MUDANÇAS DA ORDEM URBANA DAS METRÓPOLES LIVROS COMPARATIVOS Ciência e Tecnologia Ministério da Ciência e Tecnologia Capítulo 6 Organização Social do Território e formas de provisão de moradia Seminário Região Metropolitana de Curitiba e os Desafios para o século XXI - 17.09.2013
Capítulo 6 Organização Social do Território e formas de provisão de moradia Subtema II - Dimensão socioespacial da exclusão/integração na metrópole de Curitiba O padrão de estruturação do espaço da metrópole de Curitiba e a produção dos espaços informais de moradia Prof.ª Dr.ª Madianita Nunes da Silva Laboratório de Habitação e Urbanismo - LAHURB Curso de Arquitetura e Urbanismo UFPR Grupo de Estudos sobre Dinâmicas Metropolitanas - GEDIME Observatório das Metrópoles Núcleo Curitiba Seminário Região Metropolitana de Curitiba e os Desafios para o século XXI - 17.09.2013
Objetivo Analisar os impactos da provisão informal de moradia na configuração socioespacial da metrópole a partir da década de 1990, utilizando os seguintes indicadores: Número de espaços informais de moradia e de famílias residentes nestes assentamentos A proporção do número de domicílios em espaços informais de moradia em relação ao total de domicílios O perfil social dos moradores, a tipologia dos espaços informais de moradia, a propriedade da terra onde estão localizados estes assentamentos A localização das diferentes tipologias dos espaços informais de moradia
Procedimentos metodológicos Recorte espacial: 11 dos 14 municípios da ACP de Curitiba: Curitiba, Almirante Tamandaré, Campo Magro, Campo Largo, Araucária, Fazenda Rio Grande, São José dos Pinhais, Piraquara, Pinhais, Quatro Barras e Campina Grande do Sul Recorte analítico: a totalidade dos espaços informais de moradia (loteamentos irregulares e clandestinos e favelas), sem restrição de número mínimo de domicílios Fontes: (i) banco de dados produzidos para a Tese; (ii) Censos 2000 e 2010
As mudanças na forma de provisão de moradia das classes populares nas últimas décadas 5/20
No Brasil, as últimas décadas caracterizam-se: Crescimento de domicílios e assentamentos informais: década de 1980 - fim do BNH e recessão econômica; década de 1990 - precarização das relações de trabalho, novos paradigmas de gestão da cidade, globalização econômica Concentração desses domicílios nas metrópoles Censo 2010-88,60% dos aglomerados subnormais do país situam-se em 20 RMs. Curitiba ocupa o 12 lugar. Por mudanças na forma de produção desses assentamentos, com crescimento do mercado imobiliário informal
Breve histórico da produção da moradia informal: Embora presente desde o final do século XIX (cortiços), a partir da década de 1950 o mercado imobiliário informal passa a desempenhar um papel determinante na estruturação das cidades latino-americanas De 1950 ao final do século XX, este mercado estruturou-se: (i) pela ação ilegal de loteadores (loteamentos clandestinos e irregulares extração da renda fundiária em áreas periféricas e/ou impróprias à ocupação); (ii) e pelos movimentos de ocupação popular de glebas urbanas e periurbanas (favelas lógica da necessidade) Abramo (2009)
Forma clássica da produção de favelas 1. ocupação 2. autoconstrução 3. auto urbanização 4. consolidação Irregularidade fundiária: impossibilidade de aquisição de um terreno legal Irregularidade urbanística: os padrões urbanísticos previstos nas leis não atendem às necessidades dos residentes nesses assentamentos Abramo (2009)
Consolidação do padrão de estruturação urbana conhecido como centro-periferia dispersão espacial ao invés de concentração classes altas e médias vivendo nos bairros centrais e melhor equipados e os pobres nas periferias precárias e, muitas vezes, ilegais a aquisição da casa própria torna-se prioridade para a maioria dos citadinos o ônibus é o transporte para os pobres e o automóvel para as classes média e alta Caldeira(2000)
Estrutura espacial da metrópole de Curitiba no final da década de 1980 FONTES: COMEC, 2006; Ultramari e Moura, 1994; Silva, 2012 10/20
Década de 1990: o mercado imobiliário informal Passa a ser preponderante nas últimas décadas : (i) submercado de loteamentos clandestinos e favelas, (ii) e submercado de assentamentos populares consolidados para comercialização e locação Cada um deles tem um papel distinto no processo de reestruturação espacial: cidade com+fusa Caracteriza-se pela existência de duas externalidades positivas: (i) liberdade urbanística exercer livremente o parcelamento e o solo criado maior adensamento (ii) economia de reciprocidades redes sociais que permitem às famílias acessarem a bens e serviços sem desembolso de valores monetários, baseadas nas relações de confiança e lealdade, úteis à realização das estratégias de sobrevivência de seus participantes Abramo (2009)
Década de 1990: o mercado imobiliário informal Surge uma nova forma de irregularidade, a econômica: lógica da necessidade + lógica do mercado Indica o surgimento de instituições informais que garantem o funcionamento do mercado imobiliário informal, permitindo ao longo do tempo, a sucessão das gerações e dos contratos de natureza implícita estabelecidos nas transações de comercialização Baltrusis (2005) e Abramo (2009)
Produção dos espaços informais de moradia e da cidade Produção dos espaços de moradia e mercado imobiliário: o acesso à moradia depende da renda disponível para adquirir esta mercadoria Produção dos espaços de moradia e a luta cotidiana pelo direito à cidade: práticas cotidianas das classes populares na disputa pelas condições de sobrevivência em face às contradições do modo capitalista de produção
A dinâmica de produção dos espaços informais de moradia na metrópole de Curitiba a partir da década de 1990 Novas formas de provisão de moradia, formais e informais, desencadeiam um processo de reestruturação espacial, marcado pelo surgimento de novas relações centro-periferia Os espaços informais de moradia passam a compor um elemento analítico fundamental para a compreensão da reestruturação espacial ocorrida
TABELA 1 ESPAÇOS INFORMAIS DE MORADIA NOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS SEGUNDO DÉCADAS - 1990-2000 ESPAÇOS INFORMAIS DE MORADIA MUNICÍPIO 1990 2000 Diferença entre levantamentos Número Número Número Absoluto Relativo (%) Absoluto Relativo (%) Absoluto Relativo (%) Curitiba 167 29,29 341 34,16 174 104,19 Pinhais 24 4,21 38 3,80 14 58,33 Piraquara 49 8,59 50 5,01 1 2,04 Almirante Tamandaré 88 15,43 117 11,72 29 32,95 Campo Magro 9 1,57 42 4,20 33 366,66 Campo Largo 65 11,40 194 19,43 129 198 Araucária¹ 64 11,22 58 5,81-6 -9,37 Fazenda Rio Grande 22 3,85 38 3,80 16 72,72 São José dos Pinhais 70 12,28 96 9,61 26 37,14 Quatro Barras...... 6 0,60...... Campina Grande do Sul 12 2,10 18 1,80 6 50 Total 570 100 998 100 428 75,08 FONTE: Silva (2012) NOTAS:... Dado numérico não disponível ¹ O decréscimo no número de assentamentos em Araucária explica-se pelos projetos de regularização fundiária implementados nos últimos anos. A data de origem dos assentamentos aponta para uma evolução ascendente do fenômeno, indicando que aproximadamente 38% surgiram na última década. 15/20
TABELA 1 DOMICÍLIOS EM ESPAÇOS INFORMAIS DE MORADIA NO AGLOMERADO METROPOLITANO DE CURITIBA SEGUNDO DÉCADAS 1990-2000 DOMICILIOS MUNICÍPIO 1990 2000 Diferença entre levantamentos Absoluto Relativo (%) Absolut o Relativo (%) Absolut o Relativo (%) Curitiba 33.778 61,79 59.064 59,99 25.286 74,85 Pinhais 2.194 4,01 3.497 3,55 1.303 59,38 Piraquara 4.351 7,95 11.966 12,15 7.615 175,01 Almirante Tamandaré 4.797 8,77 6.238 6,33 1.441 30,03 Campo Magro 230 0,42............ Campo Largo 1.729 3,44 4.534 4,60 2.805 162,23 Araucária 1.621 2,96 2.611 2,65 990 61,07 Fazenda Rio Grande 1.554 2,84 1.941 1,97 387 24,90 São José dos Pinhais 3.845 7,03 5.442 5,52 1.597 41,53 Quatro Barras...... 700 0,71...... Campina Grande do Sul 563 1,02 2.451 2,48 1.888 335,34 Total 54.662 100 98.444 100 35.697 70,95 FONTES: Silva (2012) NOTA:... Dado numérico não disponível
TABELA 1 DOMICÍLIOS EM ESPAÇOS INFORMAIS DE MORADIA NO FINAL DA DÉCADA DE 2000 E DOMICÍLIOS PARTICULARES EM 2010 NO AGLOMERADO METROPOLITANO DE CURITIBA MUNICÍPIO DOMICÍLIOS PARTICULARES DOMICÍLIOS EM ESPAÇOS INFORMAIS DE MORADIA Número Participação % Curitiba 633.813 59.064 9,31 Pinhais 38.213 3.497 9,15 Piraquara 30.966 11.966 38,64 Almirante Tamandaré 32.594 6.238 19,15 Campo Magro 8.500...... Campo Largo 38.531 4.534 11,77 Araucária 39.916 2.611 6,54 Fazenda Rio Grande 27.628 1.941 7,02 São José dos Pinhais 89.699 5.442 6,07 Quatro Barras 7.042 700 9,94 Campina Grande do Sul 13.590 2.451 18,03 Média 960.492 98.444 10,24 FONTES: Silva (2012) NOTAS: Em Curitiba a porcentagem teve como referência o número de domicílios particulares e o de domicílios em espaços informais de moradia no Município em 2005, ano do levantamento.... Dado numérico não disponível
Estrutura espacial da metrópole de Curitiba no final da década de 2000 FONTE: Silva, 2012
O processo indica uma nova forma de organização do espaço metropolitano, e a partir dele pode-se destacar uma série de desafios:
Referências ABRAMO, P. A cidade com-fusa: mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes cidades latino-americanas. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL, 13. Anais... Florianópolis: ANPUR, 2009. BALTRUSIS, N. Mercado imobiliário informal em favelas e o processo de estruturação da cidade: um estudo sobre a comercialização de imóveis em favelas da Região Metropolitana de São Paulo. 231 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. CALDEIRA, T. P. do R. Cidade de Muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Ed. 34 / Edusp, 2000. p. 211-255. SILVA, M. N. da. A dinâmica de produção dos espaços informais de moradia e o processo de metropolização de Curitiba. 259 f. Tese (Doutorado em Geografia) Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.