22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina III-054 DIAGNÓSTICO DE LIMPEZA URBANA DO ESTADO DA PARAÍBA Claudia Coutinho Nóbrega (1) Engenheira civil pela Universidade Federal da Paraíba/UFPB (1989). Mestre em Engenharia Sanitária pela UFPB (1991). Professora do Departamento de Tecnologia da Construção Civil da Universidade Federal da Paraíba. Doutoranda em Recursos Naturais na Universidade Federal de Campina Grande. Heber Pimentel Gomes Engenheiro civil pela UFPB/Campina Grande (1977). Mestre em Hidrologia pela UFPB (1980). Doutor em Hidráulica pela Universidad Politécnica de Madrid (1992). Atualmente é Professor Adjunto do CT da UFPB e consultor do CNPq. Autor dos livros: Sistemas de Abastecimento de Água Dimensionamento Econômico e Engenharia de Irrigação Hidráulica dos Sistemas Pressurizados, Aspersão e Gotejamento. José Farias Nóbrega Filho Engenheiro de Materiais pela UFPB. Mestrando em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Saulo de Tarso Marques Bezerra Aluno de graduação do curso de Engenharia Civil da UFPB. Josué Peixoto Flores Neto Engenheiro civil pela UFPB (1988). Mestre em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFPB (2002). Engenheiro da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana de João Pessoa (EMLUR).
Endereço(1): Av. Oceano Atlântico, 198/101 Intermares. 58310-000 Cabedelo/PB e-mail: claudiacn@uol.com.br RESUMO Com o objetivo de embasar a Política de Resíduos Sólidos para o Estado da Paraíba, a Superintendência de Administração do Meio Ambiente SUDEMA em parceria com o Ministério do Meio Ambiente realizou o diagnóstico sobre resíduos sólidos em quarenta municípios, envolvendo cerca de 62,83% da população paraibana, no período de maio a junho de 2002. Neste contexto, os critérios definidos para a escolha dos municípios foram: municípios com população acima de 8.000 habitantes. Características específicas do município, no que se refere a sua representatividade regional, envolvendo suas atividades agrícolas, industrial, turísticas ou características físico ambientais que justifiquem uma prioridade. Possibilidades de consórcios inter-municipais, a nível de regiões de desenvolvimento ou ações bilaterais, que gerem uma otimização dos investimentos a ser realizados. Ter iniciado uma proposta de gestão sobre resíduos sólidos no âmbito do município e/ou ter apresentado à Câmera dos Vereadores um Projeto de Lei Municipal sobre resíduos sólidos e/ou dispor de lei municipal e comprovar que existem programas relativos a resíduos sólidos sendo desenvolvidos no município. Desenvolvimento de programas sociais na área de resíduos sólidos que priorizem a retirada de crianças de lixões, além da capacitação e organização social dos catadores..palavras-chave: Diagnóstico, Resíduos Sólidos INTRODUÇÃO A geração e destinação final dos resíduos sólidos (lixo) são um dos maiores desafios a ser enfrentados pela sociedade moderna. Os resíduos sólidos são resultantes de atividades de origem domiciliar, comercial, serviços de saúde, industriais, agrícolas, portos, aeroportos, estações rodoviárias e ferroviárias, agrícola e entulho da construção civil. De um modo geral o lixo tem sido disposto em áreas não licenciadas e em condições inadequadas formando os lixões que causam sérios problemas de ordem ambiental, sanitária, econômica e social. Este trabalho apresenta o diagnóstico dos serviços de limpeza urbana, dos quarenta municípios estudados, composto dos seguintes aspectos: a estrutura organizacional no
âmbito municipal, a infra-estrutura física e operacional existente, as tecnologias utilizadas e as características atuais de cada serviço e a avaliação desses serviços prestados à população, o contingente de pessoal e equipamentos utilizados na execução dos serviços, a geração diária dos resíduos, as características físicas dos resíduos sólidos gerados em cada município e uma estimativa dos custos dos sistemas. A figura 1 apresenta a localização dos municípios estudados no estado da Paraíba. Os quarenta municípios pesquisados envolvem cerca de 62,83% da população paraibana. O trabalho foi desenvolvido no período de maio a junho de 2002. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi elaborado através de pesquisa "in loco" para a aplicação do questionário. O questionário contém informações gerais do município, aspectos econômicos, aspectos sociais, aspectos de saúde, aspectos de educação e aspectos institucionais da limpeza urbana, sistema de coleta e transporte, características qualitativas e quantitativas dos resíduos sólidos urbanos, sistemas de tratamento, disposição final dos resíduos, custos incorridos e receitas, avaliação do serviço prestado, impacto ambiental e desenvolvimento sustentável. O preenchimento do questionário foi realizado diretamente com visitas técnicas, entrevistas, ensaios de campo e avaliação local das condições da limpeza urbana. O levantamento das informações existentes foi realizado junto às instituições, federais, estaduais e municipais, a fim de obter informações sobre projetos e ações sociais já realizadas. O estudo envolveu os municípios com população mínima de 8.000 habitantes. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os municípios com faixa populacional entre 15.000 e 50.000 habitantes são os que aparecem com maior freqüência representando 67,5% dos municípios estudados. A educação é um fator para avaliar o desenvolvimento de uma população, independente de sua localização, pois a formação de um indivíduo depende de sua convivência domiciliar e da sua instrução. Os dados obtidos apresentam que as cidades de João Pessoa (capital), Cabedelo e Campina Grande apresentaram os maiores índices de taxa de alfabetização (superior a 80%) e os municípios de Juripiranga e Mari apresentaram os menores índices desta taxa (inferior a 57%). Com relação a infra - estrutura física e operacional, dos municípios estudados apenas a capital João Pessoa possui a empresa de limpeza urbana independente, ou seja, a limpeza urbana é de responsabilidade de uma autarquia: EMLUR Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana. Nos demais municípios a limpeza urbana é um departamento ou setor
de alguma secretária como serviços urbanos, obras, saúde, agricultura e meio ambiente entre outras. Em 62,5% dos municípios a limpeza urbana é realizada pelo poder público e privado, ou seja, misto. O poder público é responsável pela coleta em 25% dos municípios e em 10% dos municípios os serviços são totalmente terceirizados e apenas 2,5% dos municípios não informou se a coleta é realizada pelo poder público, privado ou misto. Na maioria dos municípios a coleta dos resíduos sólidos urbanos é feita pelo caminhão carroceria. Nos municípios que a coleta é realizada por caminhão compactador, 69,4% destes equipamentos são terceirizados. Com exceção dos municípios de Conceição e Piancó, a coleta com compactadores é realizada em municípios com população acima de 20.000 habitantes e nas principais cidades (João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Patos, Bayeux, Pombal, Cajazeiras e Cabedelo) do Estado a coleta é realizada por caminhões compactadores. Os equipamentos de limpeza urbana em 65% dos municípios são de uso exclusivo para este fim. Com relação à qualificação profissional em 50% dos municípios estudados há pessoas graduadas, sendo que o município de João Pessoa é o que possui mais: vinte e duas pessoas graduadas e algumas com pós-graduação. Em seguida vem os municípios de Campina Grande e Bayeux com quatro pessoas graduadas cada uma. As demais apresentam apenas uma pessoa graduada que normalmente é o secretário responsável pela limpeza urbana. Com relação à qualidade dos serviços Na maioria dos municípios estudados a qualidade do serviço de limpeza urbana é considerada satisfatória. Quanto ao tratamento e/ou destino final três municípios (Esperança, Santa Rita e Monteiro) afirmaram possuir aterro controlado, entretanto estes aterros apresentam sérios problemas ambientais. Todos os demais municípios possuem lixão. De todas as usinas de compostagem implantadas (onze) apenas uma funciona e duas ainda vão iniciar (município de Pedras de Fogo), pois estão aguardando os equipamentos necessários. O município de Guarabira possuía uma usina de compostagem que foi transformada em uma usina de triagem de plásticos. Os motivos alegados para a desativação dessas usinas foram: mudança de gestão, local inapropriado de instalação por estar próximo de núcleos habitacionais, falta de mercado para absorver o composto orgânico e os materiais recicláveis, etc. Com exceção dos municípios de João Pessoa e Campina Grande todos os municípios queimam os resíduos de serviços de saúde no lixão. Os lixões de Cabedelo e Bayeux foram fechados pelo Ministério Público e estes municípios estão dispondo seus resíduos sólidos em João Pessoa. A cidade de Caapora apresenta um
lixão "rotativo", ou seja, o lixo da cidade é colocado em um canavial e todo mês muda de lugar, no local que anteriormente colocava lixo toca fogo e depois se planta cana. O lixão de João Pessoa (Lixão do Roger) está passando por um processo de recuperação. O município de Campina Grande também possui projeto de recuperação do lixão e transformação do mesmo em um aterro sanitário. Não há tratamento adequado para os resíduos especiais (industriais, serviços de saúde, porto, aeroporto, agrícolas, etc.) em nenhum município. Com o intuito de resolver os problemas comuns entre os municípios que compõem a grande João Pessoa, entre eles resíduos sólidos, foi formado um consórcio intermunicipal da região metropolitana de João Pessoa constituído de sete municípios: Cabedelo, Lucena, João Pessoa, Santa Rita, Bayeux, Cruz do Espírito Santo e Conde, onde foram estudadas várias áreas para a construção de um aterro sanitário que atenderá os municípios citados anteriormente. A área escolhida está situada no município de João Pessoa. Dos municípios visitados 82,5% possuem pessoas trabalhando na catação do lixo. Em 61% dos municípios que existem pessoas catando os materiais recicláveis há pessoas com idade menor que 18 anos o quê é proibido por lei. Apenas em três municípios (Campina Grande, Itabaiana e Picuí) há família morando no lixão. Quanto à assistência social apenas em 12,5% dos municípios há projetos que estão sendo desenvolvidos e em um ainda está sendo elaborado um projeto para dar assistência aos catadores. O município de João Pessoa possui vários programas: "É Pra Nascer", "É Pra Estudar", "É Pra Morar" e "É Pra Produzir" nos quais tem a função principal solucionar o problema de quem vive da catação de lixo. Das crianças e adolescentes que trabalham nos lixões algumas estudam e recebem a bolsa escola. No município de João Pessoa há um programa de coleta seletiva que abrange os seguintes bairros: Miramar, Cabo Branco, Tambaú e parte de Manaíra. Este programa foi implantado há dois anos e foi formada uma cooperativa dos catadores: ASTRAMARE Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis. Esses catadores eram do lixão de Roger e hoje trabalham cooperados. A coleta dos materiais recicláveis gerados por cada domicílio é realizada nos dias e horários determinados, os catadores coletam estes materiais, utilizando carro tipo plataforma para seu transporte. É um método prático, de baixo custo operacional e apresenta a principal vantagem a comodidade oferecida à população, pois esta só precisa colocar os materiais recicláveis em um saco. Para cobertura da área do projeto, foi construído um ponto de apoio para armazenamento do material coletado e como estação de transferência. O município tem planos de expandir o programa para absorver uma parte dos catadores que ainda trabalham no lixão do Roger. No município de Campina Grande não existem programas de coleta seletiva vinculados diretamente a Secretaria de Serviços Urbanos. Existe um programa de extensão da
Universidade Federal de Campina Grande UFCG que desenvolve a coleta seletiva no Bairro da Prata, o mesmo consiste na coleta semanal de materiais recicláveis nas residências do bairro. A coleta é feita por catadores do lixão do Mutirão após passarem por um treinamento. Esse programa conta com o apoio da Prefeitura, doando carrinhos de mão e transportando o pessoal e material coletado e da direção do Colégio Estadual da Prata, cedendo o ponto de apoio para armazenar o material coletado até atingir um volume suficiente para carregar o caminhão da Prefeitura que os transpor ta para o depósito do Mutirão, onde o mesmo é comercializado. Em Campina Grande também há um programa de reciclagem de entulhos da construção civil onde são fabricadas peças ornamentais que chamam a atenção por sua beleza e acabamento. O custo de serviço (custo unitário) da limpeza urbana, em geral, é maior nos municípios que possuem os serviços terceirizados. Os custos apresentados para o serviço de limpeza urbana estão variando entre R$ 8,00/tonelada a R$166,00/tonelada, estando alguns municípios fora da faixa de variação nacional. Esta discrepância ocorre devido à falta de controle tanto de produção tendo em vista que, com exceção de João Pessoa e Campina Grande, os municípios não possuem balança. Os custos por domicílio variam de R$ 0,52/domicílio a R$ 14,72/domicílio independente da população e do serviço ser terceirizado ou não. A dotação orçamentária é maior para os municípios de grande porte. A quantidade de funcionários na limpeza urbana (relação NF/1000 habitantes) é maior nos municípios de menor população. A produtividade (kg/func/dia) está diretamente relacionada com a quantidade de pessoal existente na limpeza urbana, bem como a quantidade de resíduo gerado no município e equipamentos utilizados, porém observa -se em geral, que os municípios possuem maior relação número de funcionários/ 1000 habitantes, possuem uma menor produtividade. A produtividade por funcionário varia de 250Kg/hab/dia a 4.253Kg/hab/dia. De acordo com a bibliografia especializada os valores de produtividade acima de 500K g/hab/dia não são comum na região nordeste e devem ser questionados já que no caso da maioria dos municípios analisados não existe pesagem dos resíduos, sendo então estimada a quantidade de resíduos sólidos coletados. A estimativa da geração de resíduos per capta varia de 0,54Kg/hab/dia a 2,91Kg/hab/dia. A bibliografia especializada informa que a produção per capta no Brasil varia de 0,5Kg/hab/dia a 1,00Kg/hab/dia. Os valores altos ocorreram devido à falta de controle descrito anteriormente.
O potencial médio de recicláveis é de 26,70%. No entanto o valor real dos materiais reciclado não alcança 1% na maioria dos municípios. A caracterização dos resíduos sólidos domiciliares foram realizadas nos lixões dos municípios visitados. CONCLUSÕES Do exposto pode-se concluir que: O Estado da Paraíba tem graves problemas com relação aos resíduos sólidos tendo em vista que o único município que apresenta uma autarquia que trabalha exclusivamente com a limpeza urbana é João Pessoa, demonstrando um trabalho de gestão dos resíduos sólidos. Apesar do município ainda possuir um lixão, está previsto para o dia 05 de agosto de 2003 o encerramento das atividades no mesmo e o início da operação do aterro sanitário que vai atender além da cidade de João Pessoa, os municíp ios de Lucena, Cabedelo, Bayeux, Conde e Cruz do Espírito Santo. No trabalho também foi detectada uma descontinuidade nos serviços de limpeza urbana, principalmente nas cidades menores. Na maioria dos municípios os serviços de limpeza urbana são realizados de forma mista, isto é, uma parte pela prefeitura e outra terceirizada. Em todos os municípios os serviços de varrição e coleta foram considerados satisfatórios, entretanto, o tratamento e/ou disposição dos resíduos sólidos são considerados deficientes. O município de João Pessoa é o único que possui coleta seletiva significativa. Em Campina Grande há um programa desenvolvido pela UFCG em parceria com os catadores do lixão que desenvolvem a coleta seletiva apenas um dia por semana em um bairro da cidade. Na maioria dos lixões foram encontrados menores de 18 anos trabalhando. Muitas das crianças que estavam trabalhando afirmaram possuir bolsa escola. A caracterização dos resíduos sólidos apresentou-se dentro da média nacional. O teor de materiais potencialmente recicláveis é de 26,70%, entretanto, o valor real dos materiais recicláveis não alcança 1%. Os custos apresentados para os serviços de limpeza urbana entre os municípios são discrepantes estando alguns municípios fora da faixa da variação nacio nal. Esta discrepância ocorre devido à falta de controle de produção, tendo em vista que só os municípios de João Pessoa e Campina Grande possuem balança. A dotação orçamentária em relação a população é maior para os municípios de grande porte.
A quantidade relativa de funcionários da limpeza urbana é maior nos municípios de menor população. A produção per capta também se apresentou discrepâncias devido à falta de controle da produção. A produtividade por funcionários apresentou dados bastante diferentes também por causa da falta de controle da produção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NÓBREGA, C.C. Diagnóstico da Situação dos Resíduos Sólidos no Estado da Paraíba. PNUD/Ministério do Meio Ambiente. João Pessoa. 2002. 66p.