PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO 7ª Turma PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUROS DA MORA. FAZENDA PÚBLICA. APLICAÇÃO DA OJ 7, DO PLENO DO C. TST. Em se tratando de condenação envolvendo a Fazenda Pública, a incidência dos juros da mora sobre o débito trabalhista, deve observar, no que couber, não só os parâmetros traçados pelo 1º do art. 39 da Lei nº 8.177, de 1º , como também aqueles estabelecidos pelos arts. 1º- F da Lei nº 9.494, de , introduzido pela Medida Provisória nº , de , e artigo 5º da Lei nº , de Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de agravo de petição em que são partes UNIÃO FEDERAL (Sucessora de Fundação Roquette Pinto), como agravante, e ERALDO VIANA SIQUEIRA e SANDER MIRANDA CABRAL, como agravados. Inconformada com a r. decisão de fl.404, proferida pelo MM. Juiz Ricardo Georges Affonso Miguel, 13ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou Improcedentes seus embargos à execução, recorre a União Federal, via agravo de petição, segundo as razões de fls.405/414, Aduz a União que a aplicação dos juros da mora deve ser ajustada para que, a partir da vigência da Lei nº 9.494/97, de , até a efetiva quitação do débito, sejam calculados à base de 6% (seis por cento) ao ano, permanecendo, para o período anterior, a aplicação de 12% ao ano. Contraminuta dos autores, às fls. 421/423, com preliminar de não conhecimento e arguição de litigância de má-fé. O processo foi submetido ao Ministério Público do Trabalho por se

2 tratar de matéria de interesse público, na forma do art. 83, II, da LC 75/93, opinando o I. Procurador Marcelo de Oliveira Ramos, pelo conhecimento e provimento do recurso. É o relatório. VOTO DO CONHECIMENTO PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO ARGUIDA PELOS AUTORES Como a matéria versada na presente preliminar entrelaça-se com o próprio mérito, aí será analisada e decidida. Representação regular do ente público, inexigibilidade de garantia do juízo, sendo o agravo tempestivo. Logo, conheço do agravo de petição interposto pela União Federal, por preenchidos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ ARGUIDA EM CONTRAMINUTA Rejeito. Descabe a condenação pleiteada pelos agravados, pois a agravante nada mais fez do que utilizar-se dos meios e recursos idôneos e adequados para exercer o seu direito constitucional do contraditório e da ampla defesa, insculpidos no art. 5º, LV da CF, não se enquadrando em nenhuma das hipóteses elencadas no art. 17 do CPC. MÉRITO A União Federal interpõe o presente recurso, irresignada, em suma, com a aplicação indistinta do percentual de 1% (um por cento) ao mês, relativo aos juros da mora, sem que se atentasse à metodologia prevista na Lei nº 9.494/97 e ao entendimento consagrado na OJ nº 7 do Pleno do C. TST. Com razão a agravante. A r. sentença exequenda, à fl.180, realmente determinou a aplicação de 'juros de 1%, na forma simples, a teor da Lei nº 8.177/91'

3 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL O v. acórdão proferido em agravo de petição anterior, às fls.337/342, deu provimento ao recurso autoral, para que os juros da mora fossem contados até a efetiva satisfação do débito. Nos últimos cálculos de J e CM confeccionados pelo contador do juízo, em 07/07/2010, às fls.371/375, foram computados juros da mora, no percentual de 1% (um por cento), capitalizados, de 01/01/91 até 03/03/91 e simples, também no percentual de 1% (um por cento), de 04/03/91 a 30/06/2010. Contudo, à época da prolação da r. sentença (03/04/95) até o seu trânsito em julgado (03/02/98), em relação ao ente público reclamado, conforme certidão exarada à fl.217, ainda não existia no nosso ordenamento jurídico lei específica a regulamentar a incidência dos juros da mora, nos casos que envolvessem a Fazenda Pública, o que somente veio a ocorrer com a introdução do art. 1º- F à Lei nº 9.494/97, pela Medida Provisória nº , de , modificado, posteriormente, pela Lei nº /2009. Anteriormente, utilizava-se a mesma legislação aplicada aos entes privados, ou seja, a Lei nº 8.177/91. Prevê a Orientação Jurisprudencial nº 7 do Pleno do C. TST, que trata de referida matéria, verbis: Juros de mora. Condenação da Fazenda Pública. I Nas condenações impostas à Fazenda Pública, incidem juros de mora segundo os seguintes critérios: a) 1% (um por cento) ao mês, até agosto de 2001, nos termos do 1º do art. 39 da Lei n , de 1º ; b) 0,5% (meio por cento) ao mês, de setembro de 2001 a junho de 2009, conforme determina o art. 1º-F da Lei n , de , introduzido pela Medida Provisória n , de ; II A partir de 30 de junho de 2009, atualizam-se os débitos trabalhistas da Fazenda Pública, mediante a incidência dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, por força do art. 5º da Lei n , de II A adequação do montante da condenação deve observar essa limitação legal, ainda que em sede de precatório. (nova redação DEJT divulgado em 27, 30 e )

4 Por total coincidência de entendimento, pedimos vênia para transcrever trecho do comentário inserto na obra intitulada 'Orientações Jurisprudenciais do TST Comentadas', Ed. LTR, 3ªed., pg.60, de Raymundo Antonio Carneiro Pinto e Cláudio Brandão, a respeito da supra citada OJ, a seguir: Antes do advento da Lei n , de , que fixou em 0,5%, a partir de setembro de 2001 (art.1º-f), não havia regra específica relativa aos débitos da Fazenda Pública que, por conseguinte, se sujeitava à mesma disciplina dos devedores privados. Contudo, desde então, ocorreram, como visto no texto da OJ, algumas mudanças que se aplicam aos cálculos relativos ao período transcorrido, porquanto a disciplina dos acessórios incidentes sobre a condenação é regida pela regra vigente na época em que se tornem devidos, mesmo que na decisão tenha havido determinação em sentido contrário ou nada tenha mencionado a respeito. Trata-se de matéria própria da execução e a superveniência de nova disciplina legal é a ela aplicável. Acrescenta-se, de igual modo, a possibilidade de ocorrer a adequação, ainda que em sede de precatório, sem que se caracterize violação à coisa julgada. Portanto, não há que se falar em preclusão, muito menos em aplicação da hipótese prevista na Súmula 422 do C. TST, como defendido pelos agravados. Desta forma, acolho o agravo de petição interposto pela União Federal, para determinar que sejam refeitos os cálculos de J e CM de fls. 371/375, alusivos aos dois reclamantes, utilizando-se os seguintes percentuais referentes aos juros da mora: 1% (um por cento) simples, ao mês, da data do ajuizamento da ação (25/09/91) até agosto/2001; 0,5% (meio por cento), ao mês, simples, de setembro/2001 a junho/2009, conforme determina o art. 1º- F da Lei n , de , introduzido pela Medida Provisória n /2001; e a partir de 30/06/2009, mediante a incidência dos juros aplicados à caderneta de poupança, por força do art. 5º da Lei nº /2009. ANTE O EXPOSTO, conheço do agravo de petição interposto pela

5 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL União e, quanto ao mérito, dou-lhe provimento, para que sejam refeitos os cálculos de J e CM de fls. 371/375, alusivos aos dois reclamantes, utilizando-se os seguintes percentuais referentes aos juros da mora: 1% (um por cento) simples, ao mês, da data do ajuizamento da ação (25/09/91) até agosto/2001; 0,5% (meio por cento), ao mês, simples, de setembro/2001 a junho/2009, conforme determina o art. 1º- F da Lei n , de , introduzido pela Medida Provisória n /2001; e a partir de 30/06/2009, mediante a incidência dos juros aplicados à caderneta de poupança, por força do art. 5º da Lei nº /2009, na forma da fundamentação supra. ACORDAM os Desembargadores da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do agravo de petição interposto pela União e, quanto ao mérito, dar-lhe provimento, para que sejam refeitos os cálculos de J e CM de fls. 371/375, alusivos aos dois reclamantes, utilizando-se os seguintes percentuais referentes aos juros da mora: 1% (um por cento) simples, ao mês, da data do ajuizamento da ação (25/09/91) até agosto/2001; 0,5% (meio por cento), ao mês, simples, de setembro/2001 a junho/2009, conforme determina o art. 1º- F da Lei n , de , introduzido pela Medida Provisória n /2001; e a partir de 30/06/2009, mediante a incidência dos juros aplicados à caderneta de poupança, por força do art. 5º da Lei nº /2009, na forma da fundamentação. Rio de Janeiro, 9 de janeiro de lf Juíza do Trabalho Convocada Patrícia Pellegrini Baptista da Silva Relatora