no sudeste deste estado. De acordo com dados levantados na visita ao local e diálogo com seus gestores, foi elaborada uma prévia de como a metodologia da PML seria implantada nesta escola. Na seção 5.1 é detalhada as fases que foram estudadas e adaptadas para a implantação da PML na escola: 9

5.1 Implantação da PML 1. Pré-Avaliação: Após a verificação das atividades realizadas pela escola, analisou-se a viabilidade da implantação da PML. Deste modo, foram aproveitados os princípios de gerenciamento de projeto, segundo o PMI (Project Management Institute), para assegurar a qualidade no desenvolvimento do mesmo, criando-se: (a) o termo de abertura do projeto (escopo do projeto); (b) o cronograma de atividades (metas e responsáveis); (c) o mapa de resposta aos impactos (avaliação do impacto ambiental e definição das ações de correção); e (d) o plano de comunicação (disseminação das informações adequadas no tempo certo) (PMI, 2004). 2. Formação do Ecotime: Nesta etapa, foi necessário o comprometimento da direção da escola, o envolvimento dos funcionários e o estabelecimento de metas e responsabilidades. Após a formação da equipe, promoveu-se atividades de sensibilização para divulgar e esclarecer as motivações das iniciativas e projetos, como: discussão de formas de reutilização, reciclagem e coleta seletiva de materiais; diálogos mensais em reuniões sobre impactos ambientais causados pela escola, e como reduzi-los. 3. Elaboração do diagnóstico ambiental: Esta fase forneceu uma fotografia da real situação da escola diante da sua relação com o Meio Ambiente. Assim, tal diagnóstico permitiu reconhecer: O consumo de copos descartáveis; O consumo de papel; 10

O consumo de alimentos; O consumo de energia elétrica; As principais matérias-primas, auxiliares e insumos utilizados, com a respectiva quantidade utilizada e o custo de aquisição; O consumo da água e suas finalidades; Os locais de armazenamento e formas de acondicionamento de matérias-primas e insumos; Os resíduos sólidos gerados e a sua destinação final. Após uma visita no local de estudo, foi possível identificar os pontos nos quais a PML poderia ser implementada. Depois da identificação, foram definidas algumas propostas com seus respectivos benefícios, conforme consta na Tabela 2. É notório que algumas propostas presentes na tabela 2 não necessitam de altos investimentos e são fáceis de serem implantadas. Estas características são mais atrativas para a escola em questão, a qual não possui recursos financeiros para grandes instalações. 4. Elaboração e Avaliação do Balanço Ambiental e Econômico: Após a elaboração do diagnóstico, foi realizado um balanço de massa e energia, com a finalidade de quantificar as entradas (água, energia, matérias-primas, auxiliares e insumos) e saídas (efluentes líquidos e resíduos sólidos) de cada etapa do processo. Como ilustração de uma das propostas, nesta fase foi apresentado o caso do consumo de água nas descargas dos banheiros. Tabela 2 Propostas de melhorias que podem ser implementadas nas escolas, com seus respectivos benefícios 11

Fonte: Autores. Foi realizado um balanço de massa sobre o volume de água potável consumido em uma descarga sanitária. A partir das visitas realizadas na escola, verificou-se a existência de 15 bacias sanitárias, e que cerca de 65 pessoas utilizam, em média, 3 descargas diárias. Supondo que sejam efetuadas 3.900 descargas mensalmente, e que cada descarga convencional consuma 13 litros de água, concluiu-se que a vazão mensal é de 50.700 litros de água. Com a introdução da descarga inteligente, que gasta 6 litros de água cada, concluiu-se por meio de cálculos que o consumo mensal seria de 23.400 litros de água. Ou seja, uma redução mensal de 27.300 litros de água (46%) com a mudança da descarga convencional para a descarga inteligente. Como proposta de melhoria para a escola, sugeriu-se a troca das descargas e bacias sanitárias convencionais pelas bacias com caixa acoplada, a fim de reduzir o consumo excessivo de água, visto que será satisfatório o resultado final. A tabela 3 mostra detalhamento dos dados utilizados nos cálculos. Tabela 4 Gastos (em reais e em litros de água) referentes a dois tipos de bacias sanitárias. 12

Fonte: Autores 5. Viabilidade Econômica da Implantação: Nesta fase foi realizada a análise de viabilidade de uma das propostas listadas na Tabela 2. Foi necessário fazer uma comparação das alternativas da PML, com o objetivo de identificar qual a opção mais viável do ponto de vista econômico. No caso da troca de descargas comuns por descargas inteligentes, a implantação implicará em investimentos. Portanto, para realizar a análise de viabilidade econômica no caso da troca das descargas, utilizou-se um dos métodos de avaliação mais difundidos de avaliação de investimentos, o método Prazo de Retorno, também conhecido como Payback. Este método consiste, essencialmente, em determinar o número de períodos necessários para recuperar o capital investido. Assim, após a realização do balanço de massa para encontrar a quantidade de litros de água desperdiçados nos banheiros da escola, foi preciso calcular o gasto referente a possível substituição das bacias e descargas convencionais por bacias com caixas acopladas. Lojas de materiais de construção e um encanador foram consultados para verificação dos preços das bacias sanitárias, dos materiais necessários para as instalações e da mão-de-obra, respectivamente, conforme apresentado na tabela 4. Para calcular o valor em reais (R$) do litro de água, consultou-se o serviço on-line da Superintendência Municipal de Água e Esgoto (SAE). Assim, obteve-se os valores a serem pagos mensalmente pela água utilizada nas descargas convencional e inteligente, como indicado na Tabela 3. Ao comparar os valores encontrados, percebeu-se que, depois da instalação das novas descargas, seria possível economizar R$ 132,41 por mês, ou seja, redução de 46,15% no valor da conta de água. Após análise dos dados, calculou-se o prazo de retorno do investimento. O Payback do capital despendido para a instalação das bacias sanitárias com caixa acoplada ocorrerá em 34 meses. Portanto, o investimento foi considerado 13

viável e com retorno em médio prazo. Tabela 4 Orçamento para implantação de bacias sanitárias mais econômicas nas escolas. Fonte: Autores 6. Monitoramento: Para processos não complexos, geralmente utiliza-se da ferramenta 5W 1H para fins de monitoramento das operações. Conforme Souza (1995, apud ARAÚJO, 2002), a ferramenta do 5W 1H provém das palavras em inglês what (o que), who (quem), where (onde), when (quando), why (por que) e how (como). Desta forma, pode-se monitorar a atividade de implementação das descargas inteligentes, como mostrado na Tabela 5. Tabela 5 Plano de Monitoramento da atividade de implementação das descargas inteligentes. 14

Fonte: Autores 7. Implantação Efetiva da Metodologia de PML: Se todas as oportunidades identificadas na Tabela 2 puderem ser implementadas, o projeto será concretizado. Porém, a implantação ainda não foi realizada na escola estudada, uma vez que é a direção da mesma que definirá as propostas e o momento apropriado para serem executadas as melhorias. Deve-sepriorizar asopções mais simples e de menor custo. Para que a implementação da PML seja bem sucedida, será necessário o endosso dos funcionários ligados à área onde ocorrerá a implantação. Estes deverão ser treinados adequadamente e informados de todos os detalhes. Poderão ser angariadas, com isso, novas ideias durante o desenvolvimento desta fase. 8. Documentação das Opções de Implantação: Como o projeto desenvolvido neste artigo não foi implementado na escola, a documentação das opções de implantação não foi realizada. Caso a direção da escola queira implantar, a mesma necessitará de relatórios eficientes, que demonstrem as opções propostas pela metodologia da PML, assim como as opções a serem implementadas. Com o propósito de avaliar a pós-implantação da PML, sugere-se o preenchimento semestral de uma tabela (Tabela 6), que contém os quesitos a serem analisados e um espaço para notas. O preenchimento deverá ser realizado pela equipe escolar envolvida no projeto. 15

Tabela 6 - Quesitos a serem analisados após as implementações realizadas nas escolas Fonte: Autores 7. Considerações Finais Este trabalho teve por objetivo desenvolver uma proposta genérica de aplicação da metodologia PML no ambiente escolar. Destaca-se a adaptação da metodologia foi elaborada de modo a ser aplicável, mesmo com recursos escassos de investimento. Observa-se que o projeto tem uma dependência direta com o bom relacionamento do Ecotime; consequentemente o fluxo de informações entre o público alvo e os líderes do Ecotime deve ser constante. Por isso, pessoas e informações devem estar intimamente interligadas e mutuamente dependentes para a execução do projeto. Ressalta-se que este trabalho limitou-se em uma proposta teórica, não tendo sido realizada ainda a implementação das propostas. Tal implementação está em andamento e os resultados e a avaliação da proposta implementada serão relatados em trabalhos futuros. Outra limitação deste trabalho foi o detalhamento de apenas uma das alternativas apresentadas na Tabela 2. Os demais detalhamentos elaborados serão descritos em trabalhos futuros. Verificou-se ainda que não havia uma metodologia adaptada ou relato de casos para a implementação da PML no âmbito escolar. Sendo assim, este trabalho contribui com a academia, apresentando procedimentos e formas de implantação baseadas nas já consolidadas metodologias formuladas pelo CNTL. 16

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