O que é o pensamento baseado no risco?



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Transcrição:

PENSAMENTO BASEADO NO RISCO NA ISO 9001:2015 Propósito deste artigo Explicar o pensamento baseado no risco na ISO 9001 Abordar percepções e preocupações que o pensamento baseado no risco substitua a abordagem por processos Abordar a preocupação de que as ações preventivas tenham sido removidas da ISO 9001 Explicar em termos simples cada componente do pensamento baseado no risco O que é o pensamento baseado no risco? Uma das mudanças chave na revisão 2015 da ISO 9001 é estabelecer uma abordagem sistemática para considerar riscos, em vez de tratar a prevenção como uma componente separada de um sistema de gestão da qualidade. O risco é inerente a todos os aspectos de um sistema de gestão da qualidade. Existem riscos em todos os sistemas, processos e funções. O pensamento baseado no risco assegura que estes riscos são identificados, considerados e controlados ao longo do design e uso do sistema de gestão da qualidade. Em edições anteriores da ISO 9001, uma cláusula sobre ações preventivas estava separada do todo. Ao usar o pensamento baseado no risco a consideração dos riscos é integral. Tornase proativa em vez de reativa na prevenção ou redução dos efeitos indesejáveis através da identificação e ação precoces. Quando um sistema de gestão se baseia no risco, as ações preventivas já estão integradas no mesmo. O pensamento baseado no risco é algo que todos fazemos automaticamente no nosso dia a dia. Se eu desejo atravessar a estrada, olho para o transito antes de começar. Não avançarei em frente de um carro em movimento. O pensamento baseado no risco esteve sempre presente na ISO 9001 esta revisão tornao parte de todo o sistema de gestão. Na ISO 9001:2015 o pensamento baseado no risco precisa de ser considerado desde o princípio e ao longo de todo o sistema, fazendo com que as ações preventivas sejam inerentes às atividades de planeamento, operação, análise e avaliação. 1/6

O pensamento baseado no risco já é parte da abordagem por processos. Nem todos os processos de um sistema de gestão da qualidade representam o mesmo nível de risco em termos da capacidade da organização para atingir os seus objectivos. Alguns necessitam de um planeamento e de controlos mais formais do que outros. Para atravessar a rua, eu posso fazêlo diretamente ou posso utilizar uma passagem superior próxima. Que processo escolho irá ser determinado considerando os riscos. O Risco é habitualmente compreendido como sendo apenas negativo; no entanto, os efeitos do risco tanto podem ser negativos como positivos. Na ISO 9001:2015, riscos e oportunidades andam amiúde juntos. Oportunidades não são o lado positivo do risco. Uma oportunidade é um conjunto de circunstâncias que fazem com que seja possível fazer algo. Aproveitar ou não aproveitar uma oportunidade apresenta, portanto, níveis diferentes de risco. Atravessar a estrada diretamente dáme a oportunidade de chegar ao outro lado rapidamente, mas se aproveito essa oportunidade, existe um risco acrescido de ferimento, provocado pelos carros em movimento. O pensamento baseado no risco considera tanto a situação atual como as possibilidades de mudança. A análise desta situação mostra oportunidades de melhoria: um túnel sob a estrada dirigido diretamente ao outro lado semáforos para pedestres, ou desviar a estrada para que a área não tenha transito Onde é o risco abordado na ISO 9001:2015? O conceito de pensamento baseado no risco é explicado na introdução da ISO 9001:2015 como parte integrante da abordagem por processos. A ISO 9001:2015 usa o pensamento baseado no risco da seguinte forma: Introdução é explicado o conceito de pensamento baseado no risco 2/6

Cláusula 4 requer que a organização determine os processos do sistema de gestão da qualidade (SGQ) e aborde os seus riscos e oportunidades Cláusula 5 requer que a gestão de topo Promova a consciencialização para com o pensamento baseado no risco Determine e aborde os riscos e oportunidades que podem afectar a conformidade com os produtos e serviços Cláusula 6 requer que a organização identifique riscos e oportunidades relacionados com o desempenho do SGQ e tome ações apropriadas para os abordar Cláusula 7 requer que a organização determine e providencie os recursos necessários Cláusula 8 requer que a organização faça a gestão operacional dos seus processos Cláusula 9 requer que a organização monitorize, meça analise e avalie a eficácia das ações tomadas para abordar os riscos e as oportunidades Cláusula10 requer que a organização corrija previna ou reduza os efeitos indesejáveis, melhore o SGQ e atualize os riscos e oportunidades Porque usar o pensamento baseado no risco? Ao considerar o risco ao longo de todo o sistema e todo os processos, a probabilidade atingir os objectivos definidos é melhorada, o output é mais consistente e os clientes podem confiar que irão receber o produto ou serviço esperado. O pensamento baseado no risco: melhora a governança estabelece uma cultura proactiva de melhoria assegura a consistência da qualidade de produtos e serviços melhora a confiança e a satisfação dos clientes Organizações de sucesso incorporam intuitivamente o pensamento baseado no risco. 3/6

Como faço? Use o pensamento baseado no risco na construção do seu sistema e processos. Identifique quais são os seus riscos depende do contexto Se eu atravessar uma estrada movimentada com muitos carros em alta velocidade, os riscos não são os mesmos que no caso de uma estrada estreita e com poucos carros em movimento. Também é necessário considerar aspectos tais como as condições meteorológicas, a visibilidade, a capacidade de mobilidade pessoal e os objectivos pessoais específicos. Compreenda os seus riscos O que é aceitável, o que não é aceitável? Que vantagens ou desvantagens existem num processo face a outro? Objectivo: Eu necessito de atravessar uma estrada em segurança para chegar a uma reunião a uma determinada hora. É INACEITÁVEL ficar ferido. É INACEITÁVEL chegar atrasado/a. Atingir o meu objectivo mais rapidamente deve ser equilibrada com a probabilidade de ferimento. É mais importante que eu chegue à reunião sem ferimentos do que chegue à reunião a horas. Poderá ser ACEITÁVEL atrasar a chegada ao outro lado da estrada, utilizando uma passagem superior se a probabilidade de ficar ferido/a ao atravessar a estrada for elevada. Analiso a situação: A passagem superior está a 200 metros de distância e adicionará tempo ao meu percurso. O tempo está bom, a visibilidade é boa e eu consigo ver que a estrada não tem muitos carros neste momento. Decido que atravessar diretamente a estrada acarreta um baixo nível de risco de ferimento e ajudarmeá a chegar à minha reunião a tempo. 4/6

Planear ações para abordar os riscos Como posso evitar ou eliminar os riscos? Como posso mitigar riscos? Posso eliminar o risco de ferimento utilizado a passagem superior, mas já decidi que o risco de atravessar a estrada é aceitável. Agora planeio como reduzir a probabilidade de ferimento e/ou do impacto do ferimento. Não posso esperar conseguir controlar o impacto de um carro a atingirme. Mas posso reduzir a probabilidade de ser atingido/a por um carro. Planeio atravessar a estrada num momento em que não existem carros em movimento perto de mim e assim reduzo a probabilidade de um acidente. Também escolho atravessar a estrada num local onde tenha boa visibilidade. Implemente o plano implemente ações Posicionome ao lado da estrada, verifico que não existem barreiras que me impeçam de atravessar. Verifico se não se aproximam nenhuns carros. Continuo a verificar se não se aproximam carros enquanto atravesso a estrada Verifique a eficácia das ações funciona? Chego ao outro lado da estrada sem ferimentos e a tempo: este plano funcionou e os resultados indesejados foram evitados. Aprenda com a experiência melhore Repito o plano em vários dias, em horários diferentes e com diferentes condições meteorológicas. Isto dáme dados para compreender que mudanças no contexto (horário, condições meteorológicas, quantidade de carros em movimento) afectam diretamente a eficácia do plano e aumentam a probabilidade de eu não atingir os meus objectivos (chegar a horas e evitar ferimentos) 5/6

A experiência ensiname que atravessar a estrada a certas horas do dia é muito difícil porque existem demasiados carros em movimento. Para limitar o risco, revejo e melhoro o meu processo, utilizando a passagem superior nesses horários. Continuo a analisar a eficácia dos processos e a revêlos quando o contexto muda. Também continuo a considerar oportunidades de inovação: posso mudar o local da reunião para que a estrada já não tenha de ser atravessada? posso mudar o horário da reunião para atravessar a estrada quando existe pouco movimento? posso reunir virtualmente? Conclusão O pensamento baseado no risco: não é novo é algo que já fazemos é contínuo assegura mais conhecimento dos riscos e melhora a capacidade de resposta incrementa a probabilidade de atingir objectivos reduz a probabilidade de resultados negativos torna a prevenção num hábito Outros documentos úteis ISO 31000:2009 Risk Management Principles and guidelines PD ISO/TR 31004:2013. Risk management Guidance for the implementation of ISO 31000 6/6