DISCUTINDO PERCEPÇÕES EM TORNO DO TERMO COMPETÊNCIA

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Transcrição:

DISCUTINDO PERCEPÇÕES EM TORNO DO TERMO COMPETÊNCIA Jéssica Mazutti Penso 1, Karen Daniela Pires 2, Maria Alvina Pereira Mariante 3 Resumo: Este artigo tem como principal objetivo revisar as diferentes ideias que envolvem o conceito de competência presente em textos dos pesquisadores Perrenoud (1999; 2000; 2002), Machado (2002), Le Boterf (2003). Deste modo, buscamos conhecer, relacionar e analisar as diferentes concepções expostas pelos autores mencionados, para assim podermos discutir e compreender os significados desse termo, e, com isso, poder dialogar a respeito das construções e implantações desse conceito em instituições de ensino. Palavras-chave: Competência. Habilidade. Concepções. INTRODUÇÃO Ao procuramos retomar as principais contribuições de alguns pesquisadores sobre o tema, entre eles - Perrenoud (1999; 2000; 2002), Machado (2002), Le Boterf (2003) - percebemos certo nível de complexidade dos mesmos, pois suscitam contrapontos, comparações e inquietações. A ideia de competência tem sido recorrente nas discussões que tratam do processo ensino - aprendizagem tanto no Ensino Médio quanto no Ensino Superior, uma vez que estes conceitos se apresentam interligados ao perfil do futuro profissional. Competência, do latim, competentia significa proporção, simetria. Refere-se à capacidade de compreender uma determinada situação e reagir adequadamente. Em sentido dicionarizado, competência significa poder detido por um indivíduo, em razão do seu cargo ou função, de praticar atos próprios; capacidade que um indivíduo possui de expressar um juízo de valor sobre algo a respeito de que é versado... (HOUAISS, A 2001 p.774); [...] qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade [...] (FERREIRA, 1999, p. 512). Desse modo, o termo competência tem recebido vários significados e assumem, por assim dizer, diferentes perspectivas e modos de pensar. Pressupõe-se, então, que a mudança de paradigma econômico envolve mudanças radicais diretas no paradigma educacional, que, segundo Bruno (1996), deve garantir aos profissionais um ensino qualificado para que possam enfrentar os desafios da nova realidade socioeconômica que hoje se apresenta, e possam equacionar problemas profissionais em constante mutação. 1 Graduanda em Enfermagem pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Científica no Centro Universitário UNIVATES. E-mail: jessica.m.penso@gmail.com 2 Graduação em História pelo Centro Universitário UNIVATES. Graduanda em Letras pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Científica no Centro Universitário UNIVATES. E-mail: k.pires@universo.univates.br 3 Doutora em Educação pela UFRGS. Docente do Centro Universitário UNIVATES. Coordenadora da pesquisa PROVAS DO ENADE: aferição de conteúdos específicos, habilidades e competências implicações no ensino. E-mail: smariante@ hotmail.com - 135 -

Embora não se trate de um assunto novo, acreditamos ser oportuno discuti-lo, pois esses diferentes modos de entender a ideia de competência permeiam as discussões entre docentes, levando-os a buscarem elementos que propiciem o seu entendimento. MODOS DE ENTENDER A IDEIA DE COMPETÊNCIA Existem diferentes concepções sobre a ideia de competência. Talvez a mais utilizada seja a que designa uma pessoa qualificada para realizar determinada atividade. De acordo com Perrenuod (1999, p.7): [...] uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. Desse modo, a ideia de competência, para Perrenoud (2002, p.164), implica certa ocorrência entre diferentes elementos presentes em uma situação-problema e pode manifestar-se por intermédio da aptidão para resolvê-los, ou seja, habilidades que expressam a capacidade que o indivíduo possui ao encontrar uma solução para um problema que se apresente a ele. Ao tratar da formação de professores, o autor procura enfatizar dispositivos e métodos eficazes para que os docentes possam atender às necessidades atuais como, por exemplo, entender as diferenças e servir-se de novas tecnologias. Em seu livro Dez novas competências para ensinar (2000) além de descrever aquelas que devem orientar e contribuir para delineamento do trabalho pedagógico, ressalta ainda que, é na escola, que o estudante deve ser instigado a buscar conhecimentos, assim como vivenciar novas situações de aprendizagem que favorecerão novas experiências. Além disso, Perrenoud (2002) defende que um professor, por exemplo, deve desenvolver uma prática reflexiva constante. Para tanto, enumera as seguintes habilidades e competências: ter domínio da matriz curricular do curso em que atua; sistematizar conceitos; elaborar questões e paradigmas que estruturam os saberes de uma disciplina. Além disso, ressalta a importância de o professor propor situações-problema, para que os estudantes possam transpor obstáculos. Enfatiza ainda que se forem problematizados, os estudantes, ao se apropriarem do problema, construirão hipóteses. Cabe ressaltar que essas ideias apresentadas pelo pesquisador estão relacionadas à perspectiva cognitivo/interacionista, em que o sujeito constrói seu próprio conhecimento. Ao problematizar a atuação da escola quanto ao modo de trabalhar as competências dos aprendizes, destaca que ainda existe forte preocupação dos docentes em repassar conteúdos aos seus alunos. Nesse sentido, Perrenoud (1999) escreve: [...] é mais fácil avaliar os conhecimentos de um aluno do que suas competências, pois para aprendê-las, deve-se observá-lo lidando com tarefas complexas, o que exige tempo e abre o caminho à contestação (p.16). Com objetivo de assimilar as situações cotidianas, as competências devem ser desenvolvidas já no meio escolar, pois o aprendizado será realmente válido quando o indivíduo se confrontar com situações complexas, ao longo da vida. O professor ao ensinar competências aos seus alunos poderá projetar situações reais. Perrenoud (1999, p. 70) destaca: [...] enquanto os exercícios escolares não tem consequências para outrem, uma abordagem por competências ataca problemas reais, da vida de verdade. Segundo Perrenoud (1999; 2000; 2002) competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos, ou seja, saberes, capacidades, informações para enfrentar com pertinência e eficácia uma série de situações. A perspectiva teórica desse pesquisador suíço apresenta-se ancorada nos seguintes pressupostos: - as competências não são apenas saberes, mas integram, incorporam conhecimentos adquiridos no decorrer da história de vida da pessoa. Uma ideia comum na nossa cultura é a - 136 -

diferença entre saber e saber fazer. Não basta saber, pois é necessário saber aplicar, mobilizar o conhecimento, quando surgirem situações propícias. - a capacidade de mobilização de saberes só se desenvolve em situações singulares. É necessário trabalhar, exercitar a mobilização, a transferência para o cotidiano. Isso exige tempo, com erros e acertos parciais, resultando em descobertas individuais e de equipe. Para Perrenoud (1999), competência é poder enfrentar uma situação da melhor maneira possível deve-se, via de regra, pôr em ação e em sinergia vários recursos cognitivos complementares, entre os quais estão os conhecimentos. Desse modo, as competências são construídas no confronto e na vivência de obstáculos e problematizações que possibilitem a resolução de problemas. A partir disso, pode-se analisar o termo competência quando o sujeito conseguir resolver problemas no seu cotidiano pessoal e profissional. Entre as diversas concepções a respeito do termo competência que são consideradas e analisadas por pesquisadores, temos o que Perrenoud (1999, p.26) escreve: Existe a tentação de reservar a noção de competência para as ações que exigem um funcionamento reflexivo mínimo, que são ativadas somente quando o ator pergunta a si mesmo, com uma maior ou menor confusão: O que está ocorrendo? Por que estou em situação de fracasso? O que fazer? Já vivi uma situação comparável? O que eu fiz naquela ocasião e por quê? A mesma resposta seria adequada hoje? Em que pontos deverei adaptar minha ação? Como conceito de competência passa a ser rediscutido no processo de reorganização do modo de produção capitalista, atrelado às mudanças e flexibilização do setor produtivo, as pessoas em suas ações, convivências, atitudes, avaliações, estão em permanente contato com a ideia da necessidade de um sujeito que seja um profissional eficiente, criativo, dinâmico, crítico e conhecedor. Assim, a capacidade de adaptação em diferentes contextos representa a ideia de competência. Em síntese, na atualidade, o profissional, necessita atuar de maneira inovadora, demonstrando a capacidade de administrar situações complexas que surgem no dia-a- dia do trabalho. A construção das competências é, antes de tudo, formar esquemas de mobilização de diversos recursos cognitivos, em uma situação complexa, para que o sujeito possa aplicá-los em situações cotidianas. Já, de acordo com Le Boterf (2003, p. 38), [...] o profissional deve não somente saber executar o que é prescrito, mas deve estar preparado para ir, além disso. Para esse pesquisador, não se pode descrever competência como se esse conceito fosse apenas uma lista de conhecimentos ou de habilidades. Trata-se, isso sim, de um ato de enunciação que não pode ser compreendido sem referência ao sujeito que o emite ou ao contexto no qual ele se situa (LE BOTERF, 2003, p. 49). A partir do citado, é possível analisar a complexidade desse termo, uma vez que não se limita apenas ao acúmulo de conhecimentos e habilidades, como expõe o autor. Melhor dizendo, a competência necessita ser entendida em relação ao sujeito que a pratica e também ao contexto que envolve a ação. Le Boterf (2003, p. 52) enfatiza que: Não há competência senão posta em ato, a competência só pode ser competência em situação. Ela não preexiste ao acontecimento ou à situação. Ela se exerce em um contexto particular. É contingente. Sempre há competência de ou competência para, o que significa dizer que toda competência é finalizada (ou funcional) e contextualizada. Etimologicamente, o termo competência vem do latim competens: o que vai com, o que é adaptado a. Considerando o pensamento do autor, nota-se que a ideia de competência está diretamente vinculada aos acontecimentos e aos contextos. A pessoa que deseja se inserir no mercado de trabalho será designado competente quando colocar em prática seus conhecimentos. Outra concepção - 137 -

defendida por Le Boterf (2003) refere-se à rede de perfil profissional em que o sujeito, poderá mobilizar, além de seus próprios conhecimentos e habilidades. Le Boterf (2003) defende que tanto o saber quanto o saber-fazer de [...] um profissional não se situam apenas em sua pessoa, pois ele não poderá ser competente sozinho (LE BOTERF, 2003, p. 53). Ao contrário, eles devem estar ligados a toda uma rede de relações pessoais, de pessoas-recursos, de bancos de dados, de cadernetas de anotações, de livros (LE BOTERF, 2003, p. 53), o que pode ser entendido como o quarto cérebro. A partir do exposto, é possível compreender que a competência é individual e também coletiva, pois o técnico, ao comunicar-se com a rede de profissionais, está compartilhando ideias, experiências, conhecimentos. Le Boterf (2003, p. 54) reforça: A competência é individual e social ao mesmo tempo. É até mesmo social antes de ser individual. Seu recorte individual a competência desejada no indivíduo depende do sistema de papéis estabelecido entre os atores. A distribuição das competências requeridas não concerne a indivíduos isolados, mas a parceiros de um sistema. O aspecto referente ao envolvimento desse sujeito em seu trabalho é também salientado por Le Boterf (2003), quando escreve que há diferenças marcantes entre o especialista e o sistema especialista. Isso quer dizer que o futuro trabalhador não pode manter-se refém de instruções e procedimentos que regulam suas ações, pois, em primeiro lugar, ele deve ter iniciativa e ser propositivo. Além disso, afirma que [...] competência do profissional não é mais apenas uma questão de inteligência: toda sua personalidade e sua ética estão em jogo (LE BOTERF, 2003, p.80). O profissionalismo consiste também em manter a personalidade, ou seja, ao se confrontar com situações de trabalho, o indivíduo poderá fazer uso da subjetividade. Em muitas profissões, ressaltando Le Boterf (2003), não se trata mais de deixar a personalidade de lado para se conformar com as instruções impostas, mas querer agir para poder e saber agir. Tais aspectos são fundamentais para o envolvimento e reconhecimento do profissional em diferentes contextos de trabalho. O julgamento do profissional é outro aspecto abordado por Le Boterf (2003), que ao descrevêlo, propõe a avaliação da eficácia como uma atividade com competência, visto que os resultados esperados foram alcançados. Avaliando os desempenhos, pressupõe-se a existência de competência. De forma semelhante, Machado (2002, p. 143) explica que: Um outro elemento fundamental para a caracterização da ideia de competência é justamente o âmbito no qual ela se exerce. Não existe uma competência sem a referência a um contexto no qual ela se materializa: a competência sempre tem um âmbito, o que nos faz considerar bastante natural uma expressão como Isto não é da minha competência. Considerando as palavras do autor, percebe-se a relação entre contexto e competência, ou seja, para existir a definição de competência é necessário que a mesma possa se concretizar, isto é, uma pessoa é considerada competente a partir do momento em que coloca em prática seus conhecimentos. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Se considerarmos as abordagens desenvolvidas pelos autores citados, percebemos que o conceito do termo competência é descrito como a capacidade do aluno solucionar uma situaçãoproblema, mobilizando conhecimentos preexistentes, e contextualizando sua ação. Para o desenvolvimento de competências cabe aos professores a iniciativa de estimular os alunos a atuar em situações que imitam os fatos do cotidiano, com o objetivo de problematizar - 138 -

atividades, promovendo a busca do próprio aluno pela solução. Para tanto, o professor precisa ser criativo e inovador. Atualmente, muitas são as competências requeridas para a formação profissional. Não basta a produção de saberes que se reduzem ao domínio de conteúdos a serem ensinados, mas a capacidade do aluno em mobilizar os conhecimentos teóricos para solucionar situações que exigem capacidade reflexiva. Se levarmos em conta os argumentos defendidos pelos autores referidos, a escola, de um modo geral, preconiza trabalhar com o desenvolvimento de conteúdo e não tanto com o desenvolvimento de competências, embora o conceito de competência esteja presente nos documentos (Diretrizes/ PCNs) e Projetos Pedagógicos que norteiam a atividade pedagógica das instituições de ensino. Isso ocorre porque se espera avaliar o nível de aprendizado dos alunos, porque é mais fácil avaliar o quanto o aluno entendeu sobre o conteúdo abordado do que avaliar as competências que foram desenvolvidas no processo ensino-aprendizagem. As ideias expostas pelos autores sobre o termo competência se aproximam, uma vez que não chegam a apresentar um efetivo contra argumento. De outro modo, eles conciliam os conceitos e demonstram, de forma unânime, a importância do desenvolvimento de competências no processo de formação do estudante, futuro profissional. REFERÊNCIAS BRUNO, L. et al. (Org.). Educação e trabalho no capitalismo contemporâneo. São Paulo: Atlas, 1996. FERREIRA, A. B. H., 1999. Novo Aurélio Século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. HOUAISS, A. Dicionário de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LE BOTERF, G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. Porto Alegre: Artmed, 2003. MACHADO, N. J. Sobre a idéia de competência. In: PERRENOUD, P.; THURLER, M. As competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999. PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar - convite à viagem. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. PERRENOUD, P.; THURLER, M. As competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. - 139 -