DATAGRO Mercado global vive momento de mudanças A indústria mundial de açúcar e etanol, setor no qual o Brasil figura como um dos principais líderes, vive um cenário de transformações. Enquanto no país do futebol há uma crise que se arrasta há cinco anos, com sérias consequências para o segmento produtivo, países da Ásia vivem uma perspectiva de crescimento. Especialistas apontam para o fim do excedente mundial de açúcar já na próxima safra. A expectativa de mudanças no mercado internacional da commodity também se baseia nas alterações de regras comerciais previstas nos Estados Unidos e União Europeia 34 Junho, 2014 Revista Energia Business
VIII ISO Datagro New York Sugar & Ethanol Conference reuniu 334 líderes de negócios, provenientes de 22 países, em um dia de discussões técnicas com renomados palestrantes de todo o mundo Texto e fotos: Alexandre Carolo Desde 2010, pelo menos 44 usinas de açúcar e etanol foram fechadas no Brasil. Outras 33 abriram falência. Além disso, 12 unidades não irão moer cana-de-açúcar na próxima safra. A situação da indústria sucroenergética do País, maior produtor e exportador de açúcar do mundo, e maior exportador de etanol, integrou os principais debates da VIII ISO Datagro Sugar & Ethanol Conference, realizada dia 14 de maio, em Nova Iorque, EUA. O evento discutiu o momento atual do setor no mundo e delimitou as principais tendências que afetarão a indústria. O diretor executivo da International Sugar Organization (ISO), José Orive - que assumiu o posto este ano no lugar do executivo Peter Baron -, classifica o atual momento da indústria sucroenergética brasileira como preocupante por conta dos preços internacionais do açúcar e em consequência da política de controle de preços dos combustíveis praticada pelo governo. No entanto, Orive destacou que no médio prazo há possibilidades reais de recuperação dos preços globais da commodity, o que permitirá um fôlego para parte do setor. O presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, disse que a série de excedentes de açúcar no mercado mundial deverá chegar ao fim na safra 2014/15. O economista estima que o superávit de 2,18 mi- Junho, 2014 Revista Energia Business 35
lhões de toneladas no ciclo 2013/14 será seguido de um déficit de 2,46 milhões de toneladas em 2014/15. Com o aumento do consumo mundial da commodity e tendo em vista que a produção pode não superar o volume atual, pois não há incentivo para investimentos em ampliação da capacidade desde 2011, é possível antecipar essa tendência. De acordo com o vice-presidente de negócios do Banco Pine, Norberto Zaiet, as indústrias do setor sucroenergético estão chegando a quase R$ 100 de dívida para cada tonelada de cana processada, mesmo em um cenário de receita crescente na agricultura em geral. No entanto, assim como José Orive, o executivo do Pine acredita que o setor está à beira de um momento mais positivo, considerando que os estoques mundiais de açúcar serão menores na próxima safra, aproximando-se da demanda e afetando positivamente os preços da commodity. Outro indicativo de recuperação apontado por Zaiet diz respeito aos veículos flex fuel, que continuam a garantir a demanda por etanol e poderão contribuir ainda mais para uma retomada, caso o governo adote uma política de preços de combustíveis fósseis mais racional, o que pode ocorrer após as eleições. Mesmo com um crescimento do setor alimentado por dívidas, com redução das margens Plinio Nastari, presidente da Datagro, disse que a série de excedentes de açúcar no mercado mundial deverá acabar na próxima safra. O economista estima que o superávit de 2,18 milhões de toneladas no ciclo 2013/14 será seguido de um déficit de 2,46 milhões de toneladas em 2014/15 José Orive, novo diretor executivo da International Sugar Organization (ISO), classifica como preocupante o atual momento da indústria sucroenergética brasileira, mas destaca que no médio prazo há possibilidades reais de recuperação dos preços globais do açúcar, o que permitirá um fôlego para parte do setor 36 Junho, 2014 Revista Energia Business
Norberto Zaiet, vicepresidente de negócios do Banco Pine, acredita que o setor está à beira de um momento mais positivo, considerando que os estoques mundiais de açúcar serão menores na próxima safra, aproximando-se da demanda e afetando positivamente os preços da commodity Helder Gosling, diretor executivo comercial da usina São Martinho, acredita que as unidades bem estruturadas, apoiadas em tecnologia e boa gestão, podem e têm conseguido se manter firmes neste atual panorama adverso para o setor sucroenergético e percepção de risco negativa por parte dos investidores, o executivo acredita que uma correção de preços está em curso e que o cenário pode mudar. Visão da indústria - Pelo quarto ano consecutivo, o superávit de produção de açúcar em relação à oferta tem mantido o preço internacional da commodity em baixa, o que afeta a saúde financeira das indústrias. Há ainda o controle de preços de combustíveis fósseis, que acarreta perda de competitividade para o etanol ao incentivar o consumo de gasolina. Este cenário exige empenho dos produtores. De acordo com o diretor executivo comercial da usina São Martinho, Helder Gosling, as unidades bem estruturadas, apoiadas em tecnologia e boa gestão, podem e têm conseguido se manter firmes neste cenário. O vice-presidente sênior Junho, 2014 Revista Energia Business 37
Segundo Timothy Murray, diretor da ISSCT (International Society of Sugarcane Technologists), como a retomada por novos projetos está próxima, sairão na frente aqueles com tecnologia de ponta para impulsionar produtividade com eficiência, maximizando a rentabilidade da corretora Newedge EUA, Michael McDougall, concorda com Gosling. Segundo ele, o setor sucroenergético brasileiro realmente passa por dificuldades, o que fragilizou parte das indústrias do País. No entanto, McDougall lembrou que o segmento de açúcar, etanol e energia cresceu muito na última década mostrando que algumas empresas realizaram os investimentos necessários para se consolidar, mesmo em um cenário adverso. De acordo com o diretor da ISSCT (International Society of Sugarcane Technologists), Timothy Murray, como a retomada por novos projetos está próxima, sairão na frente aqueles com tecnologia de ponta para impulsionar produtividade com eficiência, maximizando a rentabilidade. Ele afirma que os movimentos coletivos da indústria, com resultados compartilhados, são uma opção relativamente barata e altamente benéfica, que pode render avanços não acessíveis se realizados de outras formas. No campo - Para superar os desafios em produtividade agrícola, o diretor de marketing da FMC, Marcio Farah, destacou a necessidade de instauração de um novo processo para produção de variedades de cana. O diretor afirmou que as principais variedades de cana do Brasil foram introduzidas há mais de 25 anos e neste período houve mudanças drásticas no setor, inclusive em relação ao clima. Segundo Farah, a produtividade precisa ser elevada e a cana de açúcar é uma das únicas culturas que não tem um programa mundial integrado de desenvolvimento de germoplasmas. O diretor afirma que atualmente há apenas programas acionais com pouca conexão entre estudos, portanto há um grande espaço para melhora neste campo. EB Para superar os desafios em produtividade agrícola, o diretor de marketing da FMC, Marcio Farah, destacou a necessidade de instauração de um novo processo para produção de variedades de cana 38 Junho, 2014 Revista Energia Business