REVISTA DIGITALKS. ano 01. número 02 um país digital & continental A realidade do setor nos Estados Brasileiros Como entender e interagir com o novo consumidor na hora da compra #Content marketing 11 passos para um planejamento de marketing de conteúdo 3 dicas para aumentar o tráfego orgânico de seu site sem Link Building
Foto: Valentina Petrov / Shutterstock.com Digitalks 54 Marco Civil aprovado, e agora?
Com o objetivo principal de zelar pela segurança e privacidade dos usuários, a Constituição da Internet (ou Marco Civil) surgiu como uma legislação para regulamentar os direitos e deveres dos cidadãos e empresas no meio digital e o uso da internet no país. A presidenta Dilma sancionou a lei no final de abril e a partir de agora, todas as empresas e usuários precisarão seguir! E agora, como as empresas vão proceder? Isso muda na estratégia de negócio? E os usuários serão realmente beneficiados? Muitas dúvidas pairam no país neste momento. Foto: Luís Macedo Fotos Públicas Para tentarmos esclarecer alguns pontos e clarear as ideias de uma forma mais simples, questionamos alguns especialistas e influenciadores da área para saber a opinião deles sobre a lei e o que muda para suas corporações. Acompanhe o comentário de cada um! Digitalks 55
Eduardo Carvalho Presidente da Alog Thiago Sarraf CEO da Consultoria Dr. e-commerce A aprovação do Marco Civil é um importante passo para o Brasil. Hoje em dia, as pessoas navegam na internet a qualquer hora do dia, a partir de diversos dispositivos, e é necessário criar regras para definir direitos e deveres dos usuários. É uma forma de coibir abusos e garantir, inclusive, a segurança dos dados. A legislação pode tornar o Brasil mais atrativo às relações comerciais e isto impacta diretamente nos negócios das empresas envolvidas neste segmento. As companhias de telecomunicações, por exemplo, ainda poderão vender velocidades diferentes, de 1Mbps, 10 Mbps ou 50 Mbps. Mas, terão de oferecer a conexão contratada independente do conteúdo acessado pelo internauta. Não poderão mais existir pacotes restritos, com preços fechados, para acesso apenas a redes sociais ou serviços de email. Todos os dados trafegados pela internet deverão ser tratados da mesma forma. Já para as companhias especializadas em serviços de data center, o mercado continua em franco crescimento independente da aprovação do Marco Civil. A 451 Research aponta que, nos EUA, 50% das empresas já terceirizam sua infraestrutura de TI, enquanto no Brasil, apenas 10% o fazem. Ou seja, este é um nicho com grande potencial de expansão. A questão da inviolabilidade e sigilo do fluxo de informações via internet e de conversas armazenadas também é positiva neste caso e pode tornar o Brasil ainda mais atrativo em função da garantia de segurança dos dados. O conteúdo só poderá ser acessado mediante ordem judicial. Os provedores terão que armazenar os registros das horas de acesso e do fim da conexão por seis meses, em ambiente controlado o que também é uma oportunidade para empresas de data center, já que o volume de dados será ainda maior. O Marco Civil da Internet propõe uma série de alterações para garantir os direitos e deveres dos usuários da rede. Uma das mudanças principais, além do aumento da fiscalização em relação à proteção de dados pessoais dos usuários (fato importante!), é o fim do marketing dirigido (ou remarketing, como mais conhecido), o que preocupa os empreendedores virtuais. Sem a estratégia, as vendas de uma empresa poderão despencar, já que aproximadamente 20% das vendas ocorrem devido ao remarketing (considerando as empresas que venho acompanhando e assessorando). Pensando nessa estratégia, um usuário X que deseja comprar uma televisão, por exemplo, realiza, como o primeiro estágio da compra, uma pesquisa; em um segundo momento, começa a avaliar suas ofertas. Aqui, o remarketing pode fazer toda a diferença, pois o Google permite uma forma de exibir um determinado banner para um usuário que visitou uma página específica, buscando a venda. Ou, até mesmo um comprador online, que adquiriu uma câmera digital, pode ser impactado por uma peça de remarketing ofertando acessórios para aquela determinada câmera. Com esta modalidade de marketing digital, as vendas podiam ser impactadas positivamente. Após a proibição do remarketing pelo Marco, fica-se a dúvida: como as empresas se adequarão para reimpactar seus clientes e exibir produtos com desconto ou produtos relacionados? Existem outras possibilidades de marketing ou será necessário migrar para outras mídias? Será que o empresário terá que mudar suas estratégias? Ou algumas empresas grandes farão com que a lei não aconteça? Isso pode tirar a receita de grandes players do mercado com expressão suficiente para fazer uma pressão. Vamos aguardar cenas do próximo capítulo. Acho que muita coisa ainda vai rolar, mesmo que o projeto já tenha entrado em vigor. Digitalks 56
Daniel Pitanga Advogado especialista em Direito Digital do Siqueira Castro Advogados A Lei n.º 12.965 de 23 de abril de 2014, também conhecida como o Marco Civil da Internet brasileira, veio estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para provedores de serviços e usuários de internet. O Projeto de Lei n.º 2126/2011, que deu origem à Lei, foi amplamente debatido ao longo de quase 3 anos de tramitação na Câmara, sob a relatoria do Deputado Federal Alessandro Molon, porém sofreu algumas alterações com as denúncias de espionagem na rede realizadas por Edward Snowden e a forte pressão do governo brasileiro para aprovação de uma lei que servisse como resposta à espionagem e coleta de dados de brasileiros pelos Estados Unidos. Felizmente, alguns pontos propostos pelo governo, como a obrigatoriedade de manutenção de data centers no Brasil, não foram incluídos na Lei, porém outros pontos mais sensíveis, como o Notice and Take Down (sistema através do qual provedores poderiam ser responsabilizados caso não retirassem do ar conteúdos ilícitos, após a notificação do titular de propriedade intelectual), também ficaram de fora da legislação. Para viabilizar a aprovação do projeto a toque de caixa, a neutralidade de rede (garantia de tratamento isonômico dos pacotes de dados, sem distinção de conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação) restou assegurada pela nova Lei, em que pese tenha sido atribuída ao Presidente da República a competência para regulamentar a discriminação ou degradação do tráfego de dados na rede para casos que decorram de requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos serviços e aplicações e para situações que envolvam a priorização de serviços de emergência, ouvida a ANA- TEL e o Comitê Gestor da Internet. Fazendo um saldo da Lei n.º 12.965/2014, que entrará em vigência 22 de junho de 2014, a lei possui importantes conquistas como uma adequada proteção da privacidade dos usuários na rede, com a previsão de guarda de registros por provedores, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, para apuração de infrações. Por outro lado, estabeleceu de forma clara a responsabilidade dos provedores sobre conteúdos gerados por terceiros. Neste ponto, entendo que houve um retrocesso, já que a jurisprudência dos tribunais brasileiros estava sendo consolidada no sentido de responsabilizar o provedor, caso ele não retirasse do ar conteúdo manifestamente ilícito, após a notificação do titular do direito. O Marco Civil determina que os provedores somente serão responsabilizados se, após ordem judicial específica, não tomar as providências necessárias para tornar indisponível o conteúdo apontado como ilícito. Ou seja, deu-se preferência pela judicialização de casos que poderiam ser resolvidos através de mera notificação, sujeitando os usuários da internet à demora e ao alto custo das ações judiciais no Brasil. A única exceção prevista pela nova lei se refere aos casos de pornô de revanche (violação de intimidade decorrente da divulgação, sem autorização, de imagens, vídeos e outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado), que obrigam os provedores a tornar o conteúdo pornográfico indisponível após o recebimento de notificação do retratado ou de seu representante, sob pena de responsabilidade. Dado o primeiro passo para o estabelecimento de um marco regulatório da internet no Brasil, resta agora aguardar a chegada dos casos concretos à justiça para verificarmos se a legislação será suficiente para resolver os conflitos existentes na internet. Ari Meneghini Professor de Mídias Digitais e Consultor de Negócios Online O Marco Civil entra para a História da Comunicação no Brasil não apenas pelo seu papel regulador, mas pelo movimento social que promoveu uma larga discussão no país na formatação de um projeto de lei para a sociedade. Para qualquer pessoa é a garantia de expressão através da rede e também de responsabilidades. Digitalks 57