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Transcrição:

Branding, Psicologia e Marketing Transmídia: A Produção De Narrativas Na Consolidação E Expansão Do Valor de Marca 1 Resumo Andréa Virgínia S. CAVALCANTE 2 Sandra Nunes LEITE 3 Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Maceió Alagoas A narrativa transmídia (Transmedia Storytelling) é uma técnica na qual uma narrativa específica é trabalhada de forma simultânea em diferentes plataformas. Tem por característica principal o fato de que cada plataforma abordada oferece um conteúdo exclusivo que visa acrescentar informações à uma história principal.o uso desta técnica tem sido cada vez mais intenso numa tentativa de engajar e envolver os usuários/consumidores dentro de um universo temático de cada marca e, deste modo, agregar valor à Marca. Este trabalho tem por finalidade explicitar o motivo pelo qual o Marketing tem se utilizado tanto desta técnica e os motivos pelo qual esta abordagem tem surtido tanto efeito e por que a tendência é que o transmídia se transforme em uma prática essencial para atrair público e garantir resultados. Palavras-chave Relações Públicas; Marketing; Branding; Mídia; Psicologia do Consumidor Inicio Da Narrativa A narrativa transmídia é um processo verificado em algumas áreas da comunicação, como o entretenimento, o jornalismo, em alguns meios corporativos e também na área da educação. Segundo JENKINS (2009, p.138), uma história transmídia é aquela narrativa que desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. A estratégia de utilização de uma narrativa transmidiática tem sido adotada pelo marketing com o intuito de construção e reforço do valor de marca. Seu objetivo é imergir os consumidores no universo sugestionado pelas organizações, oferecendo a estes múltiplos pontos de contato com a marca, aumentando sua visibilidade e identificação de valor. É através da abordagem em múltiplos meios que a organização proporciona junto aos consumidores a expansão da experiência com a marca. 1 Trabalho apresentado no IJ 2 Publicidade e Propaganda do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, com sede em Manaus (AM), de 4 a 7 de setembro de 2013 2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Relações Publicas do COS-UFAL, e-mail: shadeandrea@gmail.com 3 Prof. orientador do trabalho. Professor do Curso de Comunicação da UFAL - AL, e-mail: snunesleite@gmail.com 1

Neste cenário, a unicidade de voz é imprescindível, todas as mídias envolvidas no relacionamento com o consumidor colaboram para a construção do universo proposto pela marca. E para alcançar tal efeito, todos os pontos de contato com o consumidor devem confirmar - ou expandir - os valores sugestionados pelas demais mídias utilizadas. Num circuito vicioso, cada mídia reforça os sugestionamentos de valor propostos pela marca, e agrega à estratégia de comunicação mais algum item, uma parte da história, de forma a encaminhar este consumidor a ir em busca de outro canal para colecionar outro item. Utilizando-se dessa estratégia o colecionismo - a marca consegue emergir o consumidor numa busca, tornando o processo de conhecimento da marca em uma experiência única. Caso o valor agregado supere as expectativas criadas pelo consumidor, este torna-se um defensor da marca, repassando para sua rede de relacionamentos as informações alusivas à marca, e, consequentemente influenciando estes a iniciarem a sua própria experiência de consumo com ela. Importante observar que tal relação de produção e de consumo só é possível devido ao avanço tecnológico e a expansão das redes globais de comunicação, os grandes marcos da sociedade pós-moderna. Esses avanços disponibilizaram para a sociedade uma série de novas mídias, mais velozes, com novos recursos e possibilidades. No campo do hardware, essas modificações permitiram a agregação de novas funcionalidades às tecnologias de distribuição, por exemplo, nos telefones. Comparando os recursos de um telefone utilizado na década de 1950 com um smartphone é possível perceber que embora os recursos do telefone antigo sejam consideravelmente limitados, a função principal de ambos permanece a mesma: mediar à comunicação entre dois usuários situados em locais diferentes. Assim é possível afirmar com segurança que a convergencia ocorre não apenas nas tecnologias que utilizamos mas também em nossos cérebros e em nossas interações sociais. Ou seja, a mudança pode ter ocorrido no hardware, porém a real convergência ocorre nas pessoas, na maneira como criam, pensam e interagem com a informação. Do mesmo modo que a evolução tecnológica, a comunicação midiática também possui um um movimento de transformação contínuo e ininterrupto. Sempre que há uma obsolescência em termos tecnológicos entre os meios de comunicação, as narrativas começam a buscar novidades em novas tecnologias e vice-versa. E cada novo meio de 2

comunicação tem a possibilidade de integrar outros meios de comunicação que lhe antecederam. Tecnologias de distribuição vêm e vão o tempo todo, mas os meios de comunicação persistem como camadas dentro de um estrato de entretenimento e informação cada vez mais complicado (JENKINS, 2009, Pág. 41). O Cenário É importante notar que os meios de comunicação se estabelecem com o objetivo de satisfazer uma necessidade humana. E nenhum meio substitui completamente o outro, cada nova tecnologia passa a funcionar dentro de um sistema, fornecendo mais opções de comunicação de forma a suprir às demandas do público. A rede mundial de comunicação on-line tem a seu favor, além de ligar milhares de pessoas simultaneamente, a característica de agregar meios de comunicação, integrando-os e ampliando-lhes o potencial comunicacional, diferentemente do rádio e da televisão. As empresas estão agora lidando com uma nova relação entre conteúdo, consumidores e canais. Se a natureza analógica destes meios não permitia aos seus espectadores uma real interação com a informação, a internet mudou isso, já que transgrediu o funcionamento da relação unidirecional emissor-receptor que limitava a audiência a um estado de passividade. A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disto: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. (JENKINS, 2009, p.43). Para a construção de marcas essa mudança de comportamento tem efeitos significativos. Atualmente um consumidor em poder de um smartphone ou um tablet, pode, antes de realizar a compra de um produto em uma loja física, conferir informações sobre determinado produto em um artigo sobre novidades que tenha lido e lhe chamou a atenção ou, em um site de avaliação ou, em um fórum de usuários e etc. Desta forma a experiência com a marca não fica restrita unicamente ao ato da compra (e da posse) de um produto ou serviço em uma loja física. O contato com a marca se dá a todo momento e em qualquer suporte, quando o consumidor visualiza um produto 3

em uma comunicação de mídia exterior ao trafegar pela cidade, ao ler uma matéria publicada pela assessoria de imprensa da marca sobre uma tendência, acessar o site da empresa em busca de um item publicado na galeria de produtos ou ao participar de uma promoção promovida pela marca por meio de uma aplicação em um site de rede social, a todo momento o consumidor está ampliando o seus pontos de contato com a marca. Na maior parte das vezes, de modo inconsciente. A identidade compreende as formas adotadas por uma empresa para identificar-se ou posicionar seu produto. A imagem é a maneira que o público percebe a empresa ou seus produtos. (KOTLER, 1998, p.262). Os personagens A imagem de uma marca não está relacionada unicamente ao seu nome, logomarca ou ao design adotado em suas comunicações visuais, e sim à soma de todas as experiências em que o consumidor é envolvido em seu relacionamento com a marca. Toda a experiência de consumo é considerada pelo consumidor no processo de construção de marca e percepção de valor e, sem perceber, ao participar deste circuito o consumidor está acrescentando à imagem da marca mais referenciais e, em seu imaginário, aderindo características à personificação da marca. Esta personificação da marca se dá através da atribuição de gêneros e características humanas à idealização da Marca. A construção dessas características seguem o padrão de uma confabulação arquetípica. O arquétipo é essencialmente um conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta. (JUNG, 2000, Pág. 16-17) Um arquétipo é um modelo universal ou predisposição para caracterizar pensamentos ou sentimentos, uma tendência não aprendida para experimentar coisas de um certo modo (BOEREE Apud GADE, 1998, Pág. 57). Este fenômeno ocorre pois o ser humano é, essencialmente, visual. A noção de realidade é construída em cima de cenários e imagens, formas e contrastes. Essas 4

construções são posteriormente preenchidas com significados e interpretações. É essa capacidade de imaginação que possibilita ao homem a criação. E é também essa capacidade que a Publicidade explora em sua máxima intensidade. Utilizando-se do poder que a imagem tem para persuadir seus consumidores, através da ilusão de que podemos sempre participar de qualquer cenário que esteja se desenvolvendo à nossa frente. Essa capacidade de nos envolvermos visualmente com algo que está ocorrendo é chamada de identificação. Os nossos sonhos e fantasias são refletidos nas mídias diariamente, porque a publicidade não vende apenas produtos, ela cria um vínculo emocional entre a marca e o consumidor, ao humanizá-lo e dar ao produto uma identidade, uma personalidade e uma sensibilidade próprias. A publicidade tem o poder de mitologizar as marcas vestindo-as com os sonhos e as fantasias do consumidor. A Publicidade transforma produtos em marcas mitologizando-os, humanizando-os e dando-lhes identidades precisas, personalidades e sensibilidades que refletem as nossas. Desta forma, a marca é mais do que um produto. Ela existe como entidade perceptual na mente do consumidor. O produto que está esperando pelo consumidor na prateleira do supermercado (ou onde for) é, geralmente, estático e finito, entretanto, o aspecto perceptual de uma marca existente no espaço psicológico na mente do consumidor, é dinâmico e maleável. Na construção da Marca é necessário trabalhar com grupos de imagens representativas das emoções humanas, que tenham significado simbólico confirmado em pesquisas com o consumidor. Quando o consumidor vê a imagem arquetípica de um produto, ele tem sentimento de autenticidade e, simultaneamente, de valorização da marca. A mente das pessoas percebe, simultaneamente, vários aspectos da imagem de uma marca: o conceito absoluto, o conceito funcional, o apelo ao ego e as emoções e os estados de espírito mais sutis. O poder da marca está em desenvolver a pureza e a consciência dos elementos sutis, que provocam no consumidor uma sensação de elevação no estado de espírito. A marca ganha valor aos seus olhos. Compreender essa faceta do marketing é importante visto que cada produto tem, no imaginário coletivo, uma "natureza emocional" que independe da cultura e da época em que vive: uma rosa sempre passou e sempre vai passar refinamento, um morango sempre passou e sempre vai passar sensualidade. Isso significa que, apesar das tendências e mudanças de comportamento do consumidor, a essência emocional ou espírito da marca não muda 5

através das décadas. Essa natureza emocional se reflete como a persona de uma marca, como a representação personificada no imaginário coletivo. A trama O posicionamento de um produto ou marca é resultado de um bem-sucedido aprendizado que faz com que haja discriminação, diferenciando estes produtos ou marcas dos outros. [...] A imagem de um produto ou marca é resultante de significados simbólicos percebidos e atribuídos a esta marca. (GADE, 1998, p.80). Tal concepção se faz extremamente importante para nortear a criação de novos produtos e marcas. Um bom exemplo dessa aplicação pode ser verificada no produto Jeans. Independente do anunciante, fabricante ou de outra parte interessada, a característica física do produto é a mesmo, um pano de brim pintado de índigo blue. Porém o produto em si transmite uma identidade: a de que é algo rústico, autêntico, livre e ousado. Mas esse não é apenas um sentimento solto, sem contexto emocional. Existe um contexto histórico que foi reafirmado pelas construções publicitárias e que deu base a essa interpretação emocional em torno do produto. Em termos de mercado, o resultado de uma boa compreensão sobre esse tema, associada a uma utilização correta da imagem formada no imaginário se reflete diretamente no faturamento. A aplicação desta estratégia não está necessariamente relacionada a altos investimentos, mas ao conhecimento prévio do público-alvo, das características de cada mídia a ser utilizada e das possibilidades a serem exploradas. É preciso lembrar que quanto maior o valor atribuído pelos consumidores a um conteúdo ou informação de uma marca, maior o preço que estariam dispostos a pagar ao comprar um produto desta. As interações com os consumidores por meio das mídias sociais como sites de redes sociais, blogs e fóruns, aumentam a visibilidade da marca, evidenciando características que agregam valor a esta. Além da interação direta com os consumidores, a postagem de artigos, matérias, vídeos e entrevistas de conteúdos relacionados à marca cooperam para a criação de valor e construção da personalidade da marca. E, como o consumidor compreende a marca como uma persona nada mais natural que o comportamento natural desse consumidor seja o de se inteirar cada vez mais com essa marca. Uma metáfora fiel é a de os consumidores buscam se informar cada vez mais com a marca com a qual criaram vínculo tal qual uma pessoa comum busca mais informações 6

sobre o amigo que acabamos de conhecer. E isso se dá por que o consumidor enxerga na Marca uma persona, uma identificação com o personagem. Não é à toa que tantas organizações estão aderindo às mídias sociais. Estas empresas constroem seus perfis corporativos e fanpages com o objetivo de relacionar-se com seus consumidores, oferecendo conteúdos relacionados às suas marcas e promoções exclusivas mas, principalmente, reforçando as imagens que são base da construção de seu próprio arquétipo. É com base nos conteúdos publicados e nos discursos defendidos que o consumidor constrói um personagem para aquela marca. A maioria das marcas de sucesso duradouro tem em geral uma posição e uma mitologia de marca que vão além do produto físico. Elas procuram combinar os atributos/benefícios físicos do produto com os benefícios emocionais/psicológicos. Do mesmo modo, as construções do conteúdo que é divulgado em todas as mídias são elementos compositores da persona da marca. Nestes canais verifica-se que há a abordagem de conteúdos e discursos que, aparentemente, não está diretamente ligado à divulgação do produto. Numa primeira instancia esses conteúdos tem a intenção clara de divertir ou informar o consumidor. Porém, sob um olhar mais atento, é visível que a escolha do tema não é aleatória. Todo o conteúdo divulgado detém o intuito de construção e reforço do valor de marca de modo que a narrativa que desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia façam parte de um universo temático e que cada novo texto atue contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo, para o reforço do arquétipo que a marca incorporou como persona. Considerações Finais O que torna a transmídia diferente da narrativa comum ou da narrativa franqueada em que um livro se torna um filme ou um filme que se torna um jogo - é que a história é unificada e ampla, não permitindo ser confundida com uma mesma história que é repetida em diversos canais. E embora não seja um novo fenômeno, a estratégia de transmídia desafia as narrativas convencionais para transcender de forma singular novos canais e envolver os usuários. Atualmente a transmídia está tão presente no cotidiano que se torna quase que 7

imperceptível. O uso de diversas plataformas de hardware e a exposição a múltiplos canais de mídia leva o consumidor a testemunhar as muitas extensões da história narrativa, estendendo a histórias para além do ponto de primeiro contato. O Produto/ Marca se faz presente em diversos tipos de mídia e em diferentes momentos; Na TV, Internet, DVD s, Itens de moda, Objetos, Frases e gírias, redes sociais, etc. Essa disseminação se torna mais ampla e imperceptível ao consumidor pois a mitologia da Marca vai além do produto. A construção dos conteúdos que são divulgados são uma combinação de discursos que visam ressaltar os atributos/benefícios físicos com os benefícios emocionais/psicológicos. O conteúdo do discurso, a estética utilizada, a linguagem e a escolha de canal são elementos componentes da persona da marca. A escolha de temas não é aleatória. Todo o conteúdo divulgado detém o intuito de construção e reforço do valor de marca de modo que a narrativa que desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia faça parte de um universo temático e que cada novo texto atue contribuindo reforço do arquétipo que a marca incorporou como persona. Em outras palavras, para o Marketing o personagem é a marca e a narrativa é a construção social em torno da Marca. Referências bibliográficas GADE, Christiane. Psicologia do Consumidor e da Propaganda. 3. ed. São Paulo: EPU, 1998. JENKINS, Henry. A cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. JUNG: Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo [tradução Maria Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva]. Rio De Janeiro: Petrópolis, Ed. Vozes. 2000. LEMOS, André. Cibercultura. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. 2. ed. Rio Grande do Sul: Porto Alegre. Ed. Sulina, 2002.. Mídia Locativa e Territórios Informacionais. Disponível em: <http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/midia_locativa.pdf>. Acesso em: 19 Jun. 2013. LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo. Ed. 34. 1997. 8

PRIMO, Alex. Interação Mediada por Computador. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2009. SAMPAIO, Rafael. Marcas de A a Z: Como construir e manter marcas de sucesso, um guia para fazer da sua marca a principal força do seu negócio. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. TOFFLER, Alvin. A terceira onda. 16 ed. Rio de Janeiro: Record, 1980. 491 pp. VAZ, Conrado Adolpho. Google Marketing: O guia definitivo de marketing digital. São Paulo: Novatec Editora, 2008. 9