Palavras chave: alfabetização; livro didático; práticas docentes;

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PRÁTICAS DE ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL E O USO DE LIVROS DIDÁTICOS DO PNLD 2013 POR PROFESSORES DE RECIFE E CAMARAGIBE Raquel Amaral da Silva 1 ; Eliana Borges Correia de Albuquerque 2 1 Estudante do Curso de Licenciatura Pedagogia- CE UFPE; E-mail: raquel24amaral@gmail.com 2 Docente/pesquisador do DPOE CE UFPE. E-mail: elianaba@terra.com.br Sumário: O presente estudo buscou analisar as práticas de ensino da leitura e da escrita em turmas do primeiro ano do ensino Fundamental e o uso de livros didáticos distribuídos pelo PNLD 2013. Para a análise do processo de escolha das coleções de alfabetização, assim como dos conhecimentos e usos que os professores fazem dos livros que receberam, realizamos entrevistas com dez professoras que lecionavam no 1º ano em escolas da Secretaria de Educação de Jaboatão dos Guararapes (município da Região Metropolitana de Recife) e fizemos observações de aulas na turma de uma das professoras entrevistadas. A análise das entrevistas revelou que o livro didático continua sendo um material importante na organização do trabalho de alfabetização, junto a outros materiais, como os livros paradidáticos que fazem parte do Programa PNLD Obras Complementares. Em relação ao uso que os docentes fazem do livro didático, observou-se (nas entrevistas e na observação da prática de uma professora) que elas apresentam diferentes estratégias de uso, não seguindo à risca a proposta dos autores desse material. A professora cujas aulas foram observadas, no entanto, falou que o livro escolhido pela escola, apesar de ter diferentes gêneros textuais, não tinha muitas atividades de apropriação da escrita alfabética. Ela realizava as atividades de leitura e produção do livro e inseria atividades de alfabetização.. Palavras chave: alfabetização; livro didático; práticas docentes; INTRODUÇÃO Quando falamos em alfabetizar crianças no Brasil, podemos nos referir a variadas práticas de ensino da leitura e da escrita, desde aquelas vinculadas ao ensino de letras, sílabas e palavras com base em textos cartilhados, até a inserção dos alunos nas práticas sociais de leitura e escrita. Pedagogicamente, a alfabetização considerada como o ensino das habilidades de codificação e decodificação foi transposta para a sala de aula, no final do século XIX, através da criação de diferentes métodos de alfabetização métodos silábicos/sintéticos x métodos globais/analíticos, método misto x método natural que padronizaram a aprendizagem da leitura e da escrita. As cartilhas relacionadas a esses métodos passaram a ser amplamente utilizadas como livro didático para o ensino nessa área. No contexto brasileiro, a mesma sucessão de oposições pode ser constatada (MORTATTI, 2000). Na década de 80, os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua Escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1984) vão abrir uma nova possibilidade de desenvolvimento das práticas de alfabetização. Criticando a concepção de língua escrita como código, o qual se aprenderia a partir de atividades de memorização e seguindo etapas pré-estabelecidas, as autoras defenderam uma concepção de língua escrita como um sistema de notação que, no nosso caso, é alfabético. Segundo as referidas autoras, no processo de apropriação do sistema de escrita alfabético, os alunos precisariam

compreender como esse sistema funciona e isto pressupõe que descubram o que a escrita nota (ou representa, grafa ) e como a escrita cria estas notações (ou representações ). Assim, eles precisariam entender que o que a escrita alfabética nota no papel são os sons das partes orais das palavras e que o faz considerando segmentos sonoros menores que a sílaba. Com a difusão dos trabalhos da Psicogênese da Língua Escrita vimos nascer um forte discurso contrário ao uso dos tradicionais métodos de alfabetização e a defesa de uma prática que tomasse por base a teoria psicogenética de aquisição da escrita. Pregava-se a necessidade de possibilitar que as crianças se apropriassem do sistema de escrita alfabético a partir da interação com diferentes textos escritos em atividades significativas de leitura e produção de textos, desde a Educação Infantil. Considerando a importância dos livros didáticos na organização das práticas pedagógicas do professor e reconhecendo que muitos deles se distanciavam das propostas curriculares e dos projetos elaborados pelas Secretarias de Educação, além de serem desatualizados e apresentarem erros inaceitáveis, o MEC passou a desenvolver, desde 1995, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Desde então os livros inscritos no programa passaram a ser submetidos a um trabalho de análise e avaliação pedagógica, realizado por um grupo de pesquisadores e professores de instituições universitárias, aos quais cabe a tarefa de estabelecer critérios, julgar a qualidade e recomendar/excluir os manuais didáticos a serem usados no ensino fundamental, aí incluídos os livros de alfabetização, substitutos das tradicionais cartilhas. Os livros didáticos são avaliados a cada três anos e aqueles recomendados para serem usados pelos professores passam a compor o Guia de Livros Didáticos, que auxiliam os docentes na escolha dos livros. Como apontado por Albuquerque e Morais (2011) as mudanças nos livros de alfabetização passaram a ser acompanhadas por mudanças na forma dos professores usarem esse material. Se, antes, com as cartilhas analíticas ou sintéticas, eles realizavam todas as lições do manual, na sequência em que apareciam, os livros didáticos tenderiam a ser usados, atualmente, como um dos materiais que pode contribuir para a organização do trabalho pedagógico, mas não mais seria o único. Pesquisas (ALBUQUERQUE, FERREIRA, MORAIS, 2005) mostraram que os professores buscam, nos novos livros, textos e atividades interessantes para realizarem com seus alunos, de acordo com os objetivos pedagógicos que pretendem contemplar, e recriam muitas das atividades de alfabetização presentes nos manuais didáticos. O Edital do PNLD 2013 apresenta mudanças na organização da coleção de alfabetização que passa a envolver três volumes, destinados aos alunos dos três primeiros anos do Ensino fundamental. Como no PNLD 2007, os volumes da coleção precisam estar voltados para o letramento e a alfabetização iniciais, focalizando-os e articulando-os num só processo. Diante das mudanças ocorridas nos livros de alfabetização, consideramos importante investigar como os professores do 1º ano do Ensino Fundamental organizam suas práticas de ensino da leitura e da escrita na perspectiva de alfabetizar letrando, e, nessa organização, qual o papel e o uso que fazem do livro didático. MATERIAIS E MÉTODOS Para a análise do processo de escolha das coleções de alfabetização, assim como dos conhecimentos e usos que os professores fazem dos livros que receberam, realizamos entrevistas com dez professoras que lecionavam no 1º ano em escolas da Secretaria de Educação de Jaboatão dos Guararapes (município da Região Metropolitana de Recife) e fizemos observações de aulas (uma semana) na turma de uma das professoras entrevistadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação ao processo de escolha do livro didático para o período de 2013 a 2016, as professoras afirmaram que a escolha foi realizada por escola e foi feita com base em livros enviados pelas editoras. Em relação ao Guia do PNLD 2013, em geral elas conheciam o material, mas não o usaram. : Quando questionados sobre o que achavam da coleção de alfabetização (livro do 1º ano) que receberam em 2014, a maioria dos docentes respondeu que gostaram do livro que escolheram e receberam. E disseram que gostavam de poder usar o mesmo livro por três anos, uma vez que ao longo desse período conseguiriam trabalhar com o livro com maior propriedade, Sobre o uso do livro didático, diferentes estratégias foram relatadas pelas docentes, o que demonstra que não usavam mais o livro como tradicionalmente ele vinha sendo usado: como único ou principal material pedagógico para o ensino da leitura e da escrita, que deveria ser usado de forma exaustiva, na ordem indicada pelo autor. Algumas professoras disseram que usaram o livro todo, mas não necessariamente todos os dias. O livro didático era considerado, para a maioria das professoras, como um complemento junto a outros recursos, como os livros do PNLD - obras complementares 1, os jogos e as fichas de atividades que as professoras elaboravam, Solicitadas a falarem sobre o que gostavam no livro de alfabetização, algumas professoras falaram da coletânea de textos, das atividades de leitura e de apropriação da escrita alfabética, principalmente a exploração dos textos rimados. Em relação aos livros de edições anteriores do PNLD, elas destacaram que os livros atuais estavam melhores, com textos curtos e boas atividades de alfabetização. Por fim, algumas professoras compararam suas práticas atuais com o livro didático que escolheram e o acervo de Obras Complementares, com os anos anteriores em que foram obrigados a usar os livros do Programa Alfa e Beto, adotado na rede no período de 2009 a 2012. Em geral, elas disseram que as práticas atuais são melhores, principalmente por causa dos livros do acervo do PNAIC e dos jogos. Também gostam dos textos dos livros didáticos e das atividades de apropriação da escrita alfabética que eles contém. Em relação ao uso do livro didático pela professora cuja prática foi observada, nos cinco dias de observação, apenas um dia ela fez uso do livro didático. Descreveremos e analisaremos, a seguir, o uso que ela fez do livro didático. A página utilizada foi a de número oitenta, que apresentava uma parlenda envolvendo a palavra Mãe. Trata-se de uma parlenda usada em brincadeiras infantis para a escolha de um jogador. A professora fez a leitura do texto e os estudantes acompanhavam com os dedinhos. Logo em seguida, a docente solicitou aos estudantes a localização da palavra mãe, e em seguida fez a exploração dessa palavra, identificando, com os alunos, a quantidade de letras e sílabas. Em seguida, alguns alunos foram ao quadro, mostrar, no texto copiado pela professora, a palavra Mãe. Depois da leitura do texto e exploração da palavra mãe, cada criança recebeu uma ficha de atividade, com as frases da parlenda desalinhadas, para cortarem e as colocarem em ordem. Tal atividade requeria que os alunos memorizassem a parlenda e, com apoio do texto escrito no quadro ou no livro, a organizassem. No livro didático, a atividade proposta depois da leitura do texto contemplava uma reflexão sobre a parlenda em si e a apresentação das palavras com as sílabas separadas. Esperava-se que os alunos percebessem em que brincadeiras essa parlenda é usada e de que forma ela é cantada. Com isso, eles perceberiam que a forma de apresentação das palavras estava relacionada com a 1 Em 2013 os professores do 1º ao 3º anos do Ensino Fundamental receberam uma caixa com um acervo de livros do Programa PNLD Obras Complementares no âmbito do Programa Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

forma como elas são ditas na brincadeira. Tal exploração não foi feita pela professora, assim como a atividade seguinte, que envolvia a escrita das palavras da parlenda sem a separação silábica. Nesse sentido, a professora usou o livro didático integrando-o a seu planejamento e às necessidades de seus alunos, Ela quis explorar a parlenda no sentido de fazer os alunos a recitarem e memorizarem e realizar uma atividade em certo sentido lúdica de montagem da parlenda. A escolha pela leitura desse texto, no entanto, não esteve relacionada à proposta do livro que era a de trabalhar textos da tradição oral nesse capítulo, mas a de ler um texto que tinha a palavra Mãe, embora não tratasse dessa temática. Enfim após essa semana de observação, foi possível verificar que a professora fazia pouco uso do livro didático, explorando, no trabalho com a apropriação da escrita alfabética, outros textos que trazia e fichas que elaborava. Quando usou o livro didático, não seguiu à risca as propostas dele, reconstruindo-as considerando o perfil de seus alunos, os conteúdos que queria ensinar e a forma como considerava importante ensiná-los. CONCLUSÕES Sobre o papel que o livro didático assume na organização do trabalho pedagógico, para os professores, no geral, constatamos, por meio da análise das entrevistas, que o livro didático continua sendo um material importante, mas outros materiais estão sendo muito utilizados, como os livros paradidáticos que fazem parte do Programa PNLD Obras Complementares e os jogos de alfabetização distribuídos pelo MEC. Em relação ao uso que os docentes fazem do livro didático de alfabetização, observamos, nas falas das docentes, que elas apresentam diferentes estratégias de uso desse material em suas salas de aula. Elas gostam dos livros de alfabetização principalmente por causa do repertório textual (muitos textos da tradição oral e do universo infantil) e das atividades de alfabetização, que, no geral, buscam privilegiar a escrita como um sistema notacional. Quanto ao uso do livro didático da prática da professora cujas aulas foram observadas, constatamos que ela usava pouco o livro, uma vez que ele não trazia muitas atividades do eixo da apropriação da escrita alfabética. No dia em que fez uso desse material, não seguiu a proposta do livro, reelaborando as atividades de acordo com seu planejamento. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao CNPq e à UFPE pela oportunidade de realização da pesquisa com bolsa PIBIC, assim como a minha orientadora, a professora Eliana Borges Correia de Albuquerque, pela atenção, dedicação e paciência ao ensinar. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, E. e MORAIS, A. Os livros didáticos na alfabetização: mudanças e possibilidades de uso In: Recursos didáticos e ensino de Língua Portuguesa: computadores, livros... e muito mais.1 ed.curitiba : CRV, 2011, p. 135-155. ALBUQUERQUE, Eliana Borges, MORAIS, Artur e FERREIRA, Andréa Tereza B. As práticas cotidianas de alfabetização: o que fazem as professoras? Revista Brasileira de Educação, v.13, p.252-264, 2008 FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. MEC. Guia do Livro Didático/PNLD 2013. Brasília: MEC, 2013 MORTATTI, Maria do Rosário L. Os sentidos da alfabetização: São Paulo: 1876-1994. São Paulo: Ed. UNESP; CONPED, 2000