ANALISE DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA E ANTIFUNGICA DE MIMOSA PUDICA L

Transcrição

1 ANALISE DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA E ANTIFUNGICA DE MIMOSA PUDICA L Klécius Eufrasio Xavier 1 ; Áurea Welter 2 ; Ana Kleiber Pessoa Borges 3 1 Aluno do Curso de Enfermagem; Campus de Palmas; klecioseufrazzio@gmail.com PIBIC/UFT 2 Orientadora do Curso de Enfermagem; Campus de Palmas; aureaw@uft.edu.br 3 Co-orientadora do Curso de Enfermagem; Campus de Palmas; anakleiber@uft.edu.br RESUMO A presença cada vez mais expressiva de micro-organismos resistentes aos fármacos atualmente disponíveis tem-se caracterizado como um problema de saúde pública mundial. Visando buscar novos compostos que possam desempenhar atividade antimicrobiana, foi avaliada a atividade antibacteriana e antifúngica do extrato hidroalcoólico da folha de Mimosa pudica L. Para tanto, a atividade de diferentes concentrações do extrato foram testadas em triplicata contra bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis), Gram-negativas (Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa) e um fungo leveduriforme (Candida albicans) por meio do método de disco difusão em meio sólido. O DMSO 1% foi utilizado como controle negativo dos testes; controle positivo para Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa foram os seguintes antibióticos, respectivamente, Penicilina G (10 g), Vacomicina (30 g), Cefoxitina (30 g) e Meropenem (10 g); como controle positivo para Candida albicans foi utilizado o antifúngico Fluconazol (25 g). Considerando o valor do halo de inibição estabelecido no presente estudo para atribuir atividade antimicrobiana ao extrato da folha de Mimosa pudica L., conclui-se que este apresentou a atividade em questão na concentração de 200 mg/ml contra todas as cepas bacterianas, porém não contra o fungo leveduriforme Candida albicans. Palavras-chave: atividade antibacteriana; atividade antifúngica; Mimosa pudica L INTRODUÇÃO Muitas plantas pertencentes aos biomas brasileiros Cerrado, Floresta Amazônica e a Mata Atlântica têm sido utilizadas como fármacos naturais pelas populações locais no tratamento de várias doenças tropicais, incluindo esquistossomose, leishmaniose, malária, infecções fúngicas e bacterianas (ALVES et al., 2000). A planta Mimosa pudica L., conhecida popularmente por dorme-dorme (SC),

2 dormideira (RJ) ou sensitiva (RJ) é originária do Brasil, sendo encontrada também multiplicando-se como erva daninha em zonas climáticas similares na África e na Ásia Oriental (BÄRTELS, 2007). Estudos recentes realizados na Índia comprovaram a atividade anti-helmíntica in vitro e antimalárica in vivo de extratos de folha de Mimosa pudica L. preparados com diferentes solventes, como descrito a seguir. O extrato etanólico administrado em diferentes concentrações (400, 600 e 800 mg/kg/dia i.p.) em camundongos infectados com Plasmodium berghei, reduziu a parasitemia de forma significativa quando comparado a cloroquina, fármaco usado como controle positivo. Esta atividade foi atribuída à presença de alcaloides e/ou flavonoides, compostos com atividade antimalárica conhecida, encontrados nas folhas de Mimosa pudica L. a partir dos testes de triagem fotoquímica realizados no estudo em questão (AARTHI, MURUGAN, 2011). Já a atividade a anti-helmíntica foi verificada in vitro com os extratos etanólico e aquoso das folhas de Mimosa pudica L., sendo esta dose dependente e comparável ao albendazol, fármaco usado como padrão no estudo (BENDGUDE et al., 2012). Os estudos em relação à atividade antimicrobiana da folha de Mimosa pudica L., são controversos. Sukanya et al., (2009) avaliaram a atividade antimicrobiana da folha de Mimosa pudica, utilizando o preparo do extrato diferentes solventes, sendo estes a água, metanol, etanol clorofórmio e acetato de etila. Independente do tipo de extrato, não foi verificada atividade antimicrobiana frente às bactérias de interesse médico, Escherichia coli e Staphylococcus aureus. No entanto, ao avaliar a atividade antimicrobiana do extrato metanólico das folhas de Mimosa pudica Gandhiraja et al., (2009) constataram ausência desta atividade na presença da bactéria patogênica Citrobacter divergens no entanto, mostrou-se efetivo para Klebsiella pneumonia além da atividade antifúngica frente ao Aspegilllus fumigatus. Em um estudo recente realizado por Kauer et al., (2011) foi verificada a atividade antimicrobiana in vitro do extrato etanólico das folhas de Mimosa pudica frente à cepas bacterianas Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa bem como atividade antifúngica na presença de Candida albicans. Na análise fitoquímica da folha foram identificados diversos compostos bioativos, sendo estes terpenos, flavonoides, alcaloides, quinonas, fenóis, taninos, saponinas e cumarinas (GANDHIRAJA et al., 2009; KAUR et al., 2011). MATERIAL E MÉTODOS A coleta e pulverização do material vegetal bem como o preparo do extrato hidroalcoólico foram realizadas conforme demonstrado na Figura 1.

3 Figura 1. Esquematização do processo de preparo do material vegetal para obtenção do extrato hidroalcóolico da folha de Mimosa pudica L. O esquema da Figura 2 mostra as etapas da avaliação da atividade antibacteriana e antifúngica in vitro do extrato hidroalcoólico da folha de Mimosa pudica L. Figura 2. Esquematização do processo da avaliação da atividade antimicrobiana do extrato hidroalcoólico da folha de Mimosa pudica L. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas primeiras 24 h do processo de secagem, a massa do material vegetal reduziu de 100 g para 67,8 g, com perda de umidade de 32,2% e após 96 h, esta foi de 53,51%, sendo este o período necessário para estabilização da massa do material vegetal. O processo de secagem é importante para

4 inibir a degradação enzimática além de dificultar o crescimento de micro-organismos e desta forma garantir a estabilidade do material vegetal até o processamento do mesmo (SIMÕES et al., 2000). Na tabela 1 são apresentados os resultados da atividade antimicrobiana do extrato hidroalcoólico da folha de Mimosa pudica L. Tabela 1. Atividade antibacteriana e antifúngica in vitro do extrato hidroalcoólico da folha de Mimosa pudica L. Espécie vegetal Mimosa pudica L. Controle positivo Extrato (mg/ml) Escherichia coli 25922) Micro-organismo/ Diâmetro dos halos de inibição (mm) a Gram-negativo Gram-positivo Fungo Pseudomonas aeruginosa 27853) Enterococcus faecalis 29212) Staphylococcus aureus 25923) Candida albicans 36232) ,6±0,48 11,2±0,76 10,3±0,8 10,8±0,7 7,6±1, ,4±0,9 8,4±0,63-7,8±0, , , , , , CFO 27 1,34 NT NT NT NT MPM NT 27,2 1,83 NT NT NT VAN NT NT 15,3 0,77 NT NT PEN NT NT NT 31 1,1 NT FLU NT NT NT NT 26,2 1,1 Controle negativo DMSO 1% a : Medidas dos halos de inibição do crescimento em mm (média de experimento em triplicata desvio padrão). -: ausência de zona de inibição. DMSO: Dimetilsulfóxido. CFO (Cefoxitina, 30 g); MPM (Meropenem, 10 g); VAN (vancomicina, 30 g); PEN (Penicilina G, 10 g); FLU (Fluconazol 25 g). NT: Não testado (não são fármacos de primeira escolha na terapêutica clínica). A análise da Tabela 1 permite-nos concluir que houve formação de halo de inibição ao redor dos discos contendo 200mg/mL do extrato hidroalcoólico L. na presença somente das cepas bacterianas. Sabendo-se que a espécie em estudo apresenta taninos conforme verificado por Gandhiraja et al., (2009) e Kauer et al., (2011) e que os mesmos são responsáveis pela precipitação de proteínas, o que possibilita ação antimicrobiana (BRUNETON, 2001; BRUNETON, 1991 apud MONTEIRO et al., 2005), sugere-se que o potencial antimicrobiano da folha de Mimosa pudica L. possa ser devido a presença deste metabólito secundário. Os achados do presente trabalho mostram que a espécie estudada é uma candidata promissora na obtenção de novos fármacos antimicrobianos.

5 LITERATURA CITADA 26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas AARTHI, N.; MURUGAN, K. Antimalarial activity and phytochemical screening of ethanolic leaf extract of Phyllanthus niruri and Mimosa pudica. IJPRD, v. 3, n. 3 p , AGUIAR, J. S.; COSTA, M. C. C. D.; NASCIMENTO, S. C.; SENA, K. X. F. R. Atividade antimicrobiana de Lippia alba (Mill.) N. E. Brown (Verbenaceae). Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 18, n. 3, p , ALVES, T. M. A.; SILVA, A. F.; BRANDÃO, M.; GRANDI, T. S. M.; SMÂNIA, E. F.; SMÂNIA, Jr. A.; ZANI, C. L. Biological screening of Brazilian medicinal plants. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. v. 95, p , BÄRTELS, A. Guia de Plantas Tropicais: plantas ornamentais, plantas úteis, frutos exóticos. Rio de Janeiro: Lexikon, 2007, 379p. BENDGUDE, R. D.; MANIYAR, M. G.; KONDAWAR, M. S.; PATIL, S. B.; HIRAVE, R. V. Anthelmintic activity of leaves of Mimosa pudica. International Journal of Institutional Pharmacy and Life Sciences. v. 2, n. 1, p , CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (CLSI). Performance Standards for Antimicrobial Disk Susceptibility Test. M02-A10, 8 ed., v. 29, n. 1, 2009a. CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (CLSI). Method for antifungal disk diffusion susceptibility testing of yeasts; approved standard M44-A2. Clinical and Laboratory Standards Institute, Wayne, PA, 2009b. KAUR, P.; KUMAR, N.; SHIVANANDA, T. N.; KAUR, G. Phytochemical screening and antimicrobial activity of the plant extracts of Mimosa pudica L. against selected microbes. Journal of Medicinal Plants Research. v. 5, n. 22, p , MONTEIRO, J. M.; ALBUQUERQUE, U. P.; ARAÚJO, E. L.; AMORIM, E. L. C. Taninos: uma abordagem da química a ecologia. Química Nova, v. 28, n. 5, p , SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANNN, G.; MELLO, J. C. P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5. ed. Florianópolis: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, SUKANYA, S. L.; SUDISHA, J.; HARIPRASAD, P.; NIRANJANA, S. R.; PRAKASH, H. S.; FATHIMA, S. K. Antimicrobial activity of leaf extracts of Indian medicinal plants against clinical and phytopathogenic bacteria. African Journal of Biotechnology. v. 8. n. 23, p , AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT