Decima Turma Publicacao: 24/07/2015 Ass. Digital em 16/07/2015 por PAULO MAURICIO RIBEIRO PIRES Relator: PMRP Revisor: DAD PODER JUDICIÁRIO RECORRENTE: RECORRIDA: MARIANA PAULINO BRANDÃO TEIXEIRA SEI CONSULTORIA E PROJETOS S/C LTDA. EMENTA: ENGENHEIRO. PISO SALARIAL PREVISTO NA CCT INFERIOR À LEI 4.950/66. INVALIDADE. Ainda que fruto da negociação entre os sindicatos patronal e profissional, as normas coletivas em questão não gozam de plena validade, pois invadem o campo de matérias avessas à negociação coletiva, tratando de supressão de direito absolutamente indisponível e contra legem (Leis nºs 4.950/66 e 5.194/66), em afronta ao dispositivo legal que prevê piso superior àquele propiciado pelo diploma coletivo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, DECIDE-SE. RELATÓRIO O MM. Juiz da 28ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, Alessandro Roberto Covre, pela sentença de f. 165/167, cujo relatório adoto e a este incorporo, julgou procedentes em parte os pedidos formulados, para condenar a ré a pagar as seguintes parcelas: a) diferenças salariais após dezembro de 2012 até a dispensa da reclamante (fevereiro de 2013), tomando-se por base o salário que era recebido em novembro do mesmo ano (R$ 4.018,80), com reflexos em 13º salários, FGTS e férias + 1/3. A reclamante interpôs recurso ordinário (f. 168/172), requerendo a modificação do julgado no tocante às diferenças salariais em face de inobservância do piso previsto no instrumento coletivo da categoria. Devidamente intimada (f. 174), a reclamada não apresentou contrarrazões. É o relatório.
VOTO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE Conheço do recurso ordinário interposto pela reclamante porquanto satisfeitos os pressupostos objetivos e subjetivos de sua admissibilidade. JUÍZO DE MÉRITO 1 Diferenças Salariais. Piso do Engenheiro Inferior ao Previsto na Lei nº 4.950/66. Negociação Coletiva Inválida. A decisão a quo julgou improcedentes os pleitos de diferenças salariais ao fundamento de que a autora percebia o salário previsto para a função a qual foi contratada (Engenheira Trainee), de acordo com a CCT da categoria. Inconformada, a reclamante pretende a reversão do julgado quanto à improcedência do pedido de diferenças salariais, arguindo a invalidade do diploma normativo da categoria, por afronta ao piso da categoria previsto na Lei nº 4.950/66. Examino. Na inicial, a autora afirma que foi contratada como Engenheira Trainee, para cumprir jornada de 44 horas semanais e perceber salário inicial de R$3.940,00. Assevera que sempre exerceu as funções de engenheira química, tendo assumido projetos e assinado documentos relativos à tais projetos. Sustenta, por derradeiro, que seu piso salarial para a jornada cumprida deveria ser 8,5 salários mínimos, amparado pela referida lei. A ré se defende amparada pelo instrumento coletivo que prevê piso inferior ao legal para os engenheiros e arquitetos, que deve ser pago no percentual de 70,47 para os profissionais trainee. A CCT 2011/2012 da categoria preconiza o seguinte: CLÁUSULA TERCEIRA PISOS SALARIAIS (...)
Engenheiro R$4.650,00 (...) Parágrafo Terceiro: Visando estimular o primeiro emprego, as empresas poderão contratar engenheiros e arquitetos, com salário correspondente a 70,47% do piso destes profissionais estabelecido nesta cláusula. (...) Pois bem. A Constituição Federal de 1988 reconheceu a validade dos acordos e convenções coletivas de trabalho como direitos sociais dos trabalhadores urbanos e rurais (art. 7º, XXVI), desde que garantidos os direitos mínimos devidos ao trabalhador, notadamente aqueles que dizem respeito ao salário, que imantado de natureza alimentar, assegura a sobrevivência do trabalhador e de sua família. Neste norte, ainda que fruto da negociação entre os sindicatos patronal e profissional, as normas coletivas em questão não gozam de plena validade, pois invadem o campo de matérias avessas à negociação coletiva, tratando de supressão de direito absolutamente indisponível e contra legem (Leis nºs 4.950/66 e 5.194/66), em afronta ao dispositivo legal que prevê piso superior àquele propiciado pelo diploma coletivo. In casu, o piso previsto nos instrumentos coletivos, que ora reputo inválidos, suprimem direitos indisponíveis do trabalhador e, portanto, inválido, porquanto desrespeita os limites da negociação coletiva. Incontroverso que a autora foi contratada para receber inicialmente R$3.940,00. Contudo, considerando que foi admitida na função de engenheira, em 18/01/2012 (f. 17), quando o salário mínimo era de R$622,00, para cumprir jornada de 8 horas diárias, deveria ter percebido valor correspondente a 8,5 salários mínimos (8,5 x R$622,00 = R$5.287,00). trabalhista: Na mesma esteira, segue aresto da mais alta corte
ENGENHEIRO. JORNADA DE TRABALHO DE 8 HORAS. PISO SALARIAL. LEI Nº 4950-A/66. A Lei nº 4.950-A/66, em seu art. 6º, estabelece que, para a execução de atividades e tarefas classificadas na alínea -b- do art. 3º (atividades ou tarefas com exigência de mais de 6 (seis) horas diárias de serviço), a fixação do salário-base mínimo será feito tomando-se por base o custo da hora fixado no art. 5º desta Lei, acrescidas de 25% as horas excedentes das 6 (seis) diárias de serviços. Considerando que cada hora excedente da sexta deve ser calculada com acréscimo de 25%, ou seja, cada hora representa 1,25 salários-mínimos, o engenheiro sujeito à jornada de trabalho de 8 horas diárias, no momento de sua contratação, faz jus ao piso salarial de 8,5 salários-mínimos. Precedentes. Agravo a que se nega provimento. Processo: Ag-ED-ARR - 420-69.2011.5.04.0232 Data de Julgamento: 01/10/2014, Relator Ministro: Emmanoel Pereira, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/10/2014. Noutro norte, é cediço que somente o salário de ingresso no cargo pode ser estabelecido pelos múltiplos do salário mínino, sendo vedado o reajuste automático do salário profissional com base no reajuste do salário mínimo, nos termos da OJ 71, da SDI-II/TST. Logo, no cálculo das diferenças salariais, fica vedada a observância das majorações do salário mínimo a partir da data de admissão. Neste sentido, também já se posicionou o C. TST: "AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1. NULIDADE POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. 2. FIXAÇÃO DO SALÁRIO DE ENGENHEIRO. SALÁRIO PROFISSIONAL FIXADO EM MÚLTIPLOS DO SALÁRIO MÍNIMO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE SOMENTE PARA O PISO DE INGRESSO NO EMPREGO, SEM INDEXAÇÃO DO VALOR SALARIAL (ART. 7º, IV, IN FINE, CF). RECEPÇÃO, NESSA MEDIDA, DA LEI 4.950-A/66. DECISÃO DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. A estipulação do salário profissional dos engenheiros adotando-se múltiplos do salário-mínimo não vulnera o disposto no art. 7, IV, da CF, o qual proíbe somente a automática correção do salário profissional baseada no reajuste do salário-mínimo. Ou seja, o piso salarial de contratação é o da Lei nº 4.950-A, de 1966, porém não mais é viável, juridicamente, a correção automática (indexação) do salário profissional do engenheiro toda vez que for reajustado o salário mínimo (Súmula Vinculante 4/STF). Inteligência da OJ 71 da SBDI-2/TST. Desse modo, não há como assegurar o processamento do recurso de revista quando o agravo de instrumento interposto não desconstitui os fundamentos da decisão denegatória, que subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de instrumento desprovido. (TST-AIRR - 291-96.2013.5.08.0001, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 23/04/2014, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 25/04/2014). De todo o exposto, devidas à reclamante as diferenças
salariais entre o salário percebido e o piso devido no ato da contratação (R$5.287,00) por todo o período contratual, com reflexos em férias + 1/3, 13ºs salários, saldo de salários e FGTS. Dou provimento. 2 Multa do Art. 467 da CLT. A recorrente não se conforma com a absolvição da ré ao pagamento da multa estabelecida no art. 467 da CLT, alegando que as diferenças salariais devidas são suficientes a demonstrar que a ré não pagou todos os direitos devidos em audiência. Sem razão. A norma insculpida no art. 467 da CLT reza o seguinte: "Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinqüenta por cento". Independente de eventual condenação ou absolvição da ré ao pagamento de diferenças salariais, os direitos vindicados pela autora, foram integralmente impugnados (f. 76/78), fato que por si só afasta a incidência da multa pleiteada. Desprovejo. CONCLUSÃO Conheço do recurso ordinário interposto pela reclamante; no mérito, dou-lhe provimento parcial para condenar a ré a pagar-lhe as diferenças salariais entre o salário percebido e o piso devido no ato da contratação (R$5.287,00), por todo o período contratual, com reflexos em férias + 1/3, 13ºs salários, saldo de salários e FGTS. Declarou-se, para os fins do art. 832, 3º, da CLT, que as diferenças salariais ora deferidas e seus reflexos em férias gozadas e 13ºs salários possuem natureza salarial. Foi acrescida à condenação a importância de R$10.000,00, com custas adicionais de R$200,00, pela reclamada.
Fundamentos pelos quais, O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, em sessão ordinária da sua DÉCIMA TURMA, hoje realizada, julgou o presente processo e, à unanimidade, conheceu do recurso ordinário interposto pela reclamante; no mérito, por maioria de votos, deu-lhe provimento parcial para condenar a ré a pagar-lhe as diferenças salariais entre o salário percebido e o piso devido no ato da contratação (R$5.287,00), por todo o período contratual, com reflexos em férias + 1/3, 13ºs salários, saldo de salários e FGTS, vencida parcialmente a Exma. Desembargadora Revisora. Declarou-se, para os fins do art. 832, 3º, da CLT, que as diferenças salariais ora deferidas e seus reflexos em férias gozadas e 13ºs salários possuem natureza salarial. Foi acrescida à condenação a importância de R$10.000,00, com custas adicionais de R$200,00, pela reclamada.. Belo Horizonte, 15 de julho de 2015. PAULO MAURÍCIO RIBEIRO PIRES Desembargador Relator