UMA NOVA ESPERANÇA NA REDE



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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Educação:Currículo UMA NOVA ESPERANÇA NA REDE Uma análise dos projetos sociais e econômicos on-line com motivações não-monetárias e suas implicações para a cidadania, a industria de comunicação e o progresso humano. André Genesini

1. UMA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E MULTI-CULTURAL Informação, conhecimento e cultura são centrais para a liberdade humana e o próprio caminho que os homens criam para si. O modo como a informação é produzida, por quem é produzida e como é distribuída são essenciais para a visão de mundo que uma sociedade tem. Trazendo um aporte freireano (Paulo Freire, educador brasileiro) para este texto, poderíamos dizer que as questões essências são quem produz o conhecimento, para que propósito e para beneficio de quais grupos? Bem verdade que o mundo não é composto de uma única cultura homogênea e dominante. Ao contrário, sempre tivemos uma grande diversidade cultural entre países e regiões. Em especial neste inicio de século XXI, em muito maior intensidade do que no passado, temos uma grande diversidade cultural dentro de cada país e região. Sacristan descreve muito bem a atual realidade multi-cultural: Neste mundo, o eu é afetado por vivências mutantes, múltiplas e justapostas, provenientes do contato com fontes de experiências mutantes, múltiplas e justapostas, provenientes de experiências próximas e distantes; é um eu poliédrico, com múltiplas facetas, que sofre mudanças contínuas. Nas culturas complexas existe, então, uma dispersão considerável quanto aos possíveis eixos de fixação da percepção do si mesmo, e uma tendência para sua multiplicação, muito além do território cultural próximo. Sacristan (1999), pág 194 Sintetizado em uma linguagem mais simples, temos uma profusão de canais na televisão fechada (a cabo e satélite), revistas de inúmeros assuntos, vários gêneros musicais e inúmeros comportamentos culturais que se cruzam. Um exemplo é minha amiga Leila (mudei seu nome para anonimato) que gosta de música, gastronomia italiana, de street-dance, comida vegetariana, simpatiza com budismo, participa de grupos de discussão na Internet, torce para o Corinthians e trabalha com educação. Se analisássemos Leila à luz de apenas 50 anos atrás, todas estas escolhas seriam incompatíveis. Diríamos (há 50 anos) que Corinthians não combina com música italiana (deveria ser o palmeiras que é o time da comunidade italiana), gastronomia italiana não combina com vegetariana, street não combina com budismo, tecnologia era coisa para engenheiros homens (não mulheres e ainda mais educadoras), entre outras tantas comparações. Hoje a gastronomia italiana tem muitas opções light e vegetarianas, o budismo é pop e combina com quase tudo. Na verdade, para os padrões do inicio do século XXI, Leila é até conservadora em sua mistura cultural. Temos pequenas esferas culturais que estamos constantemente escolhendo, saindo de umas e entrando em outras, de modo a compor um mutante mosaico composto de várias dessas esferas. São exemplos dessas pequenas esferas: comida diet, light, vegetariana, música eletrônica, house, soul, acid-jazz, sambarock, metrosexual, ubbersexual e muito mais. Um ano Leila é light e ouve house, no outro vegetariana e ouve soul, depois adota outra dieta com carboidratos e passa a gostar de trilha nas montanhas. Estamos constantemente saindo de uma pequena esfera cultural para outra e somos compostos de um conjunto mutante dessas esferas. A grande variedade de revistas e canais de televisão atuais são um reflexo disso.

Porém lentamente uma mudança está em andamento na forma que o conhecimento é produzido e distribuído. Uma mudança que vai ter grande e duradouro impacto na cultura e na economia. 2. A SOCIEDADE INDUSTRIAL E A PÓS-INDUSTRIAL A sociedade industrial baseou-se na exploração da energia, através dos fatores de produção clássicos: trabalho, terra e capital. A era recente é chamada pós industrial (Sacristan) ou economia do conhecimento (Garnett), por que o valor central está no conhecimento, que é o eixo principal que determina a tecnologia e o crescimento econômico. A terra, o capital e o trabalho continuam importantes e fundamentais para o crescimento econômico. Porém é o conhecimento que gera os grandes ganhos de produtividade e eficiência que podem separar, com vantagens competitivas, empresas e países de seus pares. A sociedade do conhecimento valoriza e devota tempo para a geração do saber, fazendo do conhecimento e do lazer atividades produtivas. A multiculturalidade e incrível oferta de opções de miniesferas culturais, descritas aqui no texto, é uma característica da atual era pós-industrial. 3. CONCENTRAÇÃO E PARCIALIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DA INFORMAÇÃO Apesar de toda a diversidade cultural que está a disposição, é muito importante tomar consciência que na era pós-industrial os principais veículos de distribuição da informação e da cultura são meios de comunicação de massa. Sob o enfoque da democracia e da liberdade humana, não significa um grande avanço o fato de existirem inúmeros canais de televisão, revistas, rádios e tipos musicais. Isso por quê a indústria da televisão e da música são muito concentradas. O mesmo acontece com as rádios, as revistas e os livros, em menor intensidade. A indústria mundial da música é dominada por quatro grandes empresas. As agências de noticias internacionais (como cnn e reuters) também são muito concentradas. Isso tudo acontece por que são indústrias com meios de comunicação em massa. Concentração significa poucos grupos definindo o que e como vai ser distribuído em termos de bens culturais (nos meios de comunicação em massa) para o restante da população. O leitor não me entenda mal: não ignoro, por exemplo, a importância da imprensa moderna para informar, pressionar e mobilizar. Foram revolucionários para a sociedade e a cultura essas grandes invenções. O advento dos jornais, da televisão, a invenção da prensa gráfica por Gutenberg, de canais internacionais como a cnn; são marcos para a democracia e a liberdade humana. Reconheço que em um primeiro momento esses meios de comunicação em massa representaram um grande ganho cultural e um poderoso aliado à democracia ao fortalecer a imprensa livre. Esse sim foi um momento de fortalecimento dos direitos humanos. Porém depois que estas indústrias de comunicação se consolidaram a atingiram a maturidade, sua recente expansão na forma de uma miríade de opções de canais de televisão, revistas e formas musicais; não representam uma grande expansão em termos de humanização. A grande oferta de entretenimento representa sim um bem cultural desejável. O que não é tão positivo é que essas industrias são altamente concentradas. A concentração coloca a decisão de como interpretar a noticia e que noticias distribuir nas mãos de um grupo seleto.

Hoje temos o advento da Internet, além de outras tecnologias e interações sociais contemporâneas, que permite a colaboração e a interatividade. Ainda assim, a maior parte da comunicação cultural atual ainda é feita através de transmissão. A transmissão é por definição um processo unidirecional aonde eu recebo a informação e a aceito ou não. Eu posso mudar de canal, comprar outro jornal, posso enviar uma carta ao jornal reclamando de algo que não gostei. Porém, em essência, eu não participo da construção da noticia e da escolha de quais noticias estarão e quais não estarão. Não opino também sobre como vai ser analisada a noticia, sob o foco de que tipos de valores e julgamentos. Nesta parte do texto vou analisar brevemente por que essa concentração acontece e quais seus pontos negativos e positivos. Esse texto não pretende minimizar o potencial de colaboração das modernas tecnologias de comunicação, em especial a Internet. As novas interações possibilitadas serão detalhadas mais adiante. Elas representam uma importante e concreta promessa para a humanidade. Não vou fazer suspense com o leitor escondendo que as redes de comunicação e suas possibilidades econômicas e sociais são o cerne deste estudo acadêmico. Mas para entender o que o futuro promete é imprescindível compreender o presente e o passado. Por isso agora vamos tratar do presente das industrias de comunicação, que é uma herança do passado recente. A razão é que atualmente elas são o principal meio de distribuição de bens culturais para a população em geral. Quando escrevo que as industrias de comunicação em massa são os principais veículos de distribuição da cultura não estou menosprezando o teatro, a música regional, a produção acadêmica e tantos outros quase infinitos modos de produção e distribuição cultural. Se não acreditasse no potencial do teatro, da roda de samba e da produção acadêmica, nem estaria escrevendo esse trabalho. Escrevo por que acredito que ele pode fazer diferença, do mesmo modo que adoro ir ao teatro. Mas é inegável que, mesmo com pesquisas acadêmicas e idas ao teatro, a maior influência que absorvo é de meios de comunicação em massa, como televisão, jornais, rádio e revistas. O poder de marcas como Disney, do Big Brother Brasil, da moda, dos modismos, do que é escândalo, do que é fenômeno, tudo isso vem principalmente dos meios de massa. Estar alheio a eles é quase estar alheio a vida em sociedade, é não ter muito que conversar com o cidadão comum da rua. Eu pessoalmente não gosto de assistir ao Big Brother (adoro, porém, os enlatados de Hollywood), mas é impossível não saber o que é o Big Brother (o programa de televisão e não o célebre livro de Houxley) e aproximadamente como vão as coisas no programa, por que muita gente comenta e a imprensa dá grande cobertura ao evento. 4. BREVE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DE COMUNICAÇÃO EM MASSA Até o ano de 1500 a Igreja Católica dominava a distribuição da informação e da distribuição do conhecimento na Europa. A partir de 1450 uma série de fatores passou a corroer o monopólio do catolicismo em relação ao conhecimento. Os dois principais foram a invenção da imprensa por Gutemberg e o luteranismo. Johannes Gutemberg é o inventor alemão que produziu a primeira prensa tipográfica com tipos móveis de chumbo. Os tipos móveis de chumbo são resistentes e duram muito mais que os de madeira que eram utilizados anteriormente. A invenção de Gutemberg permitiu a impressão em massa de livros e textos. O primeiro livro impresso nesse sistema foi a célebre Bíblia de Gutemberg, iniciada em 23 de fevereiro de

1455 e terminada cinco anos depois. Pela primeira vez os fiéis podiam ter suas próprias interpretações da bíblia. Antes isso somente era possível a monges e pessoas ligadas a igreja, por que o processo de cópia era lento e estritamente controlado pela igreja. Essa primeiro uso de uma impressora em massa, apesar de ter encorajado novas interpretações da Bíblia, fortaleceu muito mais do que debilitou a manutenção do monopólio do conhecimento que a igreja mantinha. Porém uma vez inventada a máquina ela foi usada por todas as vertentes do pensamento humano para se expressarem. De especial impacto para a história européia e mundial foi como o luteranismo se utilizou dessa invenção. Na primeira metade do século XVI Martinho Lutero iniciou a reforma protestante conhecida como luteranismo. Martinho é alemão como seu compatriota Guttenberg e seu trabalho foi de central importância para acabar com o monopólio do conhecimento da igreja católica. Sua reforma protestante diminuiu a influência do catolicismo e foi muito importante para o surgimento do capitalismo. Lutero dificilmente teria conseguido esse efeito tão rapidamente sem ajuda da invenção de Gutemberg. Entre 1517 e 1520 foram distribuídas aproximadamente 300000 (trezentas mil) cópias de trabalhos de Lutero. Os textos mais distribuídos foram suas 95 teses, que foram escritas em 1517 e pregadas na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Com o advento do capitalismo, especialmente o capitalismo contemporâneo, desenvolveram-se estruturas administrativas e de distribuição de produtos que se espalham por países e continentes. Essas áreas de influência e poder econômico se estendem geograficamente por grandes regiões, atingindo populações numerosas e muito dispersas. A economia da entrega de produtos em massa, para populações numerosas e dispersas, envolve grandes custos e volumes de produção associados à custos marginais de distribuição. Em palavras mais simples significa que custa muito desenvolver um produto, como um novo computador, porém seu preço final é razoável por que serão vendidos milhares ou centenas de milhares de unidades que diluirão o custo do desenvolvimento entre si. A comunicação é parte fundamental da atividade humana, por isso na era capitalista teve de abranger de maneira eficaz uma área tão grande quanto as estruturas administrativas e de mercado alcançavam. Para atender essa necessidade surgiram as industrias de comunicação em massa, que tem as mesmas características das outras industrias de massa. Essas características incluem alto custo de produção, produção massificada em grandes volumes, distribuição em grandes áreas geográficas e custo marginal de distribuição. Um exemplo são os filmes de Hollywood que custam centenas de milhares de dólares e são distribuídos por quase todo o mundo em cinemas a preços que boa parte da população mundial (bilhões de pessoas) podem consumir. Além disso um produto cultural em massa desse tipo tem subprodutos como transmissão posterior em televisão e merchandise da imagem em outros produtos (bonecos com personagens do filme, cadernos, canecas). Outros exemplos clássicos de produtos culturais de massa são séries de televisão (como Friends) e músicas de grupos famosos gravadas em cd. Para a análise que desenvolvemos nesse texto é importante destacar que a industria da comunicação não poderia ter outro formato. Ela é somente um produto do seu tempo. Para acompanhar o desenvolvimento dos mercados que se estendem por grandes áreas, uma distribuição em massa era necessária. Os meios para produzir a comunicação que podia ser distribuída requeriam volumes grandiosos de investimento. Basta pensar em quanto custa montar um estúdio de gravação, uma canal de televisão,

promover uma banda a nível global ou ter um estúdio de edição profissional. Mesmo que algum destes custos tenham diminuído com o tempo, o custo de manter um sistema de distribuição desses bens culturais a nível de pais e mundo era muito grande. Assim a forma atual foi a única opção viável para o desenvolvimento da indústria de comunicação. A expansão dos meios de comunicação modificou permanentemente nossa sociedade. O rádio, o cinema e a televisão foram mecanismos de profundas mudanças sociais e econômicas. A produção e distribuição de bens culturais cresceram em progressão geométrica. Imagens e sons do todo o mundo chegam a todos os lares que tem televisão e tocador de cd. As modificações sociais e econômicas, a cada nova dessas invenções, foram cada vez mais profundas, intensas e rápidas. Um dos maiores benefícios para o desenvolvimento humano foi o desenvolvimento de uma imprensa profissional, independente e de alcance mundial. 5. FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA INDÚSTRIA DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS CULTURAIS EM MASSA Não existem produtores de carros que não procurem o lucro. Não há empresas de extração de petróleo ou usina de metais que trabalhem por voluntariado. As grandes indústrias trabalham por lucro e pela lógica capitalista de acumulação. O mesmo acontece com as industrias de comunicação em massa. Esse texto tratou brevemente do que é definido por economia do conhecimento. Nessa era do conhecimento, a produção e distribuição do saber são consideradas atividades essenciais, especialmente do ponto de vista econômico. Porém a maior parte do conhecimento, cuja geração e distribuição é motivado pela economia, se relaciona ao controle e melhoria da eficiência dos processos produtivos. Aqui também é necessário uma dose de cautela. Esse texto não afirma que outras formas de expressão cultural, como a música, a produção acadêmica, o teatro e livros de romance não tenham se beneficiado da era do conhecimento. Retomo a parte inicial do texto que descreve a grande oferta cultural que temos hoje e as várias formas de distribuição desses bens culturais, na forma de inúmeros canais de televisão, estações de rádio, revistas e livros. Para explicar essa importante afirmação vou analisar dois casos: as empresas de comunicação de massa e as outras empresas capitalistas. Toda empresa capitalista multinacional sabe o que o conhecimento é o principal fator de produção que pode gerar vantagens competitivas em relação a seus concorrentes. Nesse sentido o tipo de conhecimento que uma empresa vai nutrir e encorajar se relaciona a melhorar seus processos e ganhar mais dinheiro. As empresas que não se relacionam com entretenimento ou comunicação, a não ser em atividades de marketing isoladas, não vão promover, como resultado de suas políticas de gerenciamento do conhecimento, a música regional do estado do Pará ou a gastronomia de uma cidade histórica. As empresas de comunicação, por outro lado, distribuem música, filmes, séries de televisão e outros bens culturais. Por isso esse ramo da economia, que é enorme, beneficia a multiculturalidade e a grande oferta de opções culturais que hoje temos. Ainda assim a racionalidade da industria da comunicação é o lucro. Por isso são privilegiados a distribuição de bens culturais que vão atingir o maior número de pessoas. Exemplo de bens culturais de grande alcance são cantores como Britney Spears, Cristina Aguillera ou o grupo Axé Blonde. A escolha de bens culturais de grande alcance ocorre em detrimento de várias opções

regionais, locais, que não são menos ricos e importantes. Existem empresas que distribuem bens culturais regionais ou locais, porém, esses meios de comunicação possuem baixa audiência ou pequena área de distribuição geográfica. Outro critério importante de seleção de bens culturais que as empresas de comunicação utilizam é a capacidade de um produto gerar subprodutos que vinculam um pagamento para a utilização da imagem ou conceito contido no bem cultural (licenciar imagem e merchadise). Em ambos os casos, os bens culturais são tratados como produtos ou como subsídios para melhorar o resultado e os processos da empresa. Em síntese pode-se dizer que no século XX a economia do conhecimento provocou um florescer em todas as áreas culturais. Porém o grande motor da geração de conhecimento esteve vinculado à melhoria dos processos e da rentabilidade das empresas. No final do século XX e em especial nos primeiros anos do século XXI um novo método de produção e interação social tem florescido e crescido de maneira explosiva, como toda transformação que veio para ficar. Essas novas interações econômicas e sociais tem motivações não-monetárias e são conhecidas como economia da rede. Os fundamentos de produção e interação dessa nova modalidade econômica afeta principalmente a industria de comunicação. 6. FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO Para introduzir alguns novos conceitos, esse texto vai propor alguns exemplos. Imagine um livro que não sofre incidência de direitos autorais pelo tempo. Qual é o custo de produzir um livro adicional? A resposta, em termos simplificados, é o custo da impressão e do papel. A informação já existe por isso não há custo adicional em gerá-la, além do custo do meio físico que vai transportar a informação ao leitor. Qual o custo de reproduzir este texto mais uma vez? Mais uma vez em termos simplificados, o custo da impressora. Porém se você está lendo esse texto pela Internet, o custo é próximo de zero, pois basta enviar o link a um amigo para que ele possa ler. Em termos resumidos, pode-se dizer que o papel e a impressão para um jornal ou livro custa alguma coisa, mas a informação só precisa ser criada uma vez. Os economistas chamam esse tipo de bem público por que se forem vendidos pelo seu preço marginal, vão ser vendidos próximo de zero. O preço marginal é quanto custa produzir mais uma unidade de um determinado produto. Em termos simples, se você desenvolver um computador revolucionário e o vender para cinco pessoas, o custo marginal para as cinco pessoas vai ser muito alto. Se você vender para milhares de pessoas, o custo marginal vai ser bem mais baixo. O custo marginal normalmente tem a propriedade de ir abaixando a cada unidade produzida e vendida. Isso por que a produção de um bem tem custos fixos e variáveis, por isso o custo marginal de produzir uma unidade adicional diminui a cada unidade produzida. A música atualmente é tratada de forma eletrônica. O custo marginal de produzir uma cópia extra de uma música é próximo a zero. O mesmo acontece com todo tipo de informação. O custo de duplicar uma informação é próximo de zero.

As industrias de comunicação em massa tradicionalmente tinham uma importante barreira à entrada de novos competidores, que era o enorme capital necessário para iniciar e manter o empreendimento. Algumas empresas, como as que distribuem de sinais de televisão e alguns tipos de comunicação via satélite, ainda apresentam barreiras de entrada. Porém a maior parte dos bens culturais distribuídos pela indústria de comunicação tem, neste inicio de século, custos marginais de distribuição próximos de zero. Os que ainda não tem seu custo marginal próximo de zero, terão em breve por que a tendência é a convergência de todas as mídias e aparelhos de comunicação. Exemplos dessa tendência são as transmissões digitais de televisão, o áudio e vídeo por Internet, além de aparelhos híbridos como o iphone da Apple. Um conceito fundamental para a industria de comunicação em massa é copyright ou direitos de cópia. Eles servem, por exemplo, para que uma editora de livros possa ter a exclusividade de publicação de um livro em determinada área geográfica e com isso lucrar com a venda dos livros e dar parte da venda ao autor, caso se aplique. Os direitos de cópia de informação já foram muito importante para permitir o desenvolvimento das empresas de comunicação no passado. Atualmente, com poucas exceções, os direitos de cópia de informação tem pouca utilidade do ponto de vista do desenvolvimento econômico. As poucas exceções que ainda persistem em alguns anos deixarão de ter razão de existir. A defesa padrão para o direito de cópia é que empresas ou pessoas podem decidir não produzir se sabem que seus produtos vão estar disponíveis gratuitamente. Por isso, para motivar firmas que querem ganhar dinheiro com determinado tipo de informação, troca-se um pouco de ineficiência estática para ganhar na eficiência dinâmica do todo econômico com a disponibilidade desses produtos. Em outras palavras, admite-se alguma ineficiência no acesso à informação (só posso ter o bem se puder pagar por ele) em troca de ter mais gente produzindo cultura. Se em determinado momento isso deixar de ser verdade, ou seja, os direitos de cópia não estão fazendo com que mais pessoas produzam bens culturais, os direitos de cópia passam a prejudicar a população em geral e a privilegiar determinados grupos, gerando ineficiência econômica. Outro ponto importante é que a informação é tanto matéria-prima quanto produto final durante sua elaboração. Para desenvolver esse texto foram usados vários textos que foram desenvolvidos antes dele e são referenciados aqui, no corpo do texto ou na bibliografia. O produto final é esse que você lê. Ou seja, informação foi a matéria prima e o produto final. Esse conceito é conhecido na literatura como subir nos ombros de gigantes. Se as informações disponíveis são matérias-prima para novas informações, seus custos marginais, que são definidos principalmente pelo custo do direito de cópia, impactam no custo de produzir nova informação. Se o custo de acessar a informação é muito alto, menos informação nova vai ser criada. Tudo isso deve entrar no balanço macro econômico da avaliação do impacto dos direitos de cópia. Em seu livro The Wealth of the networks, Benkler afirma que a maioria dos economistas acreditam que o uso excessivo de direitos de cópia pode ser muito prejudicial à sociedade. Um exemplo clássico disso foi o caso de Eldred versus Ashcroft julgado pela suprema corte dos EUA. A defesa propunha alterar uma lei de diretos de cópia. A proposta era de aumentar os direitos de cópia de 50 para 70 anos após a morte de

um autor e de 70 para 90 anos no caso de organizações. Vários economistas famosos assinaram uma petição pedindo que essa petição não fosse aprovada pelo tribunal. Entre os economistas estavam cinco ganhadores de prêmio nobel e o famoso analista de mercado Milton Friedman. Esses economistas defendiam que se as propriedades fossem terras ou bens físicos duráveis, como aço ou uma fábrica, o ideal é que o direito de uso fosse para sempre. No caso de informação, por outro lado, o excesso de proteção pode gerar muita ineficiência na economia. Ainda segundo Benkler, existem estudos acadêmicos, feitos em vários países e por vários anos, que demonstram a ineficiência dos sistema de patentes. A conclusão apresentada por esses estudos é que países que aumentam a proteção de seu sistema de patentes, seja um país desenvolvido ou um em desenvolvimento, o total de investimentos em inovação diminui. Se estes estudos estão corretos, por que não são minimizados ou, em alguns casos específicos, abolidos os sistemas de patentes e proteção de cópia? A principal razão apontada é que não é fácil derrotar poderosos lobbies que ganham muito dinheiro com esses direitos, apesar da economia como um todo sair perdendo. Vamos olhar outro exemplo. Os jornais impressos de grande circulação diária tem seu faturamento composto de 90% ou mais proveniente de publicidade. A exclusão do direito de cópia do jornal tem pouquíssimo efeito no faturamento. Além disso nenhum jornal gosta de publicar noticias depois do seu concorrente, por isso as noticias de hoje tem pouco valor amanhã para os concorrentes. Benkler afirma que pesquisas feitas com industrias produtoras de vários setores indicam que os administradores dão pouca importância às patentes como fator positivo para a inovação e para a geração de receitas a partir dessas inovações. Poucas industrias apresentaram exceção, sendo que as mais notáveis foram a farmacêutica, a industria de cinema de Hollywood e as grandes gravadoras de música. Na industria de software 2/3 ou mais das receitas vem de outras atividades que não a venda em sí do software. As principais fontes de receitas são suporte ao uso do software, customização do software para implantações especificas e consultorias especializadas para implantação, programação e uso do software. A IBM é uma das empresas que mais tem patentes registradas no mundo. Nos últimos 10 anos ela tem sido a primeira, ou uma das primeiras, empresas em numero de patentes registradas por ano nos EUA. Ainda assim ela tem feito grandes investimentos em Linux. Ela investiu mais de um bilhão de dólares no desenvolvimento do Linux, que é um sistema operacional de código aberto. Por ser de código aberto o Linux tem um tipo de licença que proíbe que quem ajudou a desenvolvê-lo possa distribuí-lo por motivações monetárias e comerciais. Assim a IBM só pode recuperar seu investimento no Linux oferecendo serviços e consultoria relativos ao sistema operacional já que não pode vendê-lo. Em 2002 a receita da IBM com serviços relacionados ao linux passou a receita total que ela recebe de royalties e licenças, mesmo sendo uma das empresas que mais tem patentes no mundo. Em 2003 o faturamento de serviços relacionados ao Linux aumentou e foi o dobro do que a IBM recebeu com os direitos de propriedade (fontes Benkler e site IBM Investor Relations).

O Linux é um software denominado de código aberto. Ele é baseado em um tipo de licença chamada GPL que significa General Public License ou Licença Pública Genérica. Essa licença diz que o sistema pode ser distribuído livremente, desde que não seja vendido ou se receba compensação monetária em função de sua distribuição. É importante notar que distribuir é diferente de instalar. Distribuir é dar uma cópia dos arquivos que compõe o linux. A instalação é um serviço que pode ser cobrado, já que quem recebe o sistema operacional deveria ser capaz de instalá-lo. Outra característica do GPL é que qualquer pessoa pode ter acesso ao código fonte do Linux e alterá-lo para atender às suas necessidades específicas ou para colocar novas funcionalidades. Porém o trabalho que algum desenvolvedor faz no Linux deve ser disponibilizado para qualquer pessoa que quiser utilizar ou alterar o código fonte. Isso por quê todo desenvolvimento feito com o linux automaticamente deve adotar a licença GPL. O Linux é um produto que é líder em vários segmentos de mercado e foi desenvolvido por milhares de pessoas, em base de comunidade e voluntariado, sem incentivos monetários ou comerciais diretos. O desenvolvimento de um projeto ambicioso como o Linux por milhares de desenvolvedores independentes do mundo inteiro, que não receberam incentivos monetários ou comerciais por seu trabalho, jamais poderia ser imaginado há alguns anos atrás. Se alguém fizesse uma previsão dessas, seria chamado de louco por que iria totalmente contra os princípios do funcionamento dos mercados e da racionalidade econômica. Uma coisa importante é que a teoria econômica não teve de mudar para explicar esses fenômenos. As condições estruturais de produção foram mudando e, quando ninguém esperava, várias iniciativas como essa começaram a aparecer e florescer no cenário econômico. Mais adiante vamos ver resumidamente quais são as novas realidades econômicas que permitem projetos econômicos comunitários de larga escala e com motivações não-monetárias como o linux. Antes vamos ver que forma tem esses fenômenos, como eles acontecem e por que estão mudando radicalmente o cenário econômico e social que herdamos do século XX. Vou, antes de prosseguir, abrir um parênteses importante sobre a economia da indústria de softwares que tem gerado muita controvérsia e falsas acusações de que esse texto não quer ser alvo. Quando se decide comprar por um servidor Linux ou Windows não é o preço do software que é importante. A não ser que a empresa seja muita pequena, no caso desses dois concorrentes, o preço do produto é praticamente irrelevante para a escolha do produto. Isso por quê os maiores custos envolvidos em softwares são o treinamento dos funcionários, o custo de manutenção e o custo de administração do sistema. Quando todos esses fatores são pesados os sistemas proprietários muitas vezes ganham, como aconteceu recentemente na TV Cultura (Fundação Padre Anchieta) que trocou seu parque de servidores Linux por Windows ao considerar no cálculo os custos descritos acima. Apesar disso existem vários nichos em que o Linux tem um custo/beneficio melhor que sistemas proprietários, do mesmo modo que estes últimos são melhores em determinadas situações.

7. EXEMPLOS DA PRODUÇÃO POR PARES Produção por pares é o nome dado a projetos on-line em que milhares de pessoas contribuem para a realização de um bem econômico sem motivação monetária ou comercial. O linux é lider em alguns setores como o de sistema operacional para servidores Web. Nesse caso também existe um famoso produto desenvolvido por GPL, o servidor web Apache. Servidor web é o software que hospeda as páginas internet que você acessa. O Apache tem 60% do mercado de servidores web e foi desenvolvido por milhares de pessoas em comunidade e sem motivação monetária como o linux (fonte Netcraft web server survey). Outro fenômeno impressionante é a Wikipedia, uma enciclopédia on-line que é atualizada por mais de 75000 voluntários em todo o mundo que são responsáveis por mais de cinco milhões de artigos em mais de 100 linguas. A Wikipédia baseia-se também em GPL, que significa que o que você escreve lá é de domínio público. (fonte: Wikipedia). Apesar de todos poderem contribuir a Wikipédia tem um sistema de publicação chamado Wiki que é a chave para sua coerência e validade. O Wiki é um sistema de editoração eletrônica gratuito que foi desenvolvido para a Wikipédia, mas que é utilizado por vários grupos independentes que trabalham em projetos on-line e educacionais. O Wiki é uma plataforma de colaboração on-line altamente interativa que permite a criação coletiva de documentos e o debate on-line. Ele guarda todas as versões dos documentos, de modo que se alguém escrever coisas que não procedem, pode-se rapidamente voltar para qualquer edição anterior do documento. No caso de haver dúvida sobre um conteúdo, é criado uma votação e, em caso de impasse (e somente nesse caso, por que é um ambiente democrático) uma comissão de usuários eleitos decidem o impasse. Além disso no caso de visões diferentes de um mesmo tema em função de cultura, região ou outros fatores, todas as visões sobre o tema são colocadas na enciclopédia. O objetivo é permitir que todas as culturas se expressem, desde que haja um nível mínimo de respeito pelo cultura dos outros povos e grupos. A Wikipedia está na frente de outras enciclopédias on-line como a Encarta e a Columbia. A maior importância da Wikipedia é que todos participam da construção do conhecimento. Todos podem opinar e ajudar a escolher os conteúdos e a forma com que vão ser interpretados. Mais um fenômeno crescentes são os MMOGs ou Massive Multiplayer Online Games (jogos on-line maciçamente multi-jogadores). Eles são considerados o futuro dos programas de televisão e do cinema. São jogos que participam milhares de usuários e, como todos os fenômenos descritos nesta sessão, apresenta crescimento em progressão aritmética. Os criadores do jogo criam um ambiente inicial e dão ferramentas para os usuários criarem personagens, casas, armas, objetos e definirem como esses funcionam. Um jogo chamado Second Life (Segunda Vida) é um MMOG que foi criado em 2003. Ele é um mundo em 3 dimensões que conta com quase quatro milhões de personagens, que representam usuários de todas as partes do mundo. O mundo foi 99% construído pelos próprios usuários que definiram objetos, terras, propriedades, pessoas, regras e leis. Você pode adquirir uma propriedade virtual, abrir um negócio, inventar coisas e serviços. O que você cria é sua propriedade e você pode vender ou cobrar pelo serviço. O dinheiro que você ganha pode ser trocado por dólares em sites de câmbio na Internet e o dinheiro virtual,

Linden Dollar pode ser comprado em casas de câmbio. É quase um mundo em si que tem fortes interações com o mundo físico. O leitor pode entrar em Second Life, abrir um negócio e ganhar dinheiro e depois gastá-lo de verdade no mundo real. O jogo funciona com uma mensalidade fixa mensal que os usuários pagam. Quando houve uma tentativa de aumentar a taxa os habitantes do mundo fizeram uma greve virtual. Lá existem universidades que oferecem cursos com relevância para a vida real como programação de computadores (existem também cursos para empreendedorismo no ambiente on-line. As regras e leis dessa sociedade são criadas pelos próprios usuários em uma complexa e eficiente democracia. Além de ser um belo exercício de desenvolvimento de cidadania para quem participa, essa democracia pode ter importantes efeitos a medida que a fronteira entre virtual e real fica mais próxima. O dinheiro virtual pode ser trocado pelo real. O que se ganha na economia real pode ser investido na virtual e vice-versa. A universidade oferece cursos que tem validade para o ambiente real. Empresas reais fazem propaganda de produtos e serviços no ambiente virtual de Second Life. O Projeto Gutemberg O Project Guttenberg oferece mais de 20000 versões eletrônicas gratuitas de livros com direitos autorais vencidos. Esse projeto também é mantido por milhares de voluntários que escaneiam as páginas dos livros. Outros usuários ajudam a verificar se a transcrição, que é feita automaticamente por um software de leitura de caracteres, está correta. Mais de dois milhões de livros são baixados mensalmente. Entre os livros podem-se encontrar os cadernos de Leonardo Da Vinci, as obras de Shakespeare, Dickens, James Joyce, Marx, Twain, Adam Smith, Allan Poe, além de centenas de outros escritores. SETI@home O maior supercomputador e mais poderoso supercomputador do mundo é o SETI@home. Mais uma vez são milhares de usuários que emprestam as ciclos não utilizados dos seus computadores. Usuários ao redor do mundo, mais de 400000, baixam um protetor de tela que aparece quando o computador não está em uso. Esses computadores em rede formam o maior supercomputador do mundo que é utilizado para analisar ondas de freqüências espaciais para tentar identificar sinais de vida extraterrestre inteligente.o SETI@home é 75% mais rápido que o Blue Gene/L da IBM que derrotou chegou a derrotar o campeão mundial de xadrez. Existem outros projetos como o Fightaids@home e Genome@home que ajudam no teste de medicamentos para a AIDS e na criação de modelos genéticos que possam ser usados na medicina, respectivamente. Porém nenhum projeto é tão extenso quanto o SETI@home, aonde milhares de usuários compartilham bens econômicos (processamento e armazenamento) para uma causa que eles acham importante pesquisar. Skype Outro exemplo de software comunitário é o Skype, que não tem servidor central. Os usuários compartilham parte dos recursos dos seus hardwares para permitir o funcionamento de um sistema de comunicação via voz pela Internet, aonde várias pessoas podem conversar entre si ao mesmo tempo.

8. PRODUÇÃO SOCIAL NÃO-MONETÁRIA EM REDE Em 30 de setembro de 2006 o Jornal Folha de São Paulo, na sessão Dinheiro, publicou um artigo de Sérgio Dávila entitulado Internet transfere riqueza para as redes. A seguir vou reproduzir um trecho da reportagem. No "novo mundo", grupos e indivíduos são mais livres do Estado e das corporações hierarquizadas próprios do período industrial anterior (...) Há algumas semanas, para comemorar dez anos no ar, a revista eletrônica "Slate" reformulou seu site. Uma das novidades era um mecanismo cada vez mais popular nas publicações on-line: a lista das reportagens mais lidas do dia. Para surpresa da editora Rachel Larimore, o campeão da quarta-feira dia 28 de junho era um artigo intitulado "So Tired" (Tão Cansado), de Paul Boutin. O fato de um texto do jornalista especializado em novas tecnologias ser o campeão de audiência não a espantava -uma autoridade no assunto, freqüentemente Boutin está na lista dos dez mais de diversos sites. O problema era a data: "So Tired" foi escrito e colocado no ar pela primeira vez em julho de 2004. Qual o segredo? O artigo tinha sido "postado" (colocado à disposição) por um leitor saudoso no novíssimo site Digg, com 300 mil usuários registrados e 8,5 milhões de visitantes únicos por mês. O internauta visita o agregador de notícias e submete um texto, não necessariamente inédito nem de autoria própria. A peça recebe uma avaliação dos visitantes. A mais bem-votada vai para o alto de uma lista de notícias na página inicial do Digg. Digg, citado na reportagem, é um site que faz social bookmarking (linkagem social de sites). Social bookmarking é um termo aonde uma grandes comunidades classificam textos da Internet criando um ranking instantâneo de textos on-line. A atividade é intensa e instantânea, sendo que em poucas horas um texto pode subir para os mais votados e outro sumir dessa lista. Outro termo para essa ação coletiva é Folksonomy ou Taxonomia Coletiva (folk quer dizer povo, coletivo). No Digg, que é um dos sites mais populares nessa categoria, os usuários submetem textos. Outros usuários votam nos textos disponíveis. Os textos podem receber votos positivos ou votos negativos, sendo que cada usuário não pode votar mais de uma vez. Uma certa quantidade de votos negativos automaticamente tira o texto da lista, em um processo definido como enterrar. Existe um índice de popularidade mínima que é calculado com base na da distribuição de usuários on-line e nas notas que a população de textos está recebendo. Se em dois dias um texto não passar do nível mínimo de popularidade, o mesmo é enterrado. Por outro lado, quando um texto passa do nível mínimo de votos, ele ganha destaque e passa para a lista dos populares (que não é a lista dos mais votados, sendo ainda uma lista bastante extensa de textos). Não há um padrão claro. Em questão de poucas horas, de maneira inesperada um texto desconhecido e pouco lido da internet pode ficar popular. Ele pode ser de um autor desconhecido, de qualquer parte do mundo e pode ter sido escrito em qualquer época. Como no artigo da folha, de repente milhares de internautas começam a visitar o site por que está na lista dos mais votados de

sites como o Digg. Digg em inglês quer dizer escavar. Atualmente são votados Vídeos e podcasts (noticiário internet via áudio que pode ser ouvido em tocadores portáteis de música). Além dos milhares de usuários que visitam o Digg por dia, a visita à um texto popular aumenta muito por que na Web 2.0 os internautas linkam seus blogs e wikis para esses textos. Assim, mesmo que um texto não esteja mais na lista dos mais votados da Digg (que muda constantemente), ele continua recebendo um número alto de visitas por um bom tempo. Isso por que embora o texto não esteja mais no Digg, passam a existir vários blogs que criaram links mais permanentes para o texto. Esses fenômenos de interação são chamados de Web 2.0, ou a segunda versão da Internet. É a chamada Internet social, aonde grandes interações sociais produzem textos, projetos, debates e bens econômicos através de motivações e propósitos não-monetários e não-comerciais. Fazem parte dessa nova etapa da Internet a Taxonomia coletiva (sites como digg), o jornalismo dos cidadãos (citizen journalism através de blogs e wikis), a colaboração on-line em projetos e atividades econômicas não monetárias (softwares como linux e apache, SETI@home, wikipedia e outros), e o desejo de grupos instantâneos e mutantes de constantemente participar e poder afetar o curso de eventos e decisões do mundo real. Os clientes e espectadores da era industrial estão se transformando em usuários. Espectadores assistem uma transmissão, usuários interagem. Existem situações em que os usuários não podem interagir por que um site não permite interação e opiniões ou por que se trata de um evento do mundo real (não virtual). Mesmo nesses casos, se a questão for importante para um número considerável de pessoas, os usuários podem fazer tanto barulho que vão forçar uma mudança de curso ou ao menos uma explicação por parte dos responsáveis pela questão. Blogs são diários on-line individuais ou coletivos que apresentam noticias e textos em ordem cronológica. Blogs são um fenômeno da Web 2.0. Existem 70 milhões de Blogs e por dia são criados 75 mil novos (fonte Technorati). Blogs são sites que permitem a interatividade, pois toda noticia pode ser comentada por outros usuários. Existe uma troca muito intensa de links entre sites. Quando textos ou assuntos são popular na população que tem acesso a Internet, eles são linkados a partir de vários sites. Existe uma série de reações em cadeia que fazem um texto ficar popular. Pela velocidade da Internet, em instantes alguns blogs podem começar a apontar para um texto desconhecido e pouco lido, sendo que em poucos dias milhares de blogs podem estar apontando para esse texto. O fenômeno acontece através de um efeito em cadeia no qual um blogueiro conta para usuários que também são blogueiros que contam a outras pessoas e assim por diante. São muitas as histórias de efeitos em cadeia de blogs que alteraram significativamente eventos do mundo não-virtual. Um dos mais conhecidos é o do senador americano Trent Lott, que era Líder da Maioria (Majority Leader). Documentos citados em blogs mostravam indícios de que o senador Lott tinha grande preconceito racial. A divulgação cresceu através de milhares do blogs apontando para o texto e ranking de textos populares como o Digg (na época o digg não existia, mas haviam outros mecanismos de indexação). A partir de certo momento a história chegou nos jornais impressos e na televisão. Isso gerou uma crise política tão grande, que forçou o senador a entregar seu posto de Líder da Maioria, que é uma posição de considerável poder na política norte-americana.

Existem milhares de histórias como essa, aonde textos postados por blogueiros antes desconhecidos geraram mudanças e alteraram o curso de eventos no mundo não-virtual. Os blogs foram fundamentais para fornecer evidência de maus-tratos no Iraque por parte dos soldados americanos. Alguns blogueiros tem mais influência que jornalistas importantes dos grande jornais impressos. O importante é que os internautas estão participando do noticiário, opinando sobre quais noticias devem ser divulgadas e sob que valores devem ser interpretadas. Também tem influenciado noticias e eventos que não se preocupam com suas interações e opiniões, através de grandes mobilizações on-line. Mais uma importante característica da Web 2.0 são sites como FlickR e YouTube. No FlickR milhares de usuários compartilham suas fotos e no YouTube os usuários compartilham vídeos que eles mesmos produziram ou versões editadas de outros vídeos. Um exemplo do poder de mídia e aglomeração social desses sites é a recente controversa da modelo brasileira Daniela Cicarelli que teve um vídeo postado dela o do namorado fazendo sexo no mar. A confusão foi tão grande que chegou aos noticiários de todo o mundo, especialmente quando Cicarelli entrou com um pedido judicial para retirar o vídeo do serviço. Porém não é só sensacionalismo que o site torna popular. Ele também revela indiscrições de políticos, fraudes de empresas e noticias relevantes. Bem verdade que, comparado aos Blogs, esses sites tem muito mais vertentes para o entretenimento e diversão. Porém muitos assuntos sérios são expostos por vídeos. Lá também se encontram vídeos sobre psicanálise, política, educação e vários outros assuntos de interesse. 9. FRONTEIRAS QUE SE CONFUNDEM Do mesmo modo que comunidades on-line podem afetar acontecimentos do mundo não-virtual, empresas e atividades do mundo real procuram as comunidades da Web 2.0 para se promoverem. O jornal A Folha de São Paulo de 22 de fevereiro de 2007, na sessão ilustrada, publicou a seguinte notícia: Teatro recorre ao YouTube para ir além do palco. As grupos de teatros colocam trechos especialmente filmados de suas peças, para promoverem e conversar com o público. Esse último detalhe é importante porque o usuário não quer ser espectador. Se a comunicação for no formato de transmissão e não permitir o debate, o efeito será o contrario do pretendido e a comunidade on-line vai falar mal de você. A revista Época de 19 de fevereiro traz um artigo intitulado Aprenda com a Wikipédia, escrito por Eduardo Vieira. Nessa reportagem a revista sugere que as empresas devem interagir com as comunidades on-line e devem também aprender a trabalhar colaborativamente como acontece com os projetos que desenvolveram o Linux, a Wikipedia e o Apache, entre vários outros exemplos. As firmas estão se abrindo para a ecologia das comunidades online. Existem empresas como IBM e ebay (empresa de leilões on-line) que usam a produção não-monetária por pares e interação social on-line como parte fundamental de sua estratégia de negócios. Muitas empresas tem blogs aonde seus principais executivos conversam diretamente com a comunidade e a ouvem. Em breve todas as empresas vão ter blogs para falar com a sua comunidade (clientes, fornecedores e interessados em seu negócio). Porém quem não atende às exigências dos consumidores com ações ou ao menos explicando de maneira convincente por que elas não são atendidas, imediatamente são penalizadas com campanhas negativas

que se espalham por blogs, YouTubes, FlickR, Wikis e sites de ranking de conteúdo como Digg. Os que atendem bem os internautas são beneficiados com campanhas positivas de reforço e elogio. Por exemplo, enquanto escrevo esse texto está entre os 10 mais votados no site Digg um texto do site da Dell (fabricante de computadores) que explica como ela vai atender à exigências feitas por internautas através de comentários feitos em seu blog oficial. Os usuários, Internet afora, estão elogiando a atitude da Dell. Esse efeito em cadeia é melhor e mais poderoso que qualquer publicidade paga. Porém a qualquer momento pode se transformar em algo negativo se a Dell começar a não atender bem seus clientes on-line. 10. SINTESE DO PERCURSO Existem mudanças importantes no cenário mundial que estão permitindo o florescimento de atividades econômicas e sociais que tem motivações e engrenagens não monetárias na sua essência. Essas atividades integram grandes contingentes de pessoas que colaboram on-line em projetos e assuntos de seu interesse. Alguns grupos tem uma duração consistente no tempo e se transformam em produtos como o Linux e a Wikipedia. Outros grupos se reúnem de maneira instantânea e não previsível para defender ou criticar situações que o coletivo acha importante debater e promover uma ação a respeito. Exemplos desse tipo de ação são noticias que se espalham rapidamente e promovem mudanças palpáveis como a do senador Lott ou como o elogio à empresa Dell. As principais mudanças que permitem esses projetos sociais acontecerem são as seguintes: 1. As máquinas necessárias para a produção desses projetos estão amplamente disponíveis nas economias avançadas e em parte das economias em desenvolvimento. A medida que cada vez mais pessoas tem computadores e acesso à Internet, os meios para se produzirem textos, vídeos e colaborar massivamente em projetos de interesse da comunidade estão em poder do cidadão comum. As pessoas podem se unir e combinar suas máquinas e potenciais para criar projetos comuns. Antes a tecnologia para produzir e comunicar eram muito caras e por isso de exclusividade de grandes empresas, como vimos nas partes iniciais deste texto. 2. A principal matéria prima desses projetos é a informação que tem custo marginal próximo de zero. Isso quer dizer que o custo de distribuição e compartilhamento dessa informação tende a zero. 3. Existem arquiteturas tecnológicas e interações sociais recentes que permitem e favorecem o desenvolvimento desse tipo de projeto. São as interações permitidas por blogs, indexações coletivas, jornalismo participativo, produção de bens como linux ou Genome@home (desenvolvimento e teste de agentes baseados em gene para uso medicinal), wikis, MMOGs e vários outros. Os internautas estão cada vez menos suscetíveis a manipulação. Eles querem debater os conteúdos e os acontecimentos do mundo e querem ser ouvidos. Além de serem ouvidos os internautas participam de

uma maneira nunca antes imaginada na criação de sua cultura, pois criam arte, textos, vídeos, dão opiniões, noticiam em um ambiente que podem atingir potencialmente milhões de pessoas. As barreiras econômicas que criaram as industrias de comunicação em massa não existem mais. Isso por que os meios requeridos para produzir e distribuir esses bens culturais estão espalhados por milhões de pessoas ao redor do mundo, que podem unir esforços em comunidades e projetos sociais e econômicos. Por isso muitas das proteções de cópias não fazem mais sentido. Recentemente Steve Jobs, um dos gurus de tecnologia mais influentes do mundo e fundador da Apple, defendeu no site de sua empresa que as músicas vendidas on-line não deveriam ter proteção contra cópia. Essa afirmação tem um impacto muito grande por que a Apple (empresa de tecnologia dirigida por Jobs) tem 70% de participação no mercado de venda de música on-line. O endereço aonde pode ser lido esse interessante material, chamado Toughts on Music (Pensamentos sobre a música), encontra-se na bibliografia deste texto. No corpo do texto esses acontecimentos foram definidos como fenômeno social. Fenômeno por que apareceram de repente, sem serem previstos, crescem a uma velocidade surpreendente, tem motivações não monetárias e modificam sensivelmente vários aspectos da economia e da vida em sociedade. Não existe nesses novos meios de comunicação o modelo de transmissão (se chega a existir é rapidamente rejeitado). Os espectadores estão se transformando em usuários. Eles exigem participação e não pedem permissão para escrever, colaborar, avaliar o que existe no mundo virtual e real. Também qualquer pessoa pode propor um projeto e, se for de interesse, ter milhares de pessoas colaborando com intenções não-monetárias para o sucesso desse projeto. A chamada Web 2.0 tem como principais características a grande interatividade e a autonomia de seus participantes. Porém não basta colocar um site no ar e esperar para que ele receba participação de pessoas. O site ou projeto precisa ser planejado com a interação e a autonomia em mente. Exemplos de sites que permitem a interação são blogs e wikis. Um site não planejado para ter estruturas que permitam a interação, não somente não vai receber nenhuma interação, como também pode receber uma grande onda de criticas por parte de comunidades on-line. O fenômeno dos grandes projetos sociais e econômicos com motivações não-monetárias e nãocomerciais é uma realidade crescente que veio para ficar e vai cada vez mais ajudar a dar forma ao futuro. Que forma vai ter esse futuro é tão difícil dizer como era difícil prever que Digg, YouTube, Blogs, Linux, Wikipedia e tantos outros projetos existiriam. Mais que isso daqui a um ano esse texto vai parecer extremamente desatualizado pela velocidade das transformações e novos serviços que vão ser criados, como aconteceu com os textos sobre o assunto de um ano atrás (mesmo de autores famosos). Ainda há muito que pode ser escrito sobre as características e motivações desses projetos coletivos em termos sociais e econômicos. Também sobre os impactos nas diversas áreas da cultura e da vida em sociedade. Muitas lacunas foram deixadas em aberto. O objetivo desse texto é mostrar e descrever sinteticamente um fenômeno social novo que cresce rapidamente e que tem motivações não-monetárias e não-comerciais. Em textos futuros vou abordar outros aspectos que não couberam no presente desenvolvimento ou que ficaram incompletos.

O futuro é promissor e não é uma garantia que esse caminho vai continuar a promover a autonomia critica, os direitos humanos, a participação e a democracia. Por enquanto isso tem acontecido, mas o futuro é construído pelos homens e suas decisões. Participe desse importante momento histórico! Ajude a fazer com que essa revolução, que ainda está nos seus momentos iniciais, seja uma que humanize em vez de desumanizar! BIBLIOGRAFIA Benkler, Yochai. (2006) The Wealth of the networks: how social production transforms markets and freedom. Yale University Press. Boud, D. e Solomon, N. (Orgs.) (2001) Work-based Learning: a new higher education (UK, Open University Press) Freire, P. (1996) Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra. Garnett, J. e Walker. E.N. (2004) Work-Based Learning A new imperative: developing reflective practice in professional life. In Reflective Practices, vol. 5, n.3, Outubro 2004 (UK, Taylor & Francis Ltda) Sacristan, J. Gimeno. (1999) Poderes instáveis em educação. Tradução: Neves, Beatriz. Porto Alegre: Artmed Editora. BIBLIOGRAFIA SITES Blogs http://en.wikipedia.org/wiki/blog Folha de São Paulo Internet transfere "riqueza" para as redes http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi3009200619.htm IBM Investor Relations http://www.ibm.com/investor/ Johannes Gutenberg http://pt.wikipedia.org/wiki/johannes_gutenberg Martinho Lutero http://pt.wikipedia.org/wiki/lutero Netcraft Web Server Survey

http://news.netcraft.com/archives/web_server_survey.html Second Life http://secondlife.com/whatis/ SETI@home http://setiathome.berkeley.edu/sah_about.php Technorati http://www.technorati.com/ Texto de resposta da Dell a exigências da comunidade http://www.digg.com/linux_unix/dell_s_response_to_overwhelming_linux_community_coup Thoughts on Music (texto de Steve Jobs a música digital) http://www.apple.com/hotnews/thoughtsonmusic/ Thoughts on music em português http://www2.uol.com.br/macpress/noticias/c045s05793.shtml