O artigo aborda relações entre logística, formação profissional e infra-estrutura do país. São debatidas questões sobre a evolução da logística no Brasil, a preparação educacional do profissional de logística e o incentivo ao investimento em tecnologia de informação em empresas que buscam competitividade em seus meios; seja ela de que porte for. Page 1 No Brasil, a demanda por serviços de logística cresce exponencialmente, cerca de três vezes superior ao Produto Interno Bruto (PIB). O mercado, que hoje se estima em US$ 300 bilhões, deve dobrar em 5 anos. É evidente que o setor passa por uma fase de consolidação. Entretanto, este é um cenário recente. O marco zero da logística brasileira foi a estabilização econômica produzida pelo Real e a expansão do comércio internacional. Com a inflação, que incentivava a prática especulativa no processo de compras e impossibilitava a integração na cadeia de suprimentos, sob controle, a ordem foi buscar eficiência logística. Esse, certamente, foi um vetor de grande mudança. Também a tecnologia foi imprescindível neste processo. A expansão de conceitos como Supply Chain Management e o uso de sistemas de gestão como WMS (Warehouse Management System ou Sistema de Gerenciamento de Armazéns), TMS (Warehouse Management Transportation ou Sistema de Gerenciamento de Transportes) e ERP (Enterprise Resource Planning ou SIGE na sigla brasileira Sistema Integrado de Gestão Empresarial) foram fundamentais para subsidiar o desenvolvimento logístico dentro de parâmetros mundiais. E, ao passo que a operação logística se desenvolvia, nos últimos anos a economia do país registrou índices históricos de crescimento, resultando na fórmula ideal para aquecer o mercado interno e colocar o Brasil no rol de um dos maiores exportadores mundiais. Essa nova realidade competitiva tornou vital para os negócios investir em logística. No entanto, esta é uma área para a qual o país nunca havia se preparado adequadamente, tanto em relação à infraestrutura como em relação às práticas empresariais. No que tange aos aspectos estruturais, o Brasil tem grandes desafios pela frente. Os principais entraves para a logística brasileira estão hoje na matriz de transporte, que é excessivamente concentrada no modal rodoviário, correspondendo por 60% do total de cargas movimentadas no país. A malha de rodovias nacional tem uma extensão total de 1,6 milhões de quilômetros. Destes, cerca de 200 mil (12%) são estradas pavimentadas. A Pesquisa Rodoviária 2007, da Confederação Nacional do Transporte (CNT), avaliou 87.592 quilômetros de rodovias e constatou que 73,9% apresentam alguma deficiência no pavimento, na sinalização ou geometria da via, o que compromete a qualidade e a
segurança do fluxo de cargas e pessoas, restringe a interação com os demais modais e gera elevados custos em razão de problemas mecânicos nos veículos de carga. Já o modal ferroviário corresponde por volta de 20% do transporte de cargas no país. E, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), cerca de metade da carga transportada é de minérios. O restante é composto, em geral, por produtos siderúrgicos. Page 2 Quanto ao modal hidroviário, é pouco expressivo, apesar de ser, segundo parâmetros mundiais, o modal que proporciona menor custo de frete. A Hidrovia Paraná Tietê, por exemplo, transporta cerca de 2 milhões de toneladas para uma capacidade de 20 milhões de toneladas. Além disso, os portos nacionais também possuem problemas estruturais graves. Em uma década, o volume de carga movimentada aumentou 75% e deve ultrapassar 1 bilhão de toneladas até 2014, segundo a Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP). Contudo, os portos brasileiros já operam no limite. É evidente que o país precisa de um plano emergencial logístico para vencer os gargalos da infraestrutura. E, embora os recursos públicos tenham se intensificado, serão insuficientes para evitar um estrangulamento nos próximos anos, sendo vital a ampliação do capital privado. E não há dúvida do interesse dos investidores. O setor será um bom negócio nos próximos anos e continuará rendendo lucros enquanto a economia continuar aquecida. A participação de entidades financeiras, entre elas a indústria do private equity, está evoluindo a passos largos no segmento. No Brasil, ainda existe um enorme potencial a ser explorado. Apenas cerca de 5% das empresas tratam a logística com a importância devida, seja por meio de um departamento interno ou da contratação de um operador. No Japão e na Europa este índice é de 30%, e, nos EUA, de 25%. Nesse sentido, já no que diz respeito às práticas empresariais, as fusões e aquisições serão fundamentais para conquistar e manter mercado. A logística exige alto grau de especialização e grande poder de investimento para aguardar retornos financeiros que podem levar até 20 anos. Uma conta em que tamanho é diferencial. Será necessário também investir em recursos humanos. Isso porque, em um mercado cada vez mais competitivo e exigente, a qualificação será o grande vetor para a eficiência. A rápida expansão do setor revela uma grande carência de especialização. Por isso, nos próximos 10 anos, o requisito básico para a logística do país é o core competence.
É importante ressaltar que diversos esforços de diferentes esferas, sejam estatais ou privadas, convergem para solucionar os entraves do setor. Mas há um longo caminho a ser percorrido. O Brasil vive um momento promissor e a consolidação dos processos logísticos será essencial para subsidiar seu crescimento. Não há desenvolvimento econômico sem uma eficiente atividade e estrutura logística. Page 3 É fato que a dimensão continental brasileira por si só é um desafio. Por isso, será preciso redescobrir a infraestrutura e pavimentar o futuro de um país que, ao que tudo indica, será a quarta maior economia global. Logística, segundo a ASLOG Associação Brasileira de Logística, é uma área do conhecimento relacionado ao planejamento, implementação e controle com eficácia do fluxo e armazenagem de bens e serviços através da gestão de informação entre o ponto da origem e o ponto de consumo destes bens, a fim de satisfazer exigências de consumidores. Empresas investem em logística no intuito de reduzir de custos de transporte e armazenamento de seus produtos a fim de torná-los mais baratos ao consumidor final e mais competitivo no mercado. A logística pode ser ramificada em intralogística (logística interna de movimentação e armazenagem), logística reversa (coleta de materiais em diversos pontos, ao invés de distribuição e entrega), entre outros. O profissional de logística deve ter conhecimento em: Gerenciamento econômico de sistemas logísticos, princípios e técnicas de logística, legislação e tributação em logística, noções de logística internacional e conhecimento para desenvolvimento de projetos logísticos. Não é necessário fazer uma pesquisa sofisticada para afirmar que a profissão de logística ainda é pouco madura no Brasil. Isso porque a maioria dos profissionais da área desenvolveu sua carreira a partir de experiências proporcionadas pelo ambiente de trabalho. Algumas grandes empresas brasileiras buscam profissionais para ocuparem cargos de gerente de logística para que este possa comandar o transporte de entregas ou devoluções de produtos a qualquer custo no menor tempo possível, entretanto, estas empresas não sabem que o profissional de logística não comanda entregas e devoluções de mercadorias a qualquer custo. O profissional no cargo de gerente de logística, juntamente com sua equipe, desenvolve projetos de logística integrada da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management) com o objetivo de modelar um processo enxuto desde o planejamento de sua linha de produtos até a entrega destes produtos nos pontos de vendas, almejando sempre a redução dos custos e cumprimento dos prazos estipulados pelos clientes. O profissional de logística necessita ter, além de
conhecimento técnico, transparência na gestão eficaz por indicadores, buscando sempre dar visibilidade aos resultados atingidos. Essa prática passa a ser um diferencial competitivo tanto para o profissional quanto para a empresa. A difícil tarefa de gerenciar cadeias de suprimento em um país sem infra-estrutura para competição com o resto do mundo, como o Brasil, torna esse profissional cada vez requisitado no mercado. O transporte brasileiro possui uma dependência exagerada do modal rodoviário, o segundo mais caro, atrás apenas do aéreo. Estima-se que o Brasil possui gastos equivalentes a 10% do PIB com transporte. O custo do transporte rodoviário é 3,5 vezes maior que o ferroviário, 6 vezes maior que o dutoviário e 9 vezes maior que o hidroviário. Mesmo assim, no Brasil, o transporte rodoviário é responsável por 58% da carga transportada, enquanto que na Austrália, EUA e China o percentual é de 30%, 28% e 19%, respectivamente. Page 4 Há alguns anos atrás, a logística era o elo perdido da modernização empresarial no Brasil; entretanto, a estabilização econômica e o crescimento de demanda internacional pelos produtos brasileiros impulsionaram algumas mudanças infra-estruturais do país no intuito de facilitar o escoamento e manuseio de mercadorias. Empresas prestadoras de serviço nesse setor buscam migrar de função de transportadoras para a função de operadores logísticos. Para isso, o investimento em tecnologia da informação e profissionais de logística qualificados se torna questão de sobrevivência no mercado globalizado. Pequenas práticas indicadas pelo IBRALOG Instituto Brasileiro de Logística como: treinamento da equipe operacional, acompanhamento periódico das operações, práticas de qualidade 5S em ambiente de trabalho, preocupações com ergonomia, redução de estoques desnecessários, manutenção de fornecedores, uso de tecnologia de informação, endereçamento de produtos, agendamento de carga e descarga, entre outros, são fundamentais para o aumento de produtividade e redução de custos de armazéns e operações logísticas. Dentre estas práticas citadas acima, a tecnologia de informação é a que mais tem a auxiliar o gerenciamento da rotina destes profissionais responsáveis pelo planejamento operacional logístico. Sistemas de informação bem projetados e customizados às operações auxiliam a tomada de decisão nos momentos mais inesperados, pois são capazes de remodelarem operações em tempo hábil através variações de parâmetros de entrada causadas por imprevistos nas operações. Investimentos em consultoria operacional em sistemas de informação nesse setor têm sido responsáveis pelo diferencial competitivo e sucesso de operadores logísticos. O uso de tecnologia da informação em sistemas de apoio à decisão, como simuladores, softwares de otimização da cadeia de suprimentos, softwares de otimização de picking, alterações em layout, etc;
reduzem custos operacionais, permitem o aumento de capacidade, aceleram o ciclo de produção e aumentam os níveis de serviço a clientes. O profissional de logística que tem domínio destas ferramentas consegue lidar com problemas de alta complexidade. O país deve investir em educação para que tenhamos profissionais de alto nível nesse setor da economia; além disso, empresas devem investir no treinamento contínuo de seus funcionários. Tomadores de decisão mais aptos têm visão estratégica de mercado, o que favorece a integração de rede de operações e aumenta a competitividade de empresas brasileiras perante o mundo. Page 5