PERDA POR SECAGEM, TRIAGEM FITOQUÍMICA E ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE MYRCIARIA CAULIFLORA Natália Cristina Alves 1 ; Áurea Welter 2 1 Aluno do Curso de Nutrição; Campus de Palmas; e-mail: nataliaalves@outlook.com PIBIC/UFT 2 Orientadora do Curso de Enfermagem; Campus de Palmas; e-mail: aureaw@uft.edu.br RESUMO O uso de plantas como alternativa para descoberta de novos fármacos tornou-se mais frequente, principalmente na busca de alternativas com ação antimicrobiana para incrementar a farmacoterapia em função do aumento de casos de resistência bacteriana. Logo, o aumento de cepas bacterianas resistentes aos fármacos atualmente disponíveis justifica a necessidade da realização de pesquisas para descoberta de novos compostos naturais com ação antimicrobiana. Neste contexto, insere-se a pesquisa com Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg., conhecida popularmente como jaboticaba, que tem por objetivo avaliar in vitro a susceptibilidade de cepas padrão bacterianas e fungos leveduriformes ao extrato etanólico da casca do fruto de Myrciaria cauliflora Berg. Em relação ao tempo de secagem, observou-se que houve estabilização da massa do material vegetal após 96 h, ocorrendo à perda de 78,1% de umidade. Os resultados da triagem fitoquímica revelaram a presença de taninos, sendo esta a classe de metabólito secundário de interesse para a atividade antimicrobiana. Quanto à atividade antimicrobiana do extrato, este foi efetivo na inibição do crescimento apenas das cepas Gram-positivas Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis não possuindo atividade inibitória sobre cepas Gramnegativas e fungos leveduriformes. Os achados do presente estudo mostram que constituintes químicos presentes na casca do fruto de Myrciaria cauliflora podem constituir perspectivas para futura obtenção de novos produtos farmacêuticos com finalidade antibacteriana. Palavras-chave: Myrciaria cauliflora; atividade antimicrobiana; resistência bacteriana. INTRODUÇÃO O uso de antibióticos faz parte da rotina atual, porém de forma inadequada devido à automedicação pelos pacientes e prescrições inadequadas pelos médicos (PAZIAN; SASS, 2006). A irracionalidade do uso desta classe de medicamentos vem se demonstrando como um dos problemas mais sérios em todo o mundo, decorrente do crescente processo de resistência dos microrganismos
causando relevante impacto nos avanços desta classe terapêutica (FERREIRA; SILVA; PASCHOAL, 2009). As plantas medicinais podem possuir diversas propriedades como antifúngica, antibacteriana, analgésica, antiinflamatória, antiespasmódica, antialérgica e antitumoral (FILHO; YUNES, 1996). Dentre as atividades desenvolvidas pelas plantas, insere-se a antimicrobiana que permite o combate efetivo de microrganismos patogênicos (SOUZA et al., 2004). Surgindo à necessidade de novas alternativas terapêuticas contra microorganismos resistentes visando sanar a lacuna presente na terapêutica, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a atividade antimicrobiana o extrato etanólico da casca do fruto de Myrciara cauliflora. MATERIAL E MÉTODOS A coleta, secagem e pulverização do material vegetal bem como o preparo do extrato etanólico a partir deste foram realizadas conforme demonstrado na Figura 1. Figura 1. Esquematização do processo de preparo do material vegetal para obtenção do extrato etanólico da casca do fruto de Myrciaria cauliflora. A triagem fitoquímica foi realizada empregando-se a metodologia proposta por Costa (2000). Para determinar a atividdade antimicrobiana utilizou-se o método de disco difusão em meio sólido como preconizado por Clinical and Laboratory Standards Institute (2009), conforme Figura 2.
Figura 2. Esquematização do processo da avaliação da atividade antimicrobiana do extrato etanólico da casca do fruto de Myrciaria cauliflora. RESULTADOS E DISCUSSÃO A umidade residual depende do tipo de órgão utilizado sofrendo variações, sendo que os resultados obtidos (Figura 3) permitem avaliar a perda do teor de umidade em relação ao tempo (h). Verificou-se que o tempo de secagem até a estabilização da massa do material vegetal foi de 96 h, com uma perda de 78,1g de uma porção de 100g. Figura 3. Porcentagem de perda por secagem da casca do fruto de Myrciaria cauliflora em relação ao tempo (h). Com relação à triagem fitoquímica, verificou-se a presença de taninos e saponinas (na Reação de Salkowiski) e teste negativo para antraquinonas, alcalóides e flavonóides. Sabe-se que a precipitação de proteínas exercida pelos taninos possibilita a ação antimicrobiana deste metabólito secundário (BRUNETON, 1991 apud MONTEIRO et al., 2005). A classificação da atividade antibacteriana baseou-se no diâmetro dos halos de inibição, considerando ativas aquelas concentrações do extrato que produziram halos com diâmetro igual ou superior a 10 mm (CAMARGO, 2010). A análise da Tabela 1 permite-nos constatar que o extrato etanólico da casca do fruto da jabuticaba apresentou melhor potencial antibacteriano contra
Staphylococcus aureus, seguida de Enterococcus faecalis e em menor magnitude Pseudomonas aeruginosa. Em relação à Escherichia coli não foi observada a formação de halos de inibição ao redor dos discos em nenhuma concentração testada. Ao analisarmos os resultados referente à Pseudomonas aeruginosa percebemos que não houve atividade antibacteriana mesmo na maior (200mg/mL) concentração do extrato, já que esta produziu um halo de inibição de 9,6±0,76m, inferior ao que foi considerado ativo no presente estudo. Sendo assim, os resultados do teste de difusão em disco demonstram que entre as bactérias testadas, o extrato etanólico da casca do fruto de M. cauliflora foi ativo somente contra as bactérias Gram-positivas, e não contra as Gram negativas. Tabela 1. Atividade antibacteriana in vitro do extrato etanólico da casca do fruto de Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg. Espécie vegetal Microorganismo/ Diâmetro da zona de inibição (mm) Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg. Extrato (mg/ml) Escherichia coli (ATCC 25922) Gram-negativo Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853) Enterococcus faecalis (ATCC 29212) Gram-positivo Staphylococcus aureus (ATCC 25923) 200-9,6±0,76 10,3±1 14±1 150-7,5±0,5 9±0,5 13±1 100 - - 7,5±0,86 10,6±0,58 50 - - 6,3±0,58 7,6±0,57 25 - - - - 12,5 - - - - 6,25 - - - - 3,125 - - - - 1,562 - - - - 0,78 - - - - Controle positivo CFO 27 1,73 NT NT NT MPM NT 27,6 1,52 NT NT VAN NT NT 15,6 0,57 NT PEN NT NT NT 31,3 1,15 Controle negativo DMSO 1% - - - - a : Medidas dos halos de inibição do crescimento em mm (média de experimento em triplicata desvio padrão). -: ausência de zona de inibição. DMSO: Dimetilsulfóxido. CFO (Cefoxitina, 30 g); MPM (Meropenem, 10 g); VAN (vancomicina, 30 g); PEN (Penicilina G, 10 g). NT: Não testado (discos de antimicrobianos não testados, pois não são fármacos de primeira escolha na terapêutica clínica). Na avaliação antifúngica do extrato etanólico da casca do fruto de Myrciaria cauliflora frente à Candida albicans e Candida tropicalis, não foi observada a formação de halo de inibição em nenhuma das concentrações testadas. Os resultados da atividade antifúngica do presente estudo foram discordantes com os encontrados por Diniz et al., (2010), o que pode ser atribuído à polaridade do solvente extrator utilizado no presente estudo, que foi o etanol.
LITERATURA CITADA CAMARGO, E.R. Avaliação da atividade antimicrobiana dos extratos brutos, resíduos aquosos e das frações de acetato de etila de Ilex paraguariensis St. Hil. (Erva mate). 2010. 87 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) Curso de Pós Graduação Scritu Sensu, Universidade de São Francisco, Bragança Paulista, 2010. CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (CLSI). Performance Standards for Antimicrobial Disk Susceptibility Test. M02-A10, 8 ed., v. 29, n. 1, 2009. COSTA, A.F. Farmacognosia experimental. v. 3, 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000. DINIZ, D. N.; MACÊDO-COSTA, M. R.; PEREIRA, M. S. V.; PEREIRA, J. V.; HIGINO, J. S. Efeito antifúngico in vitro do extrato da folha e do caule de Myrciaria cauliflora berg. sobre microrganismos orais. Revista de Odontologia da UNESP, v. 39, n. 3, p. 151-156. Araraquara, 2010. FERREIRA, W.A.; SILVA, J.H.M.; PASCHOAL, L.R. Aspectos da automedicação na sociedade brasileira: fatores sociais e políticos. Infarma, v. 21, n. 7/8, 2009. FILHO, V. C.; YUNES, R. A. Estratégias para a obtenção de compostos farmacologicamente ativos a partir de plantas medicinais. Conceitos sobre modificação estrutural para otimização da atividade. Química Nova, v. 2, n. 1, p. 99-105. 1996. MONTEIRO, J.M.; ALBUQUERQUE, U.P.; ARAÚJO, E.L.; AMORIM, E.L.C. Taninos: uma abordagem da química a ecologia. Química Nova, v. 28, n. 5, p. 892-896, 2005. PAZIAN, G.M.; SASS, Z.F.S. Resistência bacteriana a antibióticos. Revista Cesumar, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, v. 11, n. 1, p. 157-163. 2006. SOUZA, M.V.N.; ALMEIDA, M.V.; SILVA, A.D.; COURI, M.R.C. Ciprofloxacina, uma importante fluorquinolona no combate ao antraz. Revista Brasileira de Farmácia, v. 85, n. 1, p. 13-18. 2004. AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT