Diagnóstico por tomografia computadorizada da extrusão de disco intervertebral em paciente geriatra: Relato de caso

Documentos relacionados
DISCOPATIA TORACOLOMBAR

Raças Top de Ohio que o Parta Pugshund!!!!

DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL TÓRACO-LOMBAR EM FELINO DOMÉSTICO RELATO DE CASO

Anatomia da Medula Vertebral

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Regeneração espontânea da lesão do plexo braquial no gato: Relato de caso

Avaliação clínica de cães com doença do disco intervertebral (Hansen tipo I) submetidos à descompressão cirúrgica: 110 casos 1

TÍTULO: ANÁLISE DO IMPACTO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE DISCOPATIA TORACOLOMBAR E LOMBOSSACRAL EM CÃES CATEGORIA: CONCLUÍDO

Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas

MEDICINA VETERINÁRIA TRATAMENTO FISIOTERÁPICO EM CÃO COM DISCOPATIA TORACOLOMBAR PHYSIOTHERAPEUTIC TREATMENT IN A DOG WITH THORACOLUMBAR DISC DISEASE

Estudo por imagem do trauma.

FRATURA DE MANDÍBULA SECUNDÁRIA À DOENÇA PERIODONTAL EM CÃO: RELATO DE CASO

NEUROCIRURGIA o que é neurocirurgia?

Provável extrusão de núcleo pulposo aguda e não compressiva em um cão: relato de caso

ESTUDO RETROSPECTIVO DE CIRURGIAS DESCOMPRESSIVAS DA COLUNA TORACOLOMBAR REALIZADAS APÓS RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

LESÕES TRAUMÁTICAS DA COLUNA

Prepare-se para a consulta com seu médico

03,04, 24 e 25 de Outubro 2015

Qualidade de vida. Qualidade de movimento. Guia do doente para a. Substituição de Disco Lombar Artificial

Recuperação de função neurológica após tratamento conservativo de luxação atlantoaxial em cão politraumatizado Relato de caso

ÍNDICE DE ASSUNTOS ÍNDICE DE ASSUNTOS - VOLUME

TRATAMENTO CONSERVATIVO E CIRÚRGICO DE HÉRNIA DE DISCO (TIPO I) TORACOLOMBAR GRAU V EM CÃO RELATO DE CASO

Pubalgia. Fig. 1 fortes grupos musculares que concentram esforços na sínfise púbica.


29, 30 e 31 de Julho. Site do Curso

Dores na coluna Lombalgia

COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS PÓS-CIRURGIA BARIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Indicações, vantagens e desvantagens da TC e RM.

Deformidades no crescimento

Doença do disco intervertebral cervical em cães: 28 casos ( ) 1

01 02 e 03 de agosto de 2014

HEMIPARESIA E DÉFICITS NEUROLÓGICOS ASSIMÉTRICOS

DOR LOMBAR NO TRABALHO. REUMATOLOGISTA: WILLIAMS WILLRICH ITAJAÍ - SC

Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pela UFRPE. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade IBGM/IBS.

Fisioterapia em cão antes e após artrodese bilateral em parte distal de membros pélvicos: relato de caso

ESCLEROSE MÚLTIPLA. Prof. Fernando Ramos Gonçalves

COLUNA LOMBAR 24/03/15 ANATOMIA VERTEBRAL

09, 10, 23 e 24 de Novembro de 2013

07, 08 e 09 de Julho. Site do Curso

Escrito por Vipgospel Sex, 06 de Dezembro de :00 - Última atualização Sex, 06 de Dezembro de :05

TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR

BOTULISMO EM CÃES - RELATO DE CASO

Médico Cirurgia de Coluna

FUNDAMENTOS E CLÍNICA EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA I. Profº Ms. Marcos Antonio P. Brito 6ºTermo UniSalesiano Araçatuba

04, 05, 18 e 19 de Maio de 2013

TRABALHO DO PROFESSOR ANDRÉ VIANA RESUMO DO ARTIGO A SYSTEEMATIC REVIEW ON THE EFFECTIVENESS OF NUCLEOPLASTY PROCEDURE FOR DISCOGENIC PAIN

Extrusão de disco intervertebral caudal (coccígea) em um Basset Hound: primeiro relato de caso

CARNEIRO, Rosileide dos Santos Médica Veterinária do Hospital Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural, UFCG, Patos-PB, Brasil.

XII ENCONTRO DE EXTENSÃO, DOCÊNCIA E INICIAÇÃO CIENTÍFICA (EEDIC)

Universidade Estadual De Maringá Curso De Medicina Veterinária Coordenação Do Colegiado De Curso

FREQUÊNCIA DE NEOPLASIA EM CÃES NA CIDADE DO RECIFE NO ANO DE 2008.

UNICAM ENSINO PROFISSIONAL CURSO DE AUXILIAR VETERINÁRIO PEQUENO PORTE NOME COMPLETO ALUNO

Patologias, Planos de Tratamento e Reabilitação. Técnicas cirúrgicas, Tratamento Conservativo e Medicina Complementar: Quando, O Quê, Como e Por que?

ESTUDO RETROSPECTIVO DAS DOENÇAS, RAÇAS E IDADES DE CÃES E GATOS COM DIFICULDADE DE DEAMBULAÇÃO RESUMO

XVIII Reunião Clínico - Radiológica Dr. RosalinoDalazen.

Súmario. Introdução. O que é hérnia de disco? O que causa a hérnia de disco? Sintomas. Diagnóstico. Tratamento. Como conviver com o diagnóstico

DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL EM CÃES ATRAVÉS DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

ASPECTOS ULTRASSONOGRÁFICOS DE NEOPLASIA HEPÁTICA EM PERIQUITO AUSTRALIANO (Melopsittacus undulatus): RELATO DE CASO

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.70, n.4, p , 2018

COMPRESSÃO MEDULAR. Aline Hauschild Mondardo Laura Mocellin Teixeira Luis Carlos Marrone Carlos Marcelo Severo UNITERMOS KEYWORDS SUMÁRIO

Traumatologia. Distúrbios do Aparelho Locomotor tendo como Etiologia Sempre o TRAUMA, não importando a sua Magnitude.

Dr. Ricardo

Luxação do Ombro. Especialista em Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Dr. Marcello Castiglia

COMPARAÇÃO ENTRE ALONGAMENTO E LIBERAÇÃO MIOFASCIAL EM PACIENTES COM HÉRNIA DE DISCO

Fisioterapeuta Priscila Souza

Lesões Meniscais. Anatomia. Tipos de Lesões

ABORDAGEM E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PROBLEMAS NA COLUNA VERTEBRAL E MEDULA ESPINHAL

Tratamento Fisioterápico na Reabilitação de Cães com Afecções em Coluna Vertebral: Revisão de Literatura

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Utilização de órteses na reabilitação de pacientes portadores de osteoporose vertebral

Anais do 38º CBA, p.0882

NEURORRADIOLOGIA. Cristina Moura Neurorradiologia, HUC CHUC

USE OF SUCCINATE SODIUM METHYLPREDNISOLONE IN EXTRUSION DISC INTERVERTEBRAL T12 AND T13 INJURY IN A DOG, CASE REPORT

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE MEDICINA E CIRURGIA VETERINÁRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA

DOR CRÔNICA E ENVELHECIMENTO

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

DOENÇA ARTICULAR DEGENERATIVA ARTROSE Diagnóstico- Prevenção - Tratamento

Diagnóstico por imagem nas alterações relacionadas ao envelhecimento e alterações degenerativas da coluna vertebral

Disciplina de Traumato-Ortopedia e Reumatologia TRM. Prof. Marcelo Bragança dos Reis

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. PROGRAMA DE DISCIPLINA/ ESTÁGIO Ano: 2008 IDENTIFICAÇÃO CÓDIGO DISCIPLINA OU ESTÁGIO SERIAÇÃO IDEAL

Semiologia do aparelho osteoarticular. Professor Ivan da Costa Barros

REABILITAÇÃO EM LM. M. Angela Gianni

Informações para o paciente referente à prótese de disco intervertebral Prodisc-L para a coluna lombar.

Amiotrofias Espinhais Progressivas

Emergências Oncológicas - Síndrome de. Compressão Medular na Emergência

QUESTÃO 32. A) movimentação ativa de extremidades. COMENTÁRO: LETRA A

SERVIÇO DE CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS DO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE - CÂMPUS CONCÓRDIA

SERVIÇOS EM ORTOPEDIA VETERINÁRIA

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Defeitos osteoarticulares

Imagem 1: destacada em vermelho a redução do espaço articular.

O valor da inovação: criar o futuro do sistema de saúde (livro)

HISTÓRICO Síndrome Facetária

Extensão Universitária em Ortopedia Veterinária

EXAME DE URETROGRAFIA CONTRASTADA PARA DIAGNÓSTICO DE RUPTURA URETRAL EM CANINO RELATO DE CASO

área acadêmica. Anatomia radiológica da coluna. estudo por imagem da coluna vertebral

A EQUOTERAPIA COMO RECURSO FISIOTERAPÊUTICO NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Transcrição:

https://doi.org/10.22256/pubvet.v12n3a45.1-5 Diagnóstico por tomografia computadorizada da extrusão de disco intervertebral em paciente geriatra: Relato de caso Jessyka Andréa Nascimento de Carvalho Almeida 1 *, Tiago Tavares Brito de Medeiros 2, Artur da Nóbrega Carreiro 3, Edson Mauro da Cunha 4, Débora Vitória Fernandes de Araújo 5, Brunna Muniz Rodrigues Falcão 3, Ana Yasha Ferreira de La Salles 3, Danilo José Ayres de Menezes 6-7 1 Aluna de Pós-Graduação de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, Equalis, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. 2 Mestre em Zootecnia pelo Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal de Campina Grande, Patos, Paraíba, Brasil. 3 Aluno de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Patos, Paraíba, Brasil 4 Médico veterinário formado pela Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Patos, Paraíba, Brasil. 5 Aluna de Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Patos, Paraíba, Brasil. 6 Professor do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Patos, Paraíba, Brasil. 7 Professor do Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil. Email: mdanayres@gmail.com *Autor para correspondência, E-mail: jessykacarvalhovet@gmail.com* RESUMO. A doença do disco intervertebral (DDIV) é a causa mais comum de compressão medular em cães, resultando em problemas neurológicos, podendo ser classificada em dois tipos, Hansen tipo I (extrusão de disco) e Hansen tipo II (protrusão de disco), que pressionam os nervos da medula ocasionando quadro de dor, ataxia, paralisia e paraplegia. O tratamento à se indicar deve ser baseado no grau da lesão, podendo ser o tratamento clínico associado à fisioterapia, para casos menos graves, visto que é relatado sucessos na recuperação do quadro, na literatura. O objetivo desse trabalho foi relatar a eficiência da tomografia computadorizada como ferramenta complementar para diagnostico conclusivo da DDIV e o sucesso do tratamento clínico e fisioterápico para esta doença. O animal em questão era um poodle com 11 anos de idade que apresentava quadro de ataxia e falta de coordenação motora e que foi diagnosticado com uma extrusão de disco intervertebral entre as vertebras T12 e T13 pela tomografia computadorizada. O tratamento eleito foi à base de anti-inflamatórios e fisioterapia com enfoque o fortalecimento da musculatura epaxial e hipaxial. Transcorrido 45 dias do início do tratamento, foi observado uma melhora significativa do animal, entretanto, uma futura intervenção cirúrgica não foi descartada. Palavras chave: ataxia, compressão medular, fisioterapia, Hansen. Diagnosis by computed tomography of the intervertebral disc extrusion in a geriatric patient: Case report ABSTRACT. Intervertebral disc disease (IVDD) is the most common cause of spinal cord compression in dogs, resulting in neurological problems, which can be classified into two types: Hansen type I (disc extrusion) and Hansen type II (disc protrusion), pressing the nerves of the marrow causing pain, ataxia, paralysis and paraplegia. The indicated treatment should be based on the degree of injury, and may be the clinical treatment associated with physical therapy, for less severe cases, based on the successes in the recovery of the condition, reported in the literature. The objective of this study was to report the efficiency of computed tomography as a complementary tool for conclusive diagnosis of DDIV and the success of clinical and physiotherapeutic treatment for this disease. The animal in question was an 11-year-old poodle that presented ataxia and motor

Almeida et al. 2 incoordination and was diagnosed with an intervertebral disc extrusion between the T12 and T13 vertebrae by means of computed tomography. The treatment chosen was based on anti-inflammatories and physiotherapy focusing on the strengthening of the epaxial and hipaxial musculature. After 45 days of initiation of treatment, a significant improvement of the animal was observed, however, a future surgical intervention was not ruled out. Keywords: ataxia, Hansen, physiotherapy, spinal cord compression Diagnóstico por tomografía computarizada de la extrusión de disco intervertebral en paciente geriatra: Reporte de un caso RESUMEN. La enfermedad del disco intervertebral (EDIV) es la causa más común de compresión medular en perros, resultando en problemas neurológicos, pudiendo ser clasificada en dos tipos, Hansen tipo I (extrusión de disco) y Hansen tipo II (protrusión de disco), que presionan los nervios de la médula ocasionando cuadro de dolor, ataxia, parálisis y paraplejia. El tratamiento a indicarse debe basarse en el grado de la lesión, pudiendo ser el tratamiento clínico asociado a la fisioterapia, para casos menos graves, ya que en la literatura se reportan recuperaciones exitosas de este tipo de cuadro. El objetivo de este trabajo fue relatar la eficiencia de la tomografía computarizada como herramienta complementaria para diagnóstico conclusivo de la EDIV y el éxito del tratamiento clínico y fisioterápico para esta enfermedad. El animal en cuestión era un Poodle con 11 años de edad que presentaba cuadro de ataxia e incoordinación motora y que fue diagnosticado con una extrusión de disco intervertebral entre las vertebras T12 y T13 a través de tomografía computarizada. El tratamiento elegido fue a base de antiinflamatorios y fisioterapia con enfoque al fortalecimiento de la musculatura epaxial e hipaxial. Transcurrido 45 días del inicio del tratamiento, se observó una mejora significativa del animal, sin embargo, una futura intervención quirúrgica no fue descartada. Palabras clave: ataxia, compresión medular, fisioterapia, Hansen Introdução A doença do disco intervertebral (DDIV) é uma condição facilmente encontrada em cães jovens condrodistróficos ou de meia idade, além dos de grande porte senis como Retrievers, Labrador e Rottweiler, afetando raramente gatos segundo Whindham (2007). Facin et al. (2015) aponta que a doença envolve degeneração do disco e consequente extrusão (Hansen tipo I) ou protrusão (Hansen tipo II) do material discal em direção ao interior do canal vertebral, promovendo compressão medular de intensidades variadas, levando à síndrome neurológica com maior ocorrência em cães. A DDIV gera deficiências na qualidade e integridade biomecânica do mesmo ocasionando a falha estrutural da unidade funcional da coluna vertebral, podendo causar também a compressão da medula espinhal (Bergknut et al., 2013). A lesão à medula espinhal pode ser aguda ou crônica iniciando uma sequência de eventos vasculares, bioquímicos e inflamatórios. A lesão aguda pode resultar de extrusão de disco intervertebral, êmbolo fibrocartilaginoso ou traumatismo vertebral, a lesão medular crônica pode vir acompanhada de compressão progressiva da medula espinhal e provir de protrusão de disco, neoplasias e instabilidade vertebral (Severo et al., 2011). A manifestação clínica da DDIV ocorre devido a uma combinação do efeito compressivo do material de disco e da lesão de impacto na medula espinhal, decorrente principalmente da extrusão do disco (Sharp & Wheeler, 2005). Arias et al. (2007) relatam que dependendo da localização e intensidade da DDIV, há possibilidade de tratamento com analgésicos e anti-inflamatórios, não descartando a chance de recidiva e progressão da doença. Segundo Sharp & Wheeler (2005) indica-se o tratamento cirúrgico para pacientes com recidiva do quadro ou progressão dos sinais, paraparesia não ambulatória, paraplegia com ou sem percepção de dor profunda. O presente estudo objetivou relatar a eficiência da tomografia computadorizada como ferramenta complementar para diagnostico conclusivo da DDIV e o sucesso do tratamento clínico e fisioterápico para esta doença.

Diagnóstico por tomografia computadorizada da extrusão de disco intervertebral 3 Relato de caso Um cão macho da raça poodle, com 11 anos de idade e 6 kg de peso vivo foi atendido em uma clínica particular na cidade de João Pessoa/PB, apresentando leve ataxia e falta de coordenação motora. O proprietário relata que, não houve nenhum trauma anteriormente ou episódio semelhante. O animal apresentava apetite normal; porém com certa falta de coordenação motora durante o hábito alimentar. Realizou-se um exame de propriocepção ao paciente onde o mesmo não apresentou nenhum déficit proprioceptivo, em seguida, foram realizadas a análise da bioquímica e hematologia sérica, onde ambos estavam dentro dos parâmetros fisiológicos para a espécie, descartando qualquer possibilidade de desarranjos sistêmicos. Levantou-se a hipótese de um acometimento mecânico de caráter ortopédico, em seguida foi realizada uma avaliação tomográfica completa de todo o esqueleto axial do paciente, onde observou-se a ausência de sinais de fratura ou luxação na região avaliada, sem sinais de lesão traumática, porém com a presença de material hiperatenuante localizado no interior do canal vertebral ao nível do espaço intervertebral entre as vértebras torácicas T12 e T13, compatível com extrusão de disco intervertebral (Figura 1), estenose do forâmen intervertebral esquerdo entre as vértebras T12-T13, com dimensão aproximada de 0,8 mm, enquanto o forâmen intervertebral direito apresentou-se com 2,1 mm (Figura 2). Não foram observados sinais de compressão medular evidente ou sinais associados a edema ou hemorragia medular nem de proliferações osteofíticas ou esclerose de placas terminais. Não se evidenciou sinais de neoplasia vertebral. O grau de atenuação radiográfica do osso trabecular das vértebras avaliadas apresentou-se normal, sem sinais de osteopenia ou osteoporose. Figura 1. Extrusão de disco intervertebral entre T12 e T13 Após o diagnóstico realizado, o animal foi encaminhado para um tratamento à base de antiinflamatórios e fisioterapia com enfoque o fortalecimento da musculatura epaxial e hipaxial, com um período de 45 dias observou-se uma melhora significativa na marcha e postura do mesmo, deambulando normalmente e sem dificuldades no hábito alimentar. Apesar da relutância do proprietário em relação ao procedimento cirúrgico, não se descartou a possibilidade de uma intervenção corretiva. Figura 2. Estenose do forâmen intervertebral esquerdo Discussão As apresentações clínicas das doenças de disco intervertebral variam conforme o grau da lesão, o local de extrusão ou protrusão do material e o nível de inflamação, assim definindo os quadros e intensidade das dores, ataxias e paresia. No presente caso, o animal apresentou ataxia leve, mas sem sinal clínico de dor aguda. Após a determinação da localização neuroanatômica da lesão medular, torna-se imprescindível realizar exames complementares de diagnóstico para se estabelecer um diagnóstico definitivo (Nelson & Couto, 2015). Para Fossum (2014), a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são capazes de detectar mínimas alterações da medula espinhal que uma radiografia simples ou contrastada não podem revelar. No presente caso, além do histórico e do exame clínico, utilizou-se a tomografia computadorizada, para observar algum possível comprometimento medular e fazer os diagnósticos diferenciais para a demonstração clínica do animal. A maioria das doenças da coluna vertebral em cães e gatos afetam os segmentos compreendidos entre as vértebras T3 e L3. A DDIV (extrusão ou protrusão) é comumente encontrada neste segmento vertebral, causando compressão da medula espinhal e sinais clínicos que variam desde dor aparente à mielopatia transversa completa. Outras doenças comuns são mielopatia

Almeida et al. 4 degenerativa, trauma espinhal, neoplasia e mielopatia embólica fibrocartilaginosa (Ettinger & Feldman, 2004, Costa & Moore, 2010). Para classificar as diferentes formas da DDIV, precisam-se analisar os dois componentes do disco intervertebral. A primeira porção, o anel fibroso, engloba a parte externa do disco como uma banda fibrosa sendo responsável por conectar as vértebras e permitir a flexibilidade da coluna ao movimento. A segunda parte do disco, o núcleo pulposo, é uma massa gelatinosa que compõe o interior do disco, seu alto teor de água proporciona propriedades elásticas que também conferem flexibilidade e absorção de impactos à coluna (Whindham, 2007). Arias et al. (2007) em estudo com 45 cães, de diferentes raças, que apresentaram a doença do disco intervertebral tipo I, obtiveram a seguinte prevalência de raças: Dachshund (22/45), seguida pelos cães sem raça definida (7/45), Cocker spaniel (6/45), Lhasa Apso (3/45), Poodle (4/45), Beagle (1/45), Terrier brasileiro (1/45) e Pequinês (1/45). Dependendo da raça, as propriedades do núcleo pulposo desaparecem quando o animal se torna mais velho, o núcleo torna-se desidratado, e a água é gradualmente substituída por cartilagem hialina, colágeno ou minerais (Whindham, 2007). Costa (2001) reportou que os sinais clínicos da DDIV toracolombar geralmente são agudos e progressivos, iniciando com ataxia, progredindo para paraparesia, paraplegia e por fim, paraplegia com ausência de dor profunda. Em muitos casos, principalmente em animais condrodistróficos, é observada uma evolução superaguda, no qual o proprietário geralmente relata que o cão estava sem qualquer alteração aparente e subitamente apresenta-se paraplégico. Esta manifestação é característica da extrusão (Hansen I) de disco intervertebral toracolombar (Costa, 2001), tal qual pode ser visto na figura 1 onde há extrusão do disco, sendo compatível também com a evolução do quadro do caso, embora não tenha havido a paraplegia, provavelmete devido a menor gravidade da extrusão. Segundo (Slatter, 2007) o tratamento clínico é indicado para os casos em que apresentam quadros brandos e para os casos sem histórico de recidiva. Inicia-se pela restrição de atividades físicas (confinamento) seguidas por terapia física, uso de medicações anti-inflamatórias ou miorrelaxantes para controlar a dor e hiperestesia. Alguns cuidados auxiliares, sendo fundamental manter o animal em local pequeno, facilitando assim a recuperação do sítio de lesão, diminuindo a inflamação e contribuindo para estabilização do disco por fibrose, estando o tratamento utilizado para o presente caso, de acordo com o reportado pela literatura. Segundo Ramalho et al. (2015) a fisioterapia deve ser realizada progressivamente, melhorando os déficits neurológicos, prevenindo o desenvolvimento de atrofia muscular e auxiliando no restabelecimento da função motora dos membros paralisados ao mais próximo da normalidade, através de alongamentos, massagens, cinesioterapia, hidroterapia, sempre de acordo com a necessidade de cada paciente. Uma vez realizada em conjunto com o tratamento clínico, a recuperação se torna mais rápida. Tal qual foi observado no relato supracitado, onde em 45 dias houve uma melhora significativa do animal. As indicações gerais para a intervenção cirúrgica em animais com DDIV são sintomas clínicos não reativos ao tratamento clínico, sintomas clínicos recidivantes ou progressivos, paresia ou paralisia com preservação de sensação dolorosa profunda e paralisia e ausência de dor profunda com duração inferior a 48 horas (Bojrab, 2005, Sharp & Wheeler, 2005). Todavia, Santos et al. (2011) em um estudo com 20 cães concluiu que metade dos cães com diagnóstico de DDIV sem percepção à dor profunda superior a 48 horas e não submetidos ao tratamento cirúrgico podem apresentar recuperação funcional satisfatória e que é necessário esperar, no mínimo, 30 dias do início dos sinais clínicos para estabelecer um prognóstico quanto ao retorno dos movimentos voluntários. Conclusão A técnica de tomografia computadorizada apresenta confiabilidade para diagnóstico conclusivo na detecção de DDIV quando associada a contraprovas como exames séricos com o intuito de descartar possíveis causas, aumentando a precisão do diagnóstico. Cães portadores de doença do disco intervertebral no segmento toracolombar com pouco agravo podem ter sucesso no tratamento clínico associado à fisioterapia. É de responsabilidade do médico veterinário o diagnóstico baseado em exames e a recomendação do tratamento adequado em consonância com o grau da lesão, objetivando a qualidade de vida do animal.

Diagnóstico por tomografia computadorizada da extrusão de disco intervertebral 5 Referências Bibliográficas Arias, M. V. B., Nishioka, C. M., Garcia, C. O., Reia, A. Z., Júnior, D. B. & Marcasso, R. A. 2007. Avaliação dos resultados clínicos após cirurgia descompressiva em cães com doença de disco intervertebral Evaluation of clinical results of decompressive surgery in dogs with degenerative disk disease. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 59, 1445-1450. Bergknut, N., Smolders, L. A., Grinwis, G. C. M., Hagman, R., Lagerstedt, A.-S., Hazewinkel, H. A. W., Tryfonidou, M. A. & Meij, B. P. 2013. Intervertebral disc degeneration in the dog. Part 1: Anatomy and physiology of the intervertebral disc and characteristics of intervertebral disc degeneration. The Veterinary Journal, 195, 282-291. Bojrab, M. J. 2005. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. Editora Roca, São Paulo. Costa, R. C. 2001. Disco intervertebral: bases para o diagnóstico e tratamento da doença. Nosso Clinico, 4, 20. Costa, R. C. & Moore, S. A. 2010. Differential diagnosis of spinal diseases. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 40, 755-763. Ettinger, S. & Feldman, E. 2004. Tratado de medicina interna veterinária: doenças do cão e do gato. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Facin, A. C., Rocha, T. A. S. S. & Watanabe, B. 2015. Doença de disco intervertebral em cães: 16 casos. Enciclopédia Biosfera Centro Científico Conhecer., 11, 21. Fossum, T. W. 2014. Cirurgia de pequenos animais, 4 edn. Elsevier Brasil, São Paulo. Nelson, R. W. & Couto, C. G. 2015. Medicina interna de pequenos animais. Elsevier Editora, Amsterdan. Ramalho, F. P., Formenton, M. R., Isola, J. G. M. P. & Joaquim, J. F. G. 2015. Tratamento de doença de disco intervertebral em cão com fisioterapia e reabilitação veterinária: relato de caso. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV- SP, 13, 10-17. Santos, R. P., Mazzanti, A., Beckmann, D. V., Berté, L., Ripplinger, A., Neto, D. P. & Baumhardt, R. 2011. Recuperação funcional em cães com doença do disco intervertebral toracolombar sem percepção à dor profunda: 37 casos (2002-2010). Pesquisa Veterinária Brasileira, 31, 345-349. Severo, M. S., E.A., T. & M.V.B, A. 2011. Fisiopatologia do trauma e da compressão à medula espinhal de cães e gatos. Medicina Veterinária, 1, 78-85. Sharp, N. J. & Wheeler, S. J. 2005. Small animal spinal disorders: diagnosis and surgery. Elsevier Mosby, Philadelphia, EUA. Slatter, D. H. 2007. Manual de cirurgia de pequenos animais. Manole, São Paulo. Whindham, R. 2007. Intervertebral Disk Disease. Veterinary Technician, 28, 1-10. Article History: Received 7 November 2017 Accepted 14 December 2017 Available online 10 February 2018 License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License 4.0, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.