PERFIL CLÍNICO DE PACIENTES COM GLOMERULONEFRITE LÚPICA PROLIFERATIVA ATENDIDOS NO SERVIÇO DE NEFROLOGIA DO HC-UFPE

Documentos relacionados
Glomerulonefrites Secundárias

Insuficiência Renal Aguda no Lúpus Eritematoso Sistêmico. Edna Solange Assis João Paulo Coelho Simone Chinwa Lo

Glomerulonefrite pós infecciosa

Glomerulonefrite Membranosa Idiopática: um estudo de caso

Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulonefrites Bacterianas

densidade óptica está ilustrada na Figura 1. O grupo anti-lpl positivo (anti- LPL+) foi detectado em 25 dos sessenta e seis pacientes com LES (37,8 %)

QUESTÕES COMENTADAS INTRODUÇÃO À NEFROLOGIA

GLOMERULOPATIAS. 5º ano médico. André Balbi

GLOMERULOPATIAS SECUNDÁRIAS

Descrição das glomerulopatias no lúpus eritematoso sistêmico (LES) e seus respectivos esquemas terapêuticos

Diagnóstico Diferencial das Síndromes Glomerulares. Dra. Roberta M. Lima Sobral

ESTUDO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES COM LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO, EM UMA POPULAÇÃO DA AMAZÔNIA ORIENTAL ¹ RESUMO

Lúpus Eritematoso Sistêmico - sinais e sintomas

Resolução da Questão 1 Item I (Texto Definitivo) Questão 1

Glomerulonefrite lúpica: estudo da evolução a longo prazo

Lúpus eritematoso sistêmico com acometimento neurológico grave: Relato de Caso

Anais do 14º Encontro Científico Cultural Interinstitucional ISSN

QUEM SÃO OS INDIVÍDUOS QUE PROCURARAM A AURICULOTERAPIA PARA TRATAMENTO PÓS-CHIKUNGUNYA? ESTUDO TRANSVERSAL

AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL EM DIABÉTICOS ADULTOS*

COMPLICAÇÕES RENAIS NO TRANSPLANTE HEPÁTICO

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

Formulário de acesso a dados do Registo Nacional de Doentes Reumáticos da SPR

AB0 HLA-A HLA-B HLA-DR Paciente A 1,11 8,35 3,11 Pai O 1,2 8,44 3,15 Irmão 1 B 1,11 8,35 3,11 Irmão 2 O 2,24 44,51 8,15

Atividade, Gravidade e Prognóstico de pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico antes, durante e após prima internação

Glomerulopatias em pacientes idosos: aspectos clínicos e histológicos Glomerular diseases in the elderly: clinical and hystological features

INDICADORES BIOQUÍMICOS DA FUNÇÃO RENAL EM IDOSOS

Eduardo Henrique Costa Tibaldi 1) Introdução

DISCUSSÃO Vista lateral da entrada do Ambulatório do Instituto Lauro de Souza Lima FOTO produzida por José Ricardo Franchim, 2001.

Tratamento da nefropatia lúpica severa: efeito da ciclofosfamida endovenosa prolongada e intermitente

PROJETO LAAI: LUPUS ELABORAÇAO DE UM FOLDER

Estudo Clínico e Imunológico Comparativo. entre o Lúpus Eritematoso Sistémico de Início

Glomerulonefrite lúpica em paciente com fator antinuclear (FAN) negativo

N o 41. Novembro Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) Afinal, o que é lúpus?

O lúpus é uma doença auto-imune que afeta principalmente mulheres. jovens e que pode comprometer praticamente qualquer órgão do corpo.

Impacto clínico da tripla positividade dos anticorpos antifosfolípides na síndrome antifosfolípide trombótica

Caso Clínico. (abordagem de Glomerulopatias pós-transplante)

Formulário de acesso a dados do Registo Nacional de Doentes Reumáticos (Reuma.pt) da SPR

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

Material e Métodos Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, 14 anos, internada para investigação de doença reumatológica

ESTUDO DA INFLAMAÇÃO ATRAVÉS DA VIA DE EXPRESSÃO GÊNICA DA GLUTATIONA PEROXIDASE EM PACIENTES RENAIS CRÔNICOS

Pneumonia intersticial. Ana Paula Sartori

SOCIEDADE RELATÓRIO PARA MICOFENOLATO DE MOFETILA E MICOFENOLATO DE SÓDIO PARA TRATAMENTO DA NEFRITE LÚPICA

1. Estratificação de risco clínico (cardiovascular global) para Hipertensão Arterial Sistêmica

Etiologia: Etiologia:

INTRODUÇÃO LESÃO RENAL AGUDA

Glomerulonefrite Crescêntica

Síndroma Nefrótico Idiopático na Criança. Evolução a Longo Prazo. Experiência da Unidade de Nefrologia Pediátrica

Padrões morfológicos de lesão glomerular e correlação com achados clinicolaboratoriais de 43 crianças com síndrome nefrótica

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DOS FATORES DE RISCO PARA DOENÇA CORONARIANA DOS SERVIDORES DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

ESCLEROSE SISTÉMICA - CASUÍSTICA SERVIÇO MEDICINA IV

Perfil Epidemiológico de Pacientes Portadores de Doença Renal Crônica Terminal em Programa de Hemodiálise em Clínica de Santa Cruz do Sul - RS

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: NEFROLOGIA

Projeto de Investigação com o Registo Nacional de Doentes Reumáticos da SPR

Anticorpos anti-c1q e sua correlação com atividade do lúpus eritematoso sistêmico

Proteinúrias Hereditárias: Nefropatia Finlandesa e. Esclerose Mesangial Difusa

Consensus Statement on Management of Steroid Sensitive Nephrotic Syndrome

ACHADOS TOMOGRÁFICOS DE DOENÇA NASOSSINUSAL EM CRIANÇAS E EM ADOLESCENTES COM FIBROSE CÍSTICA

Vai estudar doenças glomerulares? Não se esqueça do elefantinho!

NEFROTOXICIDADE MEDICAMENTOSA. Dr. Carlos Alberto Balda Professor afiliado da Disciplina de Nefrologia da EPM - UNIFESP

LÚPUS: PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

RESUMOS APROVADOS. Os trabalhos serão expostos no dia 23/11/2011, no período das 17h às 19h;

Diferenciais sociodemográficos na prevalência de complicações decorrentes do diabetes mellitus entre idosos brasileiros

COMPLICAÇÕES CLÍNICAS EM PACIENTES PORTADORES DE LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO 1 RESUMO

Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Síndromes Nefrológicas. Síndrome infecciosa: Infecciosa

Introdução. *Susceptibilidade. * Unidade funcional e morfológica: néfron - glomérulo ( parte vascular) - túbulo ( parte epitelial) TÚBULO PROXIMAL

Introdução. *Susceptibilidade. * Unidade funcional e morfológica: néfron - glomérulo ( parte vascular) - túbulo ( parte epitelial) TÚBULO PROXIMAL

Profa Dra Rachel Breg

GESF no Transplante. Introdução

DOENÇA DE GRAVES EM IDADE PEDIÁTRICA: AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DOS ANTITIROIDEUS

Nefropatia por IgA. Vega Figueiredo Dourado de Azevedo. 1. Introdução

Declaração de possíveis conflitos de interesses

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS AUTOR(ES): ANDRESSA GONÇALO RODRIGUES PIMENTEL, TATIANE CRISTINA LINO DA SILVA

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO (LES) UMA REVISÃO 1

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP-HU/UFJF HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANÁLISE DE PROJETOS Reunião 22/06/2015

ARTIGO ORIGINAL. Palavras-chave: Keywords: doi: / v56n1p

Avaliação de 100 pacientes com nefrite lúpica acompanhados por dois anos

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

PERFIL DOS HIPERTENSOS IDOSOS DA EQUIPE 1 DA UNIDADE BÁSICA DA SAÚDE DA FAMÍLIA DE CAMPINA GRANDE

INDICAÇÕES ACTUAIS PARA BIÓPSIA RENAL

Mestranda: Marise Oliveira dos Santos Orientador: Prof. Dr. José Fernando de Souza Verani

PROMOÇÃO DA SAÚDE FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM FATIMA DO PIAUÍ.

Tratamento da Doença Glomerular com Micofenolato Mofetil Treatment of Glomerular Disease With Mycophenolate Mofetil.

Síndromes glomerulares

Lupus Eritematoso Sistémico Revisão Casuística do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia

Perfil FAN e AUTO-ANTICORPOS. Qualidade e precisão para diagnóstico e acompanhamento clínico.

Curva de Sobrevida e Fatores Prognósticos no Lúpus Eritematoso Sistêmico Infanto-Juvenil (*)

HIV E DOENÇA RENAL I CONGRESSO PARANAENSE DE INFECTOLOGIA. 31 março e 01 abril de 2017 Londrina - PR

ARTIGO ORIGINAL. Resumo. Abstract

Situação epidemiológica da Influenza Pandêmica (H1N1), no Pará, semanas epidemiológicas 1 a 43 de 2009.

CADA VIDA CONTA. Reconhecido pela: Parceria oficial: Realização:

Transplante de pâncreas

Detection of Antinucleosome Antibodies in Systemic Lupus Erythematosus

Atualização do tratamento das vasculites ANCA associadas

O Custo do Mau Controle do Diabetes para a Saúde Pública

FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES: COMPARAÇÃO ENTRE OS SEXOS EM PACIENTES TRANSPLANTADOS RENAIS 1

Hospital do Servidor Público Municipal

SÍNDROME DE VOGT-KOYANAGI-HARADA: RELATO DE CASO COM ABORDAGEM DERMATOLÓGICA

Registo Nacional de crianças com IRC em tratamento conservador. Secção de Nefrologia Pediátrica da S.P.P Helena Pinto

Transcrição:

PERFIL CLÍNICO DE PACIENTES COM GLOMERULONEFRITE LÚPICA PROLIFERATIVA ATENDIDOS NO SERVIÇO DE NEFROLOGIA DO HC-UFPE Camila Gonçalves de Santana 1 ; Maria das Graças Wanderley de Sales Coriolano 2 1 Estudante do Curso de Medicina - CCS UFPE; E-mail: camila.gsantana@hotmail.com, 2 Docente/pesquisador do Depto de Anatomia CCS UFPE. E-mail: gracawander@hotmail.com. Sumário: Introdução: O envolvimento renal é uma manifestação comum no Lupus Eritematoso Sistêmico e pode ocorrer em qualquer momento, além de ser considerado como a mais séria complicação e o preditor mais forte de pior prognóstico da doença. Assim sendo o objetivo deste trabalho foi traçar o perfil clínico dos pacientes com glomerulonefrite lúpica através da correlação dos dados clínico-laboratoriais com os achados anatomopatológicos de suas biópsias renais. Métodos: Trata-se de estudo prospectivo, descritivo. Para avaliar as manifestações clínicas foi utilizado como índice de atividade da doença o SLEDAI 2K modificado associado à classe de glomerulonefrite lúpica evidenciada na biópsia. Resultados e Discussão: A amostra foi composta por 18 mulheres, sendo a maioria declarada parda, diferente da epidemiologia mundial em que a raça negra é a mais acometida. A hipertensão arterial sistêmica foi um achado comum nas pacientes. Em média as mulheres avaliadas apresentavam atividade moderada da doença. As pacientes com glomerulonefrite lúpica proliferativa da amostra apresentaram um perfil clínico com variados sintomas, sendo os mais frequentes a proteinúria, a hematúria e a artrite. Palavras-chave: biópsias renais; glomerulonefrite; nefrologia; INTRODUÇÃO Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune caracterizada pela presença de múltiplos auto-anticorpos, comprometendo diferentes órgãos e sistemas. Indivíduos de todos os grupos étnicos podem ser acometidos, sendo mais comum em indivíduos da raça negra. A doença acomete predominantemente mulheres, com uma taxa que varia de 4 a 13 mulheres para cada homem (PETRI M, 2002). O envolvimento renal é uma manifestação comum no LES e pode ocorrer em qualquer momento da doença. A nefrite é considerada como a mais séria complicação do LES e o preditor mais forte de pior prognóstico. A característica renal predominante na nefrite lúpica é a proteinúria presente em quase todos os pacientes (80-100%), frequentemente associada à síndrome nefrótica (45 a 65%). A hematúria microscópica ocorre em 40-80% enquanto a hematúria macroscópica é rara (1-2%). A hipertensão arterial não é mais comum nos pacientes com ou e sem nefrite, porém os com nefrite são mais severamente hipertensos (CAMERON, 1999). A total incidência do envolvimento renal provavelmente exceda a 90%, uma vez que a biopsia renal em pacientes sem qualquer evidência de doença renal pode revelar glomerulonefrite mesangial, focal ou proliferativa difusa (glomerulonefrite silenciosa) (CAMERON, 2001). O papel da biopsia renal em pacientes com LES tem sido muito discutido e controverso. Ela tem importante papel no diagnóstico, na classificação e no estadiamento das lesões na nefrite lúpica (MITTAL B, et al., 2005). A sobrevida de pacientes com LES tem aumentado nos últimos 20 anos, atribuição feita a muitos fatores como diagnóstico precoce, da doença renal, melhor monitorização sorológica, uso de corticosteróides e agentes imunossupressores, melhor tratamento da infecção associada, hiperlipidemia e hipertensão (CAMERON JS, 1999; MOK CC, et al., 1999). Apesar do

tratamento mais agressivo e prolongado, aproximadamente 20% dos pacientes continuam progredindo para insuficiência renal crônica (VALERI A, et al., 1994). Sabendo que o Lupus é uma doença auto-imune que acomete principalmente mulheres jovens, podendo envolver múltiplos órgãos e os rins são frequentemente acometidos sendo este acometimento o mais forte preditor de mau prognóstico, uma pergunta guiou nosso trabalho: Há correlação entre o perfil clínico e glomerulonefrite proliferativa em pacientes com Nefrite Lúpica? Para assim podermos compreender melhor a doença e podermos ajudar cada vez mais pacientes. Portanto o objetivo deste trabalho é traçar o perfil clínico dos pacientes com diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico biopsiados no Hospital das Clínicas de Pernambuco, através da correlação dos dados clínico-laboratoriais com os achados anatomopatológicos de suas biópsias renais. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de estudo prospectivo, descritivo, que foi desenvolvido no ambulatório de glomerulonefrites do Serviço de Nefrologia do HC UFPE, no período de 01 de agosto de 2014 a 31 de julho de 2015. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, número: 088903/2013. Os indivíduos com LES que se apresentaram para consulta de rotina no ambulatório a cima citado e que preencheram os critérios de inclusão do estudo foram incluídos na pesquisa após concordarem e assinarem o termo de consentimento livre e informado. Critérios de inclusão foram pacientes com mais de 18anos com diagnóstico de LES com nefrite, de acordo com os critérios do ACR (HOCHBERG, M.C, 1997) e biópsia renal no período do estudo. Os pacientes incluídos na pesquisa foram submetidos a uma avaliação clínica, na qual os dados necessários ao estudo foram obtidos através de uma ficha padronizada, a qual continha informações epidemiológicas (sexo, idade, raça, endereço), antecedentes pessoais em relação à hipertensão arterial sistêmica, antecedentes familiares em relação à hipertensão arterial sistêmica, lúpus eritematoso sistêmico e nefropatias, critérios ACR para diagnóstico de lúpus, o índice SLEDAI 2K modificado (URIBE et al., 2004) para atividade de doença, resultados laboratoriais e última biopsia renal realizada. Para a análise estatística foi utilizado o software BioEstat 5.3 para um P<0,05. Os dados foram compilados em médias, medianas e desvio interquartílico. RESULTADOS A amostra é composta por 18 mulheres, sendo 7 declaradas de raça branca, 9 pardas e 2 negras. A idade média das pacientes na época do trabalho foi de 34 anos, com uma média de tempo de doença de 88 meses, e portanto uma idade média ao diagnóstico de 26,5 anos. Doze mulheres (67%) apresentaram hipertensão arterial sistêmica. Em média as mulheres avaliadas apresentavam atividade moderada da doença. Não houve correlação entre tempo de doença e o SLEDAI (tabela 1). Idade (anos) Tempo de doença (meses) SLEDAI (escore) Spearman ρ (P) SLEDAI (escore) Média (±) 34 (11) 88 (87) 8 (09) Atividade Mediana (DIQ) 35 (11) 60 (60) 9 (12) 0,4 (0,06) moderada Variação 16-62 1-300 0-34 Tabela 1: Características gerais da amostra / DIQ: Desvio interquartil Com relação aos critérios da ACR para diagnóstico do lúpus os mais frequentes foram o rash malar, fotossensibilidade, artrite, FAN e renais (Figura 1).

Figura 1: Frequência dos critérios diagnósticos para LES preconizados pela ACR Figura 2: Frequência dos sintomas clínicos das pacientes da amostra (valores em percentual) No nosso estudo 13 pacientes abriram o quadro de LES com acometimento renal sendo que 46% dessas pacientes obtiveram no histopatológico inicial glomerulonefrite proliferativa difusa, classe IV. As pacientes com glomerulonefrite lúpica proliferativa da amostra apresentaram um perfil clínico com variados sintomas, manifestando simultaneamente entre 4 e 8 sintomas (5,4±1,3)sendo mais frequentes a proteinúria, a hematúria e a artrite (Figura 2). DISCUSSÃO A epidemiologia do LES, de acordo com a literatura mundial, é composta por uma população predominantemente feminina (PETRI M, 2002), acometendo principalmente mulheres em idade fértil. Sendo mais comum em indivíduos da raça negra. Uma discordância do nosso estudo, pois a raça mais acometida foi a parda seguida da branca. Porém é necessário ressaltar a dificuldade de classificação racial em nosso país devido a grande miscigenação. Em relação à idade média no diagnóstico da doença os valores obtidos coincidiram com trabalhos realizados em Brasília (FERRAZ, et al 2010) e Índia (SIRCAR, et al 2013). Porém valores mais altos foram encontrados na Grécia (MAVRAGANI, et al 2015) e no Nepal (DHAKAL; SHARMA; BHATTA et al, 2011). Acometimento renal é conhecido como a complicação mais grave da doença e o mais forte preditor de mau prognóstico. Níveis iniciais de creatinina sérica elevada, hipertensão aretrial sistêmica (HAS) na abertura do quadro, etinia não caucasiana, e lesões proliferativas na biópsia renal inicial são fatores de mau prognóstico dentre os pacientes com acometimento renal (HOUNG D, 1999). Em relação à HAS, a maioria das pacientes apresentou tal comorbidade. Sendo sabido que a hipertensão arterial não é mais comum nos pacientes com ou e sem nefrite, porém os com nefrite são mais severamente hipertensos (CAMERON, 1999). É preciso ter consciência de que o tratamento de manutenção, composto principalmente por corticoide e imunossupressores, para pacientes com acometimento renal no lúpus, possui como um dos efeitos colaterais a HAS (LENZ et al., 2013). Os critérios de classificação mais amplamente utilizados para diagnóstico de LES são os desenvolvidos pelo American College of Rheumatology (ACR), em 1982, e revisados em 1997 (HOCHBERG MC, 1997). Com relação a tais critérios os mais frequentes foram

o rash malar, fotossensibilidade, artrite e FAN. Resultados parecidos foram obtidos trabalhos brasileiros e internacionais. Para avaliação da atividade do Lúpus na amostra deste trabalho foi utilizado o índice SLEDAI -2K modificado (Systemic Erythematosus Disease Activity Index) (URIBE et al., 2004). Em média as mulheres avaliadas apresentavam atividade moderada da doença, com perfil clínico com variados sintomas, sendo mais frequentes a proteinúria e a hematúria, os quais são sinais laboratoriais correlacionados com a nefrite. Dentre os sintomas clínicos a artrite foi a mais prevalente seguida de cefaleia, miosite e alopecia. Devido a grande variabilidade do acometimento renal no LES a biópsia do rim está indicada em diversas situações, pois a classe histológica irá conduzir o tratamento além de indicar o prognóstico da doença. No nosso estudo a maioria das pacientes abriu o quadro de LES com acometimento renal sendo que quase metade obteve no histopatológico inicial glomerulonefrite proliferativa difusa, classe IV. Esta classe é a mais prevalente nos demais estudos também, uma vez que representa o acometimento renal mais grave e, portanto, é alvo de grande parte das indicações de biópsia renal. CONCLUSÕES Em conclusão a maioria dos pacientes que desenvolveram nefrite lúpica já abriu o quadro com acometimento renal, além de apresentarem sinais e sintomas clássicos do LES como o rash malar, fotossensibilidade, artrite e a positivação do FAN. Durante o curso da doença as pacientes que se encontravam em atividade de doença, segundo o SLEDAI 2K modificado, apresentaram principalmente componentes da nefrite lúpica como proteinúria e hematúria. Para melhor entendimento do acometimento renal em pacientes lúpicos é necessário a realização de novos estudos em outras regiões para comparação de dados. AGRADECIMENTOS Agradeço ao CNPq por ter me proporcionado a oportunidade de realizar o PIBIC. Agradeço também a minha orientadora Prof. Dra. Maria das Graças Coriolano e Coorientadora Prof. Dra. Nadja Asano pela oportunidade, dedicação e apoio ao meu trabalho. Agradeço ainda a Cláudia Coimbra, grande amiga, pela colaboração na coleta de dados. REFERÊNCIAS 1. PETRI M. Epidemiology of systemic lupus erythematosus. Best Pract Res Clin Rheumatol. 16: 847-58, 2002. 2. CAMERON JS. Lupus nephritis. J Am Soc Nephrol. 10: 413-24, 1999. 3. CAMERON JS. Systemic lupus erythematosus. In Nielson, EG, Couser WG (eds). 4. Immunologic renal disease. 2 nd ed. Philadelphia: Lippincott- Raven. 1057-104, 2001. 5. MITTAL B, RENNKE H, SINGH AK The role of kidney biopsy in the management of 6. lupus nephritis.curr Opin Nephrol Hypertens. 14(1):1-8, 2005. 7. MOK CC, WONG RWS, LAU CS: Lupus nephritis in southern Chinese patients: 8. Clinicopathological findings and long-term outcome. Am J Kidney Dis 34:315-23, 1999.

9. VALERI A, RADHAKRISHANA J, ESTES D, et al.: Intravenous pulse cyclophosphamide treatment of severe lupus nephritis: a prospective five-year study. Clin Nephrol 42:71-8, 1994. 10. Le Thi Huong D., Papo T, Beaufils H, et al. Renal involvment in systemic lupus erythematosus: a study of 108 patients from a single center. Medicine 1999; 78: 148-66. 11. FERRAZ, Fábio Humberto Ribeiro Paes et al. Perfil dos Pacientes com Nefrite Lúpica Submetidos à Biópsia Renal. Brasília Médica, Brasília, v. 48, n. 2, p.167-172, 10 abr. 2010. 12. MAVRAGANI, Clio P. et al. Clinical and Laboratory Predictors of Distinct Histopathogical Features of Lupus Nephritis.Medicine, [s.l.], v. 94, n. 21, p.1-8, 2015. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). DOI: 10.1097/md.0000000000000829. 13. DHAKAL, Subodh Sagar; SHARMA, Sanjib Kumar; BHATTA, Narendra. Clinical Features and Histological Patterns of Lupus Nephritis in Eastern Nepal. Saudi Journal Of Kidney Diseases And Transplantation: Renal Data from Asia Africa. Dharan, p. 377-380. mar. 2011. 14. SIRCAR D, SIRCAR G, WAIKHOM R, RAYCHOWDHURY A, PANDEY R. Clinical features, epidemiology, and short-term outcomes of proliferative lupus nephritis in Eastern India. Indian Journal of Nephrology. 2013;23(1):5-11. doi:10.4103/0971-4065.107187. 15. LENZ, Oliver et al. Lupus Nephritis: Maintenance Therapy for Lupus Nephritis Do We Now Have a Plan? Clinical Journal Of The American Society Of Nephrology. Miami, January 07, 2013 8(1) 162-171; published ahead of print August 23, 2012, doi:10.2215/cjn.03640412. 16. HOCHBERG MC. Updating the American College of Rheumatology revised criteria for the classification of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 40: 1725, 1997. 17. URIBE AG, VILÁ LM, MCGWIN GJr, SANCHEZ ML, REVEILLE JD, ALARCÓN GS. The Systemic Lupus Activity Measure-revised, the Mexican Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index (SLEDAI), and a modified SLEDAI-2K are adequate instruments to measure disease activity in systemic lupus erythematosus. J Rheumatol 2004; 31(10):1934-40