Uma Aplicação do Método das Diferenças Finitas com Funções de Base Radial em Problemas de Biotransferência de Calor

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Transcrição:

SIMMEC / EMMCOMP 2014 XI Simpósio de Mecânica Computacional II Encontro Mineiro de Modelagem Computacional Uma Aplicação do Método das Diferenças Finitas com Funções de Base Radial em Problemas de Biotransferência de Calor Kenedy Guedes Fernandes Júnior kenedy.guedes@engenharia.ufjf.br Faculdade de Engenharia, Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário - 36036-900 - Juiz de Fora - MG, Brasil Felipe dos Santos Loureiro felipe.loureiro@ufjf.edu.br Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário - 36036-900 - Juiz de Fora - MG, Brasil Ruy Freitas Reis ruyfreis@gmail.com Pós-Graduação em Modelagem Computacional, Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário - 36036-900 - Juiz de Fora - MG, Brasil Resumo. Este estudo propõe a solução numérica de um modelo de biotransferência de calor em tecido vivo baseado em meio poroso. Para obter a solução deste modelo foi utilizado o método das diferenças finitas clássico (MDF) e o método das diferenças finitas com funções de base radial (MDF-FBR). Além disto, foram feitas algumas simplificações na equação de biotransferência de calor em meio poroso, para chegar no modelo que foi utilizado nas simulações. O método MDF- FBR difere do MDF em apenas uma constante multiplicadora, mantendo a mesma ordem de custo computacional. O domínio onde se executa a simulação considera a existência de um tumor que possui propriedades diferentes de um tecido saudável, ou seja, a simulação é feita em um meio heterogêneo. Baseando-se nos resultados obtidos, foram realizadas avaliações quantitativas, e pode-se observar que existe um valor ótimo do parâmetro de forma do método numérico MDF- FBR e que o mesmo produz resultados mais precisos que o MDF clássico. Palavras-chave: Biotransferência de Calor, Método das Diferenças Finitas, Método das Diferenças Finitas com Funções de Base Radial

1 INTRODUÇÃO Com o aumento dos recursos computacionais nas últimas décadas, a modelagem numérica de problemas envolvendo equações diferencias tem ganhado o interesse de pesquisadores. Entre os métodos numéricos comumente usados para resolver equações diferencias destacam-se; o método das diferenças finitas (MDF), método dos elementos finitos (MEF) e o método dos volumes finitos (MVF). O MDF em geral utiliza malhas regulares, já o MEF e o MVF são mais gerais e flexíveis a geometrias complexas, no entanto, a formulação do MDF é mais simples e intuitiva que o MEF e o MVF. No MDF é adotado polinômios como base para aproximar as derivadas locais da função desconhecida, entretanto há uma série de funções para aproximação, dentre elas, as funções de base radial (FBRs). Kansa (1990) foi um dos primeiros pesquisadores a utilizar FBRs para aproximar as derivadas a partir de um conjunto de pontos, sendo este global (todos os pontos do domínio) ou local (alguns pontes de suporte). Shan et al. (2009) propôs um método local, onde as derivadas podem ser aproximadas com os valores dos pontos adjacentes, os testes realizados com o método na equação de Poisson, comprovam que o mesmo em algumas situações pode ser melhor que o MDF clássico. Entre as áreas de modelagem numérica que ganharam interesse nas últimas décadas, pode-se destacar a modelagem de problemas de biotransferência de calor, isso deve-se principalmente as aplicações terapêuticas existentes. Dentre elas pode-se destacar a identificação de alguns tumores, que pode ser feita através do mapeamento da temperatura superficial de um tecido, uma vez que o mesmo pode aumentar ou diminuir a temperatura local (Cao et al., 2010). Posterior a identificação, alguns tecidos tumorais podem ser tratados por hipertermia, este tratamento consiste no aquecimento do tecido tumoral até uma temperatura crítica, resultando na alteração da fisiologia das células doentes, que consequentemente conduz a morte das mesmas (Kumar and Mohammad, 2011). A biotransferência de calor torna-se uma área de grande fonte de pesquisa devido aos complicados fenômenos envolvidos, e.g. a condução térmica entre o tecido e o sistema vascular, convecção gerada pelo fluxo de sangue, a produção de calor pelo metabolismo e a própria estrutura anatômica do tecido. A complexidade da estrutura porosa geralmente impede uma análise microscópica detalhada do fenômenos biotransferência de calor, assim as equações gerais em meios porosos são analisadas em um volume no qual existem as fases líquido e sólido. Para o modelo de biotransferência usado nas simulações, foi feita a suposição de equilíbrio térmico entre as fases líquida e sólida, isso significa que as temperaturas macroscópicas das duas fases estão suficientemente próximas, fazendo com que uma única temperatura é suficiente para descrever o processo de transporte de calor. O principal objetivo do presente estudo, é formular e implementar o método MDF-FBR em problemas de biotransferência de calor em meio poroso, com o ajuste do parâmetro de forma da FBR, comparar os resultados com o método MDF clássico, verificando que o MDF-FBR pode ser superior ao MDF clássico.

2 MODELO DE BIOTRANSFERÊNCIA DE CALOR Este trabalho utiliza equações que modelam transporte em meio poroso para aproximar o transporte de calor em tecidos vivos. Para realizar esta aproximação, utiliza-se do princípio do não equilíbrio térmico local entre o tecido e o sangue. Isso requer a utilização de um sistema de duas equações de energia, uma equação para o sangue e a outra para o tecido periférico, e assim descrever a troca de calor entre eles. Baseando-se nos trabalhos de Amiri and Vafai (1994) e Amiri and Vafai (1998), que modela a transferência de calor entre os vasos sanguíneos e o tecido, dado por: ε(ρc p ) b ( T b t + u b T b ) = (k a b T b ) + h bs ( T s T b ) (1) (1 ε)(ρc p ) s T s t = (k a s T s ) + h bs ( T b T s ) + q m (1 ε) (2) onde T b, T s, k a b, k a s, ε, u b e h sb são respectivamente, a média de temperatura arterial,a média de temperatura do tecido, tensor de condutividade térmica efetiva do sangue, tensor de condutividade térmica efetiva do tecido, porosidade do tecido, vetor de velocidade e coeficiente convectividade intersticial, respectivamente. Além disso os termos ρ e c p, são a densidade e calor específico do tecido e ρ b e c pb a densidade e calor específico do sangue. No caso isotrópico, tem-se: k a s = (1 ε)ki k a b = εk b I onde k e k b são a condutividade térmica do tecido e do sangue, respetivamente. Considerando o equilíbrio térmico, o que pode ser considerado como uma boa aproximação para capilares sanguíneos ao longo de tecidos (Khaled and Vafai, 2003). Baseando-se nesta simplificação a temperatura do sangue e do tecido pode ser considerada a mesma, reduzindo as Eqs. (1) e (2) na equação: [ρc p (1 ε) + ρ b c pb ε] T t + ε(ρc p) b u b T = ([k a s + k a b] T ) + q m (1 ε) (5) Fazendo as mesmas simplificações que foram realizadas no conhecido modelo de biotransferência de calor proposto por Pennes (1948), ou seja, considerando que a temperatura que deixa o vaso sanguíneo é igual a temperatura do tecido no ponto que está sobre equilíbrio térmico. Além disso considerando, também, que a temperatura arterial seja uniforme ao longo do tecido, pode-se reduzir o termo ε(ρc p ) b u b T em [ρ b (u b ) AV G εc pb /δ](t T b ), obtendo o seguinte modelo: [ρc p (1 ε)+ρ b c pb ε] T t = ([(1 ε)k +εk b] T )+β ρ b(u b ) εc AV G p b (T b T )+q m (1 ε) (6) δ onde u bav G, δ,ɛ e β são respectivamente, a velocidade média do sangue no vaso sanguíneo, a distância transversal entre os vasos, a porosidade do tecido e um fator de correção. (3) (4)

3 MÉTODO NUMÉRICO O método consiste em aproximar as derivadas de uma função a partir dos próprios valores dessa nos pontos de suporte, para gerar o esquema de diferenças finitas, os pontos na região de suporte são uniformemente distribuídos. A região de suporte para um ponto de referência é mostrado na Fig. 1, onde os pontos de apoio são indexados para identificá-los com o ponto de referência. Figura 1: Pontos de suporte para o ponto de referência. O esquema proposto por Shan et al. (2009) considera que se uma f(x) é estritamente suave, as derivadas de primeira e segunda ordem pode ser aproximadas por: f (x i ) = 3 wi,kf(x 1 i, j) j=1 (7) f (x i ) = 3 wi,kf(x 2 i, j) (8) j=1 com w 1 i,k e w2 i,k sendo os coeficientes de ponderação que devem ser encontrados, x i, j representa a posição de ponto de suporte em relação ao ponto de referência. A aproximação para a f(x) no ponto de referência pode ser feita a partir da cálculo da RBF nos pontos de suporte (Shan et al., 2009): f(x) = 2 λ k g k (x) + λ 3 (9) k=1 onde g k (x) = (x x k ) 2 + c 2 (x x 3 ) 2 + c 2 (10) sendo que g k (x) é uma função de base radial denominada multi-quádrica (MQ), c é o parâmetro de forma ajustável e λ k são coeficientes da combinação linear da FBR. Substituindo a Eq. (9) nas Eqs. (7) e (8) de acordo com a derivada da função, é formado o seguinte sistema de equações em forma matricial: [D] = [G][W ] (11)

0 0 C E C E = 1 1 1 A B A B A A w 1 i,1 w 2 i,1 w 1 i,2 w 2 i,2 w 1 i,3 w 2 i,3 onde A = c h 2 + c 2, B = 4h 2 + c 2 h 2 + c 2, C = h h2 + c 2, E = c 2 h2 + c 2 1 c A partir da resolução do sistema de equações (11), são determinados os coeficientes de ponderação. Os operadores diferencias de primeira e segunda ordem podem ser determinados substituindo os coeficientes de ponderação nas Eqs. (7) e (8), esses são dados por: f (x i ) = h ( 4h 2 + c 2 c) h 2 + c 2 (f(x i, 2) f(x i, 1)) (12) f (x i ) = c 2 ( h 2 +c 2 ) 3 1 c 3c 4 h 2 + c 2 + 4h 2 + c 2 (f(x i, 1) + f(x i, 2) 2f(x i, 3)) (13) No caso em que o parâmetro de forma tende a infinito, as expressões (12) e (13) convergem para os operadores de diferenças finitas clássico, esses são dados por: f (x i ) f(x i, 2) f(x i, 1) 2h (14) f (x i ) f(x i, 1) + f(x i, 2) 2f(x i, 3) h 2 (15) A solução numérica para equações diferencias que envolvem derivadas de primeira e segunda ordem podem ser aproximadas a partir das expressões (12) e (13), onde o parâmetro de forma pode ser ajustado para obter soluções mais precisas. 4 RESULTADOS NUMÉRICOS Para analisar a precisão do MDF-FBR, foi tratado o problema de biotransferência em meio poroso no estado estacionário, as características do tecido foram adotadas com o intuito de representar um possível tumor no domínio, está ilustrado na Fig. 2 o domínio base para a simulação.

Figura 2: Representação do domínio de simulação. Tabela 1: Parâmetros do Modelo Símbolo Unidade Tecido Saudável Tecido Tumoral c - c b (J/KgK) 4000 4000 k (W/mK) 0.51 0.56 k b (W/mK) 0.64 0.64 ρ - ρ b (Kg/m 3 ) 1000 1000 ɛ 0.02 0.06 q (W/m 3 ) 684 9400 u b (mm/s) 0.20 0.16 β 1 1 δ (mm) 6 4 Os parâmetros dos tecidos estão representados na Tab. 1, esses foram adaptados de Cao et al. (2010) e Dombrovsky et al. (2012). A partir dos dados da Tab. 1, pode se obter a seguinte relação: [k a s + k a b] T ecidosaudavel = 0.513W/m.K. [k a s + k a b] T ecidot umoral = 0.565W/m.K. Considerando que a condutibilidade térmica para tecido saudável e tumoral são relativamente próximas, essas podem ser tratadas como constante em todo domínio sem grande perda de precisão.

O cálculo da condutibilidade efetiva (k Efetivo ) pode ser feito a partir da média harmônica entre as condutibilidades dos dois tecidos, i.e., k Efetivo = 0.53W/m.K. A partir da condutibilidade térmica efetiva, a Eq. (6) se reduz a: k Efetivo 2 T + β ρ b(u b ) AV G εc pb (T b T ) + q m (1 ε) = 0 (16) δ O problema de valor de contorno é então escrito como: k Efetivo 2 T + β ρ b(u b ) AV G εc pb (T b T ) + q m (1 ε) = 0 em Ω δ αt + γ T n = f em Ω (17) onde Ω é o domínio, Ω é o contorno do domínio, α e γ são funções que definem a forma de condição de contorno, n é um vetor normal ao contorno Ω. Condições de contorno para o problema (ver Fig. 2): { γ = 1, α = 0 e f = 0 para: 1, 2 e 3 γ = 0, α = 1 e f = 37 para: 4. Está ilustrado na Fig. 3(a) a distribuição de temperatura gerada pelo MDF clássico a partir de uma malha 201X201, pode-se visualizar que a temperatura é elevada no tecido tumoral, isso deve-se principalmente ao alto valor de produção de calor por este tecido em relação ao tecido saudável. A distribuição de temperatura para x = 0 está representado na Fig. 3(b), esta região do domínio pode ser interpretada com sendo superfície da pele, pode-se perceber que a distribuição de temperatura para domínio completamente saudável e tecido tumoral são diferentes, a partir dessa condição, a comparação entre a temperatura de um tecido normal e um tecido tumoral na superfície da pele pode servir como parâmetros para a detecção de tumores (Cao et al., 2010). A solução numérica obtida para o regime estacionário da Eq. (6) representada na Fig. 3(a) pode ser usada como condição inicial para a simulação do tratamento de tecidos tumorais por hipertermia, uma vez que a análise para a temperatura do tecido neste caso pode ser feita no regime transiente. Para avaliar os efeitos do parâmetro de forma na solução e consequentemente a precisão do MDF-FBR, tomou-se como referência a solução gerada com o MDF com uma malha 201X201, o cálculo do erro para a malha menos refinada nos pontos nodais foi definido como: N (T aprox T Ref ) 2 i i=1 erro = (18) N (T Ref ) 2 i i=1

(a) (b) Figura 3: Distribuição de temperatura para regime permanente. onde T Ref é a solução referência, T aprox e N representam a solução numérica e o número de pontos na malha menos refinada. Pode-se visualizar na Fig. 4, que existe um parâmetro de forma ótimo para o problema de biotransferência simulado, onde o MDF-FBR possui erro mínimo. A partir dos resultados apresentados na Fig. 4 pode-se concluir que dentre uma faixa de valores, o MDF-FBR será mais preciso que o MDF clássico. Figura 4: Erro em função do parâmetro de forma.

A Fig. 5 ilustra a solução gerada em y = 25mm por cada método com a malha 21x21 e a solução referência, o MDF clássico gera resultados mais precisos perto da condição de Dirichlet, os resultados do MDF-FBR são melhores no restante do domínio. Figura 5: Comparação entre os métodos. 5 CONCLUSÃO O presente trabalho teve como objetivo principal estudar a aplicabilidade do MDF-FBR na simulação numérica de processos de biotransferência em meio poroso. Foi tratado um modelo computacional onde as derivadas de primeira e segunda ordem de uma função foram aproximadas adotando-se a função de base radial multi-quádrica. O MDF-FBR foi aplicado no problema de biotransferência em um domínio quadrado, os parâmetros na simulação foram ajustados para representar um tecido vivo. Utilizou-se como base para a análise da precisão do método, a solução gerada pelo MDF clássico em uma malha refinada, a partir do resultado obtido no experimento numérico, pode-se comprovar a ocorrência de um parâmetro de forma ótimo, onde MDF-FBR tem uma melhor precisão em relação ao MDF. Devido ao fato que o MDF-FBR e o MDF clássico apresentarem a mesma ordem do custo computacional, pode-se concluir que o MDF-FBR é superior e consequentemente vantajoso na aplicação em problemas de biotransferência, a desvantagem do MDF-FBR deve-se ao ajuste do parâmetro de forma ótimo, não foram feitos testes que poderiam relacionar o parâmetro de forma ótimo com o espaçamento da malha ou mesmo o números de pontos do domínio, em trabalhos futuros, simulações mais detalhadas poderiam fornecer informações sobre a relação do parâmetro de forma ótimo com parâmetros iniciais do problema. AGRADECIMENTOS Suporte financeiro oferecido pela FAPEMIG, CAPES, UFJF e CNPq.

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