k42-( MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURO PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO CRSNSP / 195 Sessão Recurso n 6169 Processo SUSEP n 15414.003019/2009-60 RECORRENTES: BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA 5/A RECORRIDA: SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS - SUSEP EMENTA: RECURSOADMINISTRATIVO. Representação. Alegação de vínculo empregatício pelo corretor. Inexistência de vínculo. Recurso conhecido e provido. PENALIDADE ORIGINAL: Multa no valor de R$ 9.000,00 BASE LEGAL: Ari. 88 do Decreto-Lei n 73/66. ACÓRDÃO/CRSNSP N 4389/14. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decidem os membros do Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização, por unanimidade, dar provimento ao recurso do Bradesco Vida e Previdência S/A, nos termos do voto do Relator. Presente o advogado Dr. Daniel Matias Schmitt Silva que sustentou oralmente em favor da recorrente, intervindo nos termos do Regimento Interno deste Conselho o Senhor Representante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Dr. José Eduardo de Araújo Duarte. Participaram do julgamento os Conselheiros Ana Maria Meio Netto Oliveira, André Leal Faoro, Paulo Antonio Costa de Almeida Penido, Carmen Diva Beltrão Monteiro, Claudio Carvalho Pacheco e Marcelo Augusto Camacho Rocha. Presentes os Senhores Representantes da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Drs. Maria Eli Trachtenberg e José Eduardo de Araújo Duarte, e a Secretária-Executiva Senhora Theresa Christina Cunha Martins. SaIa das Sessões (Ri), 10 de abril de 2014. 'ANA M!ARIA DE MItLO NETTO OLIVEIRA Presidente A DRÉ LEAL FAORO Rela r JOS' D ÚJO DUARTE ocurador da Fazenda Nacional
CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO. Processo SUSEP n 15414.003019/2009-60 Recurso ao CRSNSP n 6169 Recorrentes: Bradesco Vida e Previdência 5/A Conselheiro Relator: Salvador Cicero Velioso Pinto Conselheiro Revisor: Ana Maria Melo Netto RELATÓRIO Processo iniciado por representação lavrada pelo DEFIS, indicando como infração o fato de ter a seguradora mantido relação de emprego com corretor de seguros de vida, infringindo o art. 88 do Decreto-lei n 73/66 e o art. 90 do Decreto n 56.903/65. A origem dessa representação deveu-se a uma decisão da Justiça do Trabalho (lia Vara do Trabalho de Goiânia), em uma ação proposta por um corretor contra o Banco Bradesco e a Bradesco Vida e Previdência, na qual foi reconhecido o vínculo trabalhista do reclamante com a seguradora. Após uma preliminar teórica sobre o papel regulador da autarquia e a nulidade da representação, a defesa da seguradora assevera que jamais teve em seus quadros qualquer corretor de seguros e que a aludida sentença destoa da jurisprudência dominante. Aduz que o reclamante trabalhista era corretor de seguros de vida registrado na SUSEP, proibido por lei de ser empregado de seguradoras. Além disso, a declaração de vínculo de emprego declarado pela Justiça Trabalhista não pode vincular as decisões da SUSEP, não podendo a seguradora ser penalizada por uma declaração judicial de uma relação jurídica que não provocou e que nunca reconheceu. Com base nos pareceres das áreas técnica e jurídica, o Coordenador-Geral de Julgamentos da SUSEP julgou subsistente da representação, condenando a seguradora na pena prevista na alínea "n" do inciso II do art. 5 da Resolução CNSP n 60/2001, pela infração AP art. 9 do Decreto n 56.903/65.
Em seu recurso, a seguradora reitera argumentos anteriores e alega que os pareceres que serviram de base à decisão recorrida contraria claramente o Parecer de Orientação n 17/2009. A douta Representação da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, em parecer de Es. 162/163, manifesta-se pelo conhecimento, mas pelo não provimento do recurso. É o relatório. Rio de Janeiro, 03 de abril de 2013 Salvador Cicero Velloso Pinto Conselheiro Relator,rRSNSP RECe6'U O fé!
CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO. Processo SUSEPn 15414.003019/2009-60 Recurso ao CRSNSP n 6169 Recorrentes: Bradesco Vida e Previdência S/A Conselheiro Relator: André Leal Faoro VOTO A legislação prevê duas categorias de corretor de seguros: o corretor de seguros tout court e o corretor de seguros de vida, de capitalização e de previdência privada. A profissão de corretor de seguros de vida e de capitalização é regulamentada pelo Decreto n 56.903/65. Logo no art. 1, o Decreto esclarece que o corretor de seguros de vida e de capitalização era "anteriormente denominado agente". Em seu art. 40, o Decreto estabelece que a inscrição do profissional deve ser promovida pela seguradora ou pela sociedade de capitalização, que declara à autoridade que aquele corretor recebeu o devido treinamento e que se encontra tecnicamente habilitado a exercer a profissão. Além disso, podem aquelas empresas, a qualquer tempo, requerer o cancelamento da inscrição do corretor feita por seu intermédio. Isso faz com que, embora não haja, na prática, exclusividade, os corretores de seguros de vida e de capitalização trabalhem com seguros e títulos de uma única sociedade: aquela que promoveu seu registro. Mais que corretor, ele é um vendedor de seguros e de títulos de capitalização e, agora, de previdência privada. É o popular "pastinha", que sai a procura de compradores para sua mercadoria. E, atualmente, também atua em agências bancárias. Essa situação de dependência, com bastante frequência, dá motivo para que corretores de seguros de vida e de capitalização tentem obter, através da Justiça do Trabalho, o reconhecimento de vínculo trabalhista com a empresa que utiliza a prestação de seus serviços. E a Justiça trabalhista, que, geralmente, procura proteger o indivíduo que reclama, acaba, em muitos casos, concedendo o vínculo.
<1 A Procuradoria Federal junto à SUSEP, considerando ser "recorrente a questão da existência ou não, no plano real, de relação de emprego na contratação de corretor de seguros por empresas seguradoras, mediante instrumentos formalmente diversos do contrato de trabalho", proferiu o parecer de fls. 245/248, adotado pelo Conselho Diretor da SUSEP como Parecer de Orientação n 17/2009 (fis. 27/30), no qual diz o seguinte: "O julgamento administrativo, embora sujeito a eventual controle judicial posterior, mediante provocação do interessado, é, contudo, independente e não vinculado à decisão judicial, salvo a hipótese prevista no art. 103-A da CF/88 (súmula vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta). claro que as decisões judiciais trabalhistas serão fortemente ponderadas e, porque comumente apoiadas em substanciais fundamentos de fato e de direito, mostrando a descaracterização da simples prestação autônoma de serviços, dificilmente deixarão de influenciar o julgamento administrativo, desde que ocorrida a violação ao bem juridico de natureza pública que este busca proteger. Malgrado a decisão judicial, a investigação administrativa se impõe, e é para este fim mesmo que juizes e tribunais dão ciência de suas decisões (e não ordens de cumprimento, que seriam descabidas). Assim é e deve ser, seja pelo devido processo legal administrativo a que têm direito corretores e seguradoras interessados, seja pela imperiosa necessidade que tem a SUSEP de saber se houve ou não lesão ao preceito do art. 125, "b", do DL 73/66, que veda aos corretores e seus prepostos manter relação de emprego ou de direção com sociedade seguradora. Não é função típica da SUSEP investigar se há relação de emprego apenas para ver se a CLT está sendo cumprida ou se estão sendo respeitados os direitos do empregado (a realização da justiça legal esperada em cada relação de trabalho é problema da Justiça Trabalhista), mas cumprir a citada regra especial, cuja finalidade é proteger o equilíbrio nas relações entre os componentes do Sistema Nacional de Seguros Privados.
'7 4 Não são distintos apenas os objetos jurídicos, também o são as técnicas de investigação. Se na Justica do Trabalho tem aplicacão o princípio "ia dúbio pro misero", embora, muitas vezes, não o admita expressamente o julgador, no processo administrativo, a regra inflexível é a da verdade absoluta. Se a empresa reclamada admite a prestação de trabalho, porém nega a formação de vinculo empregaticio, compete-lhe, com exclusividade, provar amplamente e claramente a inexistência da relação de emprego, não bastando apresentar instrumento de contrato simulado de representação comercial, ou congêneres, ou mascarar pagamentos de salários sob a forma de pagamento de comissões acumuladas, como já se verificou. Por sua vez, o oportunismo do corretor de seguros que vai á Justiça do Trabalho buscando o reconhecimento de uma relação que estava obrigado a não deixar acontecer revela sua parceria na fraude ao citado dispositivo do DL 73/66, como também revela o desígnio autõnomo de trair o seu próprio estatuto profissional, pois a Lei 4.594/64 veda aos corretores e aos prepostos "serem sócios, administradores, procuradores, despachantes ou empregados de empresa de seguros" (art. 17, "b"). O caso é típico de alegação da própria torpeza em beneficio próprio e deveria ter tratamento mais severo do que a sanção exposta no art. 39, 1, "a", da Res. CNSP 60/200 1 (multa de três mil reais), não só pela deslealdade com a própria profissão, como também pelo fator de turbulência que representa para a busca da ética e do equilíbrio do sistema de seguros privados." No presente processo, foi isso que aconteceu. Rhander Glaycon Ferreira Arruda teve seu registro como corretor de seguros de vida e de capitalização promovido pela Bradesco Vida e Previdência S/A (fls. 34). Mas, ao mesmo tempo, constituiu a firma Multiflex Corretora de Seguros de Vida S/C Ltda., conforme de vê da sentença (fis. 5). Para ser registrado na SUSEP como corretor, qualquer pessoa tem que assinar um documento com o seguinte teor:
LI "Declaração de não impedimento profissional. De acordo com o disposto no inciso III do art. 70 da Circular SUSEP n 127, de 13.04.2000, declaro, sob sujeição às sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, o não exercício de cargo ou emprego em pessoa jurídica de Direito Público, cargo de diretoria em sociedade seguradora, resseguradora, de capitalização ou em entidade de previdência privada aberta e a inexistência de vínculo empregaticio com as mesmas." Sem o preenchimento dessa declaração, ninguém consegue o registro como corretor. Tendo sido registrado como corretor, o reclamante, com toda a certeza, assinou essa declaração. Em que pese ter a Justiça trabalhista reconhecido a existência de um vínculo empregaticio entre a seguradora e o reclamante Rhander Glaycon, é aplicável, neste caso, a assertiva da Procuradoria, aqui transcrita, de que "no processo administrativo, a regra inflexível é a da verdade absoluta". E, a verdade absoluta é que a contratada pela Bradesco era a Multiflex Corretora de Seguros e não seu sócio Rhander Glaycon. A representação acusa a seguradora de ter infringido o art. 90 do Decreto n 56.903/65 que tem a seguinte redação: "É vedado ao corretor de seguros de vida e capitalização, devidamente inscrito, nos termos deste Decreto, ser diretor, sócio, administrador, procurador, despachante ou empregado de empresa de seguros ou capitalização." Esse artigo repete o mesmo imperativo do art. 17, b, da Lei n 4.594/64 e do art. 125, b, do Decreto-lei n 73/ 66. Para infringir uma norma, é preciso que o sujeito ativo pratique a conduta proibida. Em todos os referidos dispositivos, o destinatário da norma é o corretor de seguros. A ele é vedado. Ele não pode. Portanto, somente ele, corretor, tem condição de violar a norma proibitiva. Só ele tem condição de praticar a conduta proibida. Só ele está sujeito a ser punido por essa violação.
ii A seguradora não só não praticou a norma proibitiva, como não tinha condição para essa prática, pois a ela a norma não é dirigida. Não existe nenhuma regra que diga: "É vedado às seguradoras contratar corretor de seguros como seu empregado." No caso, a seguradora nunca contratou o reclamante como seu empregado. Este é que, com o propósito de obter vantagens, intentou a reclamação trabalhista que tinha como objeto principal o reconhecimento de vinculo empregaticio não com a seguradora, mas com o Banco Bradesco, tanto que pretendia ser reconhecido como bancário. A sentença indeferiu essa pretensão e o declarou como empregado da seguradora. Mas, nos termos do Parecer de Orientação n 17/2009, o que a sentença decidiu não é a verdade absoluta. A seguradora nunca empregou Rhander Glaycon e, no decorrer da ação trabalhista, resistiu ao máximo, negando e revoltando-se contra a existência de vinculo. A sentença trabalhista criou uma ficção para conceder favorecimentos ao corretor a quem o Parecer de Orientação n 17/2009 chama de oportunista e desleal. Para mim, não houve a infração apontada. Por todo o exposto, dou provimento ao recurso. Rio de Janeiro, 10 de abril de 2014. AU_dÁ~"~~ André Leal Faoro Conselheiro Relator R E C E Si o o Em A) i L4,à21