MULTICENTRALIDADE E POLICENTRALIDADE: A ZONA NORTE DE LONDRINA 1



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Transcrição:

MULTICENTRALIDADE E POLICENTRALIDADE: A ZONA NORTE DE LONDRINA 1 Jônatas Lima Candido UNESP de Presidente Prudente - jota.candido@hotmail.com INTRODUÇÃO Os espaços urbanos têm apresentado características que, tomando por parâmetro a história da urbanização no mundo, são relativamente novas. Duas delas serão abordadas nesse artigo: a descontinuidade territorial dos tecidos urbanos; e a multiplicação de áreas centrais e centralidades. Embora sejam distintos, os processos dos quais derivam essas características mantêm relações de reciprocidade. O desenvolvimento dos meios de comunicação e a reestruturação produtiva dos anos 1970 são fatores que influenciaram sobremaneira a estruturação dos espaços urbanos, no limite, promovendo a disjunção entre cidade e urbano, engendrando processos como os de dispersão urbana e a constituição de multicentralidade e policentralidades em espaços metropolitanos ou não. OBJETIVOS Este artigo tem como objetivo evidenciar as relações entre a dispersão urbana e a complexificação da estrutura urbana de Londrina a partir da constituição do subcentro da Avenida Saul Elkind e apontar a formação, no período atual, de uma policentralidade nessa cidade, tendo como recorte espacial a Zona Norte (ZN) de Londrina. METODOLOGIAS 1 Pesquisa em estágio inicial.

O desenvolvimento da pesquisa da qual trato nesse artigo foi feito por meio da leitura e argumentação com a bibliografia referente aos temas que abordo no texto além da realização de trabalhos de campo para observação e levantamento de informações. RESULTADOS PRELIMINARES DISPERSÃO URBANA E GÊNESE DA ZONA NORTE DE LONDRINA Para analisar a relação entre dispersão urbana e criação da Zona Norte (ZN) de Londrina detenho-me àqueles processos que foram responsáveis de modo concreto para a produção dos Cinco Conjuntos ou Cincão, nome que segundo Beidack (2009, p. 148) [...] surgiu dentro dos escritórios da Cohab-Ld [Companhia de Habitação de Londrina] para facilitar a comunicação entre os funcionários [...], e pelo qual a ZN de Londrina ficou popularmente conhecida. Assim, o processo de modernização do campo brasileiro com a inserção de novas culturas, simultaneamente, supria as demandas por matéria prima da produção industrial e criava demanda por mecanização, eliminando postos de trabalho no campo, promovendo a migração campo cidade e o consequente aumento do número de pessoas vivendo em cidades. É importante mencionar que, no caso de Londrina, o aumento da população deu-se por conta da associação em meados dos anos 1970, dessas transformações no campo à ocorrência de um evento climático ocasionado por extremos de temperatura mínima. A chamada Geada Negra do dia 18 de julho de 1975 pôs fim à cafeicultura no Norte do Paraná. A transposição dos trilhos do trem e a definição da localização industrial (a partir da elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano em 1968), ambas ao norte do tecido urbano então constituído, foram também responsáveis por orientar a expansão da cidade nessa direção. Com a criação do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), formado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), o qual era responsável por financiar a construção de moradias, e pelas Companhias de Habitação (Cohab), que eram responsáveis pela operacionalização do sistema, [...] a zona norte de Londrina recebeu os gigantescos conjuntos habitacionais construídos

pela Cohab-Ld com recursos do BNH e a porção norte da cidade teve suas origens efetivadas. (BEIDACK, 2009, p. 147) A leitura da produção da ZN de Londrina por meio da análise da morfologia urbana é possível pela compreensão da dispersão urbana, que Catalão (2013, p. 30) entende como [...] uma faceta do processo de difusão da urbanização pelo planeta e representa, para as cidades, uma quebra nos fechamentos que historicamente as caracterizaram. Isso não significa que o caractere de maior densidade da cidade em relação ao campo esteja desaparecendo, mas que seus limites estão se tornando, cada vez mais, indefiníveis [...] O processo de dispersão urbana, ainda segundo esse autor. [...] concerne precisamente aos espaços urbanos, e seu uso faz referência direta ao fato para o qual Sposito (2009) chamou a atenção, qual seja, de que a unidade morfológica da cidade contemporânea está em processo de dissolução. (CATALÃO, 2013, p. 32) Julgo pertinente a análise da produção da ZN a partir da compreensão do processo de dispersão urbana porque no caso de Londrina se verifica a ocorrência dos elementos característicos fundamentais desse processo, abaixo descritos. [...] (i) um crescimento territorial acentuado; (ii) uma diminuição progressiva das densidades no sentido centro-periferia marcada, contudo, por alternância de áreas de alta e baixa densidades; e (iii) uma perda da continuidade territorial urbana. Isso é propiciado pelas novas tecnologias de informação, comunicação e transporte, engendra diferentes práticas espaciais e é expressão de um processo mais amplo de segmentação social, que no Brasil é ampliado pela importância que têm as desigualdades sociais na estrutura da sociedade e, por conseguinte, na estruturação espacial. (CATALÃO, 2013, p. 33) O crescimento territorial pode, dentre outros, ser percebido pela distância dos primeiros cinco conjuntos habitacionais da ZN de Londrina em relação ao centro, conforme se lê em Silva (2002, p. 54) [...] Estes conjuntos foram construídos em áreas muito distantes do Centro Principal, permitindo a existência de vazios urbanos na área intermediária entre o tecido urbano já constituído e os novos conjuntos, possibilitando a valorização fundiária, pois neles se alocaria uma infra-estrutura que contribuiria para tal valorização.

Um indicativo da diminuição progressiva das densidades no sentido centro-periferia pode ser a [...] a fraca produção vertical na zona norte de Londrina [...] (BEIDACK, 2009, p. 206) em oposição à acentuada verticalização do centro devido ao seu limitado crescimento horizontal (CORRÊA, 1989, p. 42). Assim, seria possível supor que enquanto o centro apresenta maior concentração vertical e, portanto, grande densidade, a periferia (nesse caso, a ZN de Londrina) seria menos densa por conta da pouca concentração vertical. Por fim, a presença no espaço urbano de Londrina de áreas não construídas, uma vez que, [...] o poder público locou os conjuntos habitacionais, distantes da então malha urbana, deixando enormes áreas vazias entre estes e o centro da cidade [...] (BEIDACK, 2009, p. 145) evidencia a perda da continuidade territorial, caracterizando a dispersão urbana. É ainda possível entender a dispersão do tecido urbano de Londrina com a criação dos Cinco Conjuntos a partir do conjunto de mudanças do final dos anos 1970 fomentadas pela ampliação da competitividade decorrente da diminuição da taxa de lucros, conhecida como a Terceira Revolução Industrial. Nesse contexto, em que as possibilidades de ampliação dos mercados consumidores são reduzidas, a competitividade, por meio da concorrência, decorre da diminuição de custos. (SPÓSITO, 2007, p.19) Assim, de acordo com Spósito (2007, p. 19), a diminuição dos custos é perseguida [dentre outros] por meio de lógicas territoriais.. Analisando as novas formas de produção do espaço urbano no estado de São Paulo, a autora avalia o impacto das transformações que constituem a Terceira Revolução Industrial sobre o espaço urbano, priorizando a análise das ações e escolhas locacionais referente à: atividades industriais; atividades comerciais e de serviços; e habitats urbanos. Por hora, e para essa análise (compreender a criação da ZN de Londrina enquanto dispersão urbana), interessam-me as ações e escolhas locacionais referentes aos habitat urbanos, em especial os grandes conjuntos habitacionais. A instalação de grandes conjuntos habitacionais, ainda que muitos deles precariamente servidos por meios de consumo coletivo tem sido uma das formas de produção do espaço urbano que mais alterou a morfologia urbana, pois, via de regra, a localização deles é periférica e em descontinuo ao tecido urbano já constituído. (SPÓSITO, 2007, p. 21)

Beidack (2009), ao pesquisar a produção do espaço urbano da ZN de Londrina, deixa evidente o papel dos cinco conjuntos habitacionais na gênese dessa parte da cidade. A distinção entre continuidade/descontinuidade territorial e continuidade/descontinuidade espacial é fundamental para a compreensão da dispersão do espaço urbano de Londrina a partir da constituição da ZN. Segundo Spósito (2007, p. 23) [...] a descontinuidade territorial é possível porque a continuidade espacial se fortalece por meio de ampliação de infraestruturas de circulação e comunicação (sistema viário, sistema de fornecimento de água ou captação de esgotos, redes de telefonia, televisão e internet etc) e pela difusão do acesso aos equipamentos que possibilitam os deslocamentos e os contatos (veículos automotivos, antenas, microcomputadores etc). A continuidade espacial permite a produção do espaço urbano em descontinuo, gerando áreas não construídas dentro da cidade, ainda que ela seja insuficiente, pois a continuidade espacial, pelo menos em um primeiro momento, é um devir. [...] mesmo havendo descontinuidade territorial, em nível ainda que incompleto ou precário, a integração espacial vai se realizar. A extensão das linhas de ônibus que realizam o transporte coletivo urbano, a extensão das infra-estruturas de telefonia e mesmo aquelas relativas ao fornecimento de energia elétrica e água vão complementar essa integração espacial da área recém implantada, promovendo continuidade espacial urbana sem que haja continuidade territorial urbana. (SPÓSITO, 2007, p. 24) O exemplo dos Cinco Conjuntos é mais uma vez ilustrativo, como se lê em Beidack (2009, p. 120) [...] no inicio da entrega das moradias localizadas na porção norte (1978) não havia nenhuma ligação propriamente dita com a cidade de Londrina, pois os conjuntos habitacionais estavam praticamente isolados e aos poucos foram sendo dotados dos serviços coletivos e infra-estrutura pública [...] A análise dos processos históricos é importante para a compreensão da gênese da ZN de Londrina, mas é a compreensão do processo de dispersão urbana que identifica as condições materiais que permitiram a constituição dessa parte da cidade, bem como as lógicas que a orientaram.

A CONSTITUIÇÃO DO SUBCENTRO DA AVENIDA SAUL ELKIND E OS INDÍCIOS DA POLICENTRALIDADE Dentre outros fatores, com o crescimento populacional e/ou espacial das cidades e a consequente ampliação das distâncias entre a área central e as novas áreas residenciais, ocorre o processo de descentralização e a correlata redefinição do papel do centro das cidades. Segundo Spósito (2013, p. 72) [...] Em modos de produção pretéritos, tanto quanto em boa parte do desenvolvimento do modo capitalista de produção, as cidades tiveram suas estruturas espaciais articuladas em torno de um centro principal. Na maior parte das vezes, ele era ou é único, desempenhando todos os papeis de centralidade, tanto na escala da cidade, quanto na interurbana, quando tratamos dos espaços urbanos de maior importância nas redes urbanas. A implantação de sistemas de transporte urbano, primeiramente por trilhos (bondes e trens suburbanos, seguidos pelo metrô) e depois, sobretudo, o de matriz automotiva (ônibus, carros, caminhões, motos etc.) geraram condições técnicas e funcionais para uma cidade mais expandida. Ela é menos densa, alcançando a situação de dispersão do tecido urbano e de diluição clara das formas urbanas em amálgamas em que elas se mesclam aos espaços rurais nas franjas deste tecido. Esse processo foi acompanhado, claramente, de emergência de novas áreas comerciais e de serviços. A constituição de novas áreas de concentração econômica de empresas do setor comercial e de serviços deriva de novas lógicas de produção e apropriação do espaço urbano, da qual a expansão territorial dos tecidos urbanos de modo disperso, em parte possível pelo desenvolvimento dos meios de transporte, é uma expressão. Têm-se assim morfologias urbanas mais complexas que apresentam centralidades múltiplas. Do ponto de vista teórico conceitual é nesse contexto empírico que o conceito de centralidade ascende enquanto instrumento de leitura das recentes realidades urbanas [...] a palavra centro se refere a uma entidade, a uma localização com forte poder de atração de pessoas e com determinadas propriedades geométricas, enquanto centralidade remete para outro tipo de propriedades apostas a essa geometria e que reforçam a sua atração. A evolução do conceito foi no sentido da valorização destas últimas a ponto de suplantar as da geometria. (SALGUEIRO, 2013, p. 14)

Assim, enquanto a cidade pré-industrial e a industrial tinham um centro, a cidade fragmentada da modernidade tardia será melhor caracterizada pela existência de uma rede de centralidades [...]. (SALGUEIRO, 2013, p. 13) Faz-se necessário retomar a distinção entre centro e centralidade realizada por Spósito (2001, p. 238) para reiterar o objetivo deste artigo. De acordo com a autora Essa redefinição não pode, no entanto, ser analisada apenas no plano da localização das atividades comerciais e de serviços, como já tem sido destacado por diferentes autores, mas deve ser estudada a partir das relações entre essa localização e os fluxos que ela gera e que a sustentam. Os fluxos permitem a apreensão da centralidade, porque é através dos nódulos de articulação da circulação intra e interurbana que ela se revela. Essa circulação é, evidente, redefinida constantemente pelas mudanças ocorridas na localização territorial das atividades que geram a concentração. Desse ponto de vista, não há centro sem que se revele sua centralidade, assim como essa centralidade não se expressa sem que uma concentração se estruture. Se o centro se revela pelo que se localiza no território, a centralidade é desvelada pelo que se movimenta no território, relacionando a compreensão da centralidade, no plano conceitual, prevalentemente à dimensão temporal da realidade. O que é central é redefinido em escalas temporais de médio e longo prazo pela mudança na localização territorial de atividades. A centralidade é redefinida continuamente, inclusive em escalas temporais de curto prazo, pelos fluxos que se desenham através da circulação das pessoas, das mercadorias, das informações, das ideias e dos valores. Em outro trabalho a autora simplifica essa distinção e considera a centralidade uma condição e expressão de central que uma área pode exercer ou representar, enquanto que áreas centrais são espaços que ancoram a constituição de centralidades (SPÓSITO, 2013, p. 73). A redefinição mencionada no início do trecho citado acima, no caso aqui tratado, é entendida como o surgimento de novas atividades e estabelecimentos comerciais e de serviços fora do centro principal de Londrina e a relocalização na Avenida Saul Elkind (a principal avenida da ZN de Londrina) de atividades e estabelecimentos que antes estavam restritos ao centro principal. Nas pesquisas de Silva (2002) e a Beidack (2009), a dispersão do tecido urbano e, pelo menos em um primeiro momento, a fraca integração espacial devida as dificuldades de mobilidade e acessibilidade resultaram na concentração de atividades comerciais e de serviços na Saul Elkind, portanto, fora do centro principal de Londrina.

Embora não haja uma convergência explícita entre as pesquisas em relação ao momento em que é possível verificar de fato a constituição de um subcentro na Saul Elkind (entre os anos 1980 e 1990), ambas consideram a infraestrutura como um fator fundamental para a concretização desse processo, uma vez que, a infraestrutura, ao permitir uma maior integração espacial possibilitou que se instalasse na Saul Elkind as filiais das lojas do centro e agencias bancárias, aumentando assim progressivamente a diversidade de bens e serviços. Em Silva (2002, p. 89), encontra-se uma argumentação sobre a definição de subcentro que é bastante profícua para o estudo da Saul Elkind Pelo fato de os subcentros atenderem a uma parcela particular (local) do espaço urbano e estarem, portanto, inseridos num espaço que se mostra segmentado, segregativo e excludente, teremos parcelas de população diferenciadas para consumir nos subcentros, constituindo numa diferença crucial em relação ao Centro Principal, que em princípio atende à população de toda a cidade. Desta forma, encontra-se uma diferenciação em relação à escala, mas, também, em relação aos padrões socioespaciais, entre os subcentros e o Centro Principal das cidades. Com isso, considera-se um equívoco entender tais formas espaciais apenas como réplicas menores do centro Principal, mas sim, como áreas que se constituem a partir das características econômicas da população local e dos conflitos das atuações dos capitais locais, municipais e regionais, que irão produzir um espaço urbano diferenciado, porém, articulado internamente, ainda que com contradições. Essa definição permite uma compreensão mais precisa do subcentro que se constituiu na ZN de Londrina e que foi talvez o exemplo mais ilustrativo, ou a melhor expressão da multicentralidade dessa cidade. Contudo, quero com este artigo apontar para emergência da policentralidade na ZN de Londrina, e, por conseguinte nessa cidade no período atual, por causa da instalação de grandes superfícies comerciais também nessa parte da cidade. Spósito (2013, p. 74-75) [...] Tenho usado o termo MULTICENTRALIDADE para me referir à conformação de mais de uma área de concentração comercial e de serviços nas cidades, influenciando a perda relativa do peso e da importância do centro principal em estruturas espaciais tipicamente monocêntricas até então. [...] Reservo a expressão POLICENTRALIDADE para tratar de dinâmicas mais recentemente observadas, que se combinam com as sinteticamente

descritas no parágrafo anterior, contendo-as, mas superando a lógica que orienta sua formação. São atinentes ao aparecimento de grandes superfícies comerciais e de serviços, que redefinem de modo profundo, a estrutura espacial que vinha se estabelecendo no decorrer do tempo. [...] especialmente, hipermercados modernos de grandes grupos do setor, shopping centres, centros especializados de grande porte (de negócios, de serviços médico-hospitalares, de feiras, de festas etc.). Ainda de acordo com a autora, há três razões pelas quais se distingue multicentralidade de policentralidade. A primeira se refere à abrangência da centralidade. Em uma situação de policentralidade as grandes superfícies comerciais exercem atração sobre todo o conjunto da cidade e, até mesmo sobre outras cidades. Essas superfícies não são, portanto, hierarquicamente inferiores ao centro principal no que se refere à oferta, diversidade e especialização dos bens e serviços que oferecem. Em um contexto de multicentralidade, um subcentro ou uma galeria não exercem influência sobre todo o conjunto da cidade ou outras cidades. A segunda razão diz respeito à diversidade de agentes, bem como o tempo envolvido na constituição da multicentralidade e da policentralidade. Assim, enquanto que a multicentralidade resulta da ação de uma diversidade de agentes (comerciantes, prestadores de serviços, pequenos empreendedores e proprietários de imóveis ou terrenos) que contribuíram para a redefinição da centralidade urbana ao longo de décadas, as grandes superfícies comerciais e de serviços, expressão da policentralidade, são planejadas, construídas e ocupadas em conjunto em poucos anos. [as grandes superfícies comerciais e de serviços] não resultam da somatória de iniciativas de comerciantes, prestadores de serviços, pequenos empreendedores e proprietários de imóveis ou terrenos que, no decorrer do tempo, fizeram novas escolhas locacionais e contribuíram para a recomposição da centralidade urbana, de modo paulatino e gradual, pois ocorrida em interregnos de dezena(s) de anos. Ao contrário, são grandes superfícies comerciais e de serviços planejadas, construídas e ocupadas, em conjunto, num intervalo temporal relativamente curto (alguns poucos anos para construção, bastando a inauguração para começarem a funcionar todas no mesmo dia). [...] Trata-se de processo de produção do espaço urbano que não resulta da história de uma cidade, no decorrer da média ou longa duração, mas que a redefine como resultado de ações deliberadas, planejadas e intencionais, pensadas por um pequeno grupo de interessados nelas. [...]. (SPÓSITO, 2013, p. 75-76)

A terceira razão é a geração de segmentação e seletividade socioespaciais por parte dessas grandes superfícies que podem ser condição para o processo de segregação socioespacial. Contudo, ainda que a policentralidade possa ser identificada na ZN de Londrina, é necessário fazer essa leitura com as devidas ressalvas para que não se incorra em equívocos de interpretação dessa realidade urbana. No que toca a(s) centralidade(s) da ZN penso ser possível identificar dois momentos: 1) um, em que a formação de um subcentro na Avenida Saul Elkind constitui uma situação de multicentralidade em Londrina e; 2) uma situação de policentralidade que deriva da instalação de grandes superfícies comerciais e de prestação de serviços. O subcentro da Saul Elkind teve origem com as iniciativas de pequenos comerciantes, residentes nos conjuntos, que abriram seus estabelecimentos nos quintais das casas, vendendo gêneros de primeira necessidade para suprir as demandas dos outros moradores que tinham dificuldades de mobilidade, tanto por não possuírem transporte individual quanto pelas dificuldades de acessibilidade, já que os conjuntos eram distantes do tecido urbano então constituído, as vias de acesso eram insuficientes e o transporte coletivo não supria as demandas da população. A melhoria da infraestrutura de acesso foi importante para que filiais de lojas do centro principal se instalassem na Saul Elkind, adensando a concentração de estabelecimentos de bens e prestadores de serviços, consolidando essa Avenida como um subcentro que atendia a população da ZN de Londrina. Foi um processo que se desenvolveu ao longo do interregno de uma dezena de anos e do qual uma diversidade de agentes participaram, desde os moradores que iniciaram um comércio de vizinhança, as grandes redes varejistas de comércio de móveis e eletrodomésticos, até os principais bancos e franquias mais populares do país. O início dos anos 2000 marca uma mudança no papel da ZN na estrutura urbana de Londrina. Apresento a hipótese de que essa mudança se deve ao fato de ser nesse período que teve início a instalação de grandes superfícies comerciais e prestadoras

de serviços, tanto na Saul Elkind quanto em outras partes da ZN, como no caso do shopping Londrina Norte. São empreendimentos de um reduzido grupo de agentes (incluso empresas multinacionais) e, diferente do que aconteceu com o subcentro da Saul Elkind, do início das obras de construção até a inauguração desses empreendimentos bastaram alguns poucos anos. É ainda possível pensar em segmentação e seletividade socioespacial quando da análise desses empreendimentos, sobretudo quando se toma o exemplo do Londrina Norte Shopping. Esse centro de compras, serviços e lazer pertencia ao Grupo Catuaí (empresa de capital de origem local) que, motivado pelo êxito do primeiro shopping construído pelo grupo expandiu sua atuação nesse ramo. Contudo, nome e mix de lojas diferem quando se compara o primeiro shopping (localizado entre a Gleba Palhano 2 e uma importante área de concentração de condomínios residenciais horizontais de alto padrão) do shopping construído na ZN, com características mais populares 3. Essas superfícies reforçam a centralidade do subcentro da Saul Elkind ao mesmo tempo em que exercem suas centralidades alterando os fluxos no espaço intraurbano e mesmo interurbano, uma vez que, diferente de um subcentro do período da multicentralidade, exercem atração sobre todo o conjunto da cidade e, também, de outras cidades, o que é evidenciado pela pavimentação de toda a extensão da Saul Elkind, ligando-a aos municípios vizinhos de Cambé e Ibiporã. E, ainda que, no caso das grandes superfícies da ZN, elas tenham se instalado na cidade que já existe, portanto, não sendo necessário que a cidade e os citadinos as procurem (SPOSITO, 2013, p. 77-78), penso que a ZN evidencia a situação de policentralidade em Londrina pois essas superfícies também são condicionadas pelas infraestruturas e sistemas de transporte que garantem a mobilidade, conforme se pode perceber pelos tamanhos de seus estacionamentos. 2 Área de verticalização recente caracterizada pelo alto padrão dos condomínios. 3 Emprego o termo popular para me referir ao fato desse empreendimento ser voltado às classes de poder aquisitivo mais baixo.

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