PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA ACÓRDÃO APELAÇÃO N 200.2007.735169-6/001. ORIGEM : 15 Vara Cível da Comarca da Capital-PB. RELATOR : Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. APELANTE : Janete Magalhães Franca. ADVOGADO : Rinaldo Mouzalas de Souza e Silva e outros. 10 APELADO : UNIMED - João Pessoa. ADVOGADO : Luis Fernandes Benevides Ceriani e outros. 2 APELADO : Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda. ADVOGADO : José Bartolomeu Colaço Costa. EMENTA: APELAÇÃO. AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE PRESCRITO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE. AFASTADA. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA. DILAÇÃO PROBATÓRIA. DESNECESSÁRIA. CAUSA MADURA PARA JULGAMENTO. REJEIÇÃO DA PRELIMINAR. DENUNCIAÇÃO À LIDE. DISCUSSÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SUBJACENTE. IMPOSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. Não sendo possível a discussão acerca do negócio jurídico subjacente que deu origem aos cheques objeto da ação monitória, face a sua natureza cambiária, impõe-se o indeferimento do pedido de denunciação à lide. O cheque, mesmo prescrito, é prova escrita suficiente a demonstrar a existência do débito, porquanto identificam o credor, o devedor, o quantum debeatur, a data do pagamento, a praça, e a promessa de cumprimento da obrigação de pagar, de maneira que a declinação da causa debendi do título não é requisito essencial da inicial da ação monitória. VISTO, relatado e discutido o presente procedimento referente à Apelação n 200.2007.735169-6/001, nos autos da Ação Monitória ajuizada por UNIMED João Pessoa Cooperativa de Trabalho Médico contra Jante Magalhães Franca. ACORDAM os Membros desta Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, acompanhando o voto do Relator, conhecer da Apelação, rejeitando as preliminares, negar-lhe provimento. VOTO A UNIMED JOÃO PESSOA Cooperativa de Trabalho Médico ajuizou Ação Monitória perante o Juízo da 15' Vara Cível da Comarca da Capital, processo n. 200.2007.735169-6, em face de Janete Magalhães Franca. Alegou (1) que o espoo da Promovida foi internado em caráter particular, por não ser usuário de seu plano Ile saúde, em uma das dependências do hospital para ser submetido a procediment édico-hospitalares; (2) que o valor total do serviço foi trezentos e cinquenta e cin F4 novecentos e setenta e dois reais e noventa e oito gn'or"
centavos, e que houve autorização da diretoria de desconto no valor de trinta c cinco mil, seiscentos e cinquenta e três reais e vinte centavos; (3) que como forma de saldar parte da dívida, a Promovida, em 22 de maio de 2006, emitiu o cheque do Banco do Brasil de n 580013, no valor de noventa e sete mil, oitocentos e dezessete reais e cinquenta e dois centavos; (4) que o referido título de crédito foi devolvido pelo banco sacado por insuficiência de fundos, motivo que ensejou a presente ação. Pediu a expedição de mandado de pagamento contra a Demandada para quitar o débito que deixou de pagar, no importe de cento e treze mil, trezentos e vinte e quatro reais e oitenta e cinco centavos. A Promovida apresentou Embargos, f. 47/54, arguindo a preliminar de ilegitimidade da UNIMED JOÃO PESSOA, por ser pessoa distinta do Hospital Unimed, e denunciou à lide a Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda - ASSEFAZ, Plano de Saúde dos Servidores do Ministério da Fazenda. No mérito, alegou (1) que a responsabilidade pela dívida é da Denunciada - ASSEFAZ, uma vez que seu marido, na qualidade de funcionário federal aposentado do Ministério da Fazenda, era contratualmente beneficiário do plano de saúde ASSEFAZ, sem carência, contribuindo mensalmente, mediante desconto em folha de pagamento, sendo este responsável pela cobertura dos custos dos serviços de assistência médica, hospitalar e farmacêutica, durante sua internação no Hospital Unimed - João Pessoa; (2) que, embora tenha cumprido todas as exigências contratuais referentes ao reembolso das despesas de serviços médicos hospitalares, encontrou enormes entraves burocráticos por parte da ASSEFAZ, com inúmeras glosas e injustificadas recusas para pagamento, culminando com o não reconhecimento da dívida total, com consequente impossibilidade de cobertura do cheque-caução emitido pela Embargante, o que gerou a presente demanda; (3) que o título de crédito foi devolvido por insuficiência de fundos, em razão do não ressarcimento integral por parte da ASSEFAZ. Requereu a extinção do processo sem julgamento do mérito, pelo acolhimento da preliminar de ilegitimidade, ou a procedência dos Embargos para, via de consequência, julgar improcedente o pedido formulado pela Promovente. A Fundação Assistencial dos Servidores da Fazenda ASSEFAZ apresentou Contestação à Denunciação, f. 191/199, alegando (1) que não é verdadeira a argumentação de que orientou a Embargante a assinar cheque caução; e (2) que o Hospital Unimed não é seu credenciado. Na Sentença, f. 221/227, o Juízo a quo afastou a preliminar de ilegitimidade ativa da UNEMED JOÃO PESSOA, e não admitiu a denunciação à lide no procedimento dos Embargos à Ação Monitória, e, no mérito, rejeitou os Embargos e declarou constituída, de pleno direito, a prova escrita apresentada pela Promovente, f. 41, em título executivo judicial, para dar prosseguimento à execução. Condenou a Embargante ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que arbitrou em 12% do valor da causa. A Embargante interpôs Apelação, f. 239/246, arguindo, preliminarmente, a ilegitimidade ativa da UNIMED JOÃO PESSOA, aduzindo que a contratação dos serviços foi com o Hospital Unimed, que é pessoa jurídica distinta da Promovente; (2) o cerceamento do direito de defesa; or falta de oportunidade de coleta de provas na instrução; e (3) a arguição de preclus o pro judicata, defendendo que a Decisão a quo não poderia rejeitar a denunciação à lide depois de. tê-la admitido, determinando a citação, inclusive pelo fato de hav r defesa da Denunciada no processo. No mérito, alegou (1) qu o heqip que embasa a cobrança está consubstanciado oes,w50 4 '
em um ato jurídico nulo, porquanto a UNIMED exigiu cheque caução para garantir internação hospitalar em total afronta ao Art. 1, da Resolução Normativa 44/02, da ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar; e (2) que não foi dada oportun idade à Embargante de conferir os valores cobrados pela Promo vente, porquanto o montante da dívida foi apurado unilateralmente. Pugnou pelo provimento do Recurso para acolher a preliminar de ilegitimidade e extinguir a ação monitória sem análise de mérito, ou acolher a arguição de nulidade da Sentença, ou reformar a Decisão recorrida e deferir o pedido de denunciação à lide, julgando procedente a pretensão delineada na Demanda secundária, com condenação da Denunciada a ressarcir os valores cobrados pela Promovente. Nas Contrarrazões, f. 256/271, a Apelada alegou (1) que é parte legítima para perseguir o crédito reclamado; (2) que não houve cerceamento do direito de defesa e, no mérito, que o cheque caução não é ilegal, porque não foi exigido antes ou no momento do procedimento médico, conforme termos específicos elencados no Art. 1, da Resolução Normativa n. 44/2002, da ANS. Requereu o desprovimento do Recurso. Decisão monocrática, f. 280/281, negando seguimento à Apelação por ser manifestamente inadmissível, em razão da ausência de preparo. Embargos de Declação, f. 283/285, alegando que recolheu o preparo recursal, não tendo sido juntado aos autos porque foi extraviado, anexando uma cópia da guia de recolhimento ampliada para demonstrar a data do recolhimento na autenticação mecânica. Embargos recebidos como Agravo Interno e, no exercício do juízo de retratação, amparado no Art. 284, 2 do Regimento Interno deste Tribunal de Justiça, determinou o prosseguimento da Apelação, f. 291. Instado a se manifestar, o representante da Procuradoria de Justiça emitiu Parecer opinando pelo prosseguimento do recurso, sem manifestação sobre o mérito, em razão da ausência de interesse público primário. É o Relatório. Conheço do Recurso, porquanto presentes os pressupostos de admissibilidade. A Apelante arguiu a preliminar de cerceamento de defesa, sustentando que o julgamento antecipado da lide cerceou o seu direito de defesa, afastando a sua obrigação de comprovar o negócio jurídico existente. O Magistrado a quo entendeu que o processo já estaria maduro, dispensando dilação probatória, posto se tratar de matéria unicamente de direito. Não há que se. falar em cerceamento de defesa, ante o prematuro julgamento do feito, uma vez que verifico que as provas constantes nos autos são suficientes ao julgamento do feito, sendo que se mostra desnecessária a produção de qualquer outra prova. Posto isso, rejeito a preliminar de cerceamento de defesa arguida pela Apel ante. A Apelante/Ré arguiu a preliminar de ilegitimidade, argumentando que a Apelada/Autora não tem legitimidade para figurar no polo ativo da demanda, uma vez que o cheque foi emitido nominalmente ao Hospital da Unimed, enquanto a demanda foi proposta pela Unimed - João Pessoa, sendo duas pessoas jurídicas diversas, com inscrições distiitas no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas. A questão da diferença de número de CNPJ só tem relevância quando se trata de execução fiscaa dada a autonomia jurídico-administrativa que tal cadastro atribui às empresas.
Ademais, os Comprovantes de Inscrição e Situação Cadastral, emitido pela Receita Federal, f. 248/249, especificam que o Hospital da Unimed é do tipo "filial" e a Unimed João Pessoa é "matriz". A matriz é parte legítima para executar títulos de crédito emitidos pela filial, ainda que cadastradas com CNPJ diferentes. Razão pela qual rejeito a preliminar de ilegitimidade. A Apelante denunciou a lide à ASSEFAZ, garantindo que os cheques cobrados na ação monitória foram dados em negócio realizado com a Apelada, para internação de seu falecido esposo na UTI do Hospital da Unimed, sendo a Denunciada responsável pelo valor que a Recorrente vier a desembolsar para pagamento do cheque objeto da ação monitória. Entendo, contudo, ser impossível a discussão acerca do negócio jurídico subjacente que deu origem ao cheque cobrado, ainda que prescrito para a ação executiva. Desse modo, em face da natureza cambiária da obrigação, não se discute a causa de sua emissão, vez que o cheque por si só é documento cambial para comprovar a existência da dívida e a busca do título executivo pela via da ação monitória. Não sendo possível a discussão acerca do negócio jurídico subjacente que deu origem aos cheques objeto da ação monitória, impõe-se o indeferimento do pedido de denunciação à lide. Caso a Apelante se sinta lesada por conduta imputada à Denunciada, deve discuti-lo em ação própria, uma vez que não há qualquer relação jurídica entre a Apelada e a Denunciada No mérito, verifica-se que a Autora, ora Apelada, trouxe aos autos da ação monitória elementos de convicção suficientes a instruir o pedido exordial, ou seja, a prova escrita hábil a comprovar a existência da dívida, representada pelo cheque constante às fls. 41 emitido pela Apelante/Embargante, em 22 de maio de 2006, no valor total de noventa e sete mil, oitocentos e dezessete reais e cinquenta e dois centavos, sendo o mesmo emitido nominal a Apelada/Autora. Alega a Apelante que a Autora não demonstrou a causa debendi do título, requisito indispensável para o ajuizamento da ação monitória baseada em título prescrito e, que o título foi emitido mediante forte coação moral, sendo inválido o negócio jurídico e seus efeitos, uma vez que o cheque foi emitido como caução para garantir a internação do falecido esposo da Apelante na UTI do Hospital da Unimed. Não lhe assiste razão, pois, o Cheque trazido aos autos pela Apelada/Autora às f. 41, mesmo prescrito, é prova escrita suficiente a demonstrar a existência do débito, porquanto identificam o credor, o devedor, o valor da dívida, a data do pagamento, a praça, e a promessa de cumprimento da obrigação de pagar, de maneira que a declinação da causa debendi do título não é requisito essencial da inicial da ação monitória. Nesse sentido julgado do Superior Tribunal de Justiça: "Na ação monitória fundada em cheque prescrito, não se exige do autor a declinação da causa debendi, pois é bastante para tanto a juntada _do próprio título, cabendo ao réu o ônus da prova da inexistência do débito. Precedentes. Recurso especial conhecido e provido ' 1\(STJ; REsp 5416661MG; RECURSO ESPECIAL 2003/0093160-6; Retator(a) MinistrcI CESAR ASFOR ROCHA (1098); órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA; Dat do Julgamento 05/08/2004; Data da Publicação/Fonte DJ 02.05.2005 p. 356; grifo nosts! \
A Apelante não nega a emissão do cheque, restringindo-se em afirmar nas razões do recurso que o cheque foi emitido como caução para garantir a internação do seu falecido esposo, na UTI do Hospital da Unimed, o que ocasionaria a invalidade do negócio jurídico entre as partes, em razão da vedação da Agência Nacional de Saúde a esse tipo de procedimento e que não lhe foi oportunizada a conferência dos valores cobrados. Isto posto, correta a Sentença de primeiro grau, inexistindo razões para deferir o pleito da Apelante, razão pela qual, afastadas as preliminares, nego provimento ao Recurso, mantendo a Sentença em todos os seus termos. E o voto. Presidiu o julgamento, realizado na Sessão Ordinária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, o Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, no dia 28 de fevereiro de 2012, conforme certidão de julgamento, dele participando, além deste relator, o Desembargador João Alves da Silva. Presente à sessão, o Exma. Sra. Dra. Maria Salete de Araújo Melo Porto, Promotora de Justiça Convocada. 7 Gabinete no TJ/PB emjoãe Pessoa -PB, 05 de março de 2012. Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira Relator