Os registos de doentes como instrumentos de suporte à prática clínica, à gestão/administração e às politicas de rede. Prof. Dr. António Vaz Carneiro

Documentos relacionados
CENTRO ACADÉMICO DE MEDICINA DE LISBOA

Evolução do prognóstico das síndromes coronárias agudas ao longo de 12 anos - a realidade de um centro.

Um(ns) autor(es) português(es) no British Medical Journal

Os dilemas do peer review

Tratamento da mulher com SCA em Portugal: mais uma justificação para o programa Bem me Quero

SCA Estratificação de Risco Teste de exercício

Síndromas Coronários rios Agudos: Factores de Bom e Mau Prognóstico na Diabetes Mellitus

O paradoxo dos fumadores revisitado

Necessidades médicas não preenchidas nos SCA

HOSPITAIS DO LITORAL E HOSPITAIS DO INTERIOR: ANÁLISE DO RISCO DE MORTE INTRA-HOSPITALAR NOS ENFARTES COM SUPRADESNIVELAMENTO DE ST

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO. Dr Achilles Gustavo da Silva

Despacho nº 5739/2015, de 29 de maio Lista de indicadores para monitorização da qualidade

Curso Avançado em Gestão Pré-Hospitalar e Intra-Hospitalar Precoce do Enfarte Agudo de Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST

Register of patients with bioresorbable device in daily clinical practice REPARA study. Andreia Magalhães Hospital de Santa Maria

Introdução. (António Fiarresga, João Abecassis, Pedro Silva Cunha, Sílvio Leal)

ONTARGET - Telmisartan, Ramipril, or Both in Patients at High Risk for Vascular Events N Engl J Med 2008;358:

Avaliação do desempenho: como comparar os resultados

Click to edit Master title style

Velhas doenças, terapêuticas atuais

Internamentos evitáveis

Rede Médicos Sentinela: instrumento de observação e investigação em saúde

Síndrome Coronariana Aguda

AVALIAÇÃO INVASIVA, REPERFUSÃO e REVASCULARIZAÇÃO

XXXV Congresso Português de Cardiologia Abril ú ç

Cuidados Paliativos no AVC em fase aguda

Síndroma de apneia do sono

Mais Complicações no Enfarte com Supradesnivelamento de ST na População Diabética: Porquê?

TRATAMENTO DAS SINDROMES CORONARIANAS AGUDAS

Revisão 01 *Válido a partir do número de série 030 AH AI

Insuficiência Cardíaca Aguda e Síndrome Coronária Aguda. Dois Espectros da Mesma Doença

O Risco de morrer por doença crónica em Portugal de 1980 a 2012: tendência e padrões de sazonalidade

Impacto prognóstico da Insuficiência Mitral isquémica no EAM sem suprast

Sistemas de Informação de Enfermagem (SIE) Élvio H. Jesus. Enf. Supervisor no SESARAM (Funchal) Élvio H.

Síndromes Coronarianas Agudas. Mariana Pereira Ribeiro

Cardiologia PNS PNS PNS Conclusões. CTO Medicina. CTO Medicina. CTO Medicina. 1. A evolução do número de perguntas

Efectividade e eficiência da prestação: um balanço necessário

O(A) Conservador(a) O(A) Conservador(a) Filomena Sofia Gaspar Rosa INSCRIÇÕES - AVERBAMENTOS - ANOTAÇÕES

Doença Coronária Para além da angiografia

Cardiogenética. 5.º Curso Genética Médica: Conceitos Elementares e Aplicações Frequentes

Avaliação do desempenho em hospitais

A parte das estatinas e aspirina, quais medicações melhoram prognóstico no paciente com DAC e

Custo-Eficácia da Ressincronização Cardíaca. Luis Sargento, Serviço de Cardiologia II, Hdia Insuf Cardiaca, CHLN

Programa de Cuidados Clínicos no IAMST: Indicadores e Resultados.

EXPANDING FRONTIERS OF ARRYTHMOLOGY

Desafio para a equipa de Pneumologia

Declaração de possíveis conflitos de interesses

Serviço de Cardiologia, Hospital do Espírito Santo de Évora. Serviço de Cardiologia, Hospital Distrital de Santarém

Pé Diabético Epidemiologia Qual a dimensão do problema?

Agenda de Investigação e Inovação em Saúde, Investigação Clínica e de Translação. Subtema "Promoção do Envelhecimento Activo e Saudável"

Indicadores Estratégicos

CH Lisboa Ocidental, EPE - Hospital Egas Moniz

Increased Risk of Achilles Tendon Rupture with Quinolone Antibacterials use, especialy in elderly patients taking oral corticosteroides

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Serviço de Cardiologia do Hospital de Braga

Abordagem intervencionista na síndrome coronária aguda sem supra do segmento ST. Roberto Botelho M.D. PhD.

ENDOCARDITE DE VÁLVULA PROTÉSICA REGISTO DE 15 ANOS

A Estenose Intracraniana na Doença das Células Falciformes

DOENÇA DE KAWASAKI E FLEIMÃO RETROFARÍNGEO: UMA DOENÇA?

AVALIAÇÃO DO PROTOCOLO DE INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO

CATETERISMO CARDÍACO. O Acompanhamento da Pessoa. Isilda Cardoso José Fernandes Susana Oliveira

MESA REDONDA: INDICADORES

Influência das Variantes Genéticas Funcionais do Sistema Renina-Angiotensina na Doença Arterial Coronária.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM CARDIOLOGIA DE INTERVENÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO AJUSTAMENTO PELO RISCO NA ANÁLISE DE RESULTADOS

PROJETO: INTERVENÇÃO BRASILEIRA PARA AUMENTAR O USO DE EVIDÊNCIAS NA PRÁTICA CLÍNICA SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS

ANEXO I (EDITAL DE CONCURSO 01/2016)

Anexos 4. 0 Substituição Tributária Anexos 4.23 Faturamento Direto a Consumidor. Veículos Automotores Novos com Substituição Tributária

RESPOSTA RÁPIDA 107/2013

12º RELATÓRIO DO OBSERVATÓRIO NACIONAL DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS RESUMO DOS DADOS

Aprendizagem Colaborativa: Relatos Institucionais. Prof. Andressa Pinheiro

Dra. Claudia Cantanheda. Unidade de Estudos de Procedimentos de Alta Complexidade UEPAC

Choque Cardiogênico, Evolução Clínica Imediata e Seguimento. Cardiogenic Shock, Imediate Evoluiton and Late Outcome

Detecção precoce de sepse e segurança do paciente. O que fazer? Flavia Machado

METODOS DE IMAGEM PARA DIAGNÓSTICO

Preditores de lesão renal aguda em doentes submetidos a implantação de prótese aórtica por via percutânea

Prova de Esforço. Ana Mota

Os Algoritmos terapêuticos de disrritmias supraventriculares em doentes com pacing permanente são afinal úteis?

NÚMERO: 008/2011 DATA: 31/01/2011 Diagnóstico Sistemático da Nefropatia Diabética

O MEDICAMENTO e as suas diferentes vertentes

CORONARY ARTERY DISEASE EDUCATION QUESTIONNAIRE CADE-Q VERSÃO EM PORTUGUÊS (PORTUGAL)

Programa de Cuidado Clinico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica: resultados e evolução dos indicadores clínicos

RELATÓRIO ACTIVIDADES 2018 SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE SAÚDE

14 de setembro de 2012 sexta-feira

AVALIAÇÃO DOS DOENTES COM SUSPEITA CLÍNICA DE TEP COM RECURSO A ANGIO-TC Estudo retrospectivo

Adesão a um Programa de Reabilitação Cardíaca: quais os benefícios e impacto no prognóstico?

MEDICINA PÓS OPERATÓRIA UNIDADE DE DOR AGUDA

Avaliação do Risco Cardiovascular

Causas necessárias: um desafio metodológico ou ontológico?

PREVALÊNCIA DE ÓBITOS EM IDOSOS POR DOENÇAS CARDIACAS EM UTI: DECLARAÇÃO DE ÓBITO COMO FERRAMENTA

NÚMERO: 005/2011 DATA: 21/01/2011 ASSUNTO: PALAVRAS-CHAVE: PARA: CONTACTOS:

DESCRIÇÕES - AVERBAMENTOS - ANOTAÇÕES

Programa de Reabilitação Cardíaca Fase intra-hospitalar

DECRETO N.º 208/XIII. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.

Integração dos princípios e atividades da GESTÃO DO RISCO no Sistema de Qualidade

ADESÃO TERAPÊUTICA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS LOGO. Conversas de Fim de Tarde 2013

Adoção de CDS no Hospital Digital. Dr. Claudio Giulliano Alves da Costa MD, MSc, CPHIMS Diretor da FOLKS Consultoria

RELATÓRIO ACTIVIDADES 2017 SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE SAÚDE

Notificar efeitos indesejáveis: porquê, o quê e para quê?

Transcrição:

Os registos de doentes como instrumentos de suporte à prática clínica, à gestão/administração e às politicas de rede Prof. Dr. António Vaz Carneiro Director do Centro de Estudos de Medicina baseada na Evidência da FM/UL Patrocínio Principal Patrocinadores Globais

Os registos de doentes (patient registries) como instrumentos de suporte à prática clínica, à gestão/administração e às políticas de saúde Prof. Doutor António Vaz Carneiro Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa CENTRO ACADÉMICO DE MEDICINA DE LISBOA

Esquema da comunicação Definição do que é um registo de doentes (RD) Utilizações potenciais dos RDs Taxonomias dos RDs Desenho de um RD Exemplos de usos práticos de RDs.

Definição do que é um RD - AHRQ 2010 - A patient registry is an organized system that uses observational study methods to collect uniform data (clinical and other) to evaluate specified outcomes for a population defined by a particular disease, condition, or exposure, and that serves one or more predetermined scientific, clinical, or policy purposes.

Cycle of patient registries for QI Concept Clinical Evidence Guidelines Outcomes Quality Improvement Initiatives Clinical registries Discovery to Adoption:17yrs! Measurement + feedback Performance indicators Califf RM, Peterson ED et al. JACC 2002;40:1895-901

Estrutura base do desenho do RD CONTEXTO Questão de investigação Recursos Exposições e resultados Origem dos dados Desenho do estudo População do estudo Amostragem Dimensão e duração do estudo Validade interna e externa QUESTÃO RELEVANTE Quais são as questões clínicas ou epidemiológicas? Que recursos (financeiros, humanos, doentes) estão disponíveis? Como é que as questões clínicas se traduzem em exposições e outcomes mensuráveis? Onde se podem encontrar os dados necessários? Que tipos de desenho podem ser mais apropriados para responder à questão colocada? Que tipos de doentes são necessários recrutar e como se seleccionam? É preciso grupo de comparação? Como devem os doentes ser seleccionados para inclusão na amostra? Quanto tempo e em quantos doentes se devem colher os dados? Existem viéses? Podem generalizar-se os resultados?

Utilizações dos RDs Desenvolvimento e manutenção da qualidade dos serviços de saúde Definição da efectividade das intervenções Avaliação de resultados (outcomes) dos doentes Determinação da história natural das doenças Monitorização da segurança e risco dos doentes Outros

NQF Evolving View of Quality Care: Importance of Longitudinal Measures Post HF Trajectory 1 (T1) Relatively healthy adult Population at Risk 1 0 Prevention (no known AMI) 2 0 Prevention (CAD no prior AMI) Assessment of Preferences Acute Phase Getting Better Post Acute/ Rehabilitation Phase 2 0 Prevention Focus on: Quality of Life Functional Status 2 0 Prevention Strategies Rehabilitation Advanced care planning 2 0 Prevention (Recurrent AMI events) Advanced Care Planning PHASE 1 Staying Healthy PHASE 2 PHASE 3 PHASE 4 Living w/ Illness/Disability (T1) Coping w/ End of Life (T2) Post HF Trajectory 2 (T2) Adult with multiple co-morbidities Focus on: Quality of Life Functional Status 2 0 Prevention Strategies Advanced Care Planning Advanced Directives Palliative Care/Symptom Control Episode begins onset of symptoms Episode ends 1 year post HF Peterson ED, 2009

Taxonomia dos RDs Registos de produtos Medicamentos Dispositivos médicos (por ex. ICDs) Registos de serviços de saúde Doentes com enfarte agudo do miocárdio Registos de doenças específicas Doenças raras, DM Combinações das anteriores Gripe A (H1N1).

Registo de medicamentos e dispositivos

RD do Canadá com 65 anos, internados por ICC entre Jan/1998 e Mar/2002 Amostra com 43.316 doentes com ICC e a quem tinham sido receitados IECAs nos 30 dias após o internamento Relação entre o IECA individual e a taxa de mortalidade O ramipril foi o medicamento-referência para as comparações.

Efectividade das drogas no uso diário, quando comparado com os resultados dos ensaios clínicos que as lançaram no mercado

National Cardiovascular Data Registry-ICD Registry Amostra com 111.707 doentes analisados entre Jan/2006 a Jun/2009 Análise dos resultados de internamento de doentes a quem foi colocado um ICD Análise das indicações para colocação de ICD (baseadas ou não na evidência científica).

Os doentes a quem foi colocado um ICD sem indicação baseada na evidência: tiveram maior mortalidade hospitalar (0.57% vs 0.18%) Tiveram maior taxas de complicações pós-implantação (3.23% vs. 2.41%).

Registo de serviços de saúde - Enfarte Agudo do Miocárdio -

Medição de cuidados através do contínuo CV: o exemplo do EAM Cuidados no Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) Factores de risco do doente Início do síndrome coronário agudo Alta Pós-alta: Modulação dos FRs Reabilitação cardíaca Internamento PCI/CABG

0,0% 0,0% 6,2% 20,5% 15,0% 23,5% 45,4% 39,1% 33,3% 33,3% 43,6% 63,2% 61,2% 59,0% 53,6% 55,0% 53,4% 54,2% 56,7% 51,7% 47,3% 70,6% 77,7% 72,9% 80,7% 75,8% 72,2% 70,2% 75,5% 69,9% 69,0% 77,8% 78,6% 74,1% 70,2% 71,9% 65,9% 64,0% 90,5% 84,5% 79,1% 94,4% 91,0% 90,4% 100,0% 100,0% SCA sem-st: estratégia invasiva (Registo dos SCA da SPC 2002-10 ) 120,0% EAM sem Supra de ST e Angina Instável - Estratégia Invasiva 100,0% 80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z AA AB AC AD AE AF AG AH AI AJ AK AL AM AN AO AP AQ AR AS AT Hospital Hospital Pior: 6,2% Hospital Melhor: 100,0% Média: 66,5%

15,5% 16,3% 22,2% 25,0% 41,7% 63,3% 56,4% 55,3% 51,6% 53,5% 46,9% 70,4% 64,3% 60,9% 54,5% 84,8% 81,2% 74,5% 68,4% 64,6% 71,8% 66,6% 67,0% 60,2% 58,3% 69,0% 68,5% 67,2% 69,5% 100,0% 94,0% 87,9% 86,6% 94,1% 88,9% 82,8% 77,6% 72,6% 68,8% 66,1% 67,5% 76,0% 71,9% 80,0% 75,0% 88,2% 120,0% Utilização de bloqueadores β-adrenérgicos (Registo dos SCA da SPC 2002-10 ) Medicação no Internamento - Betabloqueantes 100,0% 80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z AA AB AC AD AE AF AG AH AI AJ AK AL AM AN AO AP AQ AR AS AT Hospital Hospital Pior: 15,5% Hospital Melhor: 94,1% Média 73,0%

Registo de doentes portadores de doenças raras

Carga das doenças raras Prevalência <5/10.000 pessoas 6-8% da população da EU 5.000-8.000 doenças raras 80% de origem genética 65% com quadros graves 66% aparecem em idades <2 anos Metade com deficiências moderadas/graves Mortalidade: 36% em doentes com idade < 1 ano 11% entre 1 e 15 anos.

Necessidade do estudo Inexistência de registos organizados Difícil determinação de incidências ou prevalências das doenças raras Necessidade em saber nestas doenças Impacto do diagnóstico precoce Resposta ao tratamento e prognóstico Necessidade de investigação nestas doenças.

Monitorização de segurança Efeitos adversos dos medicamentos

O cisapride tem sido ligado a casos de arritmias cardíacas e morte súbita Estes efeitos adversos estão ligados à prescrição concomitante de outras drogas (já identificadas) Amostra de um RD com 38.757 doentes com 131.485 prescrições Análise da precrição e aquisição de combinações contra-indicadas de cisapride com outra droga.

Detectaram-se 3.4% (n=4.414) de receitas incorrectas Destas: 50% pelo mesmo prescritor 89% pela mesma farmácia.

António Vaz Carneiro, MD, PhD, FACP Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Centro Académico de Medicina de Lisboa Av. Prof. Egas Moniz 1649-028 Lisboa Telefs: 217 985 135 / 217 940 424 avc@fm.ul.pt www.cembe.org